Humanidade: A Queda escrita por Daniel A Soares


Capítulo 2
Capítulo 2 - Escolhas


Notas iniciais do capítulo

Olá. Estou de volta com mais um capítulo, às coisas ainda estão começando a tomar rumo, espero que vocês se empolguem. Siga em frente que os zumbis não se cansam. :*



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Capítulo 2 — Escolhas

"Escolhas! É disso que a vida é feita! Escolhas que te fazem ganhar uma coisa e perder outras. Escolher às vezes parece tão injusto." SOARES, Daniel

Luís Arthur já estava cansado de andar, teve que abandonar o carro em que estava pois o mesmo tinha se tornado inútil após a última batida. Dava passos incertos, tinha uma escolha a fazer, mas de repente não se sentia tão confiante do rumo que deveria tomar, parecia óbvio, mas às vezes ele se perguntava se era isso o que deveria fazer. Fechou os olhos e suspirou decidido, não importava o que acontecesse e o que ele precisasse fazer, ele seria forte, por ele e pelos seus, isso significava abrir mão de algumas coisas, mas naquela situação sacrifícios eram a única certeza e ele teria que ser forte e endurecer o que ele achava que era o coração.

Ele sabia exatamente onde ir, tinha começado um trabalho antes do surto começar, parecia injusto que a maior parte dos seres humanos perdessem sua humanidade daquela forma, mas essa era a lei da natureza, o tal ciclo de que todos falavam, o topo da cadeia alimentar parecia uma posição distante para os poucos humanos sãos restantes, os escolhidos entre bilhões, aqueles que ganharam para que os outros perdessem.

Olhou para o alto, já fazia algum tempo desde o início do surto, seu trabalho tinha se tornado um fardo terrível que ele era obrigado a carregar. Por um momento se deixou levar por pensamentos e não notou um leve movimento vindo de uma van deixada na rua, seus olhos captaram no último momento e imediatamente ele virou tirando sua arma da cintura e dando uma coronhada no zumbi que o atacara, pensou em atirar naquela coisa, mas o barulho poderia atrair mais daquelas coisas. Olhou bem para a criatura, era uma mulher, deveria ter sido uma mulher bonita antes do surto. Puxou da bolsa, que carregava nas costas, um bastão de ferro do tamanho de seu braço, ergueu bem alto e enquanto descia para desferir uma pancada na cabeça seu rosto esboçou um sorriso cruel.

°°°°

Aquela definitivamente tinha sido uma péssima idéia, dirigir aquele carro com aquela guria gritando ordens no meu ouvido, a maioria das avenidas obstruídas por imensos engavetamentos e zumbis por toda parte tinha sido uma piada com minha sanidade mental.

— Para de pisar no freio! Acelera Dani! Por aí não, você dirige pior que minha avó que era quase cega. Tem um poste aí na frente, vira, vira, VIRA! — eu já tinha me arrependido de levar aquela pirralha comigo.

Após um longo período de viagem, tentando pegar atalhos usando os mapas offline do meu celular para me guiar eu finalmente tinha chegado ao Cohatrac, uma nuvem de fumaça cobria o bairro e eu senti um estranho arrepio na espinha. Passamos em frente a delegacia do Cohatrac 3 e eu fiz uma nota mental de passar ali depois para pegar armas. Fomos direto para o Novo Cohatrac, fui em direção a Avenida do Fio, os zumbis davam um ar rústico aquela avenida que estava com buracos em toda sua extensão, parecia que o apocalipse tinha começado antes por aqui. A fumaça ficava mais intensa, dobrei na esquina de uma pousada e me aproximei da minha rua, a fumaça vinha de lá, meu coração se apertava cada vez mais e eu vi naquele momento a pior coisa, ainda pior que o surto de zumbis.

Um avião tinha caído em cima da minha casa e da minha avó, diversos destroços tinham atingido casas próximas e o fogo tomava conta da quadra inteira, meus olhos ardiam pela fumaça, mas as lágrimas que caíram não foram por esse motivo. Chorei silenciosamente culpando tudo e todos, aquela merda não podia estar acontecendo comigo, eu era um garoto normal, só queria uma vida normal e não podia, ninguém jamais teria uma vida normal com essas malditas criaturas por aí, e como se adivinhasse que eu pensava nela, uma criatura pulou do fogo e veio em minha direção. Novamente o choque e o susto me paralizaram: como eu iria me livrar disso? De repente um grito agudo me chamou atenção, vi pelo canto de olho que dois zumbis tinham cercado o carro e batiam contra o vidro tentando quebrar.

