Capuz Vermelho - 2ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 3
Todas devem cair (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 2x03.

É chegado o momento de lidar com o desconhecido.

E desfazer-se das máscaras de temor... e medo.

Uma revelação apropriada... para uma época de intolerância, onde muitos se recusam a rever os conceitos do que significa ser diferente... e acabam por não serem sinceros consigo mesmos.



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Notícias de última hora:

"Os ânimos permanecem exaltados em toda a capital. O Exército ainda não apresentou nenhuma medida de prevenção contra um novo ataque iminente, o que deixa a população em dúvida sobre o poder de controle que os militares possuem. O General Holt afirmou, em nova entrevista concedida nesta tarde, que o motivo para a demora de uma ofensiva contra os lobisomens pode ser explicado pelo local onde os mesmos estão concentrados. 

'O Museu de História de Londres deve ter sua estrutura preservada, bem como seu conteúdo. Objetos valiosos, artefatos de valores incalculáveis, pinturas e outras diversas relíquias que não podem, de modo algum, serem danificadas. O que implica dizer que qualquer tentativa de uma invasão ou abrir-fogo, no presente momento, está fora de cogitação. Agora devo dizer, com toda a minha sinceridade: Estamos reunindo o máximo de ideias possíveis para livrar este país deste mal. Um mal que antes que era tratado como lenda e, agora, se revela desta forma tão dramática e inesperada. É hora de encararmos o desconhecido. Portanto, a primeira ideia a se considerar é: Chega de usar máscaras. E com isto, quero pedir que abandonem suas faces de medo e temor, quero inspira-los a fazer isto. Não interpretem o que digo com o ato de ficar de braços cruzados. Nós iremos á luta. Combateremos fogo contra fogo, no momento certo. Sem máscaras... e sem medo.'" 

Mollock ouvira atentamente as palavras do general, em um aparelho de rádio posto em uma mesa pequena folheada à ouro, no lado esquerdo de seu trono. Deliciara-se com uma de suas mais prazerosas sensações. A adrenalina em seu sangue pulsando como inúmeros cães raivosos querendo se libertar de suas correntes ou uma bomba-relógio prestes a explodir.

Apertou com bastante força os braços do trono, de um modo trêmulo. Um de seus soldados aproximara-se, preocupado com sua reação.

— O senhor está bem, mestre? Como se sente? - perguntou ele.

Mollock virara seu olhar para o assecla e logo deixava, de forma lenta, criar-se seu sorriso macabro em seu rosto. Logo pôde responder, sentindo-se mais revigorado com o pronunciamento do militar.

— Hum... Melhor do que nunca.

— O que acha deste humano que acabou de falar? Para mim, eu senti o medo crescendo em sua voz.

— Patético. - disse, conciso. - Quero que venham todos. E quando a hora chegar, aconteça o que acontecer, estarão curvados diante de mim antes que apontem suas malditas armas. - disse Mollock, esfregando as duas mãos, excitando-se com o desejo de guerra... e de genocídio.

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CAPÍTULO 15: TODAS DEVEM CAIR

Rosie estava de olhos fechados, de pé e parada, movendo seus dedos das mãos sentindo um atmosfera diferente. Receosa, permaneceu como estava por vários minutos, até que ouvira a voz do Guia quebrando o silêncio.

— O que eu disse sobre hesitação? - perguntou a criatura, flutuando por detrás da jovem, que, em um sobressalto, desprendeu-se das amarras do receio.

Virando-se para ele, Rosie mostrara-se desconfortável com seu surgimento.

— Você me assustou. - fechara a cara, em desaprovação.

— Perdoe-me. - disse o Guia, pairando no ar, imóvel. - O que acha do lugar onde estamos? - perguntou, induzindo-a a analisar o local onde foram parar.

Rosie correu os olhos por todos os cantos. Estavam em um corredor, com luxuosos detalhes. Paredes pintadas de laranja, vasos reluzentes, pinturas belíssimas e coloridas, e iluminado por velas de vários castiçais postos nas duas paredes. O piso era confortavelmente satisfatório para ela, sendo quadriculado. Avistou a porta de entrada atrás do Guia, e correra até ela.

— Espera, mas o que... - dirigiu-se até ela, a fim de abri-la. - Eu não entendo. Onde está a floresta? - perguntou ela, olhando para o lado de fora do local, uma rua deserta, porém, sofisticada por vários detalhes.

O Guia se segurou para não rir da ingenuidade da jovem. Tentou responder com o máximo de seriedade possível.

— Estamos muito, muito distantes de lá. Você está em outro mundo agora.

— Mas... Eu pensei que era você quem estava criando tudo isso... - virou-se para ele, confusa. - Que tipo de portas são essas? Quero que me conte tudo. - exigiu, fechando a porta.

— Tais portas estão infectadas por uma espécie de magia do espaço-tempo. Não sou responsável por cria-las. Na realidade, são portas comuns, mas que sofrem uma influência divina. - explicou, aproximando-se da jovem.

— Influência divina? Se refere à esse Abamanu?

— Evidentemente. É ele quem está determinando todas as regras do jogo.

— Isso é um jogo bem assombroso, por sinal. Eu não quero ficar mais esperando. Acordei sem saber nada sobre mim e quero respostas imediatamente. Mas eu vou fazer a pergunta que não quer calar: Onde nós estamos? - aproximou-se do Guia, com um ar bravo, tentando intimida-lo.

— Sua impaciência será um empecilho se realmente quer vencer este desafio. Eu lhe prometo que saberá tudo quando chegar ao final. Não, não sou eu quem deve esta promessa, mas sim nosso deus, Abamanu...

