O Funcionário do Fast-Food escrita por Ellaria M Lamora


Capítulo 7
VII — A Culpa é do Itachi!


Notas iniciais do capítulo

eu sei, devo milhares de explicações, mas por agora
tenham uma boa leitura



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No minúsculo banheiro, os jovens encontraram-se submissos ao silêncio que se expandia gradualmente, sem pudor e vergonha alguma. Reféns do choque e o contraste de emoções vividas naquele dia, eles embriagavam-se na sensível e confortável atmosfera que se instalava gentilmente, instigando que continuassem a revelar os segredos de suas almas.

— Nós somos mesmo amigos? — Sasuke ouviu a resposta vacilante do loiro em sua frente e assentiu, descobrindo-se absorto em uma curiosa dificuldade em desviar os olhos do sem-noção. Aquelas órbitas azuladas, naquele momento de tensão e sensibilidade, atraiam sua atenção de tal forma que o Uchiha se viu em uma torturante necessidade de decifrar o que se passava na mente daquele rapaz.

Para comprovar a veracidade de suas palavras, Sasuke afastou a mão do machucado do Uzumaki e levou-a até o próprio pescoço, revelando com um puxão um pequeno pingente que se encontrava escondido embaixo de seu suéter. O objeto reluziu na luz do banheiro e um sorriso gigante iluminou o rosto âmbar de Naruto, refletindo espanto e alegria por aquele gesto. Sasuke notou que usar o presente do rapaz significava muito para ele e prometeu a si mesmo que não permitiria que a ferradura abandonasse seu corpo.

Suas mãos buscaram mais uma vez o machucado dele, cuidando daquele ferimento com atenção e delicadeza. Naruto voltou a se sentar e observou em silêncio enquanto Sasuke limpava mais uma vez a ferida, finalizando com um pequeno band-aid de um desenho infantil. Olhando com atenção percebeu que se tratava do pequeno menino chamado Pocoyo, sendo inevitável não rir do do detalhe. Sasuke apenas bufou.

— Culpe o Itachi que sabe não comprar nada. — O universitário se defendeu, devolvendo a caixinha de primeiros socorros ao seu lugar — Para falar a verdade, acho combinou com você — Provocou, sorrindo presunçoso.

Naruto fechou a cara, reagindo exatamente como Sasuke imaginou que faria.

— Se foder, teme.

Um curto sorriso brincou nos cantos dos lábios do Uchiha e ele viu-se contente por estar tudo bem novamente. Em meio a esses pensamentos, não viu quando o Uzumaki ficou em pé e lhe socou o ombro fracamente, sussurrando divertido e piscando:

— Não foi o Itachi que estava bebendo em uma espelunca.

— Idiota. — Resmungou.

Naruto gargalhou e o Uchiha viu-se contagiado pelo bom humor dele.

— Não foi o Itachi que roncou a madrugada inteira, dobe.

— Eu não ronco!

— Não, é? — Seus olhos inteligentes estudaram as faces coradas do rapaz — Como pode me provar isso? Estava acordado?

— Pelo menos eu não estava cheirando à álcool! Parecia até que tinha dormido ao lado de uma fossa! — Revidou e foi a vez do Uchiha sentir as maçãs do rosto esquentarem.

— Ao menos sou cético, dobe.

— Eu não babo enquanto durmo, teme!

— Mas eu não babo! — Sasuke defendeu-se, fingindo estar ofendido.

— Diz isso para o meu casaco que ficou cheio de baba quando você dormiu no meu ombro lá no táxi. — Revelou e o Uchiha lhe direcionou um olhar chocado, imaginando o papelão que tinha feito por causa da bebedeira — Estou brincando, Sasuke — sua voz soou gentil e ele aproximou-se, colocando as mãos nos ombros magrelos do universitário — mesmo se você tivesse babado, eu só cobraria um café depois e ficaríamos quites, não é?

O Uchiha assentiu e se questionou mais uma vez se o Uzumaki era algum tipo de mago ou bruxo, afinal era impossível mudar o clima de uma conversa tão rapidamente como ele fazia e com tanta facilidade. Fitando a genuína alegria daqueles olhos claros, Sasuke mais uma vez viu-se compartilhando a mesma felicidade e surpreso com a naturalidade que eles estavam lidando e superando todas as brigas e momentos ruins que sucediam a primeira e catastrófica interação deles.

