Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 37
Fim da Missão


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora!



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— Ryu!

Ao ouvir o chamado de Catherine, o guardião correu rumo ao banheiro a toda velocidade.

— Está tudo bem? — Ele estava nervoso.

Depois do dia difícil que eles haviam tido, qualquer chamado parecia um pedido de socorro.

— Está sim! — A bruxa se manteve com os olhos fixos no espelho — Preciso que você me ajude com uma coisa.

Ryu se aproximou dela um pouco receoso.

Sem dizer nenhuma palavra, ela entregou uma tesoura para ele. Os olhos ainda fixos na sua imagem.

— O que quer que eu faça, Cat?

A menina deu um longo suspiro e começou a falar:

— Quando saímos de Otium, eu acreditei que a travessia era algo simples… Íamos cruzar o reino e chegar até o santuário. Não parece nada absurdo né? — Cat olhou para Ryu, mas o garoto permaneceu em silêncio — Então eu fui parar na fogueira…

Enquanto pronunciava aquelas palavras, Cat sentiu as lembranças daquele momento invadirem a sua memória. Ryu se apressou a tocar-lhe os ombros, talvez aquilo a fizesse se sentir segura. Ele realmente queria que ela se sentisse segura.

— Aquilo deveria ter me deixado mais forte, mas a verdade é que… Eu quis desistir…

— Você continuou Cat, não existe nenhuma prova maior de força — Ryu tentava consolá-la.

— Não… Eu não tive outra escolha. Eu não fui forte, eu só continuei andando… Continuei andando porque você me arrastou pelo braço — Os olhos de Catherine estavam cheios de lágrimas — Quando meu pai disse que iríamos voltar para Otium eu não soube o que sentir. Queria minha casa e meu conforto. Mas eu queria ser uma grande bruxa também.

— E então você foi forçada novamente… — Ryu suspirou.

— As coisas só aconteceram — Catherine já estava com o rosto completamente molhado — Eu fui incapaz de tomar qualquer decisão desde o momento em que comecei a viagem… Desde o momento em que eu nasci!

Ryu sentiu um frio na barriga. Era estranho pensar nisso dessa forma, enquanto para ele aquela jornada era uma das poucas coisas sólidas em sua vida, para ela era como seguir a corrente. Pela primeira vez, ele sentiu que eles não estavam juntos naquilo e isso o fazia se sentir solitário.

— Mas hoje eu decidi… — Catherine sorriu para o seu reflexo e ao mesmo tempo para Ryu, seu rosto molhado trazia certa pureza aquela expressão — Eu decidi viver!

O guardião arqueou as sobrancelhas e esperou que a garota explicasse mais claramente do que falava.

— Eu lutei de verdade! Eu escolhi ir para o santuário, e não somente porque eu preciso, eu quero estar lá! — A bruxa se mostrava inspirada — Eu mordi, arranhei e corri!

— E eu estou muito orgulhoso disso — O guerreiro deu um beijo na cabeça da garota.

— Corte meu cabelo! — Catherine disse de forma impetuosa.

— O que?

— É... corte o meu cabelo! — A bruxa apontava para a cabeça.

Ryu tinha uma expressão confusa em seu rosto, ele não compreendia como tudo havia chegado naquilo.

— Eu gasto muito produto nisso tudo — A bruxa jogava as longas mechas encaracoladas para trás — Gasto muito tempo lavando e penteando! E eles são muito marcantes, quer dizer… qualquer pessoa poderia me reconhecer só com uma olhada rápida!

— Tem certeza disso? — Ryu a encarava através do espelho.

Catherine balançou a cabeça positivamente e concluiu:

— Eu quero marcar essa nova versão de mim!

O guardião respirou fundo e começou o seu trabalho.

Assim que cortou a primeira mecha, teve que se certificar de que não havia ferido a garota, pois Catherine saltou como se tivesse sido espetada.

— Está tudo bem?