— DANI! — a garotinha gritou e foi como ouvir o chamado da minha família.

Imediatamente eu me virei e dei um passo para trás, fazendo com quê o zumbi que pegava fogo fosse direto ao chão, peguei uma enorme pedra que estava no chão e joguei contra a cabeça dele que explodiu como se fosse uma melancia madura e podre. Me virei em direção ao carro, tirei duas facas de dentro da bolsa e corri. Com uma precisão que nem eu sabia que tinha, lancei a primeira faca e essa se enterrou na cabeça do primeiro zumbi, pelo visto eu ainda tinha sorte, minha mira não era ruim, mas não é como se eu fosse um circense atirador de facas. Ainda com a outra faca em punhos ataquei o outro zumbi, cortando uma parte do seu rosto, o monstro se virou contra mim e me jogou no chão, tinha uma força incrível (ou talvez eu fosse um pouco fraco, eu admito, sou meio fraco mesmo), felizmente com minha vontade de sobreviver eu consegui manter meu braço esquerdo entre a gente encaixado direto no pescoço dele, impedindo que ele se aproximasse (qual é? Não achou que minha força de vontade seria suficiente pra matar o zumbi né?). Aquele hálito pútrido estava me deixando enjoado, sentia o alimento revirar no meu estômago, aquela coisa não iria me largar, talvez esse fosse mesmo meu fim.

Notei um pequeno barulho e de repente vi a ponta de um metal atravessar a cabeça do zumbi, uma gota escorreu e caiu em meu rosto, imediatamente joguei o para o lado e me limpei encarando a garotinha que tinha acabado de me salvar, ela também tinha uma faca, devia estar guardada na bolsa dela.

— Se eu não tivesse vindo junto tu provavelmente não estaria mais vivo. — ela parecia um pouco eufórica com a situação.

— Obrigado...— só então notei que eu não tinha perguntado o nome dela. — Qual seu nome mesmo?

— Rebeca! Rebeca Almeida Cruz. — ela sorriu.

Tinha o primeiro nome da minha irmã mais nova, talvez essa garota fosse mesmo minha única família, talvez fosse destino ela ter esse mesmo nome, eu não tinha conseguido proteger minha caçula Rebeca, mas iria proteger essa, não importa o que aconteça.

— Daniel. Daniel de Araújo Ferreira Soares. Pode chamar de Dani mesmo, era assim que os meus familiares me chamavam. — dei um sorriso fraco.

Olhei bem para os dois zumbis que tínhamos matado, um deles parecia um pouco com um tio meu (tio, esteja vivo e a salvo com minha família em outro lugar), o outro eu tinha certeza que era um dos vizinhos (um desafortunado), mas não tive muito tempo para lamentar por eles, enquanto tentava arrancar a faca da cabeça do primeiro zumbi, escutei gemidos e vi que mais criaturas surgiam, atraídas pela gritaria.

Surgiram dobrando a esquina e a rua não tinha saída, parecia que estávamos encurralados, uma mão surgiu debaixo do carro e segurou meu tornozelo esquerdo, gritei, aquele pesadelo parecia piorar a cada nova cena.

°°°°

Luís Arthur era ótimo no que fazia, era incrível que em tão pouco tempo ele tinha se tornado o melhor dentre todos os soldados, era como se ele tivesse nascido para aquilo, como se aquilo estivesse na genética dele.

Seu palpite estava certo, aquele garoto tinha voltado ao Novo Cohatrac, estava acompanhado de uma criança que tinha acabado de salvar a vida dele, parecia um pouco patético, mas Luís nunca se deixava enganar pelas aparências, conhecia bem o garoto ali perto, ou pelo menos achava que conhecia. Ele observava os dois de um lugar seguro quando viu as coisas ficarem ruins, não podia interferir, precisava esperar o momento certo e quando um zumbi que estava embaixo do carro puxou o pé de Daniel ele decidiu que precisava agir. Tocou na arma só para se certificar que ela estava ali, planejava enfrentar as criaturas sem a arma, afinal munição não era infinita e ele preferia exercitar os seus músculos.