— Deveríamos comer, dobe. — O universitário viu-se sussurrando após alguns segundos preso naquele mundo azul tão confortável.

— Você precisa aprovar minha comida! — Exclamou, saltitante — Então vai me pagar todos os macarrões que eu quiser!

— Só se o café for melhor que o do Ichiraku.

— Esse não foi o trato, teme!

O Uchiha caminhou na direção da porta.

— É impossível superar o velhote... — Naruto choramingou e seus ombros caíram, sinalizando que ele aceitara a derrota. Sasuke escondeu sua diversão com aquela imagem, pigarreou e voltou-se ao Uzumaki.

— Então vamos mudar o trato.

— Sim? — Os olhos dele brilharam.

— Você não vai mais fugir, mentir ou achar que eu não devo me importar com você. — Declarou, direto e certeiro como uma flecha,  com os conselhos de Itachi sondando sua mente, decidido a resolver aquele assunto ali mesmo — Se eu disse que sou a porra do seu amigo, acredite em mim e não fuja, Naruto.

O funcionário do fast-food travou e começou a gaguejar.

— Não diga nada — Sasuke o cortou — Só quero que pare de mentir para mim. — Ditou com firmeza — Você já percebeu como sou um porre nos aspectos sociais, então não me teste com isso, pois minha tolerância é zero. — Completou, bufando.

— Você fala como um velho, teme. — O Uzumaki murmurou, projetando em seus lábios um biquinho infantil — “Sou um porre nos aspectos sociais” — Repetiu, forçando uma voz fina — Não é mais fácil dizer: não sei conversar como uma pessoa de verdade? Sou tão orgulhoso que nem sei interagir com os outros?

— Idiota! — Exclamou corando e fingindo irritação.

Naruto riu e mais uma vez estava tudo bem.

O Uchiha, em contrapartida, revirou os olhos e bufou, ocupando-se em levar a mão até a maçaneta da porta, abrindo-a. Seus olhos se arregalaram e Naruto pulou assustado quando Itachi e Sakura caíram ali, na frente deles, em total desequilíbrio por estarem — até então — apoiados na madeira. Sasuke não precisou refletir para chegar à conclusão que os dois estavam ouvindo a conversa dele e do Uzumaki.

— Que porra é essa? — Trovejou, assistindo Itachi auxiliar a médica a ficar novamente em pé.

— A culpa é do Itachi! — A Haruno respondeu, apontando para o mais velho e tentando se livrar da responsabilidade.

Itachi fuzilou-a pelo olhar.

— Eu estava preocupado com a possibilidade de você matar o Naruto!

— Você tinha que ver sua cara, parecia que ia estrangular o Naruto! — Sakura contou e pelo sorrisinho, Sasuke reconheceu que ela só fingia estar assombrada — Não temos culpa de ficarmos preocupados e, além do mais, nem temos dinheiro para pagar a fiança de um assassino!

— Eu não ia matar ninguém, porra! — Vociferou, irado.

— Ei, já passou! — Naruto intrometeu-se no meio do trio, separando Sasuke do Uchiha mais velho e da Haruno. A mão dele apertava o ombro do universitário com força e seus olhos imploravam para que ele findasse aquela briga, aparentando exaustão — Que tal comermos antes que esfrie? O que me diz, Sasuke? — Perguntou, segurando agora o ombro dele com mais gentileza.

O mais novo dos Uchihas resmungou e viu-se acatando ao pedido do loiro.

— Vamos. — Grunhiu, o empurrando porta a fora pelos ombros.

Não precisou fitar o irmão e a amiga para saberem que eles o observavam intrigados, afinal não era comum que Uchiha Sasuke simplesmente abandonasse uma confusão com um simples menear de cabeça. Não. Ele era teimoso e insistia que seu lado estava certo até que a outra pessoa se cansasse e o mandasse ir para lugares nada amistosos. Ele se garrava a qualquer debate, confusão e o que quer fosse até sentir-se satisfeito — isso geralmente só acontecia quando ele extravasava uma porcentagem considerável de raiva.