— Sim, eu já sei. - interrompeu ela, ríspida. - Agora responda a pergunta. - encarou a face cheia de cicatrizes do Guia.

— Estamos na mansão de um renomado juiz desta cidade. Ele decidiu dar um baile em comemoração ao seu aniversário de casamento. Venha, siga-me. Iremos ao salão principal, onde está ocorrendo a festa. - disse, flutuando em direção à porta do fim do corredor.

Rosie não respondera, apenas o acompanhou, estando curiosa sobre o fato mencionado. Durante a caminhada, ela observava, atenta e admirada, as obras pinceladas na telas retangulares, deixando a luz das velas cintilar parte de seu rosto.

O ranger da porta despertara a jovem de seus pensamentos enquanto olhava as pinturas, fazendo-a apressar o passo. Ao adentrar no salão, ficando ao lado de seu orientador, seus olhos brilharam com tamanha elegância que vira em um aposento só. Via os convidados dançarem, em pares, uma suave melodia sinfônica, com seus ternos e vestidos caros que só a alta sociedade tinha acesso. No entanto, assustou-se levemente com um detalhe gritante.

— Por que estão usando máscaras? - perguntou Rosie, estranhando.

— Ideia do organizador da festa, para não parecer monótono. Estes itens são bastante comuns em ocasiões do tipo. - respondeu o Guia, estático como uma rocha.

— Estão animados. Mas... é estranho, parecem não notar nossa presença. - Rosie olhara para o Guia com uma expressão de desconfiança.

— Os convidados não costumam fazer cerimônia quando vêem outro, não quando já há um número exorbitante deles. Além disso, só você está visível.

— Qual a razão para se esconder? Alguma habilidade especial sua? - perguntou ela, quase que querendo se juntar aos presentes.

— Ora, como pensa que reagiriam se vissem um ser como eu aqui? E sim, eu tenho esta e muitas outras. - respondeu, inclinando-se para Rosie.

— Bem conveniente. É intrigante você saber de muita coisa, sendo que não faz nem uma hora que saímos da floresta. - afirmou Rosie, o instigando a proferir mais revelações.

— Eu absorvo conhecimentos à uma velocidade que nem mesmo os humanos conseguem alcançar. Tudo isto assim quando adentro em um novo mundo. Sou como um clarividente, como os da sua prole diriam. - explicou, de modo misterioso, entretanto.

— Tudo bem. Eu tenho muitas perguntas ainda, mas é melhor me dizer logo o que viemos fazer aqui. - pediu Rosie, deixando suas mãos suarem de tanta impaciência.

— Com tantas máscaras assim, você terá um tarefa nada fácil a cumprir. Dentre estes convidados, que não param de dançar esta música enjoativa... - opinou, incomodado. - Há um assassino. Perceba que todas as vestes dos homens são a mesma: terno, gravata e sapatos pretos. O que torna difícil a identificação do homem que você irá caçar.

— O que espera que eu faça no meio de toda essa gente? Ir até eles e arrancar as máscaras de cada um? - perguntou Rosie, aumentando seu nível de pressa.

— Óbvio que não. Não fará esta estupidez, só perderia tempo, e ainda seria uma vítima. - o Guia endureceu seu tom de voz. - Fique aqui e espere para ver. Eles sabem que você está aqui, que está assistindo as danças, mas fingem ignora-la, pois sabem que você não possui par e está sem máscara.

— Essa música, esse clima... me sinto atraída. - afirmou a jovem, encolhendo os ombros e deixando seu olhar vago, praticamente hipnotizada.

— Não se deixe induzir-se, mantenha-se alerta. É um truque que o dono da mansão utiliza para atrair mais convidados, tocando músicas dessa natureza. Apenas espere.

Rosie desejara olhar para um relógio, mas sua tentativa ao procurar um fora em vão. Cruzou os braços, com a face aborrecida, batendo seu pé direito. À medida que a música aumentava de tom, tornando-se mais intensa, os convidados aceleravam seus passos, em movimentos circulares, tornando impossível um acompanhamento preciso. Rosie olhara, nervosamente, para os vários pares dançando velozmente, dando a impressão de um denso borrão se formar tamanha era a intensidade. Não conseguia mais acompanhar nada com suas rápidas pupilas.

— Agora. Olhe bem! - alertou o Guia, apontando para uma direção que Rosie não sabia identificar.

— Onde, afinal? - perguntava, confusa.

Apenas viu um respingo de sangue se lançar no ar. Porém, não conseguia ver exatamente a fonte do mesmo.

— Não consigo ver bem... Tem muita gente no meio... Eles não param de dançar, que droga! Só vi sangue espirrando para cima.

— Alguns convidados abandonam a dança para se servirem com bebidas e conversarem. Uns pares se desfazem para gerar outros, criando uma confusão quase que proposital para confundir a pessoa que está focada no assassinato.

— Então eles sabem quem é o assassino e querem protege-lo! - exclamou Rosie, socando a palma de sua mão esquerda, com raiva.

— Alguns sim. Mas apenas foque-se no assassino. Ele já cometeu o ato e se misturou novamente aos outros. Espere ver a reação da maioria. - disse o Guia, tentando aquietar a aflição constante de Rosie.

A jovem mordera os lábios em apreensão. Em poucos segundos, as pessoas iam percebendo, gradativamente, a presença do corpo caído e ensaguentado. Gritos apavorados das moças soaram quase em uníssono, rapidamente se afastando do cadáver. Uma sucessão de cochichos e comentários desesperados se fez presente logo quando a música parou de tocar. Tornou-se o único som predominante no local.

