Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 35
XXXV – Palavras em Ordem




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Ao despertar, Rebeca sentiu um cheiro adocicado. Se sentou, vendo que Ethan não estava mais na cama. Levantou, passou no banheiro do andar e foi para a cozinha. Ethan estava cozinhando, e ela logo foi se sentar em uma das banquetas. Já havia uma xicara de chá à sua espera, e a pegou, dando um bom gole, ajudando um pouco em seu estado mental meio ruim.

Viu um prato com panquecas perfeitas sendo colocada em sua frente, e por um momento estranhou, tentando lembrar quando ela tinha pensado em panquecas.

— Você sonhou com panquecas doces. — Ethan explicou. — Achei que poderia melhorar seu humor um pouco.

Rebeca acabou sorrindo, pegando o garfo e a faca dispostos ao lado. — Obrigada. — Cortou a pequena pilha e comeu, se deliciando com o sabor.

Ele também começou a comer. — Quer ir para casa?

— Sim, é melhor.

Pouco depois, Ethan trocou de roupas e pegou os pertences de Rebeca, e juntos foram até a primeira sala, e saíram, aparecendo no quarto dela e fazendo Isabel tomar um susto, os olhando alarmada, tapando a boca com as mãos.

— Desculpa. — Rebeca pediu baixo, vendo que o céu estava começando a clarear.

— Quase morri do coração — exclamou ela, sussurrando. — A noite foi boa? Eu fiquei preocupada! — Sua voz subiu de tom.

— Fala baixo! Foi mal.

— Foi mal? Eu... — E de repente, os três apareceram dentro do celeiro escuro.

— Seus pais acordaram com a voz dela. — Ethan se adiantou.

Isabel suspirou. — O que esse cara está fazendo aqui? Nem para me avisar que ia dormir na casa dele!

— Desculpa, mas como eu ia te avisar? Ele nem consegue te achar pelos pensamentos.

Ela cruzou os braços, parecendo contrariada. — Ah... esqueci desse detalhe.

— Ele até falou com o Tempo para tentar descobrir para onde você tinha ido.

— Tá bom, já entendi! Só fiquei preocupada. Aquele velho louco é cheio de mandar o povo para os lugares sem perguntar se eles querem ir. — Ethan segurou o riso, como se concordasse com aquilo. — Cadê a luz desse lugar? — Isabel olhou para cima. — Eu vivo na era da eletricidade, quero luz!

Rebeca suspirou e foi até a entrada, ligando o interruptor antigo, fazendo a luz acender. — Pronto. — Os outros dois trocaram olhares rápidos, e encararam a mais nova ao mesmo tempo.

— E aí. — Isabel começou. — Vocês se entenderam?

— Sim. — Rebeca respondeu, indo se sentar no sofá.

— E...? — Sentou ao lado dela.

— E o quê?

— Eu sei que tem mais coisa.

— E como você sabe?

— Eu te conheço, minha filha.

— Precisamos pensar em um jeito de fazer Gabriel ouvi-la. — Ethan falou.

— Ele não quer saber dela, eu li a mente dele.

— Mas podemos fazer algo. Talvez se você usasse uma essência que o fizesse querer escutá-la, eu poderia colocar na casa dele...

— Ei. — Rebeca o interrompeu. — Eu não quero que ele me escute forçado. Se é para ele querer me ouvir ou me perdoar, que seja por vontade própria.

— Aí você complica. — Isabel comentou.

— Não importa, ou é assim ou não é. — Passou as mãos no rosto, inquieta.

Eles ficaram em silêncio, cada um tentando pensar em algo. Rebeca lembrou de como fora parar na casa de Ethan...

“Aquele velho louco...”.

Riu internamente.

O Tempo parece ser meio doido mesmo, mas também parecia ser sério quando necessário. Era estranho tê-lo visto com a aparência adulta... Aquela mulher o perdoou depois de cartas e flores... Espera... será que...?

Ethan a olhou, de repente. — Você pode tentar.

— Quê? — Isabel falou, perdida. — Tentar o quê?

— Tentar mandar uma carta para ele.

— Uma carta? Vamos voltar nos tempos antigos...? Será que ele leria?

— Esse é a questão.

— Olha, eu até poderia fazer ele querer ler...

— Não. — Rebeca disse logo.

— Calma! Deixa eu falar. Eu só faria ele se interessar pela carta. Não faria nada que interferisse na decisão dele. Pelo menos teríamos certeza que ele leria.

Rebeca considerou. — Não sei... ainda assim...

Isabel bufou. — Vai, Beca! Me deixa ajudar!

— Melhor não. Eu vou escrever a carta e ele vai decidir se vai ler ou não.

— Que chata.

— Você pode ajudar pensando em um jeito de fazer a carta chegar nele.

— Pelo correio? — ironizou.

— Não acho que ele ia querer ler se recebesse pelo correio.

— Se você me deixasse usar a essência, ele leria.

— Já falei que não.

— E se você deixasse a carta na mochila dele? — Ethan sugeriu. — A chance de ele querer ler é maior.