Caminhando até a cozinha, deu de ombros pelo comportamento diferente e procurou uma rápida e lógica explicação para aquilo. Provavelmente só obedecera ao Uzumaki porque estava cansado. Isso! Ele já estava exausto pela ressaca, pelos dramas que brotavam na amizade dele e do loiro e pela fome que começava a devorar seu estômago. É, não fazia sentido agir como um pirralho briguento e insistir em conflitos imbecis que não acabariam em lugar algum. Era simples assim.

Quando todos já estavam sentados e os estômagos eram torturados pelo cheiro delicioso daquela refeição, Sasuke tomou a faca da mão do loiro e obrigou o irmão a servir o grupo.

— É justo, Ita! — Sakura declarou, risonha — Os meninos foram comprar a comida, o Naruto fez e até se cortou! E eu sou visita, não é? Tenho o privilégio de não me ocupar com nenhuma obrigação doméstica.

— Você vai lavar a louça, Sakura — O Uchiha mais novo cuspiu, entregando o prato do Uzumaki para o irmão.

— Nem fodendo!

— Eu posso lavar. — Naruto ofereceu-se.

— Nem ouse! — Sasuke bradou, apontando um hashi para o rapaz.

— Pelo amor de deus, quanto drama — Itachi murmurou, servindo o Uzumaki — Não se preocupem, se o problema é a louça, eu cuido dela.

— Isso sim é um homem de verdade! — A Haruno vibrou, abraçando o Uchiha mais velho, que por ter ficado sem jeito com aquele gesto arrancou calorosas risadas do grupo — Se vossa senhoria se esforçar, pode vir a alcançar esse nível, Sasu — Provocou, com uma piscadela e o rapaz lhe mostrou o dedo do meio — Como é maduro... Argh.

Itachi ignorou as provocações que se seguiram e serviu os amigos.

Sasuke encontrou dificuldades para esconder sua fome quando o aroma fumegante do prato alcançou suas narinas. Instintivamente, ele agarrou os hashis e começou a devorar a comida, sendo seguido pelo irmão e a amiga. Ao seu lado, Sakura gemeu de aprovação, fechando os olhos e as mãos, deixando somente os polegares levantado, sinalizando sua aprovação. Itachi começou a implorar pela receita no mesmo instante que o alimento tocou em sua língua e o Uchiha mais novo encarou o Uzumaki fixamente, preso em um transe de admiração.

Ele não sabia dizer o que mais tinha gostado naquele prato. Os bacons estavam suculentos, os legumes e vegetais picados conversavam com os temperos, em uma explosão de sabores. As cores, vivas e fortes, despertavam mais ainda o apetite de Sasuke e o café... O Uchiha não sabia dizer quando havia sido a última vez que ele tomara algo tão agradável ao seu paladar. A bebida era quente, cremosa e, por mais que tivesse chocolate em sua receita, não estava totalmente doce. Estava tão boa que o universitário encontrou-se virando sua xícara, sorvendo o máximo possível daquele líquido.

— Você é um mágico, Naruto! — A mulher de cabelos róseos anunciou, limpando a boca — Nunca comi algo tão delicioso em toda minha vida! Só não gostei muito do Mocha Latte. Acho que pela narração, esperava algo mais doce.

— Percebi isso também. — Itachi intrometeu-se, analisando a bebida em sua xícara — Não está ruim, na verdade está boa, mas...

— Como eu posso dizer... — A Haruno voltou a falar — Eu sinto o gosto do chocolate, mas não a doçura completa. É equilibrado, mas não é tão doce e isso está travando meu cérebro! Não consigo entender. — Refletiu, franzindo as sobrancelhas.

— Está ótimo. — Sasuke assegurou.

— Para você sim, já que não gosta de nada muito doc... — O resto da palavra foi esquecida no ar, quando o Uchiha mais velho começou a sorrir, olhando de canto para o Uzumaki que ouvia atentamente às críticas — Agora tudo fez sentido.

Sasuke trincou a mandíbula com aquilo, prevendo que algo estava por vir.

— Desculpem, mas eu não sabia o jeito que vocês gostam da bebida... — Naruto murmurou, sacando o celular do bolso e desbloqueando a tela — Como eu tomo mais café com o Sasuke, acho que minha mente meio que acostumou com a preferência dele e eu caminhei para esse lado no automático.        

