Stellarium escrita por Acquarelle


Capítulo 9
CAP.3, Epi.1: Arcadia, o escaravelho negro




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Cada vez mais próxima à Atlansha, uma espaçonave interestelar de pequeno porte e aparência deteriorada diminuía sua velocidade vagarosamente.

Tinha aproximadamente 18 metros de diâmetro e seu formato lembrava um inseto gigante — mais precisamente um escaravelho —, cuja carapaça preta irradiava tons de vermelho e verde quando banhada por algum ponto de luz, mas na escuridão daquela vizinhança estelar, a única cor visível era a dos motores que coloriam o vácuo com um rastro avermelhado.

Em suas laterais, grande parte da pintura estava desgastada, e algumas das marcas eram tão semelhantes e simétricas que pareciam feitas propositalmente, e acima das deformidades de um dos compartimentos à direita, garranchos em sinais desconhecidos foram pintados de maneira bagunçada; era ali que seu nome, Arcadia, estava estampado.

Sua atual tripulação? Dois humanoides e uma inteligência artificial.

Todos se encontravam na cabine de comandos, uma das principais salas daquela espaçonave. Suas paredes eram feitas de um material branco e prateado que servia como isolante térmico e elétrico, diminuindo o risco que os inúmeros aparelhos eletrônicos e magnéticos perfeitamente posicionados poderiam causar — mesmo que a inteligência artificial, Ribbon, fosse responsável por monitorá-los, todo cuidado era necessário para manter Arcadia funcionando de maneira adequada.

Os três repassavam as informações (cuja escrita do idioma tinha letras com símbolos curvados) em grandes monitores holográficos projetados nos painéis de controle da área central. Estariam sentados dentre as dez cadeiras espalhadas pela sala se não fosse pelo nervosismo que pairava no ar; havia algo errado com os dados apresentados.

Um dos humanoides se aproximou dos painéis com uma expressão indignada e reclamou:

— Você calculou as coordenadas corretamente, Ribbon? Tem certeza de que é aqui?

Os olhos violetas do jovem demonstravam impaciência, e a cada segundo que a inteligência artificial demorava para responder a sua pergunta, mais irritado ele aparentava ficar, deixando sua pele negra sutilmente avermelhada. Enquanto passava uma das mãos por seus cabelos brancos e despenteados, ele correu os olhos mais uma vez pelas informações exibidas em um dos monitores holográficos, passando a ler algumas frases de maneira desconexa:

 

"Item #: Atlansha.

Classificação: 12.

Observações:

* Humanoides inteligentes e com emoções complexas.

* Parte inferior do corpo dos humanoides é metade-peixe.

* Indícios de magia. [REQUER CONFIRMAÇÃO]

* Abundância de ██████ ███████."

 

"Segundo planeta mais próximo da estrela Sogmar do Sistema Neris, situado em Argen, uma das galáxias mais novas da cauda de Osis, vizinha às constelações de Nahtvi e Orix. A superfície do planeta é inteiramente formada por água em estado líquido, o que indica que toda a vida no planeta está condicionada a sobreviver à grandes níveis de pressão [REQUER CHAVE DE ACESSO DAEMONIA]."

 

"Os indivíduos apresentaram sistema respiratório adaptável, e provavelmente são capazes de respirar fora d'água. Isso nos leva a pensar que Atlansha teria ilhas ou até mesmo continentes no seu passado, mas seria impossível afirmar essa tese sem um estudo mais elaborado. Formulários foram apresentados à equipe de pesquisa, mas até o momento não houve uma confirmação da Nova Era para continuarmos as análises."

 

No momento em que ele desistiu de ler, uma voz infantil passou a ser ouvida:

— Ribbon nunca errou essas coordenadas, Rashidi.

Um dos monitores se moveu em direção ao jovem, exibindo o desenho de um rostinho redondo e amarelo com uma expressão triste; uma brincadeira que a inteligência artificial costumava fazer para demonstrar os sentimentos que fora programada a ter. Antes mesmo que Rashidi pudesse reclamar de algo, o mesmo rostinho mudou para um mais confiante, e ela continuou:

— Ribbon também não computou nenhum problema no salto pela Fenda-LMB, então Arcadia está no lugar—

— Cale a boca, maldita! — Ele a interrompeu rispidamente. — Quando pedi uma confirmação, estava me referindo ao aglomerado. Você tinha dito que ele só buscava planetas com vida. Francamente... que droga de inteligência artificial você é?!

Ele jogou o corpo contra uma das cadeiras, e mais uma vez mexeu em seus cabelos brancos. Ajustou rapidamente o tecido vermelho em seu pescoço, fazendo uma das pontas dar mais uma volta ao redor de seus ombros e descansar suavemente sobre seus trajes espaciais (que mais lembravam uma peitoral de metal acinzentado) de tons terrosos. Em seguida, apoiou a cabeça no dorso de sua mão direita — cujo braço estava firmemente apoiado na cadeira —, inquieto.

— Não sei se você sabe, mas xingar a Ribbon não vai ser de grande ajuda.

— Cale a boca você também, Void — respondeu impaciente, voltando seus olhos violetas para uma criatura em um dos cantos da sala.

O outro humanoide estava apoiado na parede e com os braços cruzados. Aparentemente era mais alto que Rashidi, mas era impossível identificar se era o seu tamanho natural ou consequência da armadura de metal escuro e avermelhado que o envolvia da cabeça aos pés; era como se aquilo fizesse parte de seu corpo, desenhando cada um dos membros e tórax com linhas douradas e orbes de um vívido vermelho.

