Quando Tony pensava em sua relação com Steve, sempre associava com as cores do céu. O sol com o dourado dos cabelos dele e, principalmente, o azul com os olhos taciturnos e intransigentes.

Porque, bem, azul é a cor da tranquilidade e dos dias felizes. Mas azul também pode ser o mar, imprevisível e com milhares de interpretações diferentes.  Isso os descrevia bem, não é? Para alguns, eles eram arqui-inimigos que se toleravam em prol de um bem maior; para uma segunda parcela, tinham se tornando bons amigos devido ao tempo e as situações de risco que partilharam diversas vezes; e, ainda, uma terceira parcela achava que eram amantes ou viviam sobre uma tensão sexual e romântica não resolvida.

O engraçado é que eram tudo isso e outras milhares de coisas mais, o que tornava tudo de um sabor único.

Eram arqui-inimigos quando tinham posições tão diferentes de ver o mundo e pela forma de se portar num campo de batalha. Ele, com impulsividade e um ou dois planos absurdos; Steve com um plano perfeito e cautela por aqueles que não poderiam se defender. Eram amigos quando sentavam para tomar um café com os amigos e trocavam provocações pelas coisas mais supérfluas ou nos momentos subsequentes a um treino pesado onde o resultado sempre dava empate. Eram enamorados e torturados pelo ato de não conseguir dar o primeiro passo depois de uma grande batalha, onde o que importava era se estavam bem e com coração pulsando.

Mas o relacionamento deles nunca tinha tido espaço para o vermelho, na opinião de Tony. Era uma cor definitiva demais, sem muitas interpretações, e representava, ainda, a sua armadura, que escondia toda a covardia que fingia não ter; seu escudo para não falar um "Eu gosto de você" de maneira direta e séria, sem o uso de piadas ou sarcasmo velado. Vermelho tinha a ver com suas bochechas quentes à menor insinuação de romance. Então, como você pode perceber, vermelho era só sobre ele e sua inutilidade. Tony estava até tomando certa aversão pela cor, na verdade.

Se bem que, para muitos, sua percepção fosse irônica, provavelmente. Já que o vermelho poderia ser associado às discussões acaloradas que tinham, mas, mesmo nelas, ele sentia-se paz. Como se sua alma perdida tivesse encontrado o lar que tanto procurava. O fato de respirar o mesmo ar que Steve era o suficiente para cessar o seu consumo desenfreado de álcool e outras drogas.

Então as pessoas eram simplesmente tolas em subestimar o azul e proclamar o vermelho como a cor do amor/ paixão, porque ela não era. Azul sempre foi o que fez o ser humano sonhar: hora pelos mistérios do oceano, hora com os da galáxia. Azul sempre instigou o homem a ser mais, melhor, compassivo.  Em suma, uma cor misteriosa, talvez a mais.

Então, não, vermelho não tinha nada a ver com a relação deles.

Até aquele momento.

Quando Tony, ao tentar murmurar a primeira e última declaração de amor sincera de sua vida, foi interrompido pelo seu sangue, que o impediu, fazendo com que levasse o remorso para sempre e onde quer que fosse. Quando o vermelho se transformou no sangue de Steve correndo pelas ruas e pela própria testa, fazendo-o associar a prostema¹ visão de sua vida terrena com uma armadura brilhante voando pelos céus de Nova York.

Eles entenderam a profundidade de seus sentimentos ali. E, por mais estranho e louco que fosse, sentiram que era recíproco.

Talvez, vermelho fosse a cor deles no final.

Ou, talvez, fossem uma mistura de azul e vermelho. Cores tão distintas e tão combináveis.

Se houvesse um horizonte ou algo além daquilo ali, poderiam ter uma segunda chance para mesclar as cores e transformar tudo no roxo que aparecia ao nascer e ao pôr do sol, num ciclo infinito. Assim como o amor deles.

Sempre como o amor deles.