Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 21
A Loucura dos Bortoluzzi


Notas iniciais do capítulo

Hey! Há quanto tempo!
Espero que gostem do capítulos de hoje ♥



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Já havia passado algumas horas desde o amanhecer quando Catherine sentiu o calor do sol agraciar o seu rosto. Ela rolou para o lado, ciente de que estava em sua cama, mas acabou despencando no chão.

De joelhos, a garota tentava ter alguma percepção do que se passava ao seu redor e então se deu conta do casaco familiar de Ivan enrolado em seu corpo. Um tom avermelhado tomou a sua pele e ela entendeu que não somente havia passado a noite na academia, como seu pai havia presenciado isso.

Depois de se acalmar, a bruxa observou seu pai e Ryu treinando na academia.

Um sorriso contente estampou o rosto da garota. “É como nos velhos tempos.” Catherine jurava que Ivan tinha uma cara engraçada enquanto ensinava. Apesar de nunca ter a sua teoria apoiada por ninguém, jamais se sentiu tentada a desistir dela.

Com um pouco de atenção, ela acabou reparando na espada que Ryu empunhava. “A Medonha”, foi como a garota apelidou a relíquia de seu pai. Talvez pela sua falta de atenção, ou pelo fato de Ryu simplesmente mantê-la o tempo inteiro dentro da bainha, a bruxa jamais havia notado a presença da espada na travessia.

O barulho de conversas se aproximando, deu a bruxa a informação de que logo a academia estaria lotada. Na tentativa de evitar que mais alguém a visse de pijama, Catherine saiu sorrateiramente pelos fundos do local.

Andando pelo pátio de cabeça abaixada, a garota buscava caminhos mais desertos que a levassem para o seu quarto.

Ela se sentiu aliviada por não encontrar rostos conhecidos pela rua, era cedo demais para que bruxas estivessem de pé, por isso ela só notava a presença de guardiões e empregados.

— Segurem esse bicho!

— De onde ele veio?

— Por que esse animal está tão agitado?

Vozes alteradas chamaram a atenção da garota.

A confusão se tratava da chegada de um cavalo desconhecido nas redondezas do hotel.

— TOMMY! — Catherine correu na direção do animal e só parou quando o alcançou.

— Senhorita… — Um dos guardas que tentava conter a passagem do animal se aproximou de Catherine — Você sabe de onde é esse cavalo?

— É o meu neném! — Catherine dizia com convicção enquanto abraçava seu companheiro.

Após se certificar de que havia resolvido o problema com os guardas, a bruxa saiu dali com Tommy, com a felicidade estampada em seu rosto.

— Além de se vestir como uma caipira, você agora tem um cavalo? — Claire riu baixinho — Não me diga que também é integrante de uma banda country?

A voz da Bortoluzzi fez Catherine congelar. A felicidade em reencontrar o seu cavalo perdido, fez com que ela se esquecesse completamente do pijama que estava vestida e de seus modos em público.

— Bom dia, Claire. — A bruxa do azar respirou fundo e tentou seguir o caminho até os estábulos.

— Bom dia? — Claire tinha uma expressão debochada em seu rosto — Ser agraciada com uma piada tão boa logo no início da manhã me faz ter, no mínimo, um ótimo dia!

Catherine sentiu seu corpo congelar mais uma vez, ela sentiu também os olhares ao redor em cima dela. Claire a estava humilhando e se orgulhava disso. Como alguém poderia ser tão cruel?

Talvez por sentir o mal que a bruxa causava a sua dona, ou simplesmente por não simpatizar com a Bortoluzzi, Tommy avançou na direção da garota e bufou em seu rosto. O movimento fez com que Claire se assustasse e tropeçasse, uma fonte que enfeitava a pequena praça que circulava o hotel foi o fim do pouso da garota.

Deitada em uma poça de água, Claire se esforçava para se pôr de pé, agora era nela que todos os olhares pesavam.