— As frescuras dele, isso sim. — Sakura ironizou, rindo.

O mais novo dos Uchihas revirou os olhos.

— Se quiserem, posso anotar como vocês gostam do café e corrigir na próxima vez. — O Uzumaki sugeriu, deixando a comida de lado e concentrando-se no que a dupla falaria, com o bloco de notas aberto no aparelho.

— Nem fodendo que vai fazer isso agora, dobe! — Sasuke ralhou, arrancando o celular das mãos dele — O problema é deles se não gostaram do café. Só come.

— Credo, Sasuke! Deixa de ser ogro! — A Haruno exclamou, furiosa.

— Está tudo perfeito. — O Uchiha continuou — Que se fodam as críticas deles.

— Não estamos criticando! — Sakura protestou, arquejando — Pelo contrário, o Naruto é genial por conseguir neutralizar logo o chocolate! Ele deve ter calculado tudo nos mínimos detalhes para que o açúcar não ficasse muito presente. — Explicou, em um tom de voz alguns decibéis acima do normal — Entende, Naruto? Você tem um talento formidável e estou em choque por isso.

— As batatas também estão suculentas — Itachi acrescentou.

Mesmo irritado com o discurso dos dois, Sasuke não conseguiu esconder o sorriso de canto que surgiu ao visualizar o Uzumaki sem jeito com tantos elogios. Ele coçou a nuca, bagunçando a confusão de mechas loiras, desviando os olhos azulados para o prato e sorrindo igual uma criança tímida. Estava orgulhoso de seu trabalho e o mais novo dos Uchihas conseguia enxergar o quanto significava para ele ser bem avaliado na culinária: aquilo era importante para o rapaz e mesmo que ele afirmasse que não passava de um hobbie — uma óbvia mentira — ali estava os frutos de seu trabalho, estudo e dedicação.

Aquele desgraçado tinha mesmo um extraordinário talento. Podia ser atrapalhado e cabeça-oca, mas sabia o que fazer com cada milímetro dos alimentos e Sasuke tocou-se de que ele aproveitava 100% dos ingredientes, elevando seu sabor até alcançar 100% do de seu potencial. O Uzumaki era um gênio e Sasuke não conseguiu nomear a sensação que tomou conta de seu peito ao constatar que o talento tinha sido utilizado para agradá-lo ao fazer um café que só Uchiha Sasuke gostaria.

O café era bom mesmo, disso ele tinha certeza.

Agora, quanto o calorzinho insuportável que aquecia o peito, o sorriso de canto que tinha sido cravado em sua boca e a vergonha por ser ele o responsável por um café que ninguém ali gostara... Sasuke não conseguia lidar com essas incertezas. Era irritante e por isso ele resolveu deixar para lá, concluindo que devia ser felicidade. Simples assim.

— Concorda, Sasuke? — A voz de Naruto o trouxe de volta à realidade o moreno percebeu que estava o encarando fixamente. A vergonha ficou exposta em sua face e ele desviou os olhos, deixando de fitar a empolgação do rapaz que gesticulava.

— O que?

— Quanta desconsideração. — Sakura alfinetou, mordiscando algumas batatas — Você faz um café perfeito e é assim que ele te trata, Naru: não ouviu uma só palavra do que disse.

— Ao contrário de certas pessoas, estava pensando nas minhas obrigações da faculdade e do estágio. — O Uchiha desconversou, fulminando a mulher pelo olhar — O que dizia, dobe?

Naruto deu de ombros, indicando que não importava.

— Desembucha, Naruto. — Grunhiu, terminando a refeição.

— Era só que o Ichiraku faz cafés muito bons.

— Contra fatos não há argumentos. — Sasuke concluiu, finalizando o café.

— Vocês falam demais desse Ichiraku, estou ficando até curioso. O que acham de irmos mais tarde lá? — Itachi propôs, começando a recolher a louça suja.

— Não vai se arrepender! — O Uzumaki vibrou, com os olhos azuis brilhando — O velhote sim faz os cafés bons! E consegue fazer para todos os paladares, do mais sensível, ao mais bruto. É um absurdo que ele ainda não tenha sido destaque em nenhuma revista, mas dou menos de um ano para que isso mude, tô certo.

