Perdido em outro mundo escrita por Lilian T


Capítulo 23
Deixando o esconderijo


Notas iniciais do capítulo

Olá, jovens. E aí?
Lílian decidiu que irá levar Harry até Horácio, quer dizer, Eugênio para traduzir o livro com o encantamento.
Será que é uma boa ideia? Leia o próximo capítulo para saber!
Boa leitura.



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Harry entreabriu os olhos.

Não se lembrava de ter sonhado.

De fato, parecia que mal acabara de se deitar. Sentia-se cansado e dolorido.

Seus braços queimavam próximo aos ombros, suas pernas estavam dormentes e sua cabeça latejava um pouco. Sentia-se fraco, e precisou fazer algum esforço para se virar no colchão.

Viu de relance a madeira da cama de cima do beliche e se concentrou na porta do pequeno quarto subterrâneo em que estava. Percebeu que fora acordado pelo som de talheres tilintando e passos se aproximando.

Mal havia se dado conta daquilo quando a porta se abriu e a Sra. Parker entrou, carregando uma bandeja, com um prato de mingau de aveia e um copo de leite.

— Que bom que está acordado — disse ela, enquanto o garoto sentava-se na cama. — Eu já ia chamá-lo para comer alguma coisa.

Ela aproximou-se, depositou a bandeja sobre as pernas dele e lhe entregou uma colher. Harry a pegou e se serviu, com uma grande bocada. Descobriu que estava com muita fome..

— Quanto tempo eu dormi? — perguntou ele.

— Umas oito horas — ela respondeu, sentando-se ao seu lado no beliche. — Ainda não são cinco da manhã, mas precisa se levantar.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou ele, erguendo a cabeça, um pouco alarmado.

— Não, mas precisamos sair antes do amanhecer. Vamos de carro até Sheffield e é melhor fazermos isso enquanto está ais escuro e difícil de nos ver.

— Então, está mesmo decidida?

— Parece o certo a se fazer.

— Mesmo que o Sr. Parker ainda esteja preso?

— Já falamos sobre isso — falou Lílian, olhando-o com firmeza. — O resgate de Tiago precisa ser bem planejado e isto leva tempo. E podemos usar este tempo para traduzir este livro. Você precisa dele, não é?

— Sim, mas...

Harry hesitou.

— Você acredita mesmo em mim? Acredita que estou dizendo a verdade sobre meu mundo, a Pedra e sobre magia?

Lílian desviou o olhar e fixou-o no teto do quarto, permanecendo em silêncio por um instante, como se refletisse.

— Eu meio que desconfiava.

Harry encarou-a, espantado.

Lílian retribuiu seu olhar com um sorriso.

— Não que esperasse uma história assim — explicou-se rindo. — Mas quando tentava pensar em uma razão para que você fosse tão parecido com Henry, só conseguia imaginar algo surreal — ela fitou-o com um olhar divertido. — Cheguei a pensar em atividade paranormal e até em clonagem.

— Quê?

Lílian soltou uma risada.

— Não pode me culpar, não é? Eu tinha de supor alguma coisa, e nenhuma explicação racional se encaixava. Não para um garoto que surgiu no meio do nada, e que era exatamente igual ao meu filho que morreu há anos — ela encolheu os ombros como quem pede desculpas. — E covenhamos que bruxaria não é algo que se ouça todo dia. Já fantasmas e alienígena, sempre existe alguém que diz que viu.

Harry piscou, fitando-a quase que incrédulo. De repente, começou a rir também.

— Achou que extraterrestres tinham me clonado? É sério?

Uma leve rubor cobriu as bochechas pálidas de Lílian.

— Pareceu uma alternativa mais viável. Quer dizer, você parecia muito sólido para ser um fantasma.

Harry soltou uma gargalhada.

— Ora, não ria! Eu conheci um cara em um pub uma vez que jurava ter visto um disco voador no céu quando estava acampando perto Galway — ela contou sem jeito, tentando se justificar. — E uma senhora que mora na nossa rua jura que a casa de sua irmã é assombrada pelo fantasma da uma tia avó dela. Eu não acreditava neste tipo de coisa até encontramos você na estrada naquela noite.

— Então, não achou estranho quando disse que era um bruxo?

— Na realidade, fiquei aliviada. Entre alienígenas e fantasmas, prefiro muito mais bruxaria.

