Capuz Vermelho - 2ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 24
Cerimônia do despertar (Parte 1.3)


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— E aqui está. - disse Hector, sacando uma amassada folha de papel com uma figura desenhada. - Este é Mollock. - apresentara a ela o "retrato falado" do pupilo de Abamanu. 

O bonde fizera uma curva repentina, o que ajudou a impulsionar o seu rápido espanto. 

— Oh! - surpreendeu-se ela. 

— Interessante ver que está surpresa ao ver uma criatura assim... de fato, ele é bem asqueroso. - disse Hector segurado-se no banco da frente enquanto o bonde seguia em linha reta novamente. 

Rosie reprimiu uma risada. 

— Não foi isso que expressei. - afirmou ela, o olhando seriamente. - Na verdade... eu estou surpresa por ver que você desenha tão bem. 

O caçador enrubescera, encolhendo os ombros. 

— É, sim... pois é, os meus dotes artísticos não se limitam só na caçada e em investigações. - disse, sorrindo timidamente. 

— Aposto que já fez um comigo segurando a cabeça de algum lobisomem. - disparara Rosie, em seguida rindo sem conseguir se segurar. 

Hector também rira junto com ela. Riu daquela forma pela primeira vez em anos. 

Após o aprazível momento, os dois se entreolharam... Contudo, deixando seus sinceros e calorosos sorrisos se desfazerem gradualmente até culminarem em expressões sérias e sem humor. Como em uma troca telepática de informações e sensações, parecia que ambos lembraram um ao outro mentalmente sobre a situação que viviam. 

Ficaram calados por vários minutos, apreciando a paisagem urbana ornamentada com luzes alaranjadas dos postes e carros do ano indo e voltando pelas ruas cruzadas.

Quebrando o silêncio, Hector fizera uma delicada pergunta. 

— Rosie. 

— Sim. - ela se voltou à ele. 

— Qual o nome de sua avó? - perguntou, com a cabeça baixa, pensativo. - Como se chama a senhora Cambpell? 

Rosie o olhou com estranheza, mas logo aquiesceu assentindo levemente. 

— Eleonor. - respondeu ela. - Eleonor Campbell. 

O caçador nada falou diante da resposta. Apenas permaneceu sério e um tanto deprimido. 

— Minha vez agora. Por que a pergunta? 

O caçador virara seu rosto para ela lentamente. 

— Nada. - assentiu negativamente. - Só curiosidade mesmo. - voltara-se a olhar para frente. - Assim como você... também estou com saudades dela. 

                                                                                    ***

Andarilhando pelo solo pedregoso e meio arejado, o grupo matinha-se concentrando em direção ao morro mais à frente, que era considerado a passagem mais facilmente acessível para se chegar às Ruínas Cinzas em relação ás outras: Morros altos e de árdua caminhada, podendo ser possível até mesmo uma escalada, mas que certamente gastaria os últimos resquícios de energia do explorador.

Lester e Adam seguiam na frente, auto-confiantes. Os sete amigos tinham seus corpos reluzidos pela luz sombria e azulada da Superlua. Charlie estava logo atrás, andando no mesmo ritmo calmo que os outros. "Acho que minha paciência deve ser contagiosa. Isso é bom.". Lembrara, de repente, sobre um detalhe urgentemente importante em um lampejo.

— Esperem. - disse, fazendo os outros pararem a caminhada subitamente e se virarem para ele.

— O que foi, Charlie? - perguntou Adam. - Esqueceu de nos dizer algo?

— Acertou em cheio. - confirmou ele. - A vinda de Abamanu à Terra tem implicações gravíssimas em relação ao espaço-tempo ou o tecido da realidade. - informou, com tom de preocupação. - É como uma corda bamba, quanto mais ela recebe corpos pesados mais frágil ela se torna. Quanto menos firme a corda fica, a incidência de portais dimensionais se torna iminente.

— O quê!? Portais? - indagou Hector, afligindo-se.

— Isso mesmo. A presença de um deus na Terra pode causar sérias alterações na realidade, podendo distorcer o equilíbrio. Coisas que não deveriam estar aqui podem acabar vindo... - fez uma pausa, vasculhando em sua mente as palavras certas para definir o caos que seria caso uma divindade pousasse seus pés em um mundo no qual seu poder pode ser altamente destrutivo, mesmo que esta não utilize nenhuma habilidade natural para exercer sua influência.

— Que tipo de coisas? - perguntou Êmina, o olhar apreensivo.

Charlie erguera a cabeça, sem esconder seu temor diante daquela possibilidade aterradora.

— Seres de outras dimensões... outros universos paralelos a este. Seria um verdadeiro pandemônio, um desequilíbrio total entre vários mundos cujas criaturas não podem cruzar certas fronteiras espaço-temporais.

— Olha... - dizia Lester, coçando a cabeça, confuso. - Não vamos encher mais nossas cabeças com esse papo de físico. Se lembra do que fazer, né?

— Gravei cada palavra que disse, Lester. - disse Charlie, assentindo.