Catherine sentiu seu coração acelerar, ela sabia que aquilo era fruto da sua magia e pôr um instante pensou em ajudá-la. Queria ajudá-la a ficar de pé, certificar-se que ela estava bem, mas logo essa ideia foi afastada de sua cabeça.

— Eu espero que ser agraciada com um banho matutino te ajude a melhorar o seu ótimo dia. — Catherine enrijeceu sua expressão.

Ao ouvir as palavras da rival, Claire cessou seus movimentos e poupou-se apenas a encarar Catherine:

— Você vai se arrepender de ter nascido. — A voz da garota tinha mais ódio que Catherine havia presenciado em toda a sua vida., talvez com exceção do caçador enfurecido da espada explosiva.

Um pouco intimidade e sentindo que não havia mais o que fazer ali, a bruxa do azar saiu da praça silenciosamente com seu cavalo.

— Ryu, você precisa sentir a espada! Não balançá-la de um lado para o outro. — No salão de treinos, Ivan explicava — Isso não é um pedaço de aço sem vida.

— Se você tivesse dito isso quando me presenteou, talvez eu tivesse tido mais tempo para me acostumar. — O guerreiro carregava irritação em sua voz.

— Algumas coisas são mais fortes quando aprendidas com a experiência. — O mestre explicava de forma calma.

— Poderia dar uma dica né? — Ryu argumentou — Algo como “Sua espada tem dois estados físicos e arremessa pedaços de lâminas teleguiados”, já parece um bom começo.

— Ryu, não há um manual de instrução para essa arma! — O ex caçador encarou o pupilo — Você precisa se entender com a espada e ela se adaptará ao seu estilo de luta.

— Então você não pode me explicar absolutamente nada sobre essa espada?

— Nadinha. — Ivan tinha uma expressão serena em seu rosto.

— Então o que estamos fazendo aqui? — O garoto arqueou uma de suas sobrancelhas.

— Terapia, talvez? — Ivan deu de ombros — Você me encheu o saco com perguntas que eu não poderia responder, só estou te mantendo ocupado.

Uma expressão de decepção e incredulidade se abateu sobre o rosto de Ryu.

— Então eu acho melhor pararmos… — O guerreiro murmurou — Estou frustrado.

— Ânimo, Ryu! — Ivan deu tapinhas no ombro do rapaz — Tente conversar com a espada, será mais útil do que me procurar.

— Conversar com a espada? — Ryu perguntou com indignação.

Ivan apenas acenou positivamente com a cabeça e saiu:

— Vamos tomar café.

Apesar de estar irritado com o mestre, Ryu não poderia negar que estava com fome.

Na suíte mais luxuosa do hotel, o caos se estabelecia.

Quadros e vasos eram lançados para todas as direções e se estilhaçavam em milhares de pedaços. No fim do ataque, Claire estava parada no meio de um mar de cacos de vidros.

— O que está esperando sua inútil? — A bruxa encarou uma empregada que observava tudo em silêncio. — Limpe toda essa merda antes que eu me machuque!

Apesar de estar muito assustada, a mulher apenas se curvou respeitosamente e começou o trabalho.

— Eu não acredito que aquela bruxa nojenta me humilhou daquela maneira! — Claire se sentou em frente a um espelho.

— Eu recomendo que a senhora vista roupas secas, ou ficará doente. — Henry se aproximou da bruxa.

Claire sorriu cinicamente para o garoto:

— Não finja estar preocupado comigo. Tenho certeza que se pudesse, me apunhalaria no peito.

Henry permaneceu em silêncio. Ele jamais teria coragem de fazer algum mal a sua protegida, mas também não cultivava nenhum afeto por ela, na verdade ele sentia repulsa em suas atitudes.

— Catherine Gibran não irá prosseguir com a travessia. — O servo falou — Pelo menos é o que andam dizendo por aí.

— Isso é uma lástima, queria ter o prazer de esmagá-la no caminho — A bruxa encarou o espelho. — Isso faz com que eu tenha que apressar meus movimentos.

