Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 39
Conspiração


Notas iniciais do capítulo

Yuki Yamamoto é um personagem que eu gosto muito. Ela inteligente e habilidosa, mas o que mais gosto nela é que ela é uma representação feminina muito forte.



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— Você a conhecia? — Catherine estava de pé, diante do sofá onde Josh estava sentado.

Os convidados já haviam partido e Ryu estava no banho.

— Safira? — Josh estava receoso.

A bruxa acenou positivamente com a cabeça.

— Ela foi muito importante na minha vida… Eu achei que estivesse morta… — Josh tentou conter as emoções..

— Algumas bruxas não seguem o caminho até o Altiore simplesmente por acreditar que ainda tem negócios a resolver aqui… — A garota se aproximou do caçador — Talvez ela ainda tenha algo a fazer.

— Não… não foi natural. — ele sussurrou — É mais cruel do que você pode imaginar.

— Bom, se esse for o caso eu prefiro me abster de informações — A bruxa respirou fundo — Eu quero te pedir uma coisa.

Josh permaneceu em silêncio, permitindo assim que ela prosseguisse.

— Durante a batalha, eu me desfiz de um objeto importante — Catherine dizia enquanto acariciava o pulso — Você é o único aqui que pode me ajudar com isso.

O caçador compreendeu o que se tratava e deu uma olhada nos bolsos, por sorte, lá havia um pequeno rolo de raiz de laranjeira, mais que o suficiente para a situação de Catherine.

Ele fez um pequeno corte no dedo e deixou pingar algumas gotas do sangue sobre a planta que a essa altura já estava amarrada no pulso de Catherine. No momento em que o sangue do caçador tocou a raiz, um pequeno brilho vermelho resplandeceu e a bruxa sentiu suas pernas falharem. Josh a amparou de forma que ela não caísse no chão.

— Acho que eu perdi o costume… — A bruxa disse com a voz um pouco fraca.

— O  QUE ESTÁ ACONTECENDO? — Ryu correu em direção a sala trajando apenas uma toalha na cintura e armado de uma escova de dentes.

— Você precisa dormir… — Josh disse com desdém.

— Não sei do que você está falando — Ryu tinha um tom calmo — Eu estou em perfeitas condições!

— Você precisa de uma calça — Eveline, assumiu sua forma humana.

— Isso talvez sim. — Ryu tinha um tom vermelho em suas bochechas, mas escolheu manter sua posição confiante.

— Isso é muito injusto… — O semblante de Josh caiu ao se deparar com a imagem de Eveline.

— O que? — Cat estava confusa.

— O Tesouro Celestial do Ryu… — A voz do garoto estava quase inaudível —  É uma moça jovem e bonita! Eu tenho quatro! E se trata de uma idosa, um marmanjo e duas pirralhas!

— Isso é realmente importante? — A expressão de Ryu era de incredulidade.

— CLARO QUE SIM! — Josh estava revoltado — Nem com isso eu tenho sorte!

— O que você entende como jovem? — Eveline tinha uma expressão confusa — Se juntasse todos presentes nessa sala, não daria para somar um terço em anos da minha existência.

— Senhor azarado! Já deu uma olhada na soqueira que você pegou do Hector? — Ryu apontou para a bolsa de Josh — Talvez você tenha “sorte” dessa vez!

— É verdade… — Josh havia se esquecido completamente do objeto adquirido.

Ele então tirou a soqueira da bolsa e em seguida a colocou em cima da mesa de centro da sala.

— Olá… — Josh disse enquanto encarava a arma — Preciso falar com você…

Uma luz circundou o objeto e ele tomou a forma de um garoto que parecia beirar os 13 anos.

— Você matou o meu portador! — O menino estava zangado.

— Na verdade foi o Sebastian… — O caçador estava receoso.

— Mataria de novo se tivesse oportunidade! — A voz de Sebastian se fez audível para todos ali presentes.

— Por que foi tão fácil para ele evocar o Tesouro e eu tive que ter aqueles pesadelos horríveis? — Ryu estava indignado.

— Caçadores tem uma ligação especial com as almas das bruxas, já que eles são os principais ceifadores de vidas mágicas. Pode ser uma benção ou maldição depende de como você vê. — Eveline explicou.

