Champagne escrita por Maah ri


Capítulo 1
This is my champagne!


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, meus amorzinhos!
(estou viciada em fazer ones, me perdoem)



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Existem coisas das quais você não vai se lembrar.

Seja o que comeu 27 dias atrás ou simplesmente a cor da roupa intima que usou na terça-feira. O nosso cérebro trata de descartar algumas coisas que são aparentemente inúteis.

Já outras você tem certeza de que nunca vai esquecer.

O ano novo de 2016 é uma dessas para mim: cada detalhe viverá eternamente em minhas lembranças e cada pedaço da pessoa com a qual dividi aquela noite faz e sempre fará parte de quem eu sou hoje.

Acho que está na hora de contar um pouco do que aconteceu para vocês...

***

Eu não aguentava mais meus pais.

Desliguei a 100° ligação do dia e segui caminhando em direção a pequena e quase deserta praia na esperança de aproveitar o resto da noite em tranquilidade.

Desde que saí de casa tive aquela sensação de que estava esquecendo algo muito importante, mas no meio da correria não consegui verificar o que era.

Muito bem, permita-me contar o motivo de tanta pressa.

Meus pais, Frederick e Atena, claramente me amavam muito e o sentimento, obviamente, era reciproco. Porém depois de um tempo você acaba notando que mesmo em meio a tanto amor a sua vida precisa ser levada em consideração.

Foi por meio do acúmulo desse sentimento que eu resolvi que precisava sair de casa.

No auge dos meus 21 anos, já formada com honras na minha escola e seguindo o mesmo caminho na faculdade, acabei vendo que a minha necessidade de morar sozinha era algo crescente e realmente importante.

Foi então que eu resolvi falar com os meus pais, numa tentativa falha de aproveitar o espirito de “ano novo, vida nova” e mostrar que eu precisava de uma vida nova, num novo lugar e com uma nova e essencial companhia: EU.

Mas Dona Atena não entendeu da mesma forma e foi guiando o que pai para ser contra também, logo os dois estavam gritando e chorando pela casa (sim, tudo ao mesmo tempo), implorando e passando ordens para que eu ficasse.

Talvez, em outra fase da  minha vida e com outros objetivos eu tivesse aceitado e baixado a cabeça, voltando para o quarto. Mas eu estava decidida, então, com todo aquele ar de rebeldia e superioridade de só os jovens conseguem ter, virei para a porta, abrindo-a e “fugindo” de casa.

Mas eu ia voltar.

Talvez amanhã ou depois, quando as coisas esfriassem e a minha cabeça estivesse pronta para arcar com a pressão que era conviver com aqueles dois.

Foi então que eu senti falta da garrafa de champanhe.

Beber era uma das formas que eu tinha para esquecer os meus problemas. Não era algo comum, mas uma medida extrema e de urgência, ainda assim, uma medida.

Devido ao fato de estar em uma praia deserta, encontrar o único (veja bem, eu disse ÚNICO) supermercado dali foi fácil. O difícil foi achar o que eu queria.

Como o local não era muito frequentado, as prateleiras estavam todas bagunçadas e os produtos espalhados por todos os lados, mesmo assim segui andando e vasculhando atrás de todos as grandes caixas de cereais coloridos espalhados.

Depois de procurar pela –teoricamente- parte infantil, de limpeza, alcoólica, de refrigerantes e na de biscoitos, eu finalmente o vi.

Bonito e ali parados, como se esperasse a minha chegada. O esverdeado dele me dava vontade de abraça-lo só por estar ali e o conteúdo com certeza deve ser melhor ainda.

Veja bem, eu estou falando do champanhe.

Caminhei tranquilamente me dirigindo a garrafa, mas assim que estendi a mão para pega-la, ela saiu da minha frente.

Imagine bem a imensa cara de “QUÊ?” que já deveria estar tomando conta da minha expressão.

Segui o movimento da garrafa com o olhar e encontrei um homem, moreno e bem maior que eu, caminhando tranquilamente até o caixa com ela.

Não pensei duas vezes antes de correr atrás dele.

—Ei, essa garrafa é minha!- Gritei quando estava chegando perto. As longas pernas dele dificultaram o meu serviço, levando em consideração que cada passo que ele dava eu precisava dar três para acompanhar.

