Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 41
A Cidade de Ferrum


Notas iniciais do capítulo

NOVO ARCO
NOVOS PROBLEMAS



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— Sabia que Ferrum tem o maior zoológico do primeiro reino? — Catherine tinha um pequeno mapa do local.

Ela havia comprado de um vendedor ambulante que havia abordado os dois na entrada da cidade. Nesse momento Ryu entendeu que para Catherine o termo guardar dinheiro era desconhecido, qualquer moeda sobrando deveria ser gasta com a primeira coisa que aparecesse.

No breve momento em que ele se distraiu com essa reflexão, foi surpreendido pela cesta de maçãs que a bruxa havia comprado para Tommy. A velocidade dela em comprar coisas era assustadora.

Ele poderia ficar bravo, mas na verdade estava feliz. Diante de tantos acontecimentos traumatizantes, era muito bom ver a garota tão animada. Era como se fosse assim que as coisas devessem ser.

— Precisamos ser discretos — Ryu comentou enquanto os dois paravam em frente a um grande mercado — Eu vou comprar comida para a viagem e você pode comprar algumas coisas do seu interesse por aí.

Catherine abriu um sorriso largo e seus olhos pareciam brilhar.

— Mas tem duas condições — Ryu interrompeu os passos da garota — A primeira é: Não se afaste muito! Conseguimos contornar uma cidade da travessia entrando em Pack, mas Ferrum está na lista, por essa razão há chances do Minus estar por aí.

A bruxa acenou positivamente com a cabeça e então Ryu continuou.

— E a segunda é: Seja responsável! Tem bastante dinheiro na sua bolsa, não gaste tudo com besteiras, se não ficará sem nada para depois — Ryu deu um sorriso e continuou — Parece uma ótima oportunidade de testar o que você aprendeu sobre administração de finanças.

Apesar daquela condição ser bem mais complicada que a primeira, Catherine assentiu com a cabeça.

Vendo que o guardião não tinha mais nada a acrescentar, a garota seguiu seu caminho em direção às partes do mercado que a interessavam.

Depois de encher uma cesta de doces, ela se dirigiu até uma seção de revistas.

Inicialmente ela pegou um exemplar de cada, mas vendo que tinha em torno de 10 revistas em suas mãos e mal havia acabado a primeira prateleira, ela sentiu um desânimo tomar o seu coração.

“Seja responsável”

As palavras de Ryu se repetiam em sua mente enquanto ela devolvia as revistas aos seus respectivos lugares.

— Eu achei essa foto péssima — Um homem segurou uma revista que Catherine havia acabado de deixar na prateleira.

A voz desconhecida fez a bruxa saltar. Ao virar-se para se certificar de quem se tratava, foi surpreendida pela imagem de um homem bonito demais para ser comum.

— Perdoe-me — O recém chegado se curvou educadamente — Me chamo Vincent Chermont!

Saber que se tratava de uma celebridade a sua frente não a deixava tão calma, mas com certeza era melhor que um caçador do Minus.

— E-eu é que peço desculpas — Catherine se recompôs e estendeu a mão para cumprimentá-lo — Catherine Gibran.

— É um prazer senhorita Gibran — O homem se curvou e beijou a mão da bruxa.

Aquele gesto foi inesperado para a garota, talvez ela não estivesse tão acostumada com as manias da nobreza, mas ela só via esse tipo de cumprimento em filmes de época.

— Bom… Foi um prazer conhecê-lo! — Catherine sorriu educadamente — Mas agora eu preciso ir.

Era claro para ela o quanto aquele encontro poderia ser problemático. Há poucos minutos Ryu havia pedido para que ela não chamasse atenção, agora estava de papo com ídolo teen. Ela era até capaz de ouvir as reclamações do guardião com antecedência.

— Senhorita Catherine, espere por favor… — Vincent se pôs a frente da garota, impedindo assim que ela continuasse seus passos.

O gesto causou estranheza na bruxa e os olhos dela logo buscaram por Ryu. Celebridade ou não, qualquer um que impedisse a sua passagem parecia uma ameaça.

— Sei que parecerei maluco por dizer tais absurdo mas… — Vincent segurou firme as mãos da garota e se aproximou dela — Eu senti algo quando te vi… como se já tivéssemos nos conhecido em alguma vida passada.

— Me desculpe senhor, mas eu não acredito em vidas passadas — Catherine se livrou das mãos de Vincent e se preparou para sair.

— Espere! — A voz do homem que até aquele momento estava delicada e gentil, tornou se forte e imponente.

Catherine, por mais que almejasse sair daquele lugar o mais rápido possível, sentiu uma súbita mudança em seus desejos. Ela sentiu como se precisasse estar ali, como se tivesse algo inadiável para fazer, mas foi incapaz de se lembrar o que.

— Como eu dizia… — Vincent segurou as mãos da garota mais uma vez — Você já sentiu esse sentimento senhorita Gibran? A energia que emana de você é como um sol.