Harry voltou a comer o mingau, ainda achando graça daquilo tudo. Ficou imaginando se sua mãe, Lílian Potter, também seria engraçada assim se estivesse viva. Ele não reparou que a Sra. Parker mirava-o muito quieta agora, lembrando-se das conversas que tinha com Henry a muito tempo atrás. Eles costumavam rir muito juntos.

Quando ela falou novamente, seu tom era mais convicto.

— Assim que acabar de comer, pegue tudo o que precisar. Nos vamos partir.

— Iremos na caminhonete? — perguntou Harry.

Lembrara-se que o veículo permanecera guardado em um estacionamento desde que chegaram  em Londres e que desde então não havia mais sido usado, já que o metrô da cidade era um transporte melhor.

— Na verdade, tivemos de nos livrar daquele carro — contou ela. — Ele está registrado no nome do Tiago e se será fácil para a polícia nos encontrar se estivermos circulando nele por aí.

— Ah, eu sinto muito...

— É só uma caminhonete, Harry — disse Lílian. — Sirius já cuidou para que alguém a pegasse. Não foi decido se irão desmontá-la ou se será vendida depois de trocarem as cores e algumas peças. A perda não será tão grande, não se preocupe.

— Então, como chegaremos a Sheffield?

— A mãe de sua amiga Eveline vai nos ajudar.

— Ela fará isto?

— Sim. Ela chegou ontem à noite, logo após você se deitar — informou a Sra. Parker. vendo a expressão curiosa de Harry, ela explicou: — Assim que você foi levado e pedimos ajuda para Marta, Ronald foi até a livraria dos Graham contar o que acontecera à Eveline. Já havíamos combinado de vir para este chalé e a garota pediu para vir junto. Primeiro achei que fosse apenas porque era sua amiga, mas após ontem, vi que também sabia toda a sua história.

"Obviamente, a mãe dela precisava saber. Eveline é a única pessoa que ela tem depois do que houve com o marido, é claro. O incrível é que a Sra. Graham não só permitiu que a filha viesse, como se ofereceu para nos ajudar em alguma coisa se fosse preciso. Só não podia deixar a livraria naquele minuto. Ronald passou a informação do local e agora está aqui."

— E ela é confiável?

Era estranho para Harry perguntar aquilo, pois costumava confiar nas pessoas, mas de repente todo mundo resolvera ajudá-lo por algum motivo. Lílian pareceu ler seus pensamento e disse:

— Você conversou com Eveline. Deve ter percebido que ela também não gosta da guerra, não é?

Harry fez que sim.

— De onde acha que ela tirou esse senso de justiça? Da escola é que não foi — disse Lílian, com um sorrisinho. — Você não faz ideia de quantas pessoas tem motivos para se ressentir com o Ministério, mesmo que guardem isso em absoluto segredo. Mas quando tem a chance de fazer alguma coisa, elas fazem sem hesitar.

— Como Brooks, Sra. Winston e...

— E eu — Lílian completou. — Exato. Existem coisas que não podemos aceitar.

— Mas por que só agora? Por que ninguém fez nada antes?

Harry não conseguiu refrear a pergunta. O fato dos Parker suportarem um governo totalitário como aquele sem se opor de alguma maneira as injustiças já martelava em sua mente há um tempo. Os Potter em seu mundo jamais permitiriam algo assim, tanto que mal saíram da escola e se uniram a Ordem da Fênix.

Naquele mundo, entretanto, uma apatia parecia ter tomado conta das pessoas. Ou pelo menos parecia à Harry no começo. Agora, todo mundo que encontrava estava disposto a infringir a lei para ajudá-lo por alguma razão particular.

— Por que ninguém agiu se queria fazer alguma coisa? — insistiu ele.

— Acho que todos nós já estávamos cansados de ver pessoas que gostamos serem levadas e quando você foi pego, acabou gerando um efeito em cascata — falou Lílian, pensativa. — Eu pedi ajuda a Marta e ela só precisou de coragem para dizer sim. Quando alguém dá o primeiro passo, é mais fácil para que outras pessoas também sigam em frente. Sirius, Morgan e Brooks... Ronald, Eveline e Sra. Graham em seguida... É só alguém começar e haverá alguém para continuar.

