Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 27
Os Contrabandistas


Notas iniciais do capítulo

Nesse segundo capítulo, temos a aparição de um novo vilão no arco. Espero que gostem do resultado e se divirtam tanto quanto eu.



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— Olha seu policial, eu estava fazendo uma corrida noturna pela cidade… por coincidência eu acabei na mesma calçada que esses dois. — Ryu contava sua versão da história.

— Mentiroso… — Josh resmungou.

— Você vai ter muito tempo para explicar isso pro delegado. — O oficial estava desconfiado.

Depois de uma pequena caminhada, eles finalmente chegaram até a delegacia.

O policial soube por uma atendente que o delegado havia saído para resolver assuntos sigilosos e por isso os detentos ficariam nas celas até que ele voltasse.

— O que? — Ryu estava incrédulo. — Eu tenho uma criança em casa me esperando.

— Eu não sou criança!

Uma voz conhecida ecoou da área das celas.

— Cat? — O guardião caminhou até a ala dos prisioneiros.

Na terceira cela, Catherine estava encostadas nas grades com um semblante irritado.

— CATHERINE!

O som estrondoso da voz de Ryu fez a garota tremer o corpo inteiro.

— Conhece essa pirralha? — O policial empurrava Ryu até a cela dele — Ela teima em dizer que é maior de idade. As coisas vão se resolver quando algum pai ou responsável por ela aparecer por aqui.

— Mas eu sou maior de idade! — Catherine descontava sua frustração nas grades da cela — E eu posso responder por mim mesmo!

— O que ela fez para acabar aqui? — Ryu se dirigiu ao policial, ignorando completamente os protestos da menina.

— Estava roubando uns caras em frente a uma casa de jogos no centro.

Ao ouvir as palavras do policial, a revolta em Catherine se intensificou:

— Eu já disse que não estava roubando ninguém! EU FUI ROUBADA!

— Três testemunhas confirmaram a acusação das vítimas, a sua por outro lado só tem você como testemunha.

— É só nisso que você se baseia? Onde estão as câmera de segurança? Essas testemunhas foram compradas! — A bruxa reclamava sem pausa.

— Tá, tá pirralha! — O policial dizia com desdém — Soube que você tem parentes em Otium, amanhã vou mandar um comunicado para os responsáveis por você.

— ISSO É UM ABSURDO! — Catherine se balançava nas grades como um animal selvagem — EU VOU PROCESSAR ESSA ESPELUNCA! EU VOU PROCESSAR VOCÊ! EU VOU PROCESSAR TODO MUNDO QUE VOCÊ CONHECE! EU VOU PROCESSAR SEUS ANCESTRAIS…

Todo o alvoroço pôs fim ao sono da bruxa de vento que havia sido capturada.

— Onde eu estou?— Ao se dar conta das grades que a prendiam a expressão confusa foi substituída por ódio — Eu não acredito…

— É… — Josh suspirou — Não tá fácil pra ninguém.

— Seus imbecis! — A bruxa desconhecida berrou como um urso.

— Imbecis? Para início de conversa você causou todo o alvoroço no centro! — Ryu protestou.

Era claro que a estranha não tinha interesse em continuar a conversa, por isso apenas se sentou de costas para os demais prisioneiros.

— Qual o seu nome? — Ciente que a confusão havia acabado, Catherine tentou se aproximar da garota com quem dividia a cela.

— Mirian. — A garota respondeu depois de um suspiro.

— Você é bruxa, não é?

A garota acenou positivamente com a cabeça.

Mirian era uma garota muito bonita, tinha pele negra e cabelos encaracolados. Seus olhos eram castanhos escuros e seu semblante delicado. Ela vestia roupas simples, como se fosse um garoto com poucas posses.

— Ela estava roubando. — Ryu informou a Catherine.

— Isso explica o motivo de ela estar na cadeia, já você ainda é um mistério! — A bruxa do azar disse com mau humor.

— Não haja como se pudesse me julgar, afinal de contas, o que você está fazendo aqui? — O guardião retrucou.

— Não haja como se pudesse me julgar. — Catherine disse de forma irônica.

Um olhar pesado vindo de Ryu foi suficiente para a garota confessar tudo.