— É mesmo? — Itachi demonstrou um interesse que aos olhos de Sasuke foi irritante.

— Sim. Se quiser, tenho até uns cupons de desconto!

— Opa, alguém falou em desconto? Desconto é meu sobrenome — Sakura bradou, levantando-se — Não posso nem ouvir essa palavra que já quero pular em cima da promoção. — Revelou, rindo.

— Desconto, Promoção, Amostra Grátis, Pague 1 e Leve 2... Vivo e respiro isso. — Naruto acrescentou e todos, menos Sasuke, riram.

— Finalmente alguém que me entende. — A Haruno dramatizou, envolvendo-o em um abraço — Viva ao espírito da pobreza!

Sasuke revirou os olhos e levantou-se também.

— Ei, Sasu! Vamos jogar no seu PS4? — A mulher sugeriu, animada.

— Você vai de qualquer jeito. — Grunhiu, bufando — Quer jogar, Naruto?

Ele pareceu meio incerto, mas assentiu e Sasuke saiu na frente, sendo seguido pela dupla, deixando Itachi com as louças na cozinha. O grupo instalou-se no quarto do moreno e o Uchiha não ficou surpreso ao ver o console ligado e seus controles espalhados de qualquer jeito na cama. Aquilo o irritou.

— Já falei para vocês guardarem essa merda com cuidado! Depois quebra e vem você me dizendo que não sabe de quem é a culpa, Sakura.

— É do Itachi! Está no DNA de vocês Uchihas serem organizados e arrumarem tudo. Se ele não fez isso, então está doente.

— O Itachi só cuida das coisas dele — Grunhiu, dando um controle para o Uzumaki — O que você quer jogar, dobe?

— Tem Mortal Kombat? — Naruto perguntou com incerteza.

— Tem! Vamos, Naruto! Vem jogar contra mim, vou te dar uma surra! — Sakura urrou, atirando-se na cama do Uchiha e iniciando o jogo que já estava inserido — Prepare-se para perder tão feio, mas tão feio que nunca mais irá conseguir dar as caras aqui novamente, Naru!

O loiro riu e sentou-se ao lado dela.

Em segundos, começaram o jogo. Sasuke não prestou muita atenção, já que não gostava muito do gênero. Ele ocupou-se em se sentar na escrivaninha e folhear suas anotações e resumos, muito bem estruturados e organizados. De vez em quando sua atenção era desviada para a dupla, que gritava e se provocava enquanto jogava. Pelo que ele estava entendendo, Naruto tinha começado perdendo, mas começara a pegar a mecânica do jogo e já tinha ganhado da Haruno duas vezes.

Ela, claramente, estava puta.

— Não vale! Você roubou!

— Roubei não! Você que não apertou os botões direitos, Sakura!

— Claro que roubou, eu sempre ganho do Itachi! Sou uma mestra nisso! — Ela bufou e atirou o controle nas pernas do Uzumaki.

— O espírito de colegial anda bem vivo em você, Sakura.

— Não lembro desde quando alcoólatras tem moral para falar alguma coisa, Uchiha. — Cuspiu, levantando-se — Vou ajudar o Itachi.

E saiu, batendo a porta com força.

— TPM. — Sasuke explicou ao observar a face confusa do Uzumaki e uma risada seguiu-se, como se eles compartilhassem um segredo que só fizesse sentido para os dois rapazes.

Naruto continuou jogando contra o próprio sistema e o universitário permitiu-se mergulhar em seus estudos para o dia seguinte. Dessa vez, o silêncio que os cercou era confortável e Sasuke não se incomodou com os ruídos causados pelos dedos do loiro, apertando os botões dos controles descontroladamente, em busca fazer o máximo de combos e especiais possíveis. Pelo contrário, ele viu-se apreciando a companhia do Uzumaki. Era como se a figura dele destruísse a solidão que assolava aquele cômodo, enquanto uma leveza contaminava o ambiente, pelo Uchiha ter a certeza de que o rapaz estaria ali com sua gentileza e simpatia, caso fosse necessário.

— Isso! — O loiro vibrou ao matar um personagem — Vai achando que Uzumaki Naruto é pouca coisa!