Os olhos de Catherine estavam fixos nos de Vincent, mesmo que ela não quisesse encará-lo, era incapaz de evitar. A bruxa sentiu um terror tomar o seu corpo, corpo esse que ela havia perdido o total controle.

— Existe luz em tudo em você Catherine! — Vincent se aproximou ainda mais do rosto da garota — As poesias falam de olhos castanhos que se assemelham ao pôr do sol, mas os seus… os seus são como o sol de meio dia. Imponente, poderoso e queima…

Antes que ele pudesse concluir o ato de beijar a bruxa, teve seu ombro puxado com força o suficiente para que ele fosse alguns metros afastado de Catherine.

Um pouco incrédulo, ele se virou para ver a identidade do agressor.

— Quem você pensa que é? — O conde encarou Ryu.

— O guardião dela — Ryu tinha uma expressão imponente em seu rosto.

— Então guardião… — Vincent se recompôs e sorriu — Você não tem nada a fazer aqui.

— Me leva embora… — A voz de Catherine saiu quase como um sussurro.

— O que? — Os olhos de Vincent se arregalaram e ele voltou sua total atenção para a bruxa — Você quer ficar!

O conde tentou se aproximar de Catherine, mas antes que pudesse sequer tocá-la foi empurrado por Ryu tão agressivamente que acabou caindo sentado no chão.

— Vamos sair de perto desse maluco! — Ryu segurou a mão de Catherine e os dois saíram daquele lugar.

— Quer que eu o mate? — Uma mulher se aproximou do nobre caído e o ajudou a se levantar.

— Não se dê ao trabalho Louise… — Vincent se pôs de pé e retirou a poeira de seu casaco — Ela rejeitou um comando… pode acreditar nisso? Ela estava sob a minha magia e mesmo assim rejeitou um comando!

— Quem é a garota? — Louise perguntou.

— Aparentemente o amor da minha vida — Vincent se mostrava inspirado.

Já fora do mercado, Ryu e Catherine buscavam por um lugar para dormir.

— Você está bem? — O guardião perguntou.

Apesar de confirmar com a cabeça, Catherine ainda tremia enquanto segurava a cela de Tommy.

— Aqui parece um bom lugar… O que acha? — Ryu apontava para um hotel.

— Não olhamos os preços ainda — Catherine analisava a fachada do lugar — E isso aí parece bem caro.

— Podemos fazer uma exceção hoje — O guardião sorriu.

Já alojados, Ryu preparou o jantar para os dois.

— Você conhecia aquele cara? — Ele tocou no assunto.

— Mais ou menos… — Catherine estava claramente mais calma — Ele é um músico famoso, toca piano e violino... é um conde também.

Ryu entregou a Catherine seu prato de comida e antes de se sentar, reconheceu o rosto de Vincent em uma das revistas que a garota havia comprado.

Na capa estava escrito:

“Conde Vincent Chermont, o bruxo do ano por três anos consecutivos.”

— Só existe uma coisa pior do que nobres… bruxos nobres! — ele comentou.

— “Vincent diz estar a procura de uma noiva, não será difícil para ele encontrar candidatas afinal, quem não gostaria de se casar com o melhor partido dos 7 reinos.” — Ryu lia a matéria com uma expressão de nojo em seu rosto — Se eles soubessem que ele é um louco que aborda garotas desconhecidas na rua e as assusta, ele não seria mais tão bem visto.

— Foi bem estranho mesmo — A bruxa comentou — Mas acho que eu é que exagerei… eu não sei… é difícil explicar…

— De qualquer forma, as garotas se arrastam para o nobre famoso, só porque ele é nobre e famoso — Ryu se mostrava indignado.

— Não apenas, o conde Chermont está envolvido em muitos projetos beneficentes, inclusive usa a sua casa para abrigar crianças órfãs — Catherine caminhou até Ryu e folheou algumas páginas — Ele também é considerado um dos maiores símbolos de beleza da atualidade.

Ao fim da frase a bruxa apontou para uma foto que ocupava uma página inteira. Nela estava Vincent sem camisa, usando apenas um calção preto na beira da praia. Os cabelos loiros dele brilhavam como se tivessem fios de ouro e sua pele branca cintilava uma luz perolada.

— Ele é bem comum para mim — Ryu comentou um pouco intimidado.

Catherine riu por alguns segundos, era claro que o guardião havia criado antipatia pelo bruxo que mal conhecia.

— Bom… — A bruxa se espreguiçou — Vou tentar dormir um pouco. Não quero saber de Vincent Chermont por um bom tempo… talvez para sempre.

— Parece bom para mim! — Ryu deu de ombros e acompanhou Catherine até a cama.

Ele cobriu a garota sonolenta e voltou a ler sobre o tal conde. Não demorou muito para também ser tomado pelo sono e ir para sua cama.

— Ryu!

Uma voz distante ecoava na cabeça do guerreiro.

— Ryu!

A voz estava cada vez mais alta.

O guardião tinha muita dificuldade em abrir os olhos, pois estavam pesados.

