Inteligente. Talentosa. Bem-sucedida. Independente. Corajosa. Honesta. Bondosa. Organizada. Altruísta. Responsável. Bonita. Uma bruxa poderosa. É, já ouviu todas estas coisas e muito mais, das mais variadas pessoas e principalmente em revistas de fofocas e jornais pelo mundo bruxo. Quem a visse ali, jantando em um restaurante trouxa qualquer com ninguém menos que Viktor Krum depois de um dia exaustivo de trabalho e duas semanas após o noivado de Harry, não se surpreenderia, na verdade as pessoas se dariam por satisfeitas. Krum não é nada mais do que esperam dela, que com todo o talento que há sobre si tomam como obrigação ela ter que se relacionar com alguém famoso ou tão talentoso quanto.

E enquanto ela ouvia Viktor tagarelar contando um pouco da sua vida nos últimos anos ela permitiu deixar sua mente vagar. A verdade é que enquanto ela pensava essas coisas, ela se sentia confortável ali. Se sentia segura, confiante, tranquila e confortável. Era exatamente isso que esperavam dela. Só que a cada minuto que ela usava de sua boa educação e um tiquinho de formalidade com Krum, ia se sentindo menos ela.

Se amaldiçoou mentalmente por estar pensando no ruivo dos seus sonhos enquanto estava com Viktor, mas era inevitável. Com Ron tudo era incerto, inseguro, intenso e caótico. Ela ia do mar de rosas a beira do precipício, vivia entre o céu e o inferno, entre fazer sexo quente e amor calmo. Deus, sentia falta de sexo. O ruivo que a tirava do chão, conseguia deixa-la de pernas bambas e arrancar de si os piores sentimentos, ira, ódio, inveja, ciúme. Só que infelizmente, era assim, se sentindo uma completa adolescente instável, que ela se sentia mais ela, mais próxima de sua essência, mais viva.

— Hermioni, tudo bem? – o moreno a tirou de seus devaneios e ela sorriu, se forçando a se concentrar nele.

— Tudo sim, desculpe, me distrai um pouco, estou cansada.

— Não tem problema, então, o que fazia até tão tarde no trabalho? – Até o momento eles haviam conversado por banalidades com momentos de silencio, nada desagradável, mas era como se estivessem voltando a ser eles mesmos.

— Bom, o antigo chefe do departamento deixou tudo uma bagunça, estou tentando colocar a casa em ordem – riu sem jeito antes de admitir – Mas está mais difícil do que eu pensei.

— Tenho certeza que vai conseguir – o moreno sorriu cortês a ela – não há nada que não possa fazer.

— Ora, isso não é verdade, eu ainda não posso jogar quadribol! – Brincou arrancando sorrisos do búlgaro.

— Estou muito feliz Hermioni – ficou sério e segurou a mãe dela que segurava a taça de vinho – sempre quis reencontra-la e acho que o destino me sorriu ao te encontrar naquele noivado e ainda por cima solteira – eles riram sem jeito e Viktor suspirou tomando coragem para perguntar algo que estava batendo em sua mente – o que aconteceu, entre você e o Weasley?

Hermione havia sido pega de surpresa, não esperava essa pergunta, chegou a abrir a boca duas vezes para responder, mas não conseguiu.

— Olha, não precisa falar nada se não quiser, eu não devia ter perguntado – a reação dela havia deixado chateado, ele tentava disfarçar, mas Hermione percebeu.

— Não, Viktor não, está tudo bem! – Agarrou a mãe dele que havia soltado a dela – Eu só, não falo disso a muito tempo – mentira – achei que você não perguntaria dele, não depois de tanto tempo – verdade, não quando estava claro pra todo mundo, que eles não estavam mais juntos.

— Me desculpe se fui inconveniente, mas eu vi os jornais, “O amor que nasce em meio à guerra” – ela fechou os olhos e abaixou a cabeça, se perguntou mentalmente quando esqueceria aquele ruivo e pararia de sentir tudo que vinha sentindo desde que voltara, talvez nunca - Me desculpe, mesmo, me desculpe, eu jamais devia ter te perguntado isso... – ele se desesperou, achando que estragou tudo quando na verdade tudo que queria era se aproximar da morena.

— Viktor, tudo bem...

— Não, eu nunca devia ter tocado no assunto, mas é que vocês foram notícia no mundo todo...