Puxou a barra de ferro que tinha em sua bolsa, passou o olhar rapidamente em duas pontas afiadas nas extremidades da barra e se preparou para sair de seu esconderijo, quando algo inusitado o fez parar: uma mulher corria em direção a rua onde Daniel se encontrava, usava uma máscara de enfermagem e seu rosto não podia ser visto, mas Luís não pode evitar a estranha sensação de que conhecia aquele jeito, apesar de que muitos rostos já tinham sido apagados de sua memória.

Aquilo podia ser um pequeno problema nos seus planos, mas Luís se manteve calmo, afinal, para ele nada poderia impedi-lo e ele tinha habilidades suficientes para resolver qualquer tipo de contratempo.

°°°°

Instintivamente eu me abaixei e cortei os dedos que seguravam meu pé e puxei Rebeca para trás comigo, a pirralha parecia pálida, mas forçava uma expressão de valentia, até que seria bom se um xerife de repente aparecesse atirando nesses monstros, mas infelizmente isso aqui não é TV e as coisas não são bem assim, o universo não vai muito com minha cara.

Os zumbis não tinham medo de nada, eles não se sentiam ameaçados pelas facas que eram apontadas, um deles correu e a minha faca entrou por completo dentro do olho dele, outro vinha em seguida e se jogou sobre a garotinha, eu pulei e enfiei a faca na cabeça dele. Quando me virei um já estava em minha frente, mas algo aconteceu, uma lâmina passou partindo a cabeça do zumbi ao meio e me jogando aquele sangue nojento e pedaços de massa encefálica, o facão foi puxado e logo após se fincou na cabeça de outro zumbi próximo.

— Levante a garota e venha logo comigo. Essas merdas vão continuar vindo, me segue. — a mulher falou após derrubar mais um zumbi e correu.

Levantei Rebeca sem hesitar e a puxei para alcançarmos a mulher misteriosa que tinha salvado a gente, ela usava uma máscara de enfermeira e não pude identificar o rosto. Parecia ter minha idade, mas não tinha como saber, tinha um corpo bem definido e o mais importante: tinha uma arma. Se antes a gente não podia confirmar em alguém que tinha uma arma, hoje também não podemos confiar, mas alguém que tem uma arma nos fornece uma proteção melhor do que alguém que não tem nenhuma.

Corremos um pouco, até chegarmos em um estabelecimento comercial que ficava próximo de casa, ela se certificou de que ninguém nos observava e me puxou para uma entrada lateral, bateu em uma porta e uma voz grossa e rude falou de dentro.

— Caralho! Quem tá aí? Eu estou armado.

— Sou eu! Bob, abre logo essa merda, tenho sobreviventes. — a mulher falou impaciente.

Rapidamente o homem abriu e eu o reconheci como sendo um dos caras meio barra pesada da minha rua, ele no mesmo momento me reconheceu.

— Caralho moleque! Tu sobreviveu? — me puxou pra dentro e fechou a porta.

— Não. Ele está morto, eu trouxe um zumbi para nosso esconderijo. — a mulher falou irritada e tirou a máscara.

Ela era simplesmente linda, eu na mesma hora a reconheci, foi uma colega de classe do ensino fundamental, só não conseguia lembrar o nome pois fazia muito tempo que não a via e não éramos amigos na escola. Na verdade, acho até que não chegamos a estudar na mesma turma, mas tínhamos amigos em comum.

Sua pele outrora clara, agora se encontrava bronzeada, como se estivesse sido obrigada por algum motivo a permanecer exposta ao sol, seus olhos claros e o rosto antes pacífico, agora parecia duro e fortalecido, algo tinha acontecido, alguma coisa tinha mudado nela, mesmo que eu não a conhecesse e raramente a visse pelo Cohatrac pude notar isso.

— Iaee moleque! Como você sobreviveu e quem é essa pequena aí com uma faca de cozinha na mão? — Bob falou se colocando do lado da jovem que tinha salvado a gente, mas ela o afastou.

— Eu acho que tivemos sorte. Eu tive um pressentimento ruim e tentei voltar pra casa, aí acabei me...— olhei para Rebeca que parecia desconfiada. -...aí, eu... encontrei minha irmã, você não conhece ela, é por parte de pai. — fiz o melhor que pude para dar vida a minha mentira e abracei a garotinha de lado.