— Muito bem, Rosie. Agora é a sua vez de entrar em ação. - disse o Guia.

— O que eu tenho que fazer? - perguntou a jovem, perdida.

— O assassino está escondido em algum outro ponto desta mansão. Encontre-o.

                                                                            ***

Saindo às pressas por uma porta dos fundos do prostíbulo, Hector e Eleonor respiraram aliviados e puderam, ao longo do caminho, suavizar seus passos. Os dois haviam corrido até uma pequena estrada, que cortava uma floresta. Caminhando vagamente, lado a lado, pararam de ofegar para enfim, inevitavelmente, iniciarem uma conversa.

— Deve estar me vendo como uma estranha novamente. - comentou Eleonor, sobre a surpresa de Hector.

— Muito pelo contrário. - disse o caçador, fazendo-a franzir o cenho. - Eu percebo, agora, que nós dois partilhamos de sentimentos de culpa que nos assombram. O destino nos uniu por esta razão.

— Quer dizer, um pouco mais íntimos, conectados? - perguntou ela, dando um leve sorriso tímido.

O caçador suspirara, corando. Fingiu um pequena tosse enquanto pensava em como voltar ao que era mais importante.

— Err... Sobre a aliança... - desconversou. - Talvez seus métodos sejam úteis.

Eleonor não respondeu. Diminuiu ainda mais a velocidade de seus passos, adquirindo uma expressão mais séria.

— Eu pertenço à nova geração. - iniciou uma revelação. - Batalhei muito para chegar no nível em que alcancei. Se eu ainda estivesse no clã, eu seria declarada uma bruxa classe Ômega.

— Você foi expulsa? - perguntou ele, curioso.

— Não, abandonei o Coven há dois anos. Aquelas molengas jamais iriam para frente com aqueles planos estúpidos. - disse ela, com um tom áspero.

— Certamente foi até lá por vingança. Gostaria de saber como soube que lá seria um lugar provável para os Red Wolfs se reunirem. - disse Hector, exigindo implicitamente explicações.

— Vai ter que me responder primeiro: Como um caçador sabe que as bruxas tem uma rixa com os Red Wolfs? - perguntou Eleonor, cruzando as mãos e caminhando mais lentamente.

— Descobri através de um ex-amigo. Mas isto também é uma longa história. Sua vez.

— Um feitiço, bastante avançado, me mostrou onde eles estariam. Não se sente decepcionado ao ver o quanto eles são espertos? - perguntou ela, sentindo um certo incômodo.

— Eu já reconhecia isto desde que soube da existência deles. Desgraçados. Preciso agir tão rápido quanto eles. - o caçador apressou o passo, quase deixando Eleonor para trás.

— Ei, espera! O que pretende fazer em seguida?

— Tentar chegar à um atual membro ativo. Em outras palavras, encontrar o filho de Ethan Nevill, o provável membro mais próximo e mais fácil de se encontrar. Preciso confirmar algumas suspeitas.

— Não faço o tipo investigadora particular, mas posso acompanha-lo, se quiser. - disse Eleonor, alcançando-o.

— Bem, é claro que pode. - disse ele, enrubescido. - Mas isto vai durar pouco. Talvez você complete o serviço pondo em prática sua vingança. Eles tem sorte, pois eu tenho um peixe maior para pegar.

— Hum, ótimo, também posso participar. Estou afim de pescar também. - empolgou-se Eleonor, parando a caminhada.

Hector também parara. Ficou a olhar para ela de forma preocupada, como se a situação não exigisse suas habilidades.

— É melhor não. O que vou enfrentar não deve ter você como vítima. Devemos agir separadamente.

— O quê? - ela fizera uma careta, desaprovando a decisão. - Que tipo de aliança é esta na qual dois parceiros se separam, resolvendo situações diferentes!? Sendo tão jovem, eu esperava que tivesse uma cabeça menos dura. - provocou.

Hector aproximou-se dela e pousou uma mão em seu ombro esquerdo.

— Por favor, não insista. São situações totalmente interligadas, fique ciente disto. - disse com um tom de voz calmo. - Nós, neste exato momento, já estamos em perigo. - olhou à sua volta, bastante sério.

— O que quer dizer com isto?

— Lembra-se quando eu disse que há monstros há solta por aí? Estes lobisomens são, na verdade, quimeras, criadas em laboratório por um dos Red Wolfs, que no momento está desaparecido e que também foi responsável pela morte de meu pai. Muitas pessoas inocentes foram sacrificadas para fazer cumprir uma profecia que nem sabemos se é de fato pertencente ao deus deles, Abamanu. Enfim há muito o que contar para você.

— E estou extremamente curiosa para saber. Sei quem é Abamanu, a divindade que controla a lua e suas fases. Minha mestra me contou sua lenda em detalhes. - revelou, deixando Hector intrigado. - Agora... preciso que tome uma decisão sobre nós dois. Como vai ser? - perguntou, sorrindo.

Pensativo, Hector passou sua mão pelo queixo, olhando para o chão. Levantara a cabeça sinalizando uma definitiva solução.

— Nós vamos precisar reservar um quarto de hotel. Nós dois temos nossos objetivos. Temos uma vingança em comum. Talvez consigamos vencer nos unindo. - afirmou o caçador, determinado.