— Viktor...

— Desculpe, você quer ir embora? Acho que eu devo dar a noite por encerrada – o embaraço dele devida a reação exagerada dela era no mínimo engraçado, mas ela não estava disposta a arruinar aquele encontro por causa de lembranças do passado, mais uma vez.

— Viktor! – Algumas pessoas em volta olharam pra ela – Para com isso ta legal, ta tudo bem – sorriu para acalma-lo – eu só não gosto de falar disso, já faz mais de 5 anos, acredito que nós dois... – suspirou - Acredito que ambos estamos tentando seguir em frente.

O moreno sorriu com a resposta, nunca havia a esquecido. O jantar correu tranquilamente, Hermione se surpreendia como as coisas com Viktor pareciam ser calmas e estáveis, ela estava gostando desse novo Viktor, mais maduro, seguro e tranquilo. Um fio de esperança de que pudesse finalmente seguir em frente, mesmo com alguém do passado, surgiu em seu coração.

— Posso te acompanhar até em casa? – o jovem perguntou na saída do restaurante

— Claro, não fica longe daqui, podemos ir caminhando – respondeu com um sorriso e eles seguiram para as ruas agitadas de Londres de uma sexta feira a noite.

— Sabe Hermioni, eu estou realmente feliz em tê-la encontrado de novo, sinto em ter que ir embora essa semana, queria passar mais tempo com você...

— Bom, não tenho planos pra esse final de semana, se caso quiser fazer algo, fale comigo – ela sorriu, e ele mais ainda, pararam para aguardar os carros para atravessarem quando de repente Krum pegou a mão dela a puxando pra ele, Hermione se sobressaltou mas não o afastou.

— Eu quero que o nosso fim de semana comece essa noite – pegou o rosto dela entre as mãos – posso beijá-la? – a morena não respondeu, apenas levantou o rosto pra ele e fechou os olhos, quanto o beijo começou foi leve, com calma, mais logo quando as línguas dançaram uma com a outra, Hermione sabia, que não dormiria sozinha, o desejo falou mais alto e eles aparataram.

***

O cheiro de bacon frito e ovos a acordou, ela olhou para os lados da cama, mais estava sozinha, riu sozinha, incrédula, dormira com Viktor Krum! Deus, realmente o trabalho estava acabando com toda a sanidade dela. Se levantou e colocou a camisa dele que quase lhe pareceu um vestido e uma calcinha nova e foi até a cozinha.

— Hum, mais que homem mais talentoso – ela se debruçou no balcão da pia de frente para o moreno que sorria pra ela – você não contou pras revistas de fofocas que sabe cozinhar não né? O assédio vai ficar bem pior... – ele riu abertamente.

— Ciumes?

— Digamos que apenas estou te dando dicas com os assédios das fãs – ela piscou pra ele, enquanto o moreno terminou os ovos e desligou o fogo, deu a volta no balcão e a abraçou.

— Bom dia dorminhoca, dormiu bem?

— Maravilhosamente – e o beijou, quando o beijo ia esquentar novamente eles foram interrompidos pela campainha.

— Está esperando alguém?

— Não, que estranho isso. – ela o olhou confusa e foi até a porta a abrindo.

— Bethany?! O que faz aqui? – se surpreendeu ao ver a loira atrás da porta com uma expressão assustada e preocupada.

— Boa tarde Hermione, podemos conversar? – a morena indicou que a outra entrasse e Bethany adentrou a sala olhando todo o apartamento.

— Ron me contou que te ajudou a decorar o apartamento e a montá-lo – ela disse de forma casual, ia dizer algo quando deu com a figura de Krum sem camisa, descalço, usando apenas calça – santo Deus! – a loira não conseguiu disfarçar o susto.

— Bom dia! – o moreno se adiantou para cumprimentar a menina com um aperto de mão e ela correspondeu boquiaberta.

— Então é verdade? – ela questionou se voltando para Hermione – Vocês estão juntos?

— Não exatamente, mas como assim, é verdade?

— Olha, eu vim te avisar sobre isso – só então que Hermione viu a menina trazia um papel na mão e o entregou a Hermione, que ao abrir ficou chocada, haviam duas fotos no papel, que na verdade era o manuscrito do profeta diário, a primeira foto mostrava ela e Viktor dentro do restaurante, jantando, rindo e conversando e a segunda fez o coração dela falhar uma batida, era o beijo que eles deram na rua, não havia texto ao lado das fotos, só o título: “NOVO ROMANCE NO AR?”.