Mesmo viajando com a criatura a algum tempo, a única informação que Rashidi sabia sobre sua estranha companhia era que, a julgar pela voz abafada pelo elmo que revestia todo o seu crânio, era do sexo masculino.

— E calar a boca vai resolver o problema? — perguntou Void em um tom sarcástico, dando de ombros.

A expressão de Rashidi se alterou com aquele comentário, mas antes que pudesse respondê-lo à altura, a voz infantil disse:

— Não discutam, por favor. Ribbon odeia quando Rashidi e Void discutem.

— Se vocês apenas ficassem quietos... — reclamou Rashidi, levantando da cadeira em um pulo; mesmo não entendendo a situação que se encontravam, ele não estava pronto para desistir ainda.

Voltou, então, a observar a localização daquele planeta de nome estranho.

Mesmo que Ribbon tivesse exibido inúmeros dados sobre ele, aos olhos de Rashidi, Atlansha não passava de um exoplaneta situado em uma parte incompleta do universo. Não haviam outros planetas, nebulosas ou estrelas próximas, e mesmo a órbita do planeta parecia não existir. Era como se um buraco negro tivesse sugado todos os corpos celestes daquela vizinhança estelar e deixado Atlansha ali, intocável ("Como se essa bobagem pudesse acontecer..."). Possíveis invasões e batalhas intergaláticas também estavam fora de questão, visto que não haviam quaisquer fragmentos flutuando pelo vácuo — e também porque ninguém teria força bélica suficiente para destruir tantos corpos celestes em um diâmetro tão extenso sem ser detectado pelos Protetores.

— ARGHHH!!! Pela deusa, isso não faz sentido algum!!

— Ainda não entendi o motivo do seu estresse — murmurou Void, cruzando os braços novamente. — Não viemos aqui para analisar o planeta.

— E o que você sugere, seu depósito de Rytuslam'te? — ironizou Rashidi, ficando ainda mais nervoso quando percebeu que Void deu de ombros novamente. — Se você acha prudente descer em um local tão estranho sem analisar a situação, vá em frente. Eu dou valor à minha vida, obrigado.

— Não é você que se gaba por ser um Vesper? A hora de se mostrar útil é essa.

Void finalmente se moveu, aproximando-se dos monitores a fim de entender a preocupação de Rashidi.

A cada passo dado pelo assoalho de metal branco, sua armadura fazia um som abafado de material enferrujado, indicando que provavelmente precisaria de alguma manutenção em breve. Fazia tanto tempo que a utilizava que sequer recordava sobre sua durabilidade, e não sabendo o tipo de material utilizado para forjá-la, a arrumar se tornaria um problema no futuro.

— Você está tendo a audácia de falar mal de Vesperes? — resmungou Rashidi. — Devo lembrar a qual lugar você pertence, Void?

— Não. — Ele deu de ombros mais uma vez. — Estou tendo a audácia de falar que você é o Vesper mais inútil que já conheci. Se não fosse por seus cabelos brancos e olhos violetas, eu diria que você é de qualquer outra raça com Classificação 10 ou inferior.

Rashidi franziu a sobrancelha e encarou Void com uma expressão de deboche.

— Por que você vê Vesperes andando por aí a todo momento, não é? — perguntou com um sorrisinho no rosto. — Pelo amor da deusa, Void, até parece que um Vesper iria coexistir com algo tão imundo quanto você.

Void, por outro lado, não reagiu àquelas provocações.

— E por qual motivo te mandaram para cá mesmo? Talvez o seu desempenho como Vesper fosse tão vergonhoso que eles quiseram se livrar de você.

— ORA, SEU—!!! — gritou Rashidi, apertando um de seus punhos enquanto mantinha os olhos fixos em Void; em uma fração de segundos, o violeta de seus olhos se tornou cada vez mais claro até atingir o mesmo branco de seus cabelos e cílios. Ele pretendia comprar aquela briga.

— Você tem certeza que quer fazer isso? — Void o encarou, fazendo chamas azul-marinho irradiarem de seu elmo. — Eu me sentiria mal se brigasse com um Vesper que sequer consegue desenhar uma runa funcional.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 3, Parte 1

E finalmente os outros três personagens da obra apareceram!

Nessa parte da história, não houve muita diferença entre os capítulos antigos e os novos, salvo que eu preferi fazer uma breve descrição a respeito da nave. A ideia inicial é ela passar despercebida tanto na navegação "normal" quanto pelo salto pela Fenda-LMB — que, aliás, não expliquei muito sobre como as viagens eram feitas na versão anterior da história. Tudo bem colocar uma quantidade mediana de dias/horas, mas seria bom deixar claro a forma que as viagens são feitas (mas não se guie apenas por ela, já que existem outros métodos!) —, mas isso em questão só será explicado lá pelo capítulo 5-1 (sim, eu já tenho essa quantidade absurda de capítulos prontos, mas eu não sou muito fã de publicar assim que os termino; revisão é a chave do negócio!).

Um parágrafo gigante para explicar apenas uma coisa. Parabéns, Acqua!

Vou parar por aqui porque esse capítulo só "funciona direito" com o próximo, então deixarei para terminar as notas assim que publicar o próximo. E sim, hoje a postagem é dupla para comemorar o aniversário da Ayase (na verdade foi ontem, mas vamos fingir que hoje é dia 06/04)!



Enfim, para finalizar o textão, um pouco de interação:

— Qual dos novos personagens é o seu favorito?



Curiosidade!

O design atual da Arcadia foi inspirado em uma nave de Warframe chamada Mantis. Ela é a minha segunda favorita, perdendo o posto apenas para a Xiphos (invocar uma torre de ataque é mais legal que invocar uma torre médica, perdão!).



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