Um ano. Isso mesmo, há um ano eu estava nesse mesmo porto descendo do navio de Henry. Quantas lembranças. Só de pensar que em um ano minha vida pode mudar tudo isso me sinto gratificada, mas ainda preciso achá-lo, depois daquele incidente Black Bart sumiu e possivelmente não vai desistir de encontrar Henry, já que jurou vingança.

Nunca mais vi o rosto daquele Capitão maluco e idiota, mas agora ele deve estar casado e cuidando de sua nova família, ensinando seu filho, ainda bebe, a ser um grande pirata. Será que ele está bem? E Katherine? Mercedes? Confesso que sinto falta de todos e depois desse tempo posso finalmente encará-los de frente e mostrar o quanto amadureci. Matt cuidou muito de mim, me mostrou o quanto eu era injusta e explicou muitas coisas sobre Henry e seu orgulho. Não sou uma pessoa misericordiosa agora, mas depois de tirar minhas próprias conclusões resolvi perdoá-lo, é cruel, mas estão todos mortos não é mesmo? Que diferença faz brigar? Afinal, agora eu sou...

- Capitã? – um dos tripulantes disse sorridente – Tem um baixinho aqui querendo te ver...

Isso mesmo, Capitã do ex navio de Black Bart.

- Logo cedo? – disse aborrecida, vendo aquele pequeno menino de cabelos loiros entrar

Seu nome é Carlos, o achei perdido perto de umas ilhas no Caribe enquanto descansavamos, tem mais ou menos 8 anos, pelo que ele disse, e é extremamente parecido com Henry. Fiquei com dó no inicio por ele estar sozinho, mas depois o “adotei” por motivos pessoais, para redimir minha culpa, sei lá.

- Carlos, não deveria estar dormindo ainda? – disse amorosa, estendendo meus braços a ele

- Titia Mary! – ele disse todo animado, correndo até meus braços – Bom dia!

- Vai ignorar minha pergunta mais uma vez? – disse autoritária, o colocando em meu colo – Carlos, já disse que é feio isso

- Desculpa...não gosto de domi sozinho! Queo a titia... – ele disse manhoso, me agarrando

- Hey, ele ainda está com aquele problema com algumas letras... – falei preocupada, olhando para o tripulante - ...leve o Carlos com você por agora e chame o Matt, preciso resolver uns assuntos com ele...

- Sim Capitã...

- Ma-ma...

Carlos ia protestar, mas não deixei. O tripulante logo o pegou do meu colo e saiu do cômodo, me deixando sozinha com meus pensamentos. Cuido do menino como se fosse meu filho e todos aqui respeitam isso, e é bom mesmo, já que mudei os hábitos daqueles que quiseram ficar. Minha tripulação é pequena, mas já fiz algum estrago por ai. Resolvi entrar de vez para a pirataria e até acho divertido, sou menos estressada já que mato uns dois ou três por dia.

Mas não pensem que faço isso com pessoas inocentes! Ai que está a diferença, eu só mato aqueles que causam problemas ou alguns ladrões, mas o resto da minha tripulação mata qualquer um, se não tomarem cuidado esses imbecis matam uns aos outros. Por esse motivo continuo sendo a numero 3 da lista de procurados da marinha, Henry está em segundo e Black Bart em primeiro.

Os tempos de gloria de Henry se foram, desde que sai do barco nunca mais ouvi uma noticia dele, por isso fica ainda mais difícil de encontrar ou de saber se ele está vivo.

- Mandou me chamar Capitã? – Matt entrou na sala, sorrindo

- Porque essa cara? – perguntei curiosa – Achou alguma pista sobre Henry?

- Na verdade... sim, mas antes, gostaria de saber o que queria comigo

- Nada, apenas dizer pra tomar conta de Carlos hoje – respondi normalmente, pegando uma maçã que estava na fruteira ao lado - Quer?

Matt riu e se sentou na mesa, a minha frente.

- Não obrigado, mas porque ficar com Carlos? – perguntou confuso

- Estamos no porto onde paramos a exatamente um ano atrás, se lembra?

- Nossa, isso é... – ele disse atormentando pelas lembranças - ...estranho

- Porque?

- Era quando eu ainda tinha esperanças de ficar com você

- A esperança é a ultima que morre – disse dando uma outra mordida na maçã e colocando na mão dele – então, ficará com Carlos ou não?