A mensagem havia sido plenamente clara: O mago do tempo precisaria sobressair-se da missão, indo direta e furtivamente até a outra extremidade da série de morros altos em torno das ruínas. Tudo isso a fim de se deparar com Mollock, mas, obviamente, escondido. Um sinalizador lhe fora entregue para que emitisse um alerta apenas quando estivesse lá: Ou de que pudesse estar em apuros ou de que conseguira marcar Mollock com o selo de separação. Ao percorrer alguns poucos metros morro acima, a prioridade era manter Charlie fora de vista, uma ocultação que deveria se fazer eficiente. Sendo assim, isto facilitaria sua "fuga". A Legião tinha o dever de distraí-los enquanto o jovem físico percorria aqueles tortuosos caminhos.

Michael descera o morro sem se queixar das pedras irregulares e fáceis de fazer alguém cair ou tropeçar. O Grão-Mestre aspirava um ar soberbo, o qual esperava soltar bem nas faces de seus algozes para que morressem sufocados com aquele ar venenoso. Acompanhado de dois de seus subordinados assassinos, ele fizera questão de baixar o capuz... ao fitar com uma empolgação assustadora aquele grupo que se aproximava.

Ele estacara em um ponto, a poucos metros de onde os heróis haviam parado. Erguera as palmas das mãos levemente com um sorriso cínico.

— Bem, meus amigos, devo dizer que chegaram ao limite. - relanceou seus homens posicionados e armados em todos os lados. Assentiu discretamente para um deles.

Todas aquelas metralhadoras potentes passaram a alvejar os aventureiros. Nenhum deles sequer olharam para os canos daquelas armas apontados para suas cabeças. A atitude denotou que tal ação foi previsível.

Michael franziu o cenho, incrédulo.

— Ora ora... estou impressionado. - disse ele, irônico. - Continuam firmes e fortes, inalteráveis. - olhou para cada um deles com escárnio.

Hector subiu uma pedra o encarando friamente.

— Pode-se dizer que já esperávamos que agissem assim. Não seríamos tolos a ponto de levantarmos os braços em rendição.

— No seu lugar, eu não ousaria dar mais um passo. - ameaçou Michael, a expressão austera. - Vou sugerir a vocês uma escolha bem prudente, talvez a única opção: Dar a meia-volta e retornarem para suas casas se quiserem viver.

— Sem chance. - retrucou Rosie, lançando-lhe um olhar rebelde. - Não voltamos pra casa sem antes acabarmos com todos vocês, além de Mollock, é claro.

— É isso aí. - disse Lester, deixando sua AK-47 à mostra, pondo-se ao lado de Rosie. - A festa de vocês termina quando a nossa começa. Mas não vão ser os palhaços que vão rir por último.

— Veja bem como fala. - redarguiu Michael, curvando o rosto para fitar Lester. - Isto aqui passa longe de ser uma festa. É uma cerimônia de reverência. Uma demonstração de nosso louvor e proteção de nossa causa maior.

— Estou vendo. - disse Adam, com um sorriso sarcástico, olhando em volta. - Abamanu deve estar bastante orgulhoso de homens segurando armas pesadas e vestindo roupas com... - ele parara no meio da frase, a expressão mudando drasticamente. - Mas o que... - apertou os olhos para ver melhor as túnicas vermelhas dos assassinos.

Hector também reparou no mesmo instante, igualmente estupefato. "Símbolos gravados nos mantos!?".

As túnicas dos homens, especificamente na parte central, estampavam imagens conhecidas. Demoraram a perceber devido ao nervosismo crescente. Algumas túnicas apresentavam luas minguantes, outras crescentes, cheias e novas gravadas com um contorno negro. Michael reprimiu um riso ao perceber a embasbacação dos dois caçadores.

— Como podem ver... estes homens se curvaram aos seus destinos, sacrificando suas antigas vidas para abraçarem nossa causa. - "Estou sendo generoso com você, Hector. Só estou esperando o momento certo para que a verdade apareça. E ela sairá de minha boca.".

Rosie também olhava para aquilo, imaginando o pior.

— O que você fez? - perguntou ela, ríspida.

De repente, uma voz diferente saiu por detrás de Michael... revelando, logo, uma figura jovem, de cabelos loiros bem penteados e partidos.

— Eles sofreram a modificação necessária. A transformação para o esclarecimento. - disse Dwayne, empertigado.

— E o que incluiu tal esclarecimento? - indagou Hector, desconfiado.

— Nada demais! - gritou uma voz grossa e rude do outro lado. - Só um ferro em brasas nos nossos peitos que doía pra cacete! - disse a voz estrondosa do assassino.

"Marcação a fogo!", pensou Hector, exasperado com a revelação. "Isso... isso remete a uma técnica radical utilizada pela Igreja Católica no período das Cruzadas! Marcavam aqueles declarados inimigos de Deus com ferros em brasas como forma de expiação dos pecados! Michael, você não passa de um monstro, um demônio!". O caçador rangera os dentes, enraivecido diante daquilo.

— Como você pôde?! - questionou Hector, vociferando. - Por mais que estes homens não passem de almas ardilosas não mereciam se tornar parte das suas loucuras!

— Hector! - disse Rosie, virando-se para ele. - Vai ter pena deles agora? Eles aceitaram esse destino, então mereceram o que tiveram. É fácil de assumir isso só pelo fato de estamos sob a mira de armas!

— Veja só, a filha do herege finalmente despertou sua coragem para este momento. - provocou Michael.