                                                                         ***

No Museu de História - vulgo Palácio de Mollock - o líder da já intitulada "Revolução Quimera" decidira visitar o cativeiro onde seu "pai" estava sendo mantido. Uma espécie de masmorra, sendo acessível por uma passagem secreta em uma ala não muito visitada do local. Uma masmorra de uma só prisão. Nela estava Robert Loub, cabisbaixo, encolhido e decadente. Mollock entrara rapidamente assim que um de seus soldados abriu a pesada porta metálica da cela.

— Vá. - ordenou ele, em tom frio, ao seu assecla, parando no centro da sala.

O soldado fechara a porta, fazendo o estrondo da batida da mesma ecoar. A cela tinha uma precariedade estrutural de causar nojo. As quatro paredes feitas com tijolos de péssima qualidade apresentavam rachaduras extensas. Uma fraquíssima lâmpada de luz amarela no centro do teto era a única fonte luminosa. Fingindo não perceber a presença de seu "filho", Loub mantinha-se imóvel dentro da jaula, mas reflexivo quanto à sua condição.

— Hum - Mollock dera sua já característica risadinha. - Sei que meu pai está aí... em algum lugar. Perdido nos devaneios deste corpo sujo e parado. Eu quero que acorde. - disse, inclinando-se para chamar a atenção de Loub.

Loub recusara-se a erguer sua cabeça e olhar nos olhos daquela criatura bestial e infame. Continuou na mesma posição, sem mover um dedo, despertando a impaciência de Mollock.

— Vamos lá. Eu sei que estava me esperando esse tempo todo. - disse ele, aproximando-se. - Apenas quero conversar. Portanto... Acorde!!! - vociferou, quase segurando as grades da jaula.

Loub sobressaltou, passando a tremer logo ao ver a figura parada à sua frente. Olhou novamente para as grossas algemas de ferro desgastado em seus pulsos. Voltou seu olhar para Mollock, desta vez furioso.

— Eu estava... estava no meio de um sonho. - disse, sentando-se melhor - Agora que acordei, voltei ao pesadelo.

— Pelo contrário, ele acabou. - objetou Mollock. - Todos os nossos sonhos, os nossos desejos tornarão-se realidade, meu pai. - disse com um denso ar de esperança.

— Os seus desejos. - respondeu Loub, frio. - E pare de chamar-me de pai, quantas vezes eu vou ter de diz...

— Ouça-me! - esbravejou Mollock, interrompendo-o. - Você agora é tão parte de mim quanto eu sou parte do senhor. Consegue sentir algo diferente? Não está sentindo a sede por sangue, uma fome voraz?

— Sim... eu tenho sede, muita sede. - disse Loub, levantando-se e encarando-o. - Mas para ver você se afogar no seu próprio sangue e sua carne podre de banquete para os urubus! - desafiou Loub, se aproximando das grades frontais.

Ao chegar mais perto do líder, o cientista dera uma cuspida em seu rosto. Mollock parecia não se importar com o gesto inadequado e petulante, mas fervia de raiva internamente. Limpou sua face e, em seguida, puxou Loub pela gola da camisa, fazendo seu rosto se chocar contra as grades.

— Veja como fala com seu filho. - disse, em um tom baixo, mas gélido como um iceberg. - Eu tenho planos para todos nós, e você não está excluído.

— Essa seria a única situação onde eu gostaria de ser excluído de um plano engenhoso. - afirmou Loub, olhando desesperado para os olhos de Mollock enquanto as grades da jaula apertavam os ossos de sua face.

— Mas não estará. - disse, fazendo com que não com a cabeça. - Quando a mutação aflorar novamente, o colocarei na linha de frente.

— Eu conseguiria ouvir com mais atenção se me soltasse.

Mollock atendera o pedido e tirou sua pesada mão da camisa de Loub, quase o empurrando.

— Não vou me tornar um monstro como você.

— Não está lembrado? Foi, diante de mim, mordido por um de meus soldados. Você já é um de nós, meu pai. E quando o desejo vier à sua mente já será tarde demais para resistir.  - tentou Mollock, lembra-lo.

— Quer me colocar no meio do seu exército que antes pertencia à mim!? Eles ainda são meus! Eu os criei! - enraiveceu-se, inconformado.

— Eles são nossos! E sendo honesto com o senhor, eu digo que eles são mais seus do que meus. Eu lidero a Revolução, mas o senhor... o senhor merece uma chance de ser reconhecido como o criador. - afirmou Mollock, suavizando aos poucos a sua voz, na tentativa de não soar arrogante.

— Então por que me deixa aqui trancado como um animal selvagem? - perguntou Loub, incisivo.

— Por que ainda não se tornou um. O deixarei aqui até que se entregue, de corpo e alma, ao seu destino. O destino no qual eu o submeti como prova de meu amor por você, meu pai. - disse Mollock, cerrando fortemente os punhos.

— Só um demônio como você para chamar isto de destino. Isto é uma maldição! - exclamou, deixando gotículas de saliva escaparem no ar.

— Não acha que está sendo hipócrita, meu pai? Se tal destino é uma maldição, então que tipo de vida você pôs as pessoas que sequestrou para transforma-las no que hoje são? Se estivessem conscientes de seus condições enquanto ainda humanas elas não se sentiriam amaldiçoadas? - perguntou, desafiando-o.

Loub calara-se diante da pergunta. Ficou pensativo, olhando para o chão imundo, sem pensar no que responder.

— Você ainda tem muito o que entender de nossa relação. - disse Mollock, querendo se retirar. - Mas eu não o tiro de sua posição. Você é o criador. é um Deus. Logo eu ocuparei tal posição, e nós dois seremos deuses reinando no nosso mundo perfeito. - disse, esperançoso, virando-se para trás.