Mesmo com os olhos colados no relatório em suas mãos, Sasuke viu-se incapaz de sorrir com a infantilidade dele. A cena se repetiu algumas vezes e o Uchiha riu em silêncio, refletindo sobre como o amigo parecia um pirralho e percebendo que era a primeira vez que ficava de fato sozinho com ele, sem ninguém para encher o saco ou alguma obrigação a ser cumprida.

Notando isso, resolveu deixar os papéis de lado e caminhou para a própria cama, jogando-se ao lado do Uzumaki e o assistindo jogar. Os dois ficaram em silêncio por algum tempo: os olhos grudados na televisão e nos movimentos dos personagens e seus poderes.

— Desvia, desvia! — Ordenou, sentando-se apreensivo ao ver que o personagem do loiro estava para levar um soco. Os reflexos do Uzumaki mostraram-se eficientes e ele desviou na mesma hora.

— Essa foi por pouco! — Naruto gargalhou e finalizou a luta — Valeu, teme!

Sasuke murmurou qualquer coisa e deitou-se em sua cama, enquanto o Uzumaki checava as mensagens em seu celular.

— Papel de parede legal. — O Uchiha comentou, fitando a embarcação de madeira com um número considerável de velas bordadas com uma cruz.

— É uma Caravela. — Naruto explicou alegremente — Nas Grandes Navegações elas foram usadas para transportar especiarias asiáticas para a Europa.

O universitário assentiu, interessado no assunto.

— Quando era criança, meu sonho era comandar uma embarcação. Gastava boa parte do tempo irritando minha mãe, insistindo que era um pirata ou comandante, em uma missão urgente de transporte de temperos. — Naruto confidenciou, rindo da besteira infantil e deitando-se ao lado do amigo, compartilhando com ele a fadiga pós-refeição.

— Eu dizia que queria ser piloto da Força Aérea.

— Você tem mesmo cara daqueles pilotos ranzinzas! — O loiro brincou e o Uchiha esmurrou seu peito — Por qual motivo desistiu disso?

— Não era bem minha área e era impossível suportar o drama da minha mãe com a possibilidade de uma guerra estourar e eu ser convocado. — Grunhiu, levantando os ombros — Nunca vi uma pessoa tão neurótica com o medo de uma possível guerra, mas não a julgo.

Os dois fitaram o teto, rodeados do silêncio desconfortável dos fantasmas da Segunda Guerra Mundial e suas atrocidades.

— Você vai ser um bom advogado, de qualquer forma.

— Na verdade, vou tentar seguir na carreira de Juiz ou Delegado, ainda não decidi — Sasuke suspirou, tentando não imaginar o longo caminho que ainda precisaria percorrer. Ele quis perguntar os porquês de o loiro não estar na faculdade, em busca de ser um dos melhores chefes do Japão, mas algo o impediu. Um pressentimento de que isso traria à tona sentimentos melancólicos que entristeceriam o Uzumaki e o Uchiha não queria que o amigo ficasse triste novamente. Não enquanto estivesse ao seu lado — Ah, seu café estava bom.

— Pena que o Itachi e a Sakura não gostaram. — Ele dramatizou, com um biquinho infantil e o Uchiha bufou.

— Eles não têm um paladar bom.

— Na próxima vou acertar! Eles vão implorar por mais cafés!

— Disso eu não duvido. — Sasuke sorriu, contagiado mais uma vez pela euforia daquele loiro sem-noção e viu-se agradecido pela companhia dele.

Continuariam a falar sobre trivialidades, se não fosse o barulho ensurdecedor de gritos e ofensas sendo proferidas na sala. Naruto no mesmo instante sentou-se, as costas eretas e os olhos esbugalhados, fitando o Uchiha assustado, que revirou os olhos ao reconhecer o conjunto de vozes que se elevaram.

— Akatsuki. — Sasuke murmurou, como se aquilo explicasse tudo.

— Akatsuki?

— Os amigos do meu irmão. — Explicou, levantando-se rapidamente e jogando-se contra a porta quando ouviu seu nome ser pronunciado — Droga! Preciso trancar a porta...

Mas já era tarde demais, pois o grupo empurrou a madeira com força, fazendo o Uchiha cair sentado no chão, fitando-os pateticamente.