— Pensando bem... - disse Rosie, olhando para ele. - ... também vim para virar o jogo entre mim e você.

— Uma vez fugitiva do sacrifício, sempre fadada a ser perseguida... para enfim ser sacrificada!  - disse ele, arregalando os olhos e erguendo um punho fechado.

Adam deu um passo à frente, protetor.

— Toque um fio de cabelo de Rosie e vai se arrepender antes que perceba!

— Ameacem o quanto podem. - disse Michael, olhando-os com desdém. - Vocês chegaram ao fim da linha! Daqui não passam. Nossa frente, além de mais numerosa, é ainda mais poderosa com armamentos.

— Eles possuem conhecimentos alquímicos, por exemplo? - perguntou Êmina, claramente despreocupada com relação a evidente vantagem do exército.

— Quem precisa de alquimia quando se tem um vasto exército lutando por um ideal. Lutando por adoração e, sobretudo, fé. - afirmou Michael, pondo a mão no peito, convicto. O emblema no centro de sua túnica era o de uma lua maior e de um vermelho escuro... a lua de sangue.

— Diz isso por que não precisa sujar as mãos contra nós. - disse Alexia, avançando, corajosamente, entre Êmina e Adam, clocando-se lado a lado entre Rosie e Hector. - Admita logo de uma vez: É a mim que você quer. - cravou seus azulados olhos em Michael.

— Alexia... - disse Êmina, olhando-a preocupada. - Não é uma boa hora...

— Está tudo bem, pessoal. - disse ela, confiante. - Me disponho, por livre e espontânea vontade, a me entregar as mãos dele.

Todos se sobressaltaram, alarmados como se tivessem sido atingidos por um raio e passaram a fita-la abismados como se a vidente tivesse ficado louca.

Michael, por outro lado, deu um sorriso de satisfação. "A profetisa simplesmente vai abrir mão de sua resistência?! Não imaginava que fosse ser tão fácil.".

— Alexia, não faça isso! - alertou Rosie, desesperada, tocando em sua mão. - O que você espera que aconteça fazendo uma coisa dessas?

Hector também aconselhara-a.

— Por favor, Alexia, por mais especial que seja para Abamanu, não deve se sentir obrigada a se arriscar desse jeito. - avisou o caçador, sério.

— Ouviram a profetisa, ela já decidiu de qual lado está. - proferiu Michael, sorrindo ardilosamente.

— Não confunda as coisas! - explodiu Alexia, para o espanto dos outros. - Eu me dispus porque foi a única saída que encontrei para evitar um desastre. Sou eu em troca da passagem dos meus amigos.

— O quê!? - assustou-se Adam, virando-se para ela. - Alexia, não vamos entrega-la!

Michael pigarreou, interrompendo.

— Esqueceu de perguntar se eu aceitaria.

— E nem precisa. - disparou a vidente, fazendo que não com a cabeça. - Já vejo a resposta nos seus olhos demoníacos. Acredita que Abamanu me queira para fazer de mim o que bem entender só por eu ser sua profetisa neste mundo que ele escolheu para iniciar seu novo reinado. Ainda custo a aceitar como pode ser tão cego... mas se é assim que deve ser, então assim será. - afirmou ela, com ar decidido.

Michael respirou fundo, prevendo as possibilidades e as implicações caso for flexível àquele plano. Soltara lentamente o ar dos pulmões sem desgrudar os olhos de Alexia.

— Não pensem que sou tão ingênuo. - disse ele, o tom torando-se grave. - Não vou ceder. Vocês tem um trunfo, é claro que não vieram aqui sem bolar um estratagema.

— O que o faz pensar nisso? - perguntou Alexia, a voz ficando um tanto trêmula. "Essa não, Charlie.".

O Grão-Mestre dera uma risadinha.

— O nosso ex-informante revelou os nomes de cada um de vocês. - inclinou a cabeça para um lado, espiando por detrás de Adam e Êmina. - São sete, ao todo. Estão presentes somente seis. - olhou para cada um deles desafiador. - Onde está o mago do tempo?

A pergunta fez Alexia sentir um calafrio tremendo percorrer-lhe o corpo inteiro. Hector e Rosie estremeceram, eriçados. O trio da Legião de Caçadores fora pego desprevenido, passando a olhar Michael com mais revolta.

— Muito bem, pelo visto eu consegui faze-los reféns esta noite. - disse ele, sorrindo presunçosamente. - Eis a condição: A profetisa se entrega, mas para deixa-los passar terão que me dizer onde está o mago do tempo. Aliás, para qual direção ele foi. - avisou, o tom autoritário.

Rosie, Hector, Alexia e Adam se entreolharam nervosos. "Esse maldito é mais esperto do que pensávamos!", pensou o corpulento caçador, possesso de aflição. Lester recuou alguns passos, descendo alguns "degraus" da pedra do morro, alerta e empunhando o fuzil. Um longo silêncio arrebatador se fez naquele espaço, deixando como som ativo apenas o ressoar da gélida brisa noturna.

Justamente, a pessoa mais improvável quebrara o emudecimento sufocante.

Êmina estourara de impaciência. Resistiu até o seu limite. "Acho que bati meu recorde do ano.". A caçadora pôs uma mão na pedra atrás dela, o olhar faiscando.

