Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 61
Especial: As Crianças do Statera Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo desse especial espero que gostem ♥



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Uma pausa foi necessária para que a plataforma fosse preparada. Havia um grupo de apostas clandestinas acontecendo entre os alunos, e Kaito tinha 96% da torcida e isso deixava Ivan um tanto frustrado.

— Não deveria se incomodar tanto — Blanc dizia de forma calma enquanto terminava seu almoço — O Kaito tem uma boa fama na academia.

— Ei, Ivan! — Amélia se aproximou da mesa com um sorriso no rosto — Está preparado para a batalha? Eu estava esperando que o Kaito caísse com o Blanc… acho que todos estavam… — A garota coçou a cabeça — Mas eu não espero menos de você!

Ivan sorriu um pouco sem graça, mas estava claramente satisfeito.

— Não ouse perder! — Amélia deu um soquinho no ombro dele — Se não vai ficar me devendo 20 pratas!

A caçadora saiu e Ivan foi incapaz de dizer uma única palavra. Ele constantemente refletia sobre o quanto precisava mudar essa atitude retraída.

— Ela apostou em mim… — O garoto parecia não conseguir organizar as ideias — Eu entendi direito?

— Sua dignidade vale 20 pratas? — Blanc o encarava o companheiro com escárnio.

— VALE! — Ivan saiu saltitante da mesa, em direção aos fundos da área de batalhas.

Ainda era cedo, mas ele queria ter certeza de que estava preparado.

Faltavam poucos minutos para o início da batalha e a arquibancada não tinha mais lugares a serem ocupados. Assim como Blanc, Kaito era uma celebridade na academia e não poderia dizer que Ivan era um qualquer. Sua aptidão física era algo que não dava para pôr defeito.

Assim que foi anunciado o nome dos dois competidores, ambos subiram na plataforma. Uma intensa torcida tomou todo o local. Diante da boa recepção, Kaito sorriu carismaticamente para a plateia. A boa aparência da estrela do arquipélago de Shima, fez com inúmeras garotas gritassem pelo seu nome.

— Exibido — Ivan resmungou.

— Não se preocupe, amigo! — Kaito sorriu debochado — A Amélia nem me olhou.

Ivan permaneceu em silêncio, mas seu rosto estava vermelho.

Na plateia Amélia encarava Ivan enquanto pronunciava algumas palavras, apesar de impossível se ouvir dali, ele havia lido perfeitamente a frase “20 pratas” em seus lábios.

— LUTEM!

Ao fim da fala do juiz, Kaito avançou para cima de Ivan tão ferozmente que o rapaz distraído com sua amada não se preparou para o impacto. Ivan foi empurrado para a beira da plataforma com tanta brutalidade que por pouco não despencou. Quando Kaito se preparava para um golpe que finalizasse aquela batalha, foi atingindo em cheio por uma cabeçada violenta, seguida de um soco no estômago que o afastou alguns metros do adversário.

— TRAPACEIRO! — Ivan caminhava na direção do inimigo.

— O juiz já tinha dado o sinal — Kaito dizia em meio a tossidas — Caramba… quando você ficou tão forte?

Irritado com a atitude do adversário, Ivan não se importou de responder e partiu para cima.

Kaito também avançou e ambos se chocaram com um impacto tão poderoso que poderia ser ouvido de qualquer parte da academia.

— E eu achando que o Blanc ia me dar trabalho — Kaito estava dando seu melhor, mas era incapaz de avançar um centímetro sequer.

Na plateia, Amélia vibrava com toda a sua animação, enquanto Blanc observava silencioso.

Tanto ataque quanto defesa dos dois adversários, pareciam ter a mesma intensidade de energia e era impossível prever o que viria a seguir. Em um momento de descuido, Ivan foi atingido em cheio no rosto, o que o fez cambalear alguns passos. Diante daquela rara oportunidade, Kaito o acertou com um chute aéreo tão forte que, Ivan se viu mais uma vez a beira da plataforma.