- Tenho escolha? – ele perguntou de forma sarcástica

- Esse é o espírito! – respondi animada, rindo – Agora vocês tem uma mulher no comando, é diferente...

- Sempre se gabando...

Escutei Matt dizer enquanto fechava a porta, o deixando lá dentro. Eu e Matt nos responsabilizamos de inicio por Carlos, mas o resto da tripulação se apegou a ele e agora é sempre a maior briga para ter a atenção do menino. Quando saímos do navio de Henry foi difícil, ficamos na casa de uma senhora que estou indo visitar. Demoramos cerca de 5 meses para nos estabilizarmos por aqui e compramos uma casa, parecíamos mesmo até um casal, mas eu não consegui. Descobri que meu problema em tossir sangue era apenas uma infecção na garganta e que vem quando estou nervosa, mas que pode ser perigoso porque posso perder muito sangue e Matt ficou comigo este tempo todo e hoje em dia é o meu melhor amigo e está me ajudando a achar Henry para avisar de Black Bart. Admito que me preocupo com ele, por isso estou procurando, mas quem não quer cruzar com ele sou eu, afinal os tripulantes só concordaram em me ter como Capitã pois derrotei seu antigo Capitão.

Aprendi a usar uma espada, e aprendi a ser feminina enquanto for pirata, então creio que mudei, aos poucos, mas mudei. Só quero ver Henry, nesse tempo ele deve ter amadurecido, deve está mais bonito...

- Bom sorte Capitã – Phill disse ao me ver sair – Espero que volte logo, sabe que aqui...

- A Marinha vem sempre, eu sei... obrigada por avisar Phill, tomarei cuidado

E assim sai do navio, pisando nas taboas de madeira quase podres do porto. Respirei fundo, sentindo o cheiro do mar e tendo algumas outras lembranças e então fui em direção da cidade, onde não demorei muito, já que a casa fica depois da cidade.

Quando cheguei não acreditei no que vi, a casa estava totalmente destruída, em ruínas.

- Foi queimada senhorita – uma menina que passava por ali perto disse – Foi durante o desastre

- Desastre? – perguntei curiosa – O que aconteceu?

- Não sabe? Ouve um ataque da Marinha aqui, pois haviam muitos piratas e eles devastaram a cidade com a Guerra...durou duas semanas – ela disse entristecida

- Então a senhora que vivia aqui...

- Sim, provavelmente ela morreu Senhorita, sinto muito... – ela disse baixo, abaixando a cabeça – Você era filha dela?

- Não, mas... quase isso, obrigada mesmo assim...

E assim fui embora. Na volta para o barco me senti inútil, era hoje que eu iria cumprir minha promessa com a Senhora Rita, uma velinha bondosa que entendeu minhas razões e que a marinha matou. Eles podem ser considerados “do bem”, aqueles que protegem e levam a paz, mas nesse ultimo ano vi mais desgraças do que paz, e só conheci marinheiros arrogantes e prepotentes.

No caminho escutei algumas pessoas comentarem sobre “um navio pirata no porto”, todos animados pela presença de algum pirata e alguns com medo. De inicio cheguei a pensar que era o meu, mas quando cheguei no porto quase tive um acesso de tosse quando vi o navio de Henry parado logo atrás do meu e um dos meus tripulantes correndo animado até mim.

- Capitã! Capitã!

- Meu deus, se acalme homem, o que está acontecendo aqui?

- Rendemos a tripulação de Henry Morgan!

- O que? Assim, tão fácil?

- São apenas alguns homens e três mulheres

- Então ele ainda está com ela...

- O que Capitã?

- Deixe de ser curioso! Foi apenas um pensamento alto, e mais nada... Onde está o Capitão Morgan?

- No barco dele Capitã... – ele respondeu confuso

- Ótimo! O tragam até minha sala em alguns minutos, preciso ter uma conversinha com ele...

Não acredito que demorei meses a achá-lo e quando encontro se rendem tão facilmente. Patético. Eu fazia parte desse time de frouxos?

Entrei no barco e fui direto para minha sala, onde Matt estava brincando com Carlos e já sabia da novidade, mas logo que entrei não permiti que Carlos ficasse lá, ele só me conhecia a pouco tempo e não queria que ele visse algum lado meu do passado, seria ofensivo para o menino e por mais estranho que seja, não quero perde-lo.