— Foi mal fanático, mas não essa condição não vai rolar! - disse ela firmemente pressionando sua mão contra a pedra... especificamente num círculo de transmutação desenhado alguns minutos atrás. - Digamos que estamos com um pouco de pressa. - sorrira, por fim, quando uma luz azulada brilhou atrás de seu braço esquerdo.

Pegando os assassinos de surpresa e desatentos, a pedra se materializara, alquimicamente, em um enorme punho rochoso cerrado. Um deles gritou de horror aterrorizado com o gigante braço de pedra que emergiu contra seus companheiros. Os atingidos, de imediato, atiraram contra o "soco pedregoso", mas foram rapidamente acertados e arremessados morro abaixo com as metralhadoras disparando contra o ar. Aproveitando aquela primorosa deixa, Adam, Hector e Êmina finalmente sacaram suas armas. Os Red Wolfs investiram com violência, muitos deles pulando as rochas do morro e atirando a esmo por todos os lados, eufóricos e ensandecidos.

— Minguante, Nova, Cheia, Crescente: Avancem! - ordenara Michael aos berros correndo para se esconder.

Hector se esquivara de inúmeros tiros girando o corpo diversas vezes por entre as rochas, focando-se em Michael, que naquele instante descia um parte perigosa do morro às pressas. Atirou com suas pistolas, estando escondido, em três assassinos e em seguida correra no meio do fogo cruzado atrás do Grão-mestre usando as altas rochas como escudo. Sentira Rosie o seguindo.

No entanto, a jovem se viu parada por dois pesos que a interceptaram. Dois corpos pularam em cima dela, fazendo-a cair no chão. Num movimento veloz, Rosie usou duas adagas para perfurar os rostos dos homens, acertando-os nos olhos de ambos lados. Gritaram de dor. A jovem se levantou e chutou as duas metralhadoras das mãos dos malfeitores. Outro irrompeu por uma brecha entre duas rochas atirando desesperadamente e gritando.

Rosie se esquivou das balas com rapidez pulando por várias rochas com a ponta dos pés até acertar, com um chute, o rosto do homem insano que tentara mata-la. Outro Red Wolf veio por trás carregando a arma e ela sentiu o gelado cano bem na sua nuca.

Paralisada, não visualizou outra escolha... a não ser puxar, discretamente, uma adaga de seu cinto. Numa fração de segundos, girando o corpo para ficar de frente ao homem, Rosie lançara a adaga contra o rosto dele atingindo sua testa. A metralhadora, contudo, não disparou. Não estava totalmente destravada. Caíra no chão, a testa jorrando sangue.

— Hector!! - gritara ela, voltando a correr na direção em que o caçador havia seguido.

Adam e Alexia corriam em disparada sem parada para reaver fôlego. Estavam em um ponto menos íngreme do morro, passando por várias e várias rochas espalhadas e próximas demais umas das outras, sem um rumo definido. O caçador, no instante em que o "alarme" foi soado, pegara o corpo de Alexia e o colara ao seu enquanto disparava com sua pistola de 90mm em vários Red Wolf,s que revidavam com toda a vontade.

Por sorte, nenhuma bala os atingiu e, agora, estavam escapando, desesperados. "Preciso melhorar minha mira, só consegui acertar uns três!", pensou, insatisfeito. Mais tiros foram dados nas rochas próximas á eles. Ouviam passos apressados perseguindo-os. Alexia sentia-se em um apertado labirinto de pedras interminável. O pânico estava estampado em sua face e seu coração aparentava querer ser vomitado.

Adam, de repente, estacou, encostando-se numa rocha, segurando Alexia pela cintura. Pôs o indicador nos lábios pedindo silêncio.

— Shhh. - esgueirou os olhos pela lateral da pedra, a arma em riste.

"Ele deveria estar olhando para todos os lados!", pensou Alexia, aflita e ofegante. "Não tem como saber de onde eles vão vir! Foi um erro termos vindo direto pra cá!".

— Adam... - gaguejou ela, sussurrando.

De repente, tiros inesperados atingiram a lateral por onde o caçador olhava. Adam escondeu o rosto no exato momento e voltou a correr, agora enveredando por outro caminho. Na metade do "labirinto" deparou-se com dois Red Wolfs pulando as rochas mais altas, atirando a esmo. Pôs Alexia por trás empurrando-a e sacou, com enorme força de vontade, suas duas metralhadoras. "Hora de usar estas meninas malvadas!". Atirou por todos os lados, derrubando-os facilmente. Mais quatro vieram pela sua direita, prontos para disparar.

Sendo mais rápido, Adam dera um pulo para um lado e, em câmera lenta, mirou as duas armas nos quatro indivíduos, logo atirando sem se preocupar com a quantidade de munição gasta. Seus ombros chocaram-se contra o chão com violência e ele deslizou fazendo poeira. Os assassinos haviam revidado, mas caído na mesma hora, manchando as pedras com seus sangues.

Alexia correra até ele, alarmada de preocupação. Seu desespero só aumentou assim que enxergou um tom de vermelho na camisa branca do caçador.

— Adam! - gritou ela, ajoelhando-se para ajuda-lo. - Você... está sangrando! - exclamou, visualizando a ferida na lateral do corpo de Adam.