— É, acho que sim. — Levantou. — Eu vou escrever a carta. Sozinha — completou, quando Isabel fez menção de levantar, fazendo um bico enquanto Rebeca saía do celeiro.

Ethan observou a mais nova se afastar. — Então quer dizer que você causou tudo isso tentando ler minha mente?

Isabel paralisou uns segundos, pensando. — A culpa não foi minha. Eu não ia adivinhar que Gabriel ia comer meu bolinho.

— Poderia ter dificuldade o acesso.

— E quem é você para falar algo? Está sabendo do que a Beca sofreu por sua causa, né?

— Já resolvemos nossos problemas.

— É, bem tarde, diga-se de passagem.

— Antes tarde do que nunca.

Isabel riu, revirando os olhos. — Ai, Deus.

— Do que você está falando? Sempre colocava ela em enrascadas.

— Eu não colocava. Só a motivava a fazer o que queria fazer.

— É, claro.

— Espera aí, você via?

— Às vezes, quando ela entrava em confusão e ficava assustada.

— Todo aquele papo de ser frio, mas você se preocupava, né?

— Uma coisa nada tem a ver com a outra.

— E afinal, o que aconteceu entre vocês? Ela estava toda confusa sobre o que sentia por você, e quando volta, quer de qualquer jeito explicar tudo para Gabriel.

Ele ficou um tempo em silêncio. — Ela percebeu que ele é o par dela. É ele que a completa e a deixa feliz.

— ... mas e você? — Ethan a olhou, e por um momento, Isabel pareceu aberta e até com a intenção de ajudar, caso precisasse. Apesar dessa pequena rixa entre eles, o instinto dela de ajudar falava mais alto.

— Estou tão certo quanto ela.

Mesmo ainda insatisfeita, Isabel desistiu de tentar dialogar. Ele não falaria mais nada. Enquanto isso, Rebeca entrou em casa e subiu as escadas, dando de cara com seu pai.

— Já está de pé, filha? Caiu da cama?

— É, quase isso. — Passou por ele, com pressa.

— O que estava fazendo?

Ela parou, se virando para olhá-lo. — Eu... estava lá fora com a Isabel. Ela... gosta de ver o nascer do sol.

— Ah... Noite passada foi meio estranha. Não me lembro de ter subido e ido para a cama. Você sabe que horas subimos?

Epa. — É... não, não lembro. Eu não vi, na verdade.

— Hm... está bem. Só sei que nunca dormi tão bem quanto hoje. — Deu um sorriso satisfeito e bem-humorado.

— Que bom, pai, fico feliz. — Sorriu e entrou em seu quarto. Fechou a porta, sentindo um nervosismo no estômago e sentou na cadeira de sua escrivaninha, pegando um caderno da gaveta e o abrindo. Pegou uma caneta e a posicionou na primeira linha, tentando pensar na ordem das coisas que queria escrever.

Suspirou, raciocinando, mas nada parecia fazer sentido. Parecia que, se escrevesse, tudo sairia fora de ordem e seria só um amontado de palavras. Ela não sabia como descrever o que aconteceu e muito menos o que estava sentindo.

De repente, ouviu toques na porta, e logo em seguida Maristela a abriu, já vendo a filha sentada ali.

— Bom dia, filha... O que está fazendo acordada tão cedo?

Rebeca largou a caneta na mesa, ficando desanimada. — Nada, mãe.

— E cadê a Isabel? Seu pai disse que vocês estavam lá fora para ver o sol nascer.

— Sim.

— E por que está aqui sozinha? Vocês não brigaram não, né?

— Claro que não.

— Então por que está murchinha desse jeito? — Entrou, ficando ao lado da cadeira, fazendo um carinho nos cabelos de Rebeca.

Ela não vai me deixar quieta enquanto eu não falar...

— Eu... estava pensando em mandar uma carta para Gabriel, mas não sei como começar.

— Hm... Acho que é uma boa ideia. Você precisa ser sincera com você mesma, porque assim consegue ser sincera com suas palavras. Não precisa ficar preocupada se vai fazer certo, você pode escrever o que tiver em mente e depois ir modificando.

Rebeca olhou para sua mãe, pensando que aquilo era verdade. — Como sabia que eu estava preocupada com isso?

— Instinto materno. — Deu de ombros, com um pequeno sorriso no rosto. — Imaginei que você estivesse pensando nisso. Conheço sua dificuldade em colocar as palavras na ordem. — Deu uma piscadela.

Ela acabou rindo. — Ah... Vou tentar fazer isso.

— Tudo bem. — Deu um beijo no topo da cabeça da filha. — Se precisar de ajuda, é só me chamar.

— Okay.

— Mas até as sete e meia, depois vou ir trabalhar.

— Eu sei, mãe.

— Então tá... — Começou a sair. — Ah! Obrigada por ter cuidado da louça. Eu nem me lembro de ter ido deitar, acredita? Eu devia estar realmente cansada.

— Acho que... a Isabel deve ter lavado tudo. Eu também acabei dormindo cedo.

— Ah... Vou agradecê-la depois. — E saiu, fechando a porta atrás de si.

Rebeca voltou a pegar a caneta e colocou a ponta no papel, já pensando em como começaria.

Gabriel...


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