Não demorou muito para que meus tripulantes aparecessem com Henry amarrado em minha sala, o tacando no chão e logo depois saindo. Sua aparecia é a mesma de que me lembro e isso até que é bom, me sinto mais a vontade. Tentei não sorrir, mas era inevitável, aqueles olhos confusos procurando como fugir e aquela expressão boba me faziam lembrar das coisas que ele fazia quando convivíamos juntos.

- Henry, meu querido, há quanto tempo... – disse formalmente me aproximando dele

- Mas quem é...

Antes que completasse a frase Henry olhou bem para mim e arregalou seus belos olhos cor do mar, ficando um pouco serio e chocado, tentando se levantar.

- Mary...?

- Não! O Fantasma do século passado, quem achou que era idiota? – disse irritada

- Você trabalha para Black Bart agora? Em um ano conseguiu se tornar uma pessoa cruel e me traiu desse jeito? – ele disse chateado, porem de forma convencida – Eu, o belo e maravilhoso pirata...

- Você é mesmo o pirata mais desinformado desses mares não é mesmo? – falei ainda irritada

Tinha me esquecido o quanto me descontrolo perto dele, o quanto ele era convencido e irritante. Mas parecia mesmo que ele não sabia de nada, já que sua expressão de “me conte então” com aqueles olhos de criança estavam perambulando seu rosto.

- É o seguinte Henry... – disse calma, o colocando na cadeira - ...derrotei Black Bart, me tornei Capitã dessa porcaria, sou uma das piratas mais respeitadas no mundo agora e fim da historia, agora vamos ao que interessa

- Como? Você? Uma Capitã? – Henry disse aos berros, dando gargalhadas – Não me faça ter que arrancar a verdade de você! Como assim? Uma mera mulher Capitã? Derrotou Black Bart? Mary, sinto muito, mas se nem eu consegui... – Ele disse ainda convencido

- Não conseguiu porque foi um trouxa seu imbecil! Derrotei mesmo, você querendo ou não e estava atrás de você para avisar que ele está solto por ai, a sua procura... – disse dessa vez seria

- Mas se você que o derrotou ele não deveria estar atrás de você? – ele perguntou confuso

- Ele te culpa por tudo e dou graças a deus por isso, agora, era só, pode ir embora...

Disse rapidamente o desamarrando e o empurrando para a porta, mas ele parou no meio do caminho se virando e me olhando bem no fundo dos olhos de uma forma estranha.

- Não nos vemos há tanto tempo e é assim que você me recebe? – ele disse triste – Tenho tanta coisa para te dizer

- É tarde agora... – disse aflita, o empurrando pelo corredor - ...a única coisa que posso te dizer é que tudo isso ficou no passado, ainda podemos se ver, conversar, o que piratas fazem, sei lá, mas não chegue mais tão perto de mim... disse tudo o que tinha para dizer

- Estava preocupada comigo, não estava? – ele disse um pouco feliz, se virando novamente para mim

- Estava, feliz agora? Andando! Ou então vou te fazer de refém e vai ser pior pra você

- Não pode fazer isso, não é o Capitão desse barco – ele disse autoritário – Não tem poder sobre ele

- O que? – disse perplexa – Não acredita mesmo em mim?

- Não

Irritada o taquei para fora do barco, nas madeiras podres do cais e peguei minha espada, pronta para atacá-lo.

- Então vou lhe mostrar como derrotei Black Bart seu Capitão burro e hipócrita!

- Mary, vai com calma – Matt disse lá de cima – Assim vai assustar Carlos

É mesmo! Tinha me esquecido de Carlos. Olhei para cima e vi o pequeno no colo de Matt completamente assustado ao me ver com a espada na mão. Ele nunca tinha me visto desse jeito, devia mesmo estar assustado.

- Carlos? – Henry perguntou confuso, olhando para Matt – É esse menino que está no colo do Matt?

- Você o reconhece e não me reconheceu antes? Só você mesmo... – comentei conformada, guardando minha espada - ...é aquele mesmo, porque?

- Mary, porque não me disse – ele falou alegre, correndo até o menino e o pegando no colo

- Disse o que? Largue o Carlos agora! – disse irritada, correndo de volta para o barco – Matt! Como deixa ele pegar no meu menino?