— Quem fez isso? – Falou quando conseguiu se lembrar de como falava, aquilo ia lhe dar muita dor de cabeça.

— Olha, eu não sei, tem vários repórteres que andam com maquinas fotográficas pra cima e pra baixo e assim que acham algo interessante fotografam – suspirou – não consigo saber quem foi, é meu final de semana de plantão no profeta e quando cheguei vi essa matéria, já foi enviada pra gráfica, sai amanhã Hermione, quis vim te avisar.

— Nossa, eu nem sei o que dizer, obrigada Bethany, nem sei como te agradecer – a morena falou sincera, estava realmente grata – mas porque fez isso, sei que você tem motivos suficientes pra não gostar de mim.

— Na verdade tenho mesmo. Principalmente porque Ron mudou muito depois que você voltou, mas – suspirou – eu estou tentando fazer dar certo sabe e achei que devia isso a você, porque você é amiga dos meus amigos, da minha futura família.

Hermione balançou a cabeça concordando – Obrigada, eu vou falar com o Nathan e vemos o que poderemos fazer para amenizar isso.

— Eu não consigo impedir essa publicação Hermione, mas talvez você consiga – fez-se um silencio desconfortável e Bethany achou que já estava na hora de ir embora – bom, eu já vou indo, só vim aqui pra isso, boa sorte.

— Obrigada Bethany, mesmo, pelo o menos se eu não conseguir impedir não fui pega de surpresa – ela disse a loira enquanto a acompanhava até a porta e abria pra ela, Bethany se despediu com um aceno de cabeça e Hermione se sentiu ainda mais culpada por não ter esquecido Rony. Bethany era boa e decente, alguém que seria capaz de fazê-lo feliz, pelo o menos era isso que ela esperava.

— Não deve ficar tão preocupada – o búlgaro tentou reconforta-la

— Eu sei Viktor, mas sou mulher e o mundo, bruxo ou não, ainda é machista, tenho medo do impacto que isso trará a minha carreira – disse cabisbaixa, e o moreno só a abraçou tentando acalma-la.

Depois que o búlgaro foi embora, por pedido dela, já que a notícia de que seu caso viria a público sem o consentimento dela era horrível, ela e Nathan tentaram de todas as formas fazer com que a notícia não vazasse, impossível, a única coisa que conseguiram foi, sob ameaça, fazer com que o texto fosse o menos sensacionalista possível.

O domingo chegou, com ele o jornal, não estava na capa, mas estava na parte das celebridades, Hermione nem leu o texto, menos de uma hora depois uma carta bastante irritada de Gina, que ela não respondeu, depois outra de Krum, dizendo a ela que não se preocupasse, porque ele daria um jeito naquilo, ela também não respondeu, não queria ver ninguém, Nathan estava com a noiva, domingo na casa dos sogros e ela abraçou a solidão como uma velha amiga, precisava descansar.

A segunda chegou rápido demais e enquanto caminhava a passos apressados até a sua sala, era capaz de sentir os cochichos e olhares, se pudesse correr apavorada, certamente correria. Já havia pelo o menos duas horas que estava trabalhando quando Nathan bateu na porta.

— Oi Mi, o ministro está solicitando uma reunião de emergência em 15 minutos na sala dele.

— Obrigado Nathan, já já eu vou. – ela respondeu sem nem olhar para o amigo.

— Mi! – Chamou-a fazendo com que ela o olhasse – vai dar tudo certo, só ignore os comentários, vai ficar tudo bem.

Ela sorriu fraca – Eu queria ter essa certeza, mas não tenho, no fim das coisas isso me afeta muito.

— Não se deixe abalar por isso, ninguém tem nada a ver com a sua vida e vocês dois são livres para fazer o que quiserem. – Ele encorajou-a e ela o agradeceu levantando para se encaminhar para a reunião.

— Vou ficar mais tranquila se você me acompanhar, pode ser? – Disse recebendo um largo sorriso de volta, esse era seu amigo, sempre ao seu lado.