"Foi o que aconteceu quando criamos a Armada de Dumbledore", pensou Harry, lembrando-se da quantidade de alunos que apareceram quando Hermione disse que o amigo daria aulas de Defesa Contra Ares das Trevas.

Harry concentrou-se em terminar seu café da manhã. O mingau era meio ralo, porém, estava gostoso. Talvez fosse a fome que sentia que o deixasse tão saboroso. Depois que comeu toda a aveia, bebeu o copo de leite de uma só vez, com goles generosos. Nunca gostara muito de leite, mas aquilo pouco importava àquela altura.

Enquanto isso, Lílian ocupou-se em preparar uma mochila para ele. Embrulhou o livro em papel pardo, que encontrara em uma gaveta da pequena cozinha, colocando-o na bolsa em seguida. Acrescentou também uma muda de roupa limpa para Harry, que Marta lembrara-se de trazer, além de alguns sanduíches para a viagem.

Harry soube que os Winston estavam hospedados no andar superior, na casa com Marisa, pois a polícia não estava atrás deles. O Sr. Winston, no entanto, tivera de continuar viagem.

Para todos os efeitos, ele fora para Birmingham levar um carregamento de peças para automóveis e trazer uns motores na volta. Fizera a viajem com a desculpa de que economizaria no transporte, mas devia voltar para Londres depressa para dar a noticia à César e Patrick, de que a mãe e os irmãos estavam hospedados com uma tia, enquanto a hospedaria passava pela vistoria de segurança, após o bombardeio.

Os dois rapazes ficariam no andar de cima da oficina. Afinal, César trabalhava com o pai e Patrick tinha um emprego no Ministério, que não poderia ser abandonado.

Todos concordaram que Patrick não devia saber dos planos para o resgate de Tiago. Pelo que Harry entendera, assim como Percy Weasley, Patrick também dava grande valor ao seu cargo e mesmo que ninguém falasse nisto, todos achavam que ele acabaria entregando o plano em troca de uma promoção.

Sirius acabara dormindo no sofá do bunquér depois da conversa na noite anterior e acordou quando Harry e Lílian terminaram de se aprontar para sair. Ele os acompanhou para até a superfície, subindo as escadas e ajudando-os a passar pelo alçapão oculto na cozinha.

Quando Harry se içou para o andar térreo, viu que havia um espaço para que a portinhola se abrisse debaixo da mesa e que uma cadeira estava afastada das outras, para dar uma brecha para que saíssem debaixo do móvel.

Assim que os três se colocaram de pé no cômodo, seguiram para a sala, onde encontraram Eveline e sua mãe conversando em voz baixa com Marisa.

Apesar de não conhecer muito bem a mãe de Hermione, Harry viu que a Sra. Graham mesmo igual à ela. Clarice Graham tinha o cabelos um pouco mais escuros do que os da filha, mas o mesmo formato de rosto. Os olhos eram grandes e brilhantes e Harry teve a impressão que devia ser uma mulher bastante inteligente.

Ela sorriu quando eles se aproximaram e cumprimentou-os com afabilidade, segurando as mãos do garoto com um aperto carinhoso.

A despedida de Marisa e Sirius foi breve e de poucas palavras, contudo, parecia haver uma emoção contida no ar.

— Obrigada por nos abrigar, Marisa. Agradeça novamente à Marta por mim — falou Lílian abraçando-a. Logo em seguida, fez o mesmo com Sirius. — Obrigada mais uma vez, amigo.

— Não precisa agradecer, Lílian — ele disse, retribuindo o aperto. Quando ela se afastou, ele abraçou o garoto. — Boa sorte, Harry, e se cuide!

— Você também, Sirius.

Clarice e Eveline também se despediram, e Harry e Lílian as acompanharam até o carro, onde se sentaram no banco de trás. A Sra. Graham acomodou-se no acento do motorista, deu a partida e um momento depois, já tinham desaparecido de vista.

* * *

A viagem até Sheffield foi mais tranquila do que todos esperavam.

Saindo antes do raiar do dia, quando ainda estava muito escuro, não viram quase nenhum movimento de pessoas e veículos. E por evitarem a rota principal, preferindo um caminho menos usado, não viram qualquer sinal de patrulhamento.

Harry achava que aquilo era um tanto relapso da parte do Ministério, mas Lílian explicou que a polícia se ocupava mais com as cidades, uma vez que não havia tantas pessoas que tinham veículos hoje em dia. As blitz concentravam-se nas estradas principais, pois as secundárias eram muito mal cuidadas.