— Por quanto tempo pretende me manter aqui? - perguntou Loub, batendo de leve sua cabeça nas grades de trás, em um tom choroso.

Antes que tocasse a grande maçaneta da porta, Mollock sorrira macabramente.

— Como eu disse antes: Enquanto não se entregar e aceitar, ficará aqui, sozinho. É bom decidir logo, pois eu quero vê-lo junto à meu exército lutando contra nossos inimigos.

Mollock saíra da cela, com sua última declaração ressoando na mente de Loub. O cientista, para a surpresa de seu "filho", teve um repentino acesso de raiva, tentando, com todas as forças, arrombar a jaula, até mesmo chutando as grades violentamente. Enquanto caminhava pelo sombrio corredor, Mollock novamente sorriu, ouvindo os enfurecidos gritos de Loub seguidos das batidas incessantes.

                                                                         ***

À frente da porta da residência do amigo de longa data de Alexia, os membros da Legião compartilhavam sensações excitantes e assustadoras ao mesmo tempo. A vidente tentava, ao máximo, transmitir-lhes calma com o seu olhar calmo. Entendia que tal situação era nova demais para indivíduos que passaram anos a fio em uma rotina quase monótona lutando contra coisas malignas, e sabia que a tendência era que se surpreendessem cada vez mais com o conhecimento e a sabedoria do mago do tempo.

Ouviram barulhos de trancas pesadas se abrindo. Êmina não perdeu a chance de comentar a respeito.

— Ele preza mesmo por segurança máxima? Essa cidade nem é muito perigosa... pra não dizer entediante. - disse, visualizando a pacata rua.

— Na época do colegial ele sempre agia assim. E eu entendia o lado dele, como ele se sentia. Para alguém como ele o mundo externo não passa de um labirinto onde o perigo sempre reina em absoluto. - contou Alexia, ignorando o barulho da última tranca abrindo-se.

A porta gemera vagarosamente ao se abrir. Os visitantes aos poucos percebiam uma jovem figura se revelar timidamente. Charlie, ao dar-se conta do que vira, suspirou em alívio após fazer uma rápida análise das aparências à sua frente. De imediato, reconheceu Alexia, mas não manifestou muita surpresa, apesar de estar impressionado com sua aparição repentina. Deixou a porta abrir-se por inteiro e os fitou com um ar gentil e transparecendo calma. Charlie tinha o porte de um menino prodígio em ascensão, nem muito magro ou gordo, apenas carregando o peso de sua inteligência. Vestia roupas comuns para jovens de sua idade naquela época. Supunham que o mesmo voltara de um banho, estava com os cabelos castanhos bem penteados, com algumas pontas na testa. Seus olhos negros deram de encontro com os esverdeados de Alexia e um filme passara pela sua mente. Alexia sorriu ao ver que o mesmo ainda mantinha a costumeira barba por fazer, achava que combinava com seu rosto médio. Fez questão de se apresentar primeiro.

— Olá, eu me chamo Charlie... Em que posso ajudá-los?

— Há quanto tempo, não é mesmo? - perguntou Alexia, tentando fazê-lo nota-la. - Você praticamente não mudou muito.

— Alexia!? Que roupas são essas? - surpreendeu-se ao perceber as vestes da moça. - Esse vestido... virou algum tipo de cigana, curandeira?

— Ora, mas é claro que não. É uma longa história. Enfim, não viemos para remoer o passado, estes são meus amigos... - estendeu a mão para apresenta-los. - Da esquerda para a direita: Êmina, Lester e Adam. - disse, indicando cada um deles com o dedo.

O trio cumprimentou-o em uníssono. Charlie assentira positivamente com um leve sorriso.

— E então, eu posso saber o que os trazem aqui? - perguntou ele. - Antes de falarem, quero que saibam que são bem-vindos, independente das aparências. - garantiu. - Não costumo receber muitas visitas, mas percebo que não representam ameaça.

— Bem, Alexia nos trouxe até você para que nos ajude em um caso urgente. Ela confia bastante em você. - disse Adam, um tanto nervoso.

— Você é mesmo quem ela diz ser? Um... mago do tempo? - perguntou Lester, incrédulo e desconfiado.

Charlie sorrira, praticamente rindo da pergunta. Êmina decidiu intervir.

— Por favor... perdoe o meu parceiro aqui, ele é tão leigo quanto nós nessa coisa de... física maluca, mundos alternativos. Nós acreditamos em você e queremos ver do que é capaz.

— Tudo bem, não estou incomodado. Pelas caras de vocês, posso notar que estão desesperados. Já que é de extrema urgência, preciso que entrem, assim podemos conversar melhor. - disse, dando passagem para o grupo.

Entraram tranquilamente na residência do físico. O interior da casa era tão menos chamativo como a fachada. Passaram pela sala de estar, bem organizada e iluminada com abajures de luz alaranjada. Um corredor e uma escadaria depois, já se viam no "esconderijo" do rapaz. Ao contrário do que pensavam, não se dirigiram para o quarto dele, mas sim para um aposento mais reservado e silencioso. Entrando por último, Êmina e Lester pareciam discutir em voz baixa, tentando disfarçar.

— Por que tinha que dizer aquilo? - perguntou Lester, bravo, fechando a porta.

— Ué, falei alguma mentira, afinal? - replicou Êmina, franzindo as sobrancelhas e sorrindo.

— Ah, por favor... ahn... - disse Charlie, apontando para Lester, sem lembrar de seu nome.

— É Lester. - respondeu o caçador, ainda próximo à porta.