— Senhorita, se permite dizer, não há nada mais esmagador do que sair triunfante na travessia. — Henry mantinha um semblante sério — A garota não escolheu parar. Foi forçada pelas circunstâncias e isso torna tudo mais doloroso. Não acha que isso já é uma boa punição?

A expressão odiosa da garota aos poucos foi relaxando e por fim tinha um sorriso estampado.

— Tem razão. Ela perdeu! — Claire levantou de sua cadeira e caminhou pelo quarto — Ela vai continuar em Otium vivendo a vida miserável de antes, enquanto eu vou me tornar uma bruxa poderosa!

Henry a observou em silêncio. Ele não concordava com Claire, mas convencer aquela bruxa egocêntrica de que estava por cima, era a melhor forma de mantê-la longe de problemas.

— Senhorita cuidado com os cacos, eu ainda não limpei todos… — A empregada tentava conter os passos imprudentes da menina.

— Esse é o problema… — Claire estendeu sua mão na direção do pequeno balde de lixo que a mulher usava para guardar os estilhaços — Você ainda não fez nada.

— Me desculpe senhora, se me der um pouco mais de tempo eu darei um jeito nisso e…

— Mais tempo? — A bruxa encarava a mulher com desprezo — Para que me decepcione mais uma vez com a sua incompetência?

Um flash de luz foi disparado da palma da garota e fez explodir o balde.

— CLAIRE! — Henry correu em direção a criada caída e se ajoelhou ao seu lado — Você está maluca?

Um olhar insano tomou o rosto da bruxa e ela estendeu sua mão novamente, dessa vez na direção do guardião:

— O que você disse?

O garoto ficou paralisado. Mesmo com todo o treinamento que havia recebido em sua vida como aluno da fortaleza, ele era incapaz de reagir a uma ameaça direta de uma bruxa com uma magia tão ofensiva. Ela poderia parti-lo em dois sem esforço nenhum e isso fazia sua espinha tremer.

— Claire, vá para o banho. Pode deixar que eu cuido de tudo por aqui. — Henry murmurou.

— Se eu tiver problemas, você terá maiores. — A bruxa caminhou em direção ao banheiro e fechou a porta com brutalidade.

— Está tudo bem? — Henry ajudava a garota ferida a se levantar.

A criada acenou positivamente com a cabeça. Seu rosto estava coberto de sangue, mas ela parecia não ter sofrido nenhum dano grave.

— Escute, eu sei que isso vai parecer muito injusto, mas eu preciso que você pense claramente. — O guardião dizia de forma calma — Essa bruxa lhe feriu e eu entendo que você queira que isso seja reparado, mas se de alguma forma ela for prejudicada, provavelmente vai sobrar para você. E eu não estou falando de perder o emprego ou algo tão fácil de ser resolvido.

— Eu entendo senhor. — A mulher usava seu avental para conter o sangue — Bruxos são temperamentais e poderosos. Não é a melhor combinação do mundo.

Henry concordou com a cabeça.

Sem mais conversa, a mulher apenas saiu do quarto.

Naquele momento, Henry entendeu que Claire era mais perigosa do que ele pensava.

— Você realmente disse isso para ela? — Ryu estava surpreso.

Catherine acenou positivamente com a cabeça.

A garota havia fugido do refeitório das bruxas apenas para contar a Ryu sobre os acontecimentos da manhã durante o almoço.

— Você está realmente me dizendo que não tentou ajudá-la? — Ryu debochou — Jamais havia presenciado tamanha crueldade.

— Nem mesmo perguntei se ela estava bem. — A bruxa dizia com orgulho.

— Com essa atitude certamente você desceu no Grande Livro de neutra para impura. — Ryu ironizava mais uma vez.

— Você acha mesmo? — A expressão da garota era de preocupação.

O guerreiro era incapaz de crer que a bruxa realmente cogitava essa possibilidade.

— Eu estou brincando Cat… — Ryu tentou acalmar a companheira.


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Notas finais do capítulo

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