— Como você se chama? — Josh tinha uma voz terna.

— Eu não quero falar com você! — O garoto disse com raiva e depois voltou a forma da soqueira.

Josh suspirou um pouco decepcionado e depois se recostou no sofá.

— É isso? — Ryu estava desapontado — Se ele não quer, você não tem uma arma?

— Na verdade, se o poder da alma de um caçador for maior que o estado atual da alma de uma bruxa ele pode dominá-la e usá-la mesmo sem o consentimento. Está claro que esse seria o caso. — Eveline explicou mais uma vez.

— Mas aí eu estaria violando a vontade e o corpo de outra pessoa! — Josh respondeu — Vamos dar tempo ao tempo, quem sabe possamos nos dar bem no futuro!

A expressão tranquila que Josh tinha enquanto dizia aquelas coisas, trazia confusão a Eveline. Apesar de ser um caçador do Minus e ainda filho de Blanc Lagunov, ele tinha um bom coração.

— Ryu! — Catherine arremessou uma almofada no companheiro — Vai vestir uma roupa!

— Que susto, Cat! Por acaso você quer que eu deixe a toalha cair?

— C-CLARO QUE NÃO! — A bruxa ficou vermelha como um tomate.

— Vocês fazem um belo casal. — Josh soltou.

Um silêncio constrangedor seguiu por alguns segundos até o momento em que foi quebrado por Ryu:

— Eu também acho.

Catherine arregalou os olhos, encarou o guardião e depois de um longo suspiro gaguejou:

— P-preciso dormir, amanhã teremos um longo dia! — Em seguida ela caminhou até o seu quarto e fechou a porta.

Eveline e Josh encararam Ryu.

— O que foi? — O garoto ergueu as mãos na frente do corpo em sinal de defesa — O Josh é quem começou!

No laboratório secreto da Minus, uma confusão se instalou.

— Você não pode deixar ela fugir! — Hoffman berrava com Benjamin, que havia sido incapaz de sequer tocar na engenhosa duelista.

O guerreiro correu em direção ao corredor que levava a porta da saída, mas foi parado por duas explosões consecutivas, uma em sua direção, da qual ele desviou com facilidade graças a sua grande velocidade e outra que provocou uma enorme cortina de fumaça, que indicava que Yuki havia conseguido sair do laboratório.

Do meio da poeira, Yuki saltou como um hábil felino e começou a correr a todo vapor. Depois de conseguir uma boa distância ela se virou para trás e ao visualizar a imagem de Benjamin disparou três tiros consecutivos, ela sabia que mesmo com a sua boa mira, seus movimentos poderiam ser previstos por um corredor, mas sem uma bom terreno, Benjamin perderia muito da sua velocidade.

Como esperado, os disparos de Yuki não atingiram o caçador, mas transformou o chão em um monte de destroços. Enquanto Benjamin tentava ultrapassar aqueles obstáculos, Yuki corria em direção a enfermaria.

— RYAN! — Yuki gritou assim que chegou no quarto.

Mas diferente do que ela esperava, o único presente ali era Blanc.

— Senhor… — A garota deu alguns passos para trás.

— O Ryan foi transferido para uma outra ala minha pequena Yuki, vejo que passou a tarde ocupada, já que não sabia dessa informação — A voz de Blanc era doce, entretanto, Yuki já desconfiava dele muito antes de saber sobre o laboratório. Mas agora, depois de tudo que ela havia descoberto, tinha certeza de que algo tão grande, não poderia acontecer sem que ele soubesse.

Foi em um momento de distração, que a garota acabou sendo agarrada por trás.

— Você é muito escorregadia! — Usando apenas o braço que lhe restava, Benjamin a segurou firme.

Mesmo com a ausência do membro, Yuki sentiu a força do caçador muito superior a de qualquer corredor que ela já havia conhecido.

Blanc caminhou até a garota e se preparava para dizer algo, quando Yuki pegou impulso no corpo de Benjamin e em seguida acertou o seu superior no peito com os dois pés.

Blanc não moveu um músculo, mas o impacto fez Benjamin cambalear para trás. A garota aproveitou aquele momento para pegar uma pequena, mas afiada adaga de sua manga e o atingiu duas vezes no braço.