— Tudo bem, Alexia, tudo bem, não foi nada demais!- disse ele, tentando se levantar, mas gemendo de dor. - Eu... Argh! - cerrou os dentes e os olhos, não aguentando.

— Ai meu deus... - afligiu-se ela, olhando para todos os lados. - E agora? O que eu faço? Se vir mais deles...

— Pressione! - disse ele, interrompendo-a. - Com as duas mãos...

— Ah sim! Estancar a hemorragia! - percebeu Alexia, logo pondo as duas mãos contra a ferida aberta com o máximo de cautela. - Fica calmo.

— Olha quem fala. - disse ele, rindo apesar da dor insuportável que sentia. - Você aí desesperada e me pedindo pra ficar calmo?

— Cale-se. - pediu ela, com mais seriedade agora. - Tenho que terminar isso logo... podem nos achar.

— Fique tranquila. - garantiu Adam, olhando rapidamente para os lados. - Ao que parece... Lester e Êmina estão cuidando da maior parte deles sem problemas. - podia ouvir com clareza os abafados ruídos das transmutações de Êmina ocorrendo em sequências nunca antes feitas.

— Como você sabe?

— Não escuto mais passos na nossa direção. E os tiros estão bem distantes. - ele arfava constantemente. - Está indo bem, continue. Se Rosie e Hector, ou Êmina e Lester, conseguirem atraí-los para longe, vamos ganhar tempo para ficarmos em segurança por enquanto.

— Mas e Charlie? Como acha que ele está se saindo? - perguntou Alexia, não escondendo suas más expectativas para a árdua e perigosa missão do rapaz.

Adam sorriu timidamente para ela.

— Confio na esperteza dele. Ele vai conseguir. - disse ele, esperançoso.

                                                                                   ***

O topo parecia se afastar à medida que se subia com mais dificuldade ainda por aquele morro. Charlie sentia seu corpo inclinar-se para trás vertiginosamente, uma dor em sua coluna lhe impedindo de continuar a quase escalada. "Esse esforço precisa valer a pena.". Segurava nas pedras irregulares que se sucediam ao passo em que ia subindo mais depressa. "Não olhe para baixo". A arma secreta abrigava-se em um dos bolsos de sua calça marrom. Teve a impressão de senti-lo brilhar por uns instantes, como se tivesse ganhado vida própria e querendo alcançar de uma vez por todas o seu alvo.

O suor que antes eram só gotículas ínfimas agora derramava-se pelo rosto e corpo em demasia. Aquele, definitivamente, era o conjunto de morros mais sofrível de se subir. Se queixava da lentidão a cada dois minutos. "Mollock pode estar a vários quilômetros de distância do templo... mas ainda assim é altamente perigoso relaxar e se desatentar.", pensou ele, olhando fixamente para o topo.

Enfim, chegara. Suas mãos sujas de terra úmida finalmente haviam tocado o rochoso topo do morro. Deixara apenas metade do corpo visível, o vento frio soprando por seu cabelo castanho. Sentiu calafrios instantâneos. Semi-cerrou os olhos na tentativa de enxergar à distância algum ponto "estranho". Tudo o que viu foram apenas pilares e blocos de mármore cinza espalhados por toda parte. Sem sucesso, pegara o binóculo para visualizar melhor todos os cantos de seu campo de visão.

Ficara embasbacado com o que assistia. "Mas o que... O que houve, afinal?", pensou ele, sem entender.

"Mollock... está sozinho!?". Aparentemente, o rei dispensara seu exército por tempo indeterminado e não se sabia para onde.

"Isso não é nada bom.". Baixou o binóculo e voltou a encarar o "deserto".

O Templo de Mitra ainda estava a implacável distância, tendo somente sua silhueta à vista e um tanto disforme daquele ponto de onde Charlie estava. "É óbvio que ele está muito longe, mas... Duas coisas me intrigam: Por que ele decidiu caminhar sem seu exército? E por que está andando tão tranquilo como se nada fosse o impedir?". Franzira o cenho, desconfiado.

"Alerte-se, Charlie.", disse a si mesmo. "Uma emboscada pode ter sido armada de última hora.".

Descera cautelosamente a parte íngreme do morro, sem produzir um único ruído.

                                                                                     ***

A desesperada correria de Hector por aquela trilha estreita e "emparedada" por rochas, que tornavam-se mais altas a cada passo, parecia não ter fim. "Michael, seu maldito, onde você se enfiou?!". A pulsação acelerada aliada à profunda raiva do ex-amigo colocava seu sangue em constante ebulição, o coração bombeando como se alguém estivesse batendo um tambor. Ao sair por uma abertura mais espaçosa por entre as pedras, olhou para ambos os lados... afastou os lisos cabelos da testa com as duas mãos, preocupado com a possibilidade de estar preso em uma armadilha ou ter perdido Michael de vista definitivamente. Seu semblante era de tensão genuína.

Contudo, uma sensação o fez acalmar seus nervos. Uma concentração sem tamanho capacitou seus ouvidos de modo a faze-lo focar-se em somente um elemento: o farfalhar incessante de uma vestimenta a quilômetros dali... constatando não estar tão distante como se percebia sem aquela sensação repentina... "Michael? Espera... Estou ouvindo seus passos... mas...", pensou o caçador, confuso por se sentir daquela forma. Ao que tudo indicava, fora acometido por uma espécie de audição a longo alcance que surgira sem aviso e o espantara de imediato.