— Porra, Sasuke! Cadê seu sangue Uchiha? — Um loiro questionou, estendendo a mão para o ajudar — Bem que eu sempre digo que no fundo vocês não passam de umas florezinhas delicadas...

— Vai tomar no cu, Deidara! — Um rapaz de cabelos negros trovejou.

— Já chega vocês dois! — Dessa vez uma mulher de fios curtos ralhou — Deidara, deixa o Sasuke em paz. Obito, para de dar corda para a imaturidade dele, porra!

Sasuke precisou se conter para não os xingar, buscando focar sua atenção do Uzumaki que fitava o grupo com medo e curiosidade. Não o culpava, já que a Akatsuki — ou, pelo menos, os membros que se encontravam ali naquele quarto — eram um excêntrico conjunto.

— Então você é o famoso Naruto! — Uchiha Obito cantarolou, estapeando as costas do menino — Sou o primo do Sasuke.

— Isso é óbvio, porra. — Um rapaz platinado grunhiu — A família Uchiha mais parece Targaryen, tudo parecido um com o outro... Credo, vocês devem cometer o maior incesto. Que Jashin-Sama os perdoe por esses pecados.

— Ah, não! Vai começar mesmo com essa merda, Hidan? — Deidara rosnou, apontando o dedo indicador para a face dele — Juro por Van Gogh que se você tocar mais uma vez no nome desse diabo, eu vou te explodir!

— Chega. — Itachi entrou no quarto, sendo acompanhado de Sakura e um ruivo — Vocês estão assustando o Naruto. — Suspirou, apontando para o Uzumaki que não sabia o que fazer com aquela brusca mudança de atmosfera.

— Estão contaminando meu quarto. — Sasuke protestou, colocando-se ao lado do funcionário do fast-food — Ignore-os, Naruto. São escória da humanidade.

— Olha como fala conosco, criança!

— Respeite a Konan, Sasuke! — Sakura intrometeu-se — E Naruto, conheça uma parte da Akatsuki.

— Ou, melhor: o melhor clã de League Of Legends. — Obito corrigiu.

— Ou: Vagabundos Irresponsáveis. — Sasuke ironizou — Quem joga essa merda hoje em dia?

— Só para seu conhecimento, é um E-Sport muito popular, que a cada dia que se passa traz mais visibilidade  e abre novas portas para essa modalidade. — Sasori explicou, orgulhoso por aquele avanço.

— League of Legends? — Naruto repetiu, confuso.

— É, somos um grupo que se reúne para jogar todo final de semana. Só os ouros e platinas entram. Ou seja, só os melhores. — Obito relatou, apontando para os amigos — Hoje estamos com uma falta de pessoal, mas fazer o quê.

— Sasuke só está com dor de cotovelo porque caiu para o Bronze IV por causa da faculdade. — Deidara provocou, com uma risadinha cruel — Coitado, não consegue conciliar a faculdade com o jogo. Ser bom é para poucos... — Levantou os ombros.

— Sou responsável, porra.

— Mas você é o Naruto, não é? Soube que cozinha muito bem! — Konan manifestou-se, empolgada — O que acha de entrar para nosso grupo? Podemos te treinar e em troca você nos faz comida!

— Ei, vai com calma, Konan! — Sakura gargalhou.

— Você já vazou a informação? — Sasuke virou-se para a amiga revoltado.

— Isso são ciúmes, primo?

— Vai se foder, Obito.

— Se não for problema, posso cozinhar qualquer dia. — Naruto comentou, tímido — Quando eu tiver um tempo.

— Você não precisa fazer as coisas por pressão. — O universitário disparou, indignado — Pode dizer não, Naruto.

— Deixa de ser chato, Sasuke! — A Haruno protestou.

O Uchiha mais novo a fuzilou pelo olhar, revoltado pelo grupo ter quebrado a paz que se estabelecera naquele início de tarde. Depois de tanto esforço, conversa e tensão, ele finalmente começara a destruir o clima incômodo que tomava conta da amizade com o Uzumaki, só para a Akatsuki destruí-lo, aparecendo com uma enxurrada de informações e ofertas irritantes. Inferno! Só queria aproveitar o resto do dia jogando videogame com aquele funcionário do fast-food, não com um grupo de universitários imbecis.