— Eu saí de casa logo depois de você ir comprar suprimentos. Fui a uma casa de jogos e…

— Uma casa de jogos? Depois de eu pedir para você se comportar, você decide ir a uma casa de jogos? — O guardião estava indignado.

— Ei! As coisas estavam ruins para gente… você reclamou disso desde que saímos de Vanitas… Eu só queria ajudar… — A bruxa desanimou um pouco — Eu estava indo bem sabe? Consegui bastante dinheiro, mas quando eu estava voltando para casa, alguns caras que me viram jogar me assaltaram no caminho. E ainda tiveram a cara de pau de me acusar de roubo.

— Eu preciso sair desse lugar.

Ignorando tudo a sua volta, Mirian tentava usar algum feitiço para se livrar das grades que a prendiam. Depois de algumas tentativas sem sucesso, ela entendeu que o que havia sido aplicado nela, não era um tranquilizante comum e sim algum tipo de neutralizante mágico.

— Raiz de laranjeira? — A bruxa do vento conversava sozinha.

— Se fosse esse o caso, você estaria morta — Josh se intrometeu — As raízes são feitas para prender bruxas poderosas, o contato sobre a pele já é extremamente prejudicial, aplicar isso na sua corrente sanguínea seria morte instantânea.

— Como sabe de tanta coisa? — Mirian encarou Josh.

— Eu sou um caçador.

— Ah que maravilha! — A mulher estapeou o próprio rosto — Além de ter que fugir desses malditos contrabandistas eu ainda tenho que me preocupar com um caçador de bruxas.

— Contrabandistas? — Ryu estava confuso.

— É, eles controlam a cidade — O caçador explicou — Vendem qualquer bruxa que aparece na cidade para o Minus.

— Isso é ilegal né? — Catherine perguntou, após Josh confirmar com a cabeça ela continuou — Se um membro do Statera está ciente desse processo criminoso, por que ele ainda acontece? Quer dizer, o Minus deveria responder por esses crimes.

— É uma boa pergunta, Cat — Ryu tinha um tom desconfiado.

— É necessário provas — Josh estava nervoso.

— É engraçado pensar que por muitas vezes, apenas a palavra de um membro foi suficiente para iniciar uma investigação minuciosa — O guardião pressionou.

Josh engoliu a seco.

— Eles estão com o meu noivo — O desabafo desesperado de Mirian foi suficiente para mudar o rumo da conversa.

— Eu sinto muito… — Catherine se sentou ao lado da companheira de cela.

— E a culpa é toda minha… — A bruxa deixou escapar algumas lágrimas.

— Claro que não! — Cat tentava afastar os pensamentos deprimidos da garota — Vamos dar um jeito de resgatá-lo antes que os Minus ponham as mãos nele.

— Não prometa o que você não pode cumprir — Ryu resmungou da outra cela.

Catherine fez uma careta para ele.

— Os Minus não querem nada com ele — A garota limpava o rosto — Os contrabandistas o usaram para me atrair, sabiam que eu ia querer salvá-lo e por isso o está mantendo em cativeiro.

— Mas… ele não é um bruxo? — Cat estava confusa.

— Não, é um humano. Eu deveria protegê-lo… mas fugi quando nos atacaram… — Mirian se abateu novamente.

— Seu noivo é um humano? — Ryu estava surpreso — Isso é bem diferente.

— Não só diferente — Catherine acrescentou — Isso é biologicamente incompatível e socialmente inaceitável.

— Minha família disse a mesma coisa. — Mirian sorriu de forma irônica.

— Acho que você está sendo dura demais com a situação. — Josh protestou — É incomum, mas não é tão impossível como você faz parecer.

— Vocês não entendem... é como se um cão e um gato acordassem um dia e decidissem que são um casal — A bruxa do azar estava nervosa — Não dá para se tornar uma grande bruxa se escolher esse caminho.

— Eu não quero ser uma grande bruxa! — Mirian estava claramente incomodada — Quero apenas viver em paz com o homem que eu amo.

Houve um silêncio dramático no pavilhão.

— Me desculpe — Catherine finalmente sentiu o peso das suas palavras.

Ela não estava preocupada com Mirian e seu noivo humano, estava preocupada com a sua própria situação.

— Você deveria conter melhor as suas emoções — Josh sussurrou para o seu companheiro de cela.