Enquanto observava Kaito se aproximando quase em câmera lenta, Ivan refletia sobre suas opções. Ele não valorizava tanto aquele torneio, Kaito por outro lado parecia dar tudo de si naquilo. Era realmente importante para ele, Ivan se sentia egoísta por ser um obstáculo nos sonhos de alguém. No entanto, ver Amélia saltando na platéia, torcendo por ele… Aquilo também poderia ser considerado um sonho.

“Se você não lutar pelo que deseja, vai morrer como um fracassado.” Uma frase rotineira de Blanc veio em sua mente. Talvez esse fosse seu grande problema, ele nunca lutava pelo queria. Nunca havia conseguido trocar mais de 3 palavras com Amélia, mas agora ela estava ali, torcendo por ele. Ele não podia sair dali como um fracassado. Ele saíria dali como um vencedor e a chamaria para um encontro. Diante desse último pensamento, Ivan sentiu sua força de vontade fraquejar.

— TUDO OU NADA! — O rapaz gritou enquanto erguia Kaito violentamente do chão, ele o girou algumas vezes no ar e em seguida arremessou o inimigo para fora da plataforma com tanta força que ele só parou após se chocar contra a base que sustentava a arquibancada.

Um silêncio absoluto tomou toda a arena, mas foi rapidamente interrompido pelo grito fervoroso de Amélia.

Ivan sorriu satisfeito para a garota e em seguida foi surpreendido pelo alvoroço da torcida. Até mesmo o juiz estava assustado demais para anunciar o resultado da batalha. Como poderia um combatente do nível de Kaito, ser arremessado longe como se fosse um pequeno estorvo.

— Você deveria lutar a sério com mais frequência — Kaito caminhou até a beira da plataforma — Faz honrosa a derrota dos seus inimigos.

— Do que está falando? — Ivan saltou para o chão e se aproximou do rapaz — Dei o meu melhor nessa batalha!

— Não se faça de bobo Ivan — Kaito estava irritado — Nenhum dos seus ataques se compara a esse último... e olha para você, nem está suado!

— Era minha estratégia — Ivan coçou a garganta e forçou uma expressão confiante — Você acreditou o tempo inteiro que estávamos no mesmo nível e de repente BANG! — Ivan socou a palma da mão — Eu te peguei de surpresa.

— Você não é tão inteligente assim — Kaito o olhou com desprezo — Deveria parar de se esconder na sombra de Blanc.

— É difícil para ele — Amélia se aproximou da dupla — Desde criança tentando agradar o amigo de ego frágil. Se ele exagerar no potencial pode abalar a relação.

— Não gosto que fale mal do Blanc — Ivan disse de forma ríspida e saiu de perto dos dois.

— Você deixou ele chateado — Kaito debochou.

— Ei! — Amélia se mostrava preocupada — Você também tem culpa nisso!

— Tenho sim — Kaito sorriu prepotentemente — Mas eu não sou afim dele!

— Será que se eu chamar ele para sair agora, vou levar um fora? — Amélia estava pensativa e ainda mais preocupada.

— Por que você não espera ele te chamar para sair? — Kaito estava curioso — Acho mais adequado.

— Não seja antiquado Kaito — Amélia o encarou decepcionada — Sem  falar que eu já estou esperando o Ivan tomar uma atitude há séculos… se eu não fizer nada vou acabar desistindo e ele é muito bonito para ser desperdiçado assim.

— O lado bom é que você não tem concorrência já que metade da academia acha que ele é apaixonado pelo Blanc — Kaito sorriu — E a outra metade tem certeza que ele gosta de você.

— Você é sujo… — Amélia deu um sorriso maldoso e em seguida saiu de perto do rapaz.

Incomodado, Ivan caminhava a passos pesados rumo ao seu dormitório. Apesar de se empenhar na procura de Blanc pelas redondezas do coliseu, foi incapaz de encontrá-lo.

“Ele pode ter tido uma reunião importante” Ivan pensava.

Não era nem a primeira vez que Blanc desaparecia sem dar explicações, geralmente algum mensageiro da família Lagunov lhe trazia um “convite urgente” do duque Lagunov. Ivan não gostava da família Blanc, nem de como o pai dele o tratava. Já o viu berrando com o filho algumas vezes e sempre que os dois se encontravam, o jovem duque voltava abatido para a academia do Statera.