Ela confirmou com a cabeça.

Mecha por mecha, os cachinhos despencavam. Ora no colo de Catherine, outra no chão. Ao fim, o banheiro branco parecia um mar castanho.

— Está tudo bem? — Ryu perguntou mais uma vez.

Catherine fazia um bico, como se fosse uma criança prestes a chorar em desespero.

— Eu estou horrível, né? — A bruxa observava seu reflexo no espelho, enquanto alisava o cabelo que agora não passava de seus ombros.

Ryu a olhou com carinho e disse enquanto sorria:

— Acho que nunca estive diante de uma garota tão linda.

A resposta de Ryu a deixou tão encabulada, que ela apenas o empurrou para fora do banheiro e fechou a porta.

Após se certificar de que estava trancada, deslizou de costas pela porta até se sentar no chão.

Um sorriso sem graça, mas muito satisfeito brotou em seu rosto.

Ela gostou da ideia de ser a garota mais bonita… para ele.

Em um pequeno barco de resgate, Ryan acordava um pouco confuso.

— Ei! Ei! — Yuki tentava acalmar o amigo agitado — Está tudo bem… Você está a salvo agora.

— Benjamin… — O garoto sussurrava quase em delírio.

— Está bem também — A garota suspirou e em seguida disse furiosa — Eu nadei enquanto arrastava dois marmanjos com dobro do meu tamanho! Vocês são muito incompetentes!

— Desculpa… — Ryan levou a mão ao rosto, tapando os olhos, e uma lágrima escorreu em seu travesseiro.

Yuki quebrou. Não imaginava aquela reação, apesar da aparência pacífica, Ryan jamais havia chorado na frente dela. Aquela missão havia mexido com ele, mais do que ela imaginava.

— Ei… — Consolar pessoas nunca tinha sido o forte dela — Aposto que na próxima vez você vai acabar com aquele tal de Ryu!

— Eu não me importo mais… — A voz do garoto estava pesada.

— Pare com isso Rousseau! — Yuki se mostrava firme — Graças a Safira você está vivo e com ela ao seu lado você terá uma nova chance de…

— Ela me traiu — Ryan estava ríspido.

— O que? — Havia perplexidade na voz da garota.

— Passamos a vida inteira acreditando que podemos confiar nossas vidas aos Tesouros Celestiais, mas bruxas são bruxas no fim das contas — O rapaz virou o rosto para a parede — Devo desculpas ao Blanc e um braço ao Benjamin.

— A culpa não é sua… — Com as mãos cerradas e apoiadas no colo, Yuki sentia o peso daquelas palavras em seu peito.

— Quem estava a frente na missão? — Ryan encarou a companheira.

Yuki não teve resposta.

— Se puder, avise ao Blanc que farei um pronunciamento oficial aos caçadores.

— Você não pode… — A garota estava desesperada — Ryan precisamos de você!

— Hoje, mais do que nunca, eu percebi que não precisam.

— Repense… por favor… — Yuki estava há pouco de chorar.

— YUKI YAMAMOTO! — Ryan elevou seu tom de voz.

Mesmo estando extremamente fragilizada, a garota fez posição de sentido.

— Como ainda sou seu superior… — Ryan respirou fundo, evitando olhar para a companheira — … faço agora do meu pedido uma ordem.

Uma lágrima escapou e escorreu pelo rosto focado de Yuki.

— S-sim senhor…

— Dispensada!

A garota saiu, com o coração apertado, mas silenciosa.

— Obrigada… — Ryan sussurrou tão baixinho, que ninguém além dele pôde ouvir.

— Eu nem sei como agradecer por isso! — A voz estridente de Catherine pôs fim ao sono de Josh.

Ainda zonzo, ele se deparou com a imagem da bruxa do azar conversando com Mirian e Ian.

— ELE ACORDOU! — Joane gritou tão alto que Josh sentiu sua cabeça latejar no mesmo momento.