Obedecendo ao instinto, o caçador correra na direção pela qual seus ouvidos indicavam, seguindo o barulho. A surpresa havia dado lugar a uma rápida adaptação àquele sentido aprimorado. Agora estava correndo mais velozmente do que o normal, praticamente facilitando-o a saltar alguns metros. No entanto, ignorou tal proeza, deixando sua mente e atenção serem preenchidas pela figura odiosa de Michael.

                                                                                      ***

Michael tropeçara em um pequena pedra ao se desatentar quando olhara para trás. "Merda!", pensou, enquanto caía no chão.

Rolou por duas vezes no solo arejado. Os ruídos de tiros ainda ecoavam baixinho pelo espaço, longínquos, beirando ao inaudível. Se levantara, tirando a areia fina ao limpar sua túnica.

"Parece que me encontro fora da zona de perigo.". Segundos depois, tal pensamento se tornara um frustrante e ledo engano.

A sola de uma bota preta veio de encontro ao seu rosto, bem na sua bochecha. Um chute dado com extrema precisão que o fizera sair do chão e voar alguns poucos metros, quase batendo a cabeça numa rocha. O corpo de Michael se retesou e ele pôde, rapidamente, ver o responsável pelo golpe que o pegou despreparado. "Maldição!"

A silhueta de um homem alto, moderadamente truculento e com um sobretudo fazia-se reluzir à luz do luar dando-lhe um aspecto quase fantasmagórico. Estava parado diante dele... não se via seus olhos com clareza, mas Michael sentiu que fumegavam de ódio.

O Grã-Mestre se levantou e deu alguns poucos passos à frente, cambaleando. Sorriu cinicamente ao ver o semblante enraivecido de Hector.

— Nós dois somos fugitivos, meu velho amigo. - disse Michael.

— Não... - disse Hector, se aproximando com ameaça - ... me chame... de amigo! - vociferou, logo avançando contra Michael o pegando pela túnica com as duas mãos e o jogando contra o chão com violência.

Michael desatou a rir com escárnio.

— E eu que pensava que resolveríamos isto como adultos, como estou decepcionado! - zombou ele, se levantando. Virou o rosto para Hector convertendo sua expressão em seriedade. - Acha que vai escapar do destino cruel que lhe foi reservado?

— Não faço a menor ideia do que está dizendo. - disse Hector, tentando impor uma calma impossível a si mesmo, logo desferindo um potente soco em Michael.

O caçador tentou novamente ataca-lo, mas o Grão-Mestre se defendera com o antebraço, "prendendo" o do outro. Ambos trocaram olhares enfezados, competitivos.

Michael aproveitara a chance e revidou com um soco e, em seguida, um chute no abdômen de Hector. Uma joelhada no queixo do caçador quase quebrara os ossos de ambos. Depois, Michael agarrara seus cabelos e o conduziu até uma rocha, colocando suas costas contra ela.

Tentou apertar o pescoço de Hector, intencionando estrangula-lo. O caçador rangeu os dentes e se debateu tentando se desvencilhar.

De sua manga direita saíra uma faca com um cabo dourado e que logo apontara para Hector, ameaçando perfurar um de seus olhos.

O caçador mal conseguia respirar com aquela pesada mão quase o enforcando. Balbuciava palavras ininteligíveis enquanto fitava o algoz com fúria extrema, as veias de sua testa em relevo e quase saltando para fora. Michael, por outro lado, sorriu de modo presunçoso.

— Naquele momento eu estava sendo complacente demais com você, Hector! Agora sentirá a verdadeira dor por ter nos traído! - esbravejou ele, a ponta da faca brilhando ameaçadora. - Os seus amigos... eles tem o direito de saber! Você seria libertado da mentira saindo ileso da situação, mas agora vejo que você merece ser torturado pela verdade. O passado em que você viveu guardando seu segredo irá atormenta-lo para sempre! - vociferou Michael, apertando o pescoço de Hector com mais força.

No exato instante em que o Grão-Mestre inclinava a lâmina diretamente para o olho esquerdo de Hector, pronto para dilacerar o tecido ocular... o caçador, por frações de segundos, ouvira um zumbido que aumentava de volume até tornar-se ensurdecedor. Ao invés de queixar-se da dor lancinante em seus tímpanos, ele sorrira por ter ciência do que realmente era. Repentinamente, um risco brilhante cortou o ar velozmente, atingindo a adaga de Michael soltando-a de suas mãos. O Grã-Mestre logo se afastara dando um rápido grito de susto, sacudindo, freneticamente, a mão direita dormente, como se tivesse levado um choque elétrico.

A adaga cravou com barulho numa rocha. Já a outra... cravara-se no chão e passou a ser reconhecida por Hector logo quando o mesmo virou o rosto, livre do estrangulamento, para a sua direita. Sorriu discretamente e voltou-se para o outro lado... visualizando uma figura voluptuosa e feminina se aproximar com determinação.

Michael grunhira de raiva, fuzilando Rosie com o olhar.