— Sim, Lester. Pode, por favor, trancar a porta?

Atendendo ao pedido, o caçador estrategista o fez. A sala era relativamente espaçosa, contendo alguns pilares de madeira para sustentar a estrutura, umas duas janelas em apenas duas paredes - pintadas com uma suave cor beje - e uma lâmpada com pouco tempo de vida, com uma luz amarela imperceptivelmente trêmula. Reuniram-se em torno de uma mesa longa, com vários papeis preenchendo espaço. Charlie gesticulou para se sentassem, o fazendo o primeiro. Cruzara as mãos em paciência, olhando para cada um dos visitantes, especialmente para Alexia, aquela que tanto o apoiou e esteve ao seu lado. Definitivamente, a única amiga que realmente pôde chamar de tal com orgulho.

— Percebo que estão ávidos para ouvirem minha história. Mas prometo ser breve. Não quero tomar muito do tem...

— Não, tudo bem. - interrompeu Alexia, abruptamente. - Nenhum de nós tem outras obrigações. Nossa única missão é salvar uma amiga... ela se chama Rosie.

— Alexia tem razão, podemos ficar aqui o tempo que for necessário. - concordou Adam, sentado ao lado dela. - Mas se quiser um breve resumo para dar mais espaço quando você for falar... se me permite...

— Ótimo, comece primeiro. - disse Charlie, ajeitando na cadeira, praticamente ansioso para saber a raiz da situação.

O caçador de braços fortes e porte atlético coçou o queixo, imaginando por onde iria começar. Segundos passados, soube como discorrer tentando soar lacônico.

— Se conhece a história dos Red Wolfs, a sociedade secreta que almejava uma era próspera para a humanidade, talvez saberá exatamente do que estou falando. Rosie cresceu sem os pais ao seu lado, herdou o manto vermelho de seu pai, teve que ser obrigada a largar todos os seus sonhos para fugir de inimigos que usariam-na como sacrifício para Abamanu...

— Espere! - exclamou Charlie atônito, interrompendo Adam. - Acho que já processei o bastante. Sei praticamente tudo sobre os Red Wolfs, conheci esta história através de meu falecido pai.

— Ué, mas como assim? - perguntou Lester, ao lado direito de Adam, visivelmente confuso. - O que Magos do Tempo tinham a ver com os Red Wolfs?

— Na realidade, meu pai possuía muitas amizades, algumas de total conhecimento familiar, outras bem furtivas. Dentre as que se enquadram no segundo tipo, está um estudioso da conspiração, ele visitava meu pai todas as noites de quarta... que era o dia em que mamãe saía para o bordel escondida...

Charlie fez uma pausa, passando a olhar preocupado para o quarteto levando em conta a revelação feita sobre sua mãe.

— Err... desculpe, eu não constrangi vocês por ter dito esse detalhe desnecessário, certo?

— De modo algum, Charlie. - respondeu Alexia, antes que os outros pudessem falar. - Mas não escondo o fato de eu estar surpresa, eu quase nunca a vi... Enfim, continue.

Charlie a olhou de modo profundo, como se também se sentisse desconfortável ao adentrar naquele assunto nada relevante, embora triste. Recapitulou o que havia dito e deu continuidade ao relato.

— Ambos mantinham um pacto de sigilo relacionado a fatos incontestáveis sobre os Red Wolfs. Eu ouvia a maioria das conversas atrás da parede da sala. Quando iniciei minha frequência como mago do tempo, muito tempo após a morte de meu pai, eu pude vasculhar seus arquivos. Nele eu encontrei coisas chocantes... Foi então que caí em si e pensei: Como a humanidade pode ser tão influenciável e alienada a esse ponto?

Êmina, inquieta, queria logo saber do que se tratava.

— E o que você encontrou? O que tinha nesses arquivos?

— Textos redigidos pelos estudiosos revelando o verdadeiro propósito de Abamanu, além de um exemplar único e autêntico do que eles chamam de "Bíblia de Abamanu" em uma linguagem totalmente desconhecida e complexa.

O quarteto compartilhava um estado de choque súbito após ouvir aquelas palavras. Boquiabertos, deram entrada para inúmeras dúvidas, sobretudo o trio de caçadores. Sentiam-se como se tudo o que coletaram, tudo o que acreditavam chegava a ser distante da verdade absoluta. Em suma, sentiram-se limitados em conhecimento do desconhecido.

— E-está dizendo que... a verdadeira bíblia de Abamanu esteve em posse de estudiosos da conspiração? - perguntou Adam, tentando acreditar naquele fato.

— Exato. Todavia, supostamente cópias foram criadas, tendo sido trabalho de infiltrados. - ressaltou o jovem físico, deixando-os ainda mais curiosos e impressionados.

— Tem alguma ideia de onde estas cópias podem estar? - perguntou Lester, a voz trêmula.

— Em arquivos secretos de museus em toda a Inglaterra, provavelmente. Presumo que o primeiro nome que lhe vieram à mente foi Londres. - disse ele, formando um leve sorriso. - Porém, eu não posso garantir que estejam no museu de lá.

— E quanto aos infiltrados? - perguntou Êmina, afoita. - Pelo que estou adivinhando, os Red Wolfs...

— Sim, exatamente o que está pensando. - disse Charlie, interrompendo-a. - Tal como qualquer sociedade secreta que possui um objetivo obscuro, os Red Wolfs tinham desejo de participarem de cargos importantes do mundo. Queriam exercer poder político e científico, logo muitos deles escolhiam profissões como advogados, médicos, bancários, prefeitos e cientistas. Por sorte, nunca tivemos um presidente Red Wolf. Ainda. Não tenho certeza qual a geração foi responsável pela criação das cópias, mas certamente foi há bastante tempo. Sendo muito espertos, se misturavam aos grupos de estudiosos objetivando mais conhecimento sobre Abamanu.