— Deem um minuto para o Sasuke. — Itachi sugeriu, após contemplar o estado do irmão — Ele teve alguns problemas essa noite, então deixem ele respirar um pouco. Vamos lá para a sala.

O grupo protestou, mas o Uchiha mais velho conseguiu chutar os amigos para fora, deixando no quarto somente o universitário e o loiro fã de cafés.

— São um grupo e tanto, hein? — Naruto puxou assunto, atordoado.

— A maioria são estudante de humanas. — Sasuke bufou, jogando-se em sua cama. Sua cabeça começava a doer — Aposto que foi ideia da Sakura chamar eles aqui.

— Eles jogam mesmo League Of Legends?

— São viciados.

— E é legal?

Sasuke arquejou.

— Nem pense nisso, Naruto!

— Mas eu não falei nada... — Murmurou, rindo.

O Uchiha o fuzilou pelo olhar.

— Vou matar a Sakura. Ela sabe que não suporto a Akatsuki e convenceu o Itachi a chamá-los aqui... Isso é vingança por ontem, com certeza.

Ele caminhou pelo próprio quarto, com uma mão nos fios negros.

— Vou me vingar. — Declarou, parando e encarando o Uzumaki fixamente.

— Não vale a pena, teme.

— Não. Estou puto, Naruto.

Sasuke não ouviu quando o loiro tentou convencê-lo, seguindo-o pelo quarto, assistindo-o pegar uma fita adesiva na escrivaninha, abrindo a porta e passando-a pelo arco, atravessando a entrada. Ele pegou seu celular e começou a filmar, começando a gritar em segundos a amiga, em uma voz teatral de drama.    

— Isso não é certo, teme! — Naruto exclamou, pulando nele e tentando tapar sua boca, para que a Haruno não ouvisse. Na surpresa, o Uchiha perdeu o equilíbrio e os dois foram ao chão, no mesmo instante em que a mulher de cabelos róseos tentava cruzar a porta com uma xícara de café.

A cena que se sucedeu foi do completo caos: Sakura deu de cara com a fita, enquanto o Uchiha filmava do chão, com o Uzumaki em cima de si. A xícara completa de café quentinho voou no impacto, derramando-se por completo nos dois que começavam a travar uma briga no tapete azulado. A Akatsuki surgiu segundos depois e suas vozes elevaram-se, enquanto eles xingavam, riam e tentavam compreender o que estava acontecendo.

— É culpa do Itachi e da Sakura! — A voz de Sasuke fez-se presente, direto do chão, carregada por um ódio incompreensível. 


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Notas finais do capítulo

Eu não quero fazer um textão, até pq ninguém merece na noite vir uma anônima na internet com textão com pedidos de desculpas. Mas sério, eu quero deixar aqui minhas desculpas, implorando o perdão de vocês pelo sumiço, por não ter respondido NENHUM REVIEW e sei lá, não ter dado nenhum aviso. Eu só estive numa bola de neve, com bloqueios, fases ruins e sei lá. Eu realmente estou revoltada, não queria ter demorado tanto tempo, mas eu só... sei lá, não conseguia produzir nada. Virava pra essa história e ficava: que merda eu tô fazendo? Que porcaria, eu deveria excluir, porra. Todo dia eu sentava na frente do computador, abria o word e ficava encarando. Digitava e apagava, milhares de vezes.
Enfim, o motivo de não desistir ou excluir foi justamente por consideração à todos que leem e comentam. Sério, esses comentários me deram forças. E eu agradeço muito por isso. Eu cheguei a realmente querer BOTAR FOGO EM TUDO. Mas agora passou e eu realmente me senti feliz escrevendo essa história. Eu gosto muito de como os personagens se desenvolvem, como se estivessem criando vida própria. Eu amo esse ar amor e delicado que ronda essa história e como ela ajuda a lavar a minha alma. E eu fico feliz que vocês notem isso e aconteça o mesmo com vocês. Escrevo com amor e carinho e agradeço o feedback. Ele é importante. Ele é o que salva nós autores nessas épocas escuras.
Enfim acabei fazendo o textão falando nada com nada
Estarei respondendo vocês ao decorrer da semana



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