— Chegou em boa hora, filha do herege. - provocou ele, relanceando Hector e recuando lentamente. -Permita-me elogia-la pela precisão para lançar objetos cortantes, confesso que estou surpreso.

— Guarde os elogios para si mesmo, não precisa admira-la, apenas senti-la. - redarguiu Rosie, caminhando em direção à ele, desafiante.

— Quem a ensinou este truque? Hector? - perguntou, olhando para Hector novamente. - Eu iria fazer um favor à você.

— Ah, é mesmo? - indagou Rosie, soando irônica. - O quê, afinal? Mata-lo a sangue frio? Acha que isso aliviaria a minha dor ou o seu ódio? - perguntara ela, o tom de voz ríspido.

Michael dera uma risada espalhafatosa e assustadora. Hector o olhou horrorizado, como se o ex-amigo houvesse perdido a sanidade.

— Você realmente é tão ingênua assim?! - zombara ele, sorrindo maliciosamente. - Se tenho os recursos para fazer Hector pagar pelo que fez, com certeza eu não pensaria na sua frustração. Afinal de contas, fazendo isso eu estaria me opondo aos preceitos da irmandade. Eu o mataria pela minha própria satisfação. - passou a fita-la incisivamente. - Você, claramente, perdoou a traição como se não tivesse sentido nada. Ninguém sai sem se ferir após uma traição. Ela pode vir de quem você menos espera e todos os outros sofrem as consequências! Então, pare de fingir que não está ressentida e admita que se sente como uma marionete manipulada durante todo...

— Cala a boca!! - explodiu Hector, avançando contra ele exalando uma fúria incomum.

Michael aproveitara que estava próximo o suficiente da rocha onde estava cravada a adaga, e a pegara de volta em um rápido movimento ao atacar Hector. O caçador se defendera segurando a lâmina, sentindo o extremo fio de corte atravessar a palma de sua mão. Dera uma cabeçada contra o nariz de Michael, fazendo-o soltar a arma e cair no chão. Hector chutara-a para longe, mas, nesse breve tempo, Michael abraçou a deixa e prendeu as pernas do caçador usando as suas. Praticamente perdendo o equilíbrio, Hector sentiu que seria derrubado com um golpe, os ligamentos de seus joelhos e canelas ficando doloridos tamanha era a força aplicada. Rosie pegara a adaga e a cravara na perna direita de Michael.

Se libertando, Hector tapou os ouvidos devido ao urro de dor do Grão-Mestre. "Mas o que está havendo? É como se uma infinidade de sons... estivesse me matando aos poucos!", pensou ele, pressionando as mãos contras as orelhas não suportando a dor.

Michael se apoiou numa rocha tentando se levantar. Ao se ajoelhar, sentiu o grosso bico da bota de Rosie acertar seu queixo brutalmente. Se vendo novamente caído, ele arfou quase sem fôlego.

Rosie viu que ele insistia em se reerguer. Como medida desesperada, chutou uma boa quantidade de areia fina diretamente nos olhos de Michael. O homem gritara novamente com as mãos no rosto.

— Sua maldita! Vadia! Aaaaaahhh!!! - berrou ele, se contorcendo de ardência nos olhos.

Rosie se pusera acima dele, apertando seu tórax com os joelhos e prendendo seus braços com as mãos utilizando toda a força que acumulara em seus músculos. Mordia os lábios constantemente, tentando faze-lo ficar parado. "Anda! Fique quieto, seu idiota!".

Hector assistia à cena com angústia nos olhos. "Rosie... O que pretende?", pensou, temeroso com a possibilidade da jovem tentar mata-lo. A dor havia sumido de instantâneo e ele se aproximou lentamente.

Michael aquietara-se, com os olhos fechados e respirando pesadamente.

— Vamos, ande logo com isso! Me mate!

— Não. - disse ela, com frieza na voz. - Primeiro vai nos dizer para qual direção Mollock foi.

— Eu possuo a autoridade máxima aqui, por enquanto. - disse Michael, gabando-se. - Portanto, vocês primeiro: Onde estão a profetisa e o mago do tempo?

Torturando-o, Rosie pressionara ainda mais seus joelhos contra o torso do Grã-Mestre, que respondeu com um gemido fraco em resistência.

— Vai precisar mais do que isso... se quiser obter a informação que deseja. - rangera os dentes, apertando os olhos fechados. - Você perdoou Hector. Como pôde?

— Eu não o perdoei. - respondeu Rosie, franzindo o cenho. - Só estamos unidos agora por termos um objetivo em comum. Vamos seguir nossas vidas separados como se nunca tivéssemos nos conhecido, isso depois de impedirmos Mollock...

— Vocês impedirem!? - questionou Michael, com incredulidade na voz. - Fujam daqui e vão se tratar em um sanatório porque estão precisando! O pupilo de nosso senhor é imbatível. - "Apesar de descaradamente ter me enganado!".

Hector chegara até ambos, interveniente.

— Diz o homem que perdeu seu exército em combate.

— O quê? - disse Michael, virando o rosto na direção da voz do caçador. - Não diga besteiras!

— Sim, é verdade, Michael. - afirmou Hector, com firmeza. - Seus homens caíram. Não ouço mais tiros. Talvez restaram poucos e tiveram suas armas neutralizadas.