— Legal fera. — Bob falou. — Se quiser pode ficar comigo e com a Ana. A gente vai procurar um lugar seguro pra ficar.

Eu olhei para ela e apesar de não lembrar o nome tive certeza que não era Ana, mas me contive e sorri em resposta. Ficamos ali, Rebeca dividiu um pouco das nossas frutas, pois iriam apodrecer em breve, guardou as sementes em um saquinho e depois eu dividi nossa água, infelizmente o estabelecimento dispunha de pouca coisa, tinha sido saqueado e sobraram apenas alguns alimentos e bebidas quentes. Já estava anoitecendo então decidimos passar a noite ali, iríamos nos revezar durante o sono, um de nós iria proteger o sono dos outros.

Bob me mostrou uma arma que ele tinha e deu uma breve explicação de como funcionava, ele disse que era uma .38, deveria ser fácil para mim usar, mas não me deu a arma quando foi dormir, em vez disso me deu um facão e guardou sua arma, talvez minha sobrevivência não fosse tão importante afinal. O último turno era o de Bob e eu me permiti descansar mais um pouco, afinal Bob era um cara barra pesada, sabia se cuidar e algo me dizia que a suposta Ana também seria capaz de cuidar da gente. Deitei a cabeça de Rebeca no meu colo e a deixei dormir, eu sabia que todos ali estavam seguros. Pelo menos foi o que eu pensei.

°°°°

Luís Arthur se encontrava no telhado de uma casa, observava os zumbis errantes caminhando na rua, viu um que tinha somente metade do corpo, notou que alguns estavam próximos a um estabelecimento comercial ali do bairro, estava vigiando pois tinha quase certeza que algo ali o interessaria. Observava atentamente com sua arma em punho, quando um brilho chamou sua atenção, alguém estava saindo do estabelecimento, as coisas estavam começando a ficar cada vez mais interessantes. Tinha certeza que iria encontrar o que queria ali e finalmente tinha uma forma de entrar, arrumou um pouco os óculos escuros que ele usava constantemente, conferiu novamente suas balas e guardou a arma, ainda não precisaria dela agora, não havia nada a temer, não para ele.

°°°°

Acordei com fortes pancadas na porta, no mesmo momento meu coração saltou, os zumbis tinham nos encontrado, iríamos morrer. Ana já estava na porta, com uma arma em punho e tentando conversar com o visitante, deveria ser o Bob, pois o mesmo não estava no estabelecimento, mas Ana não abriria a porta enquanto o visitante não respondesse. Coloquei Rebeca dentro do freezer (que estava desligado), pedi a ela que ficasse escondida até que fosse seguro e peguei o facão, foi quando ouvi aquela voz.

— Tem alguém? — era uma voz fraca. — Socorro! Parecia precisar de ajuda e corri, derrubei a Ana e abri a porta, o que vi ali me deixou em choque.

— Luís Arthur? — gritei.

— Sou eu cara. Uma pena que a gente tenha finalmente se encontrado numa situação dessa. — e deu um sorriso fraco.

O puxei para dentro e o abracei, era o primeiro rosto conhecido que eu via em toda essa loucura, o único amigo que eu vira até então, meus olhos ardiam com lágrimas e senti um braço dele me envolver, mas de repente algo estranho ocorreu, não era como eu imaginei, não era como abraçar um amigo e sentir segurança, algo estava errado, era como se eu estivesse abraçando o vazio e pela segunda vez no dia senti um medo terrível.

°°°°

Luís Arthur esboçou um leve sorriso, parecia que estava feliz em ter encontrado um amigo, era o que ele queria passar, mas estava pronto para cumprir seu objetivo e seria cruel.


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Notas finais do capítulo

Bom! Agora o Luís começa a dar pistas de que não está para brincadeiras, mas o que ele quer com Daniel? Quem é essa Ana? E qual o papel de Rebeca nisso tudo? Os mistérios vão começar, fiquem atentos às dicas que serão dadas no decorrer. É isso gente, até a próxima, prometo que ainda nessa semana posto o terceiro capítulo e viva o Brasil, viva o Nordeste, viva São Luís. São Luís é Agro, é pop, é tech :D byeeee



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