O ferimento fez com que o inimigo a largasse imediatamente. Yuki estava pronta para correr em direção a porta, mas foi atingida com um soco na costela que a fez voar alguns metros pelo cômodo e se chocar contra um armário de medicamentos.

— Eu admiro a sua perseverança, Yuki — Blanc, o autor do golpe, dizia de forma tranquila — Mas você está do lado errado.

Um pouco zonza, a garota levava a mão ao local da pancada, ciente de que havia fraturado alguma coisa.

Enquanto Blanc se aproximava, ela ergueu seu arco e apontou para ele.

— Você sabe que isso é inútil Yuki… — O general dizia com decepção — Não deixe o desespero manchar a imagem de caçadora inteligente que você construiu ao longo de suas missões.

— Não deixarei… — Ao fim de sua fala, a garota disparou três tiros consecutivos.

O primeiro foi em Blanc, mas a flecha se desintegrou pouco antes de o tocar. O segundo atingiu a janela atrás dos inimigos e o terceiro o teto acima deles.

Um amontoado de pedras despencou sobre Blanc e Benjamin, então Yuki saltou sobre os destroços que enterraram seus adversários e em seguida pulou a janela de vidro recém quebrada, em direção ao pátio da sede.

O salto não planejado do segundo andar, rendeu a Yuki alguns hematomas, mas isso não foi suficiente para pará-la.

— Maldita! — Benjamin retirou as pedras que o prendiam.

Diante dele, Blanc limpava a poeira em seu casaco com um sorriso tranquilo em seu rosto.

— A Yuki é excepcional não acha? — O general sorriu para seu subordinado — Mesmo diante de tanta desvantagem ela ainda faz surgir ideias.

Despencando de dois andares, Yuki se esforçou para ter uma boa aterrissagem, mas acabou sofrendo alguns ferimentos.

— A dor acontece no seu cérebro! — Blanc caminhava de um lado para o outro enquanto explicava aos adolescentes que o assistia — Se você controlar a sua mente, a dor não será um obstáculo.

As lembranças causavam a garota uma nostalgia dolorosa. Blanc era o seu mestre e um segundo pai, mas agora ele estava tentando matá-la.

Enquanto tentava se desvencilhar daqueles pensamentos prejudiciais ao seu foco, a caçadora avistou uma pessoa. Se tratava de Igor, um rastreador que ela havia visto poucas vezes, mas apesar do pouco contato, ele seria a sua única chance de não morrer com aquele segredo.

— Código preto! — A voz de Blanc ecoou pelo pátio.

No momento em que o homem ouviu aquelas palavras, sacou uma espada curta e desferiu um ataque contra a garota.

Yuki conseguiu desviar a tempo, mas o movimento foi tão rápido que ela teve alguns fios do seus cabelos cortados.

Diante da guarda aberta do inimigo durante o ataque, a garota o atingiu com vários golpes precisos em pontos específicos, usando apenas os dedos. Apesar de sutis, foram suficientes para que Igor caísse de joelhos, com os dois braços imobilizados.

Yuki olhou para trás para ver onde Blanc estava, e o viu distante, caminhando lentamente, como quem estava perseguindo uma presa fácil.

Enquanto ela se preparava para correr, viu um vulto se aproximar, sem nem mesmo ter a chance de se defender, foi atingida em cheio com um soco no estômago, forte o suficiente para fazê-la rolar metros em alta velocidade.

— Maldito… Benjamin… — murmurou.

Ela respirou fundo na tentativa de conseguir controlar aquela dor, mas o ar que enchia seus pulmões parecia estar envolto em lâminas afiadas que a perfuravam por dentro. Aquele golpe a tinha quebrado inteira, ela sabia. Mas como um corredor poderia ter tanta força?

Yuki tentou se levantar, mas foi atingida com um chute que combinou uma força monstruosa com uma velocidade sobre-humana.

Ela voou pelo céu como uma folha seca e caiu no chão, praticamente sem vida.

O som de conversas ao longe a fez abrir os olhos e usou suas últimas forças para gritar por ajuda.

— Yuki? — O garoto que a havia visto caída no chão se chamava Gaspar e estava acompanhado de mais dois caçadores.