— Nós temos um exemplar. - afirmou Adam. - Mas ele está escrito em inglês, a nossa língua. Acha que pode ser...

— Falso? - perguntou ele, interrompendo novamente. - Não. Se foi escrito com nossa língua, obviamente foi escrito pelos Red Wolfs.

— Sim, foi exatamente isso que pensei. - espantou-se Adam. - Hahaha, é como se você tivesse lido minha mente. Isso é alguma habilidade de um mago do tempo?

Todos riram em uníssono, inclusive Charlie.

— Eu disse que ele era um gênio. - disse Alexia, elogiando-o e olhando-o com um contagiante sorriso.

Charlie sentiu um véu de nostalgia cair sobre sua visão. Hipnotizara-se pelo sorriso da jovem vidente, relembrando os tempos em que se divertiam como adolescentes despreocupados. Após o instante divertido, voltaram a debater o assunto retomando a seriedade.

— Então... - dizia Lester voltando a questão. - Com base nesse fato, o livro que nós temos pode ter sido escrito pela geração anterior.

— Sim. - confirmou o rapaz. - É esta a conclusão que eu esperava que tirassem. No entanto, não há nada que possa garantir que, de fato, isso seja verdade. Tenho 90% de certeza de que sim.

— Você ainda possui os arquivos? - Êmina sentia-se como uma repórter conduzindo uma entrevista.

Charlie exibiu um semblante calmo, como se quisesse passar a ideia de que esperava que tal pergunta fosse feita.

— Com certeza. - confirmou ele, com ar otimista. - Eu os guardei no porão. Já que a situação que vocês trouxeram à mim é tão grave, talvez eu os traga para cá. E por falar nisso, qual é mesmo o caso?

Adam suspirou pesadamente, parecendo mostrar aos outros que deve descrever a situação.

— Bem... Um amigo nosso, chamado Hector, que deveria estar aqui conosco, acompanhou Rosie até o templo onde os Red Wolfs faziam os cultos. Nós havíamos conseguido reunir as cinco partes do talismã de Abamanu e eles deveriam ir até lá para por na estátua de Abamanu. Não sabemos o que realmente aconteceu por lá. mas... algo inesperado aconteceu. - o caçador fez uma pausa e respirou fundo - Nem Rosie e nem Hector estavam lá. Foi então que Alexia foi possuída por Abamanu...

Os olhos de Charlie arregalaram-se em curiosidade, fitando, em seguida, o rosto de Alexia, que naquele instante mostrava-se sério.

Adam continuou a descrição.

— Ficamos sem ação, desnorteados. Foi quando ele nos revelou seu plano através de Alexia. Rosie havia sido levada para outro lugar... bem distante... - Adam passou a olha-lo com mais seriedade, esperando que o mesmo deduzisse o que significava a distância. - Disse que havia apagado sua memória. Ela seria sua peça essencial para seu retorno.

O jovem físico tivera um déja vú naquela momento. Esfregou as mãos levemente, estavam suadas por perceber a gravidade do problema aumentar à medida que Adam contava, sentia como se ouvisse seu pai falando. Soubera, através das conversas de seu pai, que Abamanu desejava retornar. Aliou tal fato com seu conhecimento de mago do tempo e uma face apreensiva lhe ocorreu repentinamente para todos verem.

— Sim... Abamanu, de acordo com o que meu pai comentava com aquele homem, sentia um enorme desejo de retornar à este mundo. Vejam bem: Retorno. - inclinou-se para frente a fim de que todos pudessem ouvir em perfeito som. - Vocês sabem porque?

— Bem, nós sabemos de uma lenda, que alguns estudiosos com os quais mantínhamos contato nos contaram, em que Abamanu, há 90 anos, apareceu para um homem através de um lobo comum. - dizia Adam, com bastante paciência. - Sobre este homem, nós entendemos que ele era o primeiro Red Wolf e espalhou os ideias fornecidos através do seu contato direto com Abamanu, depois que ele prometeu retornar com seu falso plano para a humanidade.

— E seu eu disser a vocês que esta lenda é apenas mais uma lenda? - perguntou Charlie, esperando a reação óbvia.

Todos os quatros ficaram irrequietos com a pergunta. Cada olhar tornou-se igualmente nervoso.

— Espera... quer dizer então que...

— Exatamente o que imagina. Abamanu, até onde eu sei, não possui habilidades metamórficas. Nenhuma quimera divina possui este poder. - ressaltou. - Apenas esta informação basta para deixar este mito como deve ser chamado: de mito. Este não foi o primeiro contato de Abamanu com a humanidade, mas isto é uma história que só pode ser encontrada no livro original. Mas para poupar a mente de vocês com muitas informações, eu sugiro que falemos disso em outra ocasião.

— Agora fiquei curioso. - disse Lester, empolgando-se.

— E também agora, neste exato momento... - ressaltou Alexia. - Rosie deve estar perdida... com medo e sem saber o que fazer, para onde ir. É na salvação dela que devemos focar.

— É isso aí, Charlie, precisamos que você use seus conhecimentos para que possamos chegar até ela e impedirmos que ela una as cinco partes do talismã. Ele determinou que só com isso seu retorno estará garantido. - afirmou Êmina.

— Sabem que será difícil, certo? - perguntou o jovem. - Para ambos os lados.