— Onde está Catherine? — Dessa vez, Ryu reconheceu a voz de Eveline — Sai dessa Ryu! Você está enfeitiçado!

Nesse momento, mesmo com muita dificuldade, ele conseguiu abrir os olhos. Tomado por uma adrenalina muito intensa, Ryu tentou se levantar da cama rapidamente, mas foi impedido por uma espécie de teia feita de um material muito forte. Ao notar o sangue escorrer pelo seu rosto, ele também concluiu que aquilo era extremamente afiado.

Ele tentou mover os braços, mas cada movimento causava uma dor muito forte e ele compreendeu que estava completamente preso a aquela teia.

— Pare de agir como um animal encurralado e pense com clareza! — Eveline estava em pé ao lado de Ryu.

As palavras da bruxa o ajudaram a sair daquele momento de desespero.

— Dark Blood… — O guardião recitou.

No mesmo instante, Eveline tomou a forma de um líquido negro e cobriu o corpo do rapaz por inteiro.

Agora livre do incômodo que os cortes causavam em sua pele e ainda com a força de um tesouro celestial pulsando em seu corpo, o guardião rompeu todos os fios que o mantinha preso a cama, levando junto a própria cama que a essa altura já estava em pedaços. Mesmo após serem partidos, os fios se levantaram como serpentes e avançaram na direção do guerreiro.

Usando a espada de lâmina negra que já estava em suas mãos, Ryu retalhou todos os fios, garantindo que eles não se levantassem mais.

Ele parou um pouco para respirar, mas no momento em que viu a cama de Catherine vazia o pânico o tomou novamente.

O guardião correu em direção a janela e avistou a bruxa ao longe. Ela estava acompanhada de Vincent e ambos andavam em direção a uma carruagem.

Mesmo estando no 4º andar, Ryu se lançou pela janela de vidro, ciente de que um elevador não seria o suficiente para alcançá-los.

Antes que ele pudesse tocar o chão, foi envolto novamente pelo escudo de Eveline.

— Você é maluco! — A espada protestou.

— E você é eficiente — Ryu respondeu de forma prática.

O som do solo se rachando com o impacto do corpo de Ryu, que mais parecia concreto, fez com que Vincent se assustasse.

— Catherine! — O guardião tentava alcançar a bruxa, mas ela continuava caminhando em direção a carruagem, como se não houvesse mais nada além disso ali.

— Louise… — O conde disse com tranquilidade.

Nesse momento, Ryu teve sua perna agarrada por um fio afiado. Instintivamente ele usou a lâmina de Eveline para cortá-lo. Mas uma infinidade de fios surgiam de todos os lados, fazendo o guerreiro perder mais tempo. Antes que percebesse, Ryu estava completamente envolto em fios que feriam tanto a sua pele, que ele podia ver o sangue escorrendo pelo seu corpo.

— Dark Blood! — Ele gritou, mas não houve nada.

Eveline estava caída no chão e nem ao menos o respondeu.

— Eveline! — Ryu clamou pela espada, mas não obteve resposta.

Au revoir — Uma garota de pouco menos de 18 anos caminhou até Ryu e com alguns movimentos de dedos fez mais fios se envolverem no pescoço do rapaz.

— CATHERINE! — O guardião gritou mais uma vez na tentativa de acordar a garota daquele transe.

A bruxa do azar se virou pela primeira vez aquela noite e encarou o rapaz ensanguentado.

— Querida… — Vincent dizia com ternura — Entre na carruagem.

— Por que? — Ela tinha olhos distantes.

— Para irmos para nossa casa meu amor.

— Otium… — A bruxa sussurrou.

— Cather… — Antes que Ryu pudesse terminar sua fala, teve a boca envolta em mais fios.

— Não meu amor — O conde acariciava os cabelos da bruxa e levava o rosto dela em direção o dele, de forma que a pudesse encarar — Vamos para nossa casa.

— Por que? — Os olhos da bruxa transbordavam em lágrimas.

— Entre logo meu amor — Vincent empurrava levemente as costas da garota em direção a carruagem.

— Ele está sangrando… — Catherine voltou sua atenção novamente para Ryu.

— Ele merece — Vincent respondeu friamente.

— Ninguém merece se machucar.

— Ele merece! — O conde a encarou com mais veemência.

— Ninguém merece se machucar… — Apesar de claramente sensível, Catherine não voltou em sua palavra.

Por mais intenso que fosse o controle de Vincent sobre a mente da garota, ele era incapaz tocar em seus princípios.

— Louise… — Vincent chamou — Você ouviu a minha noiva.

— Está brincando comigo, não é? — Louise parecia não acreditar no que havia ouvido.

— Ninguém merece se machucar! — Vincent tinha um sorriso cínico estampado em seu rosto.

A conversa continuou, mas Ryu não foi capaz de acompanhá-la, pois logo perdeu a consciência.


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Notas finais do capítulo

Gostou do capítulo?
O que acharam do Conde Chermont?
Eu acho ele um charme, mas ele é do mal!
Bad romance



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