— Todos estão… — Yuki tentava forçar suas palavras — Existem coisas ruins…

— O que está dizendo? — Gaspar se ajoelhou ao lado da garota — O que houve?

— Código preto — Blanc gritou novamente.

Ao ouvir aquelas palavras, Yuki sentiu seu coração doer. O Minus inteiro estaria corrompido? Seria ela a única a não saber das barbaridades que se passavam ali? Até o mesmo o doce Gaspar estaria nadando naquele mar de podridão?

Os pensamentos de Yuki foram interrompidos por algumas gotas de um líquido quente pingando em seu rosto e logo em seguida, o corpo de Gaspar caiu sobre o dela.

— Como ela descobriu? — Astrid, um dos que acompanhava Gaspar dizia com um tom irritado enquanto limpava a lâmina ensanguentada.

— Ela é esperta!

— Vamos sumir logo com esses corpos, antes que algum infeliz desavisado acabe como o Gaspar!

— A Lissa vai ficar bem triste… Sabia que os dois se casariam mês que vem?

— A vida às vezes é bem dura.

Yuki não fazia ideia de quem eram as vozes, mas absorvia aquelas palavras ásperas com lágrimas nos olhos, olhos que ela era incapaz de abrir.

“Pobre Gaspar… Por um momento eu gostaria que ele estivesse do outro lado.”

— Mate-a de uma vez! — A voz de Blanc, Yuki conseguiu discernir — Que ao menos seja uma morte digna de uma guerreira do Minus.

— Por favor… — Yuki sussurrou — É a minha única chance…

— O que? Com quem ela está falan…

Antes que Astrid pudesse terminar a sua frase, foi interrompida por uma explosão de luz.

— É muita ousadia pedir a minha ajuda depois de tudo o que fez ao meu povo.

Uma voz feminina e suave, diferente de qualquer uma que Yuki já havia ouvido a fez abrir os olhos.

Ela não estava mais nos pátios do Minus, mas em um local totalmente escuro, com a exceção de uma mulher.

— Você é o meu arco… — Yuki sussurrou.

Diferente do seu estado físico, que estava deplorável, naquele lugar ela se sentia bem, sendo capaz até mesmo de ficar de pé.

— Sim, eu sou seu arco. Sua propriedade. Pois foi isso que eu me tornei depois que o seu grupo me tirou a vida! — A mulher a olhava com raiva nos olhos — E depois de perder tudo, ainda fui violada e forçada a fazer as suas vontades!

Os olhos de Yuki estavam vazios e ela era incapaz de dizer qualquer palavra diante do discurso de ódio da bruxa. Era a segunda vez que ela a via, na primeira, Yuki a havia evocado e no momento que ela se negou a ajudá-la, a caçadora usou a força da sua alma para subjugá-la.

Nunca havia estabelecido vínculos, nem sequer sabia o seu nome e naquele momento compreendia todo o rancor que ela guardava.

— Eu posso acabar com isso… — Yuki soltou.

— Você é parte disso! —  A bruxa rebateu.

— Não… Eu nem sabia o que acontecia… eu...eu acreditava estar do lado certo… o lado que protegia as pessoas — A essa altura, a caçadora já estava chorando — Você precisa me ajudar a não deixar que mais ninguém passe pelo que você passou!

Os olhos da bruxa se arregalaram. Ficaram focados na expressão desesperada e sincera de Yuki. Mesmo não estando emocionalmente ligadas, um tesouro poderia ter algumas informações sobre seu portador, como por exemplo, se ele estava mentindo.

— Eu não gosto de você e de nada do que você representa… — A mulher tinha uma voz firme — Mas estabeleço agora uma aliança em nome de todas as vítimas da ambição dos caçadores.

— Eu prometo… — Yuki levava o punho fechado ao peito, gesto que entre os caçadores simbolizava uma jura inquebrável — Darei tudo de mim para acabar com essas atrocidades, não somente do meu corpo que agora está em fagalhos, mas também da minha alma que permanece inabalável!

 


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Notas finais do capítulo

Gostou do capítulo?
Obrigada pelo apoio até aqui pessoal!
Tenho tido dias difíceis, mas vcs fazem deles mais fáceis de levar.
Obrigada.



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