— O que quer dizer? - perguntou Adam.

— Vocês deixaram bem óbvio que Rosie foi transportada para um mundo diferente... um mundo paralelo ao nosso. E disso eu sei melhor do que ninguém.

— E você tem alguma ideia de onde ela possa estar? - perguntou Adam.

— Não. Posso ser um mago do tempo mas não tenho conhecimento de todos os mundos existentes, eu ainda tenho muito o que aprender. Mas confiem em mim. Sei como fazer vocês chegarem o mais próximo possível dela. Mandando-os para mundos próximos aqueles com os quais Abamanu certamente sabe que existem. - assegurou o jovem.

— Se é assim, então nós gostaríamos de ver como são seus métodos. - pediu Lester.

— Err... Eu sugeriria que vocês decidissem como vai ser, afinal preciso fazer com que possam seguir com calma. - alertou Charlie, levantando-se. - Quero que se adaptem a fim de fazerem uma viagem segura.

O quarteto levantou-se quase que ao mesmo tempo. Adam já tinha em mente o que fazer àquele ponto.

— Bem, como líder da equipe, me sinto obrigado a decidir. Como viemos de Kéup, bastante longe daqui, eu estava pensando em passarmos alguns dias... aqui, na sua casa, Charlie. - propôs o caçador, em um semblante de carência.

Êmina manifestara-se primeiramente.

— Estou de pleno acordo. Mas... eu penso no Rufus, um amigo que mora no nosso QG... - e voltou seu olhar para Alexia.

— Ahn... bom, quanto ao Rufus, eu posso ligar para ele avisando que vamos ficar por aqui. - disse a vidente.

— Alguém está lá acompanhando ele? - perguntou Charlie, meio preocupado.

— Infelizmente, não. - respondeu Alexia. - Mas tudo bem, fique tranquilo, Rufus, aproveitando que estamos nos reencontrando, é um assistente meu... - ele fizera uma pausa.

— Assistente, é? Está trabalhando em algo, arrumou um emprego? - perguntou o jovem físico, repentinamente curioso.

— Basicamente isso. Um trabalho onde eu uso um dom que por anos ignorei. Enfim, talvez eu conte para você em detalhes, mas mais tarde.

— Ótimo. - concordou Charlie. - Quero voltar aos velhos tempos, quando tínhamos nossas conversas rotineiras. - afirmou, praticamente inebriado pelos ruivos e belos cabelos de Alexia.

Ela lhe deu um sorriso tímido. O trio de caçadores compartilhava uma excitação fora do comum. Sentiam-se quase importantes no universo dos exterminadores de criaturas malignas. Uma nova fase em suas carreiras se iniciara a partir daquele instante. Prometeram, um dia, juntos, viverem sem medo do desconhecido. Naquela hora já não sabiam o significado de tal palavra.

— Charlie. - disse Adam. - Eu presumo que nosso amigo, Hector, não tenha sido levado junto de Rosie e esteja pensando em dar conta do caso dos Red Wolfs.

— Acha que essa é a razão por ele não ter nos procurado ainda? - perguntou Lester, franzindo as sobrancelhas.

— Tem uma razão mais convincente em mente? Eu só espero que ele ao menos ligue e confirme o que estou pensando. - respondeu o caçador de braços fortes, lançando um olhar seco para Lester.

— Pessoal, daria para focarmos somente em Rosie? - Alexia começara a ficar impaciente. - Eu também estou preocupada com Hector. Se ele ainda estiver aqui, neste mundo, talvez o que Adam disse seja verdade. Enquanto esperamos uma ligação dele, nos preparamos para a missão.

— Alexia tem razão. É praticamente óbvio que Hector não foi levado por Abamanu e teve a memória apagada assim como Rosie. Talvez esteja muito ocupado tentando desmontar alguma artimanha dos Red Wolfs.  - afirmou Êmina. - Bem, eu mal posso esperar para começar a aprender mais sobre o que os magos do tempo sabem. - empolgou-se com um leve sorriso, deixando à mostra seus alvos dentes.

— Bem, então estamos acertados. Aqui tem quartos de hóspedes, certamente dá para vocês. - garantiu Charlie. - Comecemos amanhã mesmo... pelo menos a primeira parte do aprendizado. Eu ainda não tinha contado sobre a Ordem... se importam de ouvirem agora? - perguntou, dirigindo-se ao trio de caçadores.

Alexia sobressaltou de leve ao ouvir a pergunta.

— Só uma coisa: Será que pode esperar? Eu preciso ligar para Rufus.

Charlie espantara-se com a urgência no olhar de Alexia. Riu por dentro por dar-se conta da memória quase curta da jovem.

— Ahn... Alexia, você já sabe toda a história da Ordem, não tem necessidade de você ouvir novamente. A não ser que queira que eu espere até você voltar da sala.

A vidente riu de si mesma. Charlie também sorrira ao rever aqueles brancos dentes dentro de lábios tão encantadores.

— É mesmo, eu tenho estado meio... desorientada.

— Tudo bem. Pode ficar ao telefone o tempo que quiser. - permitiu ele, gentilmente.

— Obrigada, Charlie. - Alexia o olhou de modo penetrante, deixando seu sorriso quase se desfazer, embora ainda estivesse anestesiada pela matança da saudade.

A vidente desaparecera ao sair rapidamente da sala. O som de seus passos descendo as escadas foi abaixando aos poucos.

Êmina se roera de curiosidade e ansiedade.

— Bem, conta aí. O que era a Ordem dos Magos do Tempo?

      CONTINUA...                                             


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