— Chega de enrolar. - disse Rosie, denotando impaciência. - Para qual direção Mollock foi?

Embora incapacitado de movimentar os membros superiores e inferiores, Michael acenou rapidamente com o indicador esquerdo, apontando para a direção. Rosie seguiu com os olhos o caminho apresentado. O morro subia mais alguns metros.

— Muito bem. Obrigada pela cooperação. - disse Rosie, se preparando para se levantar.

No entanto, Hector a repreendera, demonstrando que o interrogatório ainda não havia encerrado-se.

— O filho de Robert Loub... Onde ele está? - perguntou Hector, severo, se agachando ao lado dele.

— Max se foi. - disparou Michael, com pressa.

— O quê!? - exclamaram Rosie Hector em uníssono, as expressões de espanto.

— Sim, ele morreu... merecia morrer por sua insurgência.

— Você o matou? - perguntou Hector, revoltado.

— Não. - disse Michael, dando uma risadinha. - Um Mestre jamais suja suas mãos com sangue impuro. Dwayne fez isso por mim, discretamente.

"Dwayne Nevill!", pensou Hector, estupefato. "Então... o filho de Loub era contrário às ideologias dos Red Wolfs. Talvez Mollock tenha revelado à Michael sobre a morte de Loub... cometida por mim. Sim, isto é certo, e Michael repassou para Max que, de alguma forma, se rebelou e acabou vítima de uma armadilha.".

— Ele sabe o nome do assassino de seu pai. - dizia Michael, sentindo a presença de Hector. - Só foi uma pena ão feito o retrato falado do sujeito... Mas o que ele ouviu foi o suficiente.

Rosie voltou-se para Hector lentamente, até encara-lo. Virou-se para Michael em seguida.

— Como Dwayne o matou? - perguntou ela, apertando cada vez mais forte os braços do Grã-Mestre.

— Muito simples. Uma pequena passagem por Max, depois um afago no ombro... com um "Ferrão de Vespa" penetrado na veia atravessando o tecido do manto. - contou Michael, com certo orgulho.

Rosie fizera cara de confusa ao olhar para Hector.

— Ferrão de Vespa? Mas o veneno da vespa não é neutralizado quando se tira o ferrão dela? - perguntou a jovem, olhando para ambos.

— É verdade. - confirmou Hector. - Mas não é desse ferrão que Michael está falando. Ele se refere a uma antiga forma das bruxas do século XIX em liquidar seus alvos sem estardalhaço.

O denominado "Ferrão de Vespa" era uma arma letalmente implacável para quem quisesse se livrar de um inimigo sem quaisquer grandes esforços. Uma garra, semelhante a uma de uma águia, folheada a ouro, cuja ponta possuía um diminuto furo de onde saía o líquido venenoso para ser injetado na corrente sanguínea. Cabia perfeitamente no dedo indicador e não levantaria suspeitas pelos mais leigos, já que tal artefato mortífero e sua utilidade somente eram discutidos em reuniões secretas de Covens de bruxas espalhados em toda a Europa. Quando adquiriu o Goétia, Michael brincara consigo mesmo ao dizer que o "Ferrão de vespa" viera-lhe de brinde em das páginas. Comprara-o de uma velha vendedora, obviamente veterana no maior e mais longevo Coven de todo o país.

Rosie escutava com atenção o breve resumo de Hector sobre o tal objeto. Voltou-se para Michael, encarando-o com ojeriza.

— Você planejou isso, não foi?

— Mais uma pergunta desnecessária para faze-los perder tempo. - disse Michael, querendo abrir os olhos. - É melhor irem logo, mas quero que saibam de um coisa: Quando estive perto do pupilo senti uma tremenda energia irradiando pelo espaço... não era visível, mas era incomum... poderosa e bestial. Ele está perto, meus amigos, muito perto de conquistar a ascensão.

Rosie e Hector entreolharam-se bastante sérios.

— Sei muito bem - prosseguiu Michael. - que o seu mago do tempo é a carta coringa de vocês. - ele rira com zombaria. - Posso garanti-los de que nada do que tentem irá funcionar. O poder que ele emana só irá aumentar exponencialmente quando nosso senhor, Abamanu, se apoderar de seu corpo. - fez uma pausa, inspirando - E quando a profecia se cumprir por definitivo... eu vou aplaudir de pé, mesmo que sem meus irmãos ao meu lado, a decadência de vocês... resumida a corpos caídos no chão!

Em um ato de pura segurança, Rosie socara o rosto de Michael, fazendo-o, no mesmo instante, perder a consciência.

A jovem, visivelmente exausta, levantara-se fitando o corpo desmaiado do Grão-Mestre. Hector a olhara impressionando, arqueando as sobrancelhas.

— Desde quando sabe dar socos para deixar vítimas inconscientes?

— Desde que Êmina me treinou, há dois meses. - respondeu ela, baixando o capuz para passar as mãos pelos cabelos pretos lisos e ondulados. - Chega de conversa, temos que ir. - pôs novamente o manto sobre a cabeça e correra até a subida ao morro.

Hector relanceou por um segundo o corpo de Michael caído e acompanhar Rosie também correndo em disparada. Ambos irrompiam por entre as rochas em uma frenética corrida para chegar até Mollock.

CONTINUA... 


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