Ele se virou tranquilamente, claramente nem um pouco preocupado com a minha situação.

Puxei o ar.

Caramba, ele é bonito.

“Mas está roubando a sua garrafa!”

É, isso mesmo. Tem razão. Não posso me deixar abalar.

—Tem seu nome nela?

—Bem, não, mas...

—Você estava com ela na mão?

—Não, mas espere...

—Você é a fabricante?

—Claro que não, mas...

—Agora, última chance: você reservou ela com o dono?

—Ah, já chega! Que saco! Você é muito mal-educado. Pare de agir como uma criança e encare os fatos: eu estava claramente indo pegar a porcaria da garrafa antes de você se intrometer e colocar essa mão absurdamente grande no meio!

—Você estava?

—Sim!

—Que pena. –E seguiu andando para pagar.

—Ei, volte aqui!

—Não.

—Essa garrafa é minha!

—Não, não é. –Respondeu tirando o dinheiro do bolso e pagando ao cara do caixa.- Agora ela única e exclusivamente minha. –Completou com um sorriso irônico no rosto.

—Ora seu...

Mas ele não estava mais na minha frente.

Tive vontade de pegar a porcaria da taça que jazia na minha bolsa e joga-la com toda a força na cabeça dele, mas me contive e optei pelo meu plano B para a noite: caixa de Kit Kats e Coca-Cola até não aguentar mais.

Paguei tudo e segui caminhando até o melhor ponto da praia.

Aquele lugar, como já disse anteriormente, não era muito visitado. Por mais que fosse um ponto turístico da Califórnia, poucas pessoas realmente o conheciam e veneravam como eu.

Ainda assim, algumas lojas rondavam o local perto do supermercado.

Escolhi um lugar bem isolado de tudo e, provavelmente, com uma bela visão dos fogos que iriam marcar a passagem de ano.

Era bom estar ali.

A tranquilidade e o fato de eram apenas eu e o mar me agradavam mais ainda.

Mas novamente as coisas não saíram como eu esperava. Alguém se sentou a pelo menos uns 5 metros de distância e parecia não ter me visto ainda.

Contanto que não me incomode não será incomodado.

—Não acredito que você me seguiu até aqui! Você tem problemas, garota? É só um champanhe. –A pessoa ao meu lado, que aparentemente não entendeu quais as minhas regrinhas de convivência, gritou.

Me virei e não acreditei no que vi. 

Era ele!

—O que? Meu deus, eu tenho problema? Olha só pra você, todo paranoico com tudo! Eu cheguei aqui antes de você, entendeu? E ia pegar a garrafa antes também! Que saco!

Ele se calou durante alguns segundos, absorvendo a minha resposta explosiva e suspirou.

—Ok. Desculpe. Estou um pouco paranoico hoje mesmo.

Ele baixou a cabeça e depois a levantou, abrindo a boca como se estivesse prestes a terminar a explicação, porém resolveu que aquilo não era da minha conta e fechou novamente.

Depois de algum tempo em silêncio ele se levantou e caminhou até o lugar onde eu estava. A proximidade fez com que todos os meus pelos se levantassem sem aviso prévio.

Nossa, ele cheirava bem.

—Você tem uma taça?

—O que?

—Uma taça. –Minha expressão provavelmente continuava com uma interrogação estampada, porque ele resolveu explicar um pouco melhor. –Para tomar o champanhe. Eu só tenho a minha.

—Você vai dividir sua bebida comigo?

Ele riu e se virou para mim.

—Achei que você tivesse visto ela primeiro. –Respondeu irônico.

—E vi!

—Então me sinto na obrigação de dividir com você.

Ok, mudanças repentinas de humor e opinião eram alguns dos fatos sobre aquele garoto que eu teria que anotar na minha agenda para nunca mais esquecer, junto com a tonalidade exata daquele olhos verdes-mar que tanto me chamavam atenção e o cabelo bagunçado de um jeito incrivelmente sexy.

Resolvi não questionar a mudança brusca de personalidade e seguir simplesmente pegar a taça para aproveitar a bebida.

Tirei a caixa de chocolates da bolsa e ofereci um a ele, que aceitou imediatamente, dizendo que aquele era um de seus doces preferidos.