— Quem é vivo sempre aparece! — Ivan usou um tom animado para cumprimentar o companheiro que acabava de chegar ao quarto compartilhado.

Blanc continuou caminhando em direção ao seu guarda roupas e começou a se trocar em silêncio.

Ivan permaneceu calado, mas estava preocupado com o estado emocional do seu colega.

Os dois dormiram sem trocar mais nenhuma palavra.

No dia seguinte bem cedo, ambos estavam no coliseu, esperando o início das seleções para a próxima batalha.

— Número 24 enfrentará o número 8 — O auto falante anunciou.

Ivan tremeu.

Blanc pôs uma expressão insatisfeita no rosto.

— Eu não posso acreditar que tiveram a insolência de me colocarem uma batalha com uma corredora! — O duque Lagunov praguejava.

— Você manda ela para fora da arena em 10 segundos — Ivan deu um sorriso amarelo — Não tem motivos para preocupação.

— É melhor para ela nem subir naquela arena — Blanc disse de forma fria e em seguida caminhou rumo a plataforma.

Ivan sentiu seu coração acelerar, se Alexander havia machucado tanto Amélia, o que ele poderia esperar de Blanc?

— Amélia! — Ivan correu em direção a garota.

— Veio me desejar sorte? — A caçadora sorriu enquanto ajeitava suas luvas.

— Você não pode subir na arena! — O garoto estava nervoso.

— Não ouviu o número chamado? — A garota apontou sorridente para a plaquinha colada em seu peito — É a minha vez!

— Você não tem a menor chance contra o Blanc… você precisa desistir… — A voz de Ivan estava trêmula.

A expressão de Amélia se fechou.

— Se você desistir agora, não vai se machucar… — Ivan gaguejava — Ele é um combatente rank S e…

— E eu sou só uma corredora né? — Amélia o interrompeu com irritação — Eu esperava mais de você Ivan!

— Me desculpe… — O caçador estava muito envergonhado — Eu só não quero que você se machuque…

Amélia se aproximou de Ivan e gentilmente tocou o rosto do rapaz.

— Acho que eu me machucaria mais se não tentasse, sabe? Se depois de tudo o que eu conquistei, jogasse tudo pro alto por causa do medo de tomar uma surra — Ela sorriu enquanto ele a olhava — E se você falar mais uma cagada dessas eu não vou mais sair com você! — A garota deu um soco no ombro do companheiro.

— Sair comigo? — Ivan estava perplexo — Amélia?

O susto o havia impedido de ver que a caçadora já estava nas escadas que levava a arena.

— Eu… EU ACEITO! — Ivan gritou.

Amélia seguia com um largo sorriso no rosto enquanto caminhava em direção a sua batalha, no entanto esse sorriso não condizia em nada com seu estado emocional. Ela estava assustada. Como nunca esteve em sua vida. Seu corpo ainda estava um pouco dolorido da última batalha, mas o que mais a incomodava era a sua insegurança. Blanc era forte, ela já havia sentido muito de seus golpes nos treinamentos, mas nada se comparava a uma batalha corpo a corpo numa arena.

— AMÉLIA! AMÉLIA! AMÉLIA! — A plateia estava eufórica com a chegada da primeira não-combatente nas semifinais.

Aquela euforia, enchia a garota de determinação.

— Farei isso por vocês… — A garota sussurrou para si mesma.

No fim do caminho, seus olhos pousaram sobre Blanc, que encarava o vazio, como se nem houvesse algo para ele fazer ali.

— Quem diria… — Amélia estava receosa — Nós dois aqui, não é?

— É uma enorme surpresa para mim também — Blanc tinha desinteresse em sua voz — Mas eu estou cansado de surpresas — Ele encarou a garota.

— As surpresas quebram a monotonia, quebrando assim as regras — A caçadora tinha coragem em sua voz — É assim que as revoluções se iniciam.


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Notas finais do capítulo

Que tal comentarem nesse capítulo hem?



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