As duas gêmeas o cercavam como cães famintos, Marie subiu em cima de Josh e o abraçou. Mesmo com o grito de dor por parte do caçador, ela não se moveu.

— Achei que você ia morrer… — Marie disse com o rosto enterrado no peito dele.

Josh sorriu e acariciou os cabelos da menina.

— Beba! — Ryu estendeu um copo para o recém acordado.

Josh bebeu sem reclamações, se tratava de um chá de lavanda, provavelmente para ajudá-lo com a dor.

— Eu consegui amenizar suas feridas externas, mas o Tesouro daquele contrabandista te deu uma surra por dentro! — Anabel explicava — Acho que isso só o seu próprio corpo pode resolver.

Anabel era uma senhora magra, que acompanhava Josh na forma de um tesouro celestial, a bússola dourada.

— Muito obrigada — Um homem se aproximou de Josh — Catherine me contou que você salvou a minha vida!

Diante de tanta agitação, ele ainda estava muito confuso, mas se lembrava bem do rosto de Ian.

— Não há de que… — O caçador estava sem graça.

— Ian e Mirian conseguiram de volta o dinheiro que Catherine havia perdido…

— Roubado! — Catherine interrompeu Ryu — Eu fui roubada!

O guardião a olhou um pouco debochado, mas preferiu se abster de comentar aquela correção.

— O importante é que agora temos dinheiro o suficiente para continuar nossa travessia! — ele completou.

— Era o mínimo que podíamos fazer depois de tudo o que você fizeram por nós! — Mirian sorriu agradecida.

— Como você conseguiu que ele colaborasse? — A bruxa do azar, se mostrava curiosa.

— Bom, eu deixei ele… digamos... — Mirian assumia uma postura pretensiosa — … meio sem ar!

— Adoraria ter visto a cara daquele sem vergonha! — Catherine estava empolgada.

— Você matou ele? — Josh se levantava, ainda muito debilitado.

— Claro que não! — Ian respondeu, aparentemente ofendido — Sei que como caçador, você não tem uma boa imagem das bruxas, mas Mirian nunca mataria uma pessoa!

— Dizer que eu nunca mataria alguém é superestimar demais a minha benevolência — A bruxa deu alguns tapinhas nas costas do companheiro — Mas certamente, eu jamais gastaria a minha liberdade com um ladrãozinho qualquer!

Josh assentiu com a cabeça, ligeiramente constrangido com a resposta, mas feliz de não estar diante de uma assassina. O que havia de mais importante em seu coração, era o dever de cuidar da humanidade e proteger os mais fracos. Seu dever estava acima de qualquer coisa e de qualquer pessoa.

Naquele momento, seus olhos pousaram sobre Catherine, a maior e mais importante missão que lhe foi dada.

As lendas diziam que aquela bruxa poderia pôr fim a humanidade, o maior poder que caminhou sobre a terra.

Ele se preparou a vida inteira para enfrentar um monstro e se deparou com uma garota gentil, educada, bondosa e cheia de sonhos.

Seria ele capaz de cumprir a sua missão? Ou talvez houvesse uma outra alternativa?

Talvez os pergaminhos antigos sejam apenas balelas escritas por velhos antiquados e passados de geração a geração até se tornar uma verdade absoluta.

Catherine merecia chegar ao santuário e tinha um coração puro, seria uma ótima bruxa.

Era nisso que Josh acreditava.

Depois de perder um pouco do interesse na conversa que se passava, Catherine se deu conta do olhar contínuo de Josh sobre ela. A bruxa então fechou sua expressão imediatamente. Em partes por estar constrangida com a situação, mas no momento que ela se levantou e saiu da sala, Josh entendeu que havia mais ali.

Depois das revelações na ponte, Catherine jamais o aceitaria como amigo. E ele era incapaz de culpá-la por isso.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem! Alguém mais aí ta com dozinha do Josh?



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