— O que? — Ryu, que até aquele momento estava calado, não entendeu o que o caçador queria dizer.

— “Biologicamente incompatível e socialmente inaceitável” — Josh recitou baixinho.

O semblante de Ryu antes confuso, agora havia se fechado por completo.

— Deu para ouvir o seu coração quebrando daqui — Josh completou.

— Idiota — O guardião murmurou enquanto evitava olhar nos olhos do caçador.

Um som vindo da porta do corredor, denunciava que ela estava sendo destrancada.

Dois homens entraram e caminharam até as celas.

Um dos homens era um velho que vestia um uniforme da polícia. O outro tinha pouco mais de 30 anos, cabelo preto bem cortado, barba feita, usava óculos escuros e vestia uma roupa preta bem justa ao corpo.

— Olha só você… — O homem se dirigiu a Mirian com um sorriso estampado em seu rosto — Correu tanto e acabou nas minhas mãos.

Mirian permaneceu em silêncio, mas encarava o homem com todo o ódio que podia transparecer.

— Obrigada por me comunicar delegado, é sempre bom fazer negócios com você. — O homem sorriu para o velho.

— Você é nojento — Josh encarava o homem com desprezo.

— Boa noite! — O homem sorriu para Josh de forma animada.

Em seguida ele retirou uma pistola do bolso e atirou um dardo em Mirian, que perdeu a consciência imediatamente.

Não demorou muito para que dois homens entrassem no pavilhão e após o delegado destrancar a cela, um deles pôs Mirian nos ombros.

Enquanto observava o trabalho de seus subordinados, o homem respirou fundo como se apreciasse o perfume do local.

Após alguns segundos preso naquela ação, ele virou para o delegado e perguntou:

— Quanto fica pra levar aquela outra ali?

Catherine, que até então estava encolhida no canto da cela sentiu seu coração acelerar.

— Essa pirralha também é uma bruxa? — O delegado estava surpreso — Hoje é meu dia de sorte.

— O nosso Paul! O nosso dia de sorte. — O recém chegado sorriu.

— Um caçador…— Josh estava incrédulo — Como um caçador se sujeita a algo assim?

Diante da identificação quase imediata de Catherine, Josh se deu conta da identidade do estranho.

— Tempos difíceis, escolhas difíceis — O homem sorriu mais uma vez.

Sem dar mais atenção ao prisioneiro, o contrabandista atirou contra Catherine.

— Ai! — A bruxa retirou imediatamente o dardo que havia atingido seu ombro — Isso machuca sabia?

Catherine arremessou o dardo na direção do homem, o arremesso impecável fez com que o nariz dele fosse atingido.

Ele retirou dardo, não escondendo a sua irritação, mas sorriu em seguida.

— Interessante. Uma bruxa imune a neutralizantes deve ser mais valiosa para o Minus.

O contrabandista caminhou na direção de Catherine calmamente.

— Ei! — Ryu gritou alto o suficiente para fazê-lo parar — Eu não tenho nada a ver com seus trabalhos sujos, mas se você tocar nessa bruxa… eu vou fazer com que você tenha problemas maiores do que poderá lidar.

— Tocar nela? Assim? — O homem se aproximou de Catherine e a segurou pelos cabelos.

Enquanto a bruxa se debatia, ele bateu a cabeça dela com força contra uma parede. Catherine perdeu a consciência imediatamente.

— Ou assim? — Ele encarava Ryu enquanto entregava a garota desacordada para um dos seus subordinados.

O guardião segurava as grades com tanta força, que o sangue preso em suas mãos a deixavam com um vermelho vívido.

— O que há rapaz? — O homem se aproximou da cela de Ryu, mas longe o suficiente para que não pudesse ser alcançado — Eu estou com a bruxa e você continua aí dentro. Onde estão os meus problemas?

Naquele momento Ryu esmurrou as grades, o movimento fez com que um punhado de terra se desprendesse da base de concreto.

— Que rapaz saudável! — O contrabandista comentou de forma irônica.

Apesar da aparência despreocupada, era claro para ele que se o garoto aplicasse um pouco mais de força, aquelas barras de ferro viriam abaixo. Por essa razão ele saiu, da delegacia de imediato.


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Notas finais do capítulo

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