- Seu menino? – Henry perguntou emocionado – Nosso menino!

- No que você está pensando? – perguntei preocupada

- Não é obvio? Como temos um filho e eu não sabia? Mas que alegria! – ele disse completamente animado, rodando com Carlos nos braços – E que nome heim? Porque não Dante? Que mãe desnaturada você tem filho!

Não, ele não pode continuar o mesmo idiota de sempre! Isso só me prova uma coisa: Katherine não deu filho algum a esse maldito durante esse ano que se passou. Carlos me olhou meio desconfiado, obvio, o cara que estava o segurando é um demente! Puxei Carlos dos braços dele e entreguei a Matt e logo depois lhe dei um chute nas pernas que o fez cair no chão e chorar como um bebe.

- Porque fez isso? – ele disse manhoso – Está separando o pai de seu filho, deus castiga!

- Cala a boca! – disse perdendo completamente a paciência – Como essa criança poderia ser nosso filho se se passou apenas um ano e ele tem 8!

- Deixe de ser tímida Mary, já era de se esperar que nosso passado era meio assim – Henry disse convencido, se aproximando de mim – Senti sua falta...

- Não me venha com essa agora...

Henry voltou a se aproximar de Carlos e o abraçou emocionado.

- Se acalme meu filho! A nossa família está reunida agora!

- Titia Mary, ele é engraçado! – Carlos disse rindo o abraçando – Gostei dele!

- Que crueldade Mary! Como pode fazer seu filho lhe chamar de Titia quando é mãe dele?

- Desisto! Não vou explicar de novo... – disse conformada

Quando ia mandar Henry embora novamente senti uma mão em meu ombro e me virei, dando de cara com um oficial da Marinha, bem vestido e com cara de mal.

- Po-posso lhe ajudar senhor?- disse calma, tentando disfarçar meu nervosismo

- Vi um tumulto por aqui...por acaso... – ele disse desconfiado, olhando em volta - ...você seria Mary Bonnie?

- Eu? O que? Magiina! Sou apenas uma cortesã em um navio cargueiro pedido ajuda para esses homens! Preciso criar meu filho sabe... – disse alto, tentando esconder meu rosto

- Ele esta perdendo tempo com essa menina que se diz Capitã? Aqui, logo na frente dele está o legitimo e perfeito Capitão Henry Morgan! – ele disse em tom convencido, falando para Matt e Carlos

- Henry, seu idiota! – disse irritada, perdendo a compostura – Tinha que abrir o bico

- Mas Mary, ele nem desconfia – ele disse ingenuamente apontando para o oficial

- Ele está na sua frente e está ouvindo o tudo o que você está dizendo! IMBECIL! – perdi completamente o controle e disse alto

Não acredito que tive saudades disso.

O oficial ficou nos olhando ainda um pouco confuso, mas logo entendeu a situação e tirou sua arma, apontando para mim.

- Você está presa por seqüestro Mary Bonnie!

- Seqüestro?

- Exato! Seqüestrou o filho do rei que estava de férias com a baba em uma das ilhas do Caribe quando estava atacando a região, não se faça de sonsa!

- Carlos? – disse meio confusa o olhando – É verdade?

- Não sei Titia Mary, não me lembro...

Nessa confusão toda Henry tentou sair de fininho, mas outro oficial já estava lá, apontando sua arma na cara dele.

- Onde pensa que vai?

- Eu não seqüestrei ninguém, alias, sabe como é, sou eu... apenas um camponês sofrido...

- Você não convence ninguém Henry, eles sabem quem você é...

- Você está preso Henry Morgan, por ser cúmplice no crime! – o oficial gritou – Ou vocês vem por bem, ou então terei que forçá-los..

- A é? E como? – perguntei, tentando intimá-los

O oficial apenas apontou para baixo e me pegou pelos braços, me mostrando milhares de oficiais que tinham lá embaixo, esperando, prontos para atacar caso houvesse algum problema.

- Tudo bem, eu me rendo...

- Você se rende fácil demais! E alias, mentiu pra mim, Carlos não é nosso filho! – Henry disse nervoso, sendo levado por um dos oficiais

- E por acaso eu estava tentando dizer o que? – gritei, enquanto era carregada – A culpa disso acontecer é toda sua HENRY!