Ficamos ali, em silêncio por um tempo, mas então, do nada, me vi falando sobre tudo: meu ex-namorado perseguidor que enchia o meu saco todo dia, meus pais super protetores e a minha –muitas vezes absurda- falta de coragem para encarar o mundo.

Quando terminei com a narração inesperada notei que ele não parecia nem um pouco impressionado com nada e muito menos aborrecido por ter que estar ali, na véspera de ano novo, ouvindo os meus problemas.

—O mundo não é assustador. Minha mãe morreu quando eu tinha 3 anos e meu pai era muito abusivo, o que me levou a fugir de casa com apenas 14 anos, sem ter para onde ir e levando apenas 200 dólares roubados do meu progenitor na bolsa. Fui encontrado quase dois dias depois por minha mãe adotiva, Sally, que me criou com muito amor. Mas que já sabia que poderia viver sozinho tranquilamente, então assim que completei 18 consegui um emprego.

Ele fez uma pausa para respirar e eu não ousei interromper a narrativa.

—O que quero dizer que é que mesmo sendo cercada de amor, você precisa aprender a fazer desse sentimento a sua chave para a liberdade e não prisão perpetua, entende? O mundo não é assustador, nós é que fazemos dele um bicho de sete cabeças.

 Absorvi aquelas palavras o máximo que consegui. De repente eu tive noção do quanto eu precisava ouvir aquilo. Todas as respostas para todos os buracos em aberto foram encontradas, construindo a coragem que eu precisava ter para seguir em frente.

Eu não tinha palavras para agradecer aquele desconhecido.

—E você, o que faz aqui... Desculpe, eu não sei seu nome.

—Percy.

—Tudo bem. Eu sou Annabeth.

Ri baixinho sem um motivo aparente.

—O que te trás aqui, sozinho e no ano novo?

—Eu não vim sozinho.

Minha boca se abriu levemente.

—Oh. Desculpe, eu imaginei que...

—Não, espere. Eu não vim sozinho, mas estou agora.

Ele suspirou, dramaticamente.

—Descobri a exatas duas horas e treze minutos que a minha namorada está me traindo com o meu melhor amigo.

—Meu deus! Eu sinto muito!
—Sim, eu também. Provavelmente já estava esperando por algo assim, porque não foi uma grande surpresa. Eu estou bem, penas absorvendo o fato de que me entreguei por completo por quatro anos a uma pessoa falsa.

—Sabe, Percy, com o tempo eu descobri que nenhum momento da sua vida é perdido, todos valem a pena, por mais idiotas que pareçam, basta saber aprecia-los.

E como se fosse coisa do destino, os fogos de artificio começaram assim que a minha fala acabou, criando um clima que eu nunca imaginaria que aconteceria naquela noite: romântico.

E ele me beijou.

E os fogos de artificio migraram para o meu corpo, que parecia prestes a entrar em combustão.

Assim que nossas bocas se separaram ele se levantou e passou a mão na calça, tirando a areia de lá.

—Foi um prazer, Annabeth.

—Espere, você já vai?

Ele sorriu.

—Acho que preciso absorver o que aconteceu essa noite.

—Oh, entendo.

Nos encaramos durante um tempo, sem acreditar que aquilo ia realmente acabar daquele jeito.

—Vamos fazer assim. Não sei se isso aqui significou para você o mesmo que significou para mim, mas se sim, me encontre aqui no próximo ano novo.

E foi embora.

***

Lembro de ter chegado em casa naquela madrugada, feito as malas e ido embora. Fiquei um mês sem falar com os meus pais, apesar de tudo eles precisavam absorver que eu era uma mulher adulta e capaz de encarar o universo a minha frente.

Eu nunca mais vi Percy.

Não fui para a praia no outro ano e nem no seguinte. Não sei se ele apareceu também, mas algo me diz que não.

Eu não encontrei um amor naquela noite, eu encontrei a mim mesma. E serei eternamente a ele, que abriu os meus olhos para que eu descobrisse quem eu deveria ser.

Percy não era o amor da minha vida, mas foi a pessoa que me permitiu viver.


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Notas finais do capítulo

Então, espero que tenham gostado dessa mais nova aventura Percabeth!
Se sim (ou se não), comentem pra eu ter uma ideia da opinião de vocês e saber exatamente onde eu errei e onde eu posso melhorar na próxima.



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