Com efeito, boa parte do percurso foi feito em trechos rurais, os quais o carro dos Graham deslizava sobre a estrada congelada. E um determinado ponto, quase ficaram presos em um acumulado de neve, e foram necessárias algumas derrapagens para conseguir atravessá-lo.

Chegaram à Sheffield pouco mais de duas horas depois.

O sol havia se erguido no horizonte lançando uma claridade avermelhada no céu. Não havia quase ninguém rua enfrentando o frio cortante, a não ser por uma ou outra pessoa mais disposta. Todos andavam encolhidos, os pescoços enfiados na gola dos casacos, uma das mãos no bolso e a outra segurando sacolas de papel com o café da manhã.

Era de se esperar que o movimento caísse aos domingos, quando a maioria dos negócios não funcionava. Fora o pretexto perfeito para a Sra. Graham visitar uma prima em Leeds, a qual não viam há muito tempo. Pelo menos era o que ela e Eveline diriam caso fossem interrogadas pela polícia após deixarem Lílian e Harry em seu destino. Muitas pessoas visitavam parentes após um bombardeio em sua cidade.

A Sra. Graham parou o carro em frente à residência do Prof. Spriggs.

Era uma casa grande e bem cuidada, feita de tijolos claros. A neve acumulava-se nas calhas de água e em alguns pontos do telhado azul. Atrás dos vidros das janelas brancas, nada se movia, indicando que seus moradores possivelmente ainda estavam adormecidos.

— Vamos esperar vocês entrarem — disse a Sra. Graham. — Se perceberem algo errado, voltem para o carro, que saímos logo daqui.

— Obrigada, Clarice. — falou Lílian, agradecida. — Assim que entrarmos, saberão que podem ir.

A Sra. Graham lançou um olhar preocupado à Lílian e ao garoto. Eveline também parecia apreensiva.

— Boa sorte, Harry — ela desejou.

— Cuide-se, Evy.

Eveline corou levemente e sorriu. Harry imaginou se apenas Ronald a chamava carinhosamente de Evy.

Assim que se despediram, a Sra. Parker e o garoto desceram do carro e caminharam em direção à moradia. Galgaram os degraus que levavam à porta da frente e a Sra. Parker tocou a campainha.

Aguardaram por um instante e logo ouviram o barulho de passos se aproximando da entrada, ficando cada vez mais alto até parar diante da porta. Houve um breve silêncio, seguido de um tilintar apressado de chaves e o som da tranca abrindo.

A porta foi escancarada com vivacidade, e um velho senhor surgiu diante deles. Era muito gordo e sua careca reluzia à luz, com exceção de alguns poucos fios nas laterais. A falta do bigode farto deixava evidente seu largo sorriso, e seus olhos brilhavam de alegria.

— Lílian! Que surpresa agradável!

Eugênio Spriggs era sem dúvida o duplo de Horácio Slughorn, não apenas na aparência, mas no modo com que falava com a Sra. Parker  — era exatamente o mesmo tom encantado que o professor de poções usava para falar da mãe de Harry.

— Olá, Prof. Spriggs — cumprimentou Lílian. — Sei que é muito cedo, mas será que poderíamos entrar? É um assunto importante.

— Sim, sim, mas é claro! Entre, por favor.

Ele se afastou para que a mulher entrasse na casa, e foi apenas quando passou que reparou que Harry estava ali. Seus olhos se arregalaram, mas ele não disse nada.

Harry atravessou a porta em direção ao hall de entrada, e quando Spriggs fechou a porta arás dele, o carro da Sra. Graham seguiu seu caminho para longe dali.


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Notas finais do capítulo

E finalmente esses coelhos decidiram sair da toca e encarar o mundo!
Que se pode fazer? Todos precisam saber o que está acontecendo, para não ficarem perdidos na conversa. Tipo eu quando chego na casa de alguém e em uma rodinha de gente séria falado de alguma coisa. eu chego e pergunto "O que aconteceu?" e assim que acabam de me contar chega aquela prima perguntando "Do que estão falando?".
A vida do Harry está assim; explicar para todos que e um bruxo. E pensar que isso era para ser segredo em seu mundo. Quem diria, né?
Deixa aí nos comentários o que acharam do capítulo, jovens!
Bye!



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