A reunião era sobre a fuga em massa de Azkaban e as principais interferências que teriam que ser feitas no ministério. Todos os chefes e seus assistentes se encontravam na sala do ministro, Hermione se sentia acuada e constrangida, apesar de não falarem nada pra ela, os olhares que lançaram assim que ela entrou a deixaram irritada, viu de vários homens ali o sorrisinho de sarcasmo. Merlim, como odiava aquele machismo todo.

No fim da reunião, o ministro foi até ela para lhe dar seu apoio e solidariedade, porque sabia que a exposição não era algo fácil de ser encarado.

— Hermione? – Harry a chamou, estava preocupado com a amiga.

— Oi Harry – ela respondeu enquanto arrumava as pastas e anotações com Nathan, percebeu que o moreno se aproximava com Ron a sua cola.

— Lemos a notícia, a Gina te mandou uma carta, você nem a respondeu, está tudo bem? – ela levantou o olhar pra ele e viu naqueles olhos verdes que ela tanto adorava a preocupação de quem sempre foi seu irmão de coração.

— Não! – Suspiro, olhando rapidamente para Ron, sem ser capaz de ler a expressão no rosto dele – Ser exposta dessa forma e nem poder fazer nada para impedir é horrível, eu nem imaginaria como estaria um caco se a Bethany não tivesse ido me avisar dessa matéria ridícula.

— Como é que é? – Ron questionou de forma inquisitória – A Bethany foi te avisar?

— Sim e sinceramente eu não poderia estar mais grata a ela, quando o domingo chegou eu já estava preparada pra notícia.

— Mas Mione, vocês estão juntos? – Para Harry aquilo era impossível, sempre achou o Krum meio idiota, a única coisa que ele fazia direito era jogar quadribol, ele não merecia sua amiga, de jeito nenhum.

— Não exatamente, ele está tentando se aproximar e eu... – ela olhou para Rony vendo suas orelhas ficarem vermelhas – Eu não sei se estou preparada ou me deixo levar, eu simplesmente não sei Harry.

Só que Harry sabia, aquela preparação tinha tudo a ver com o ruivo, não com ela, a volta havia mexido com ambos e tudo que Harry conseguia sentir era pena, Ron estava dentro de um relacionamento que faliu no momento em que ele pôs os olhos em Hermione de novo e sabia que a miga brigava contra um sentimento cultivado desde os seus 11 anos. Por isso a abraçou, tentando passar a solidariedade e amizade de sempre e dizendo que tudo iria se ajeitar se despediu levando um Rony muito irritado consigo.

—-

— Bethany? – o ruivo mal bateu para entrar na sala da noiva, o nervoso tomando conta do seu ser.

— O que foi Ron? Está tudo bem? – ela estranhou aquela entrada repentina, ele andava estranho, mas aquilo era estranho demais.

— Você foi até o apartamento dela? Foi? Porque? – percebeu que estava fazendo uma besteira a hora que viu a expressão da noiva se fechar.

— Fui Ron – ela respondeu seca.

— Porque?

— Por solidariedade! – a loira perdeu o pouco da paciência que lhe restava – Porque ela faz parte do trio de ouro, porque ela é importante pro mundo e pra sua família! Porque ela é sua amiga! Porque eu achei que era o certo a fazer e quis tentar acabar com esse clima estranho entre nós duas!

A declaração dela fez uma ideia passar pela cabeça do homem só que ele não teve tempo de segurar a língua – Você tirou essas fotos Bethany?

— O que? Porque você acha que eu faria isso? – doeu, aquilo era a simples prova de que ele não confiava nela.

— Não sei, você tem todos os motivos do mundo pra odiar Hermione, vai saber...

— Sabe qual o seu problema Ron? Você não disfarça! Você ainda gosta dela! Está aqui a defendendo, porque viu como ela está mal e quer descobrir quem fez isso com ela! Eu vi a sua cara quando viu as fotos dos dois, vi como ficou incomodado, cheio de ciúmes!

— Você está louca...

— Só que tenho uma notícia pra você! Não fui eu! Se acaso não se lembra nós estávamos juntos no sábado a noite, quando cheguei aqui no profeta vi a matéria, fui avisá-la, se fosse comigo queria que fizessem o mesmo! – Nesse ponto da conversa as lágrimas já corriam livremente pelo rosto da jovem.

— Eu sinto muito, não quis acusa-la de nada.. – ele se virou para sair, não havia nada que falasse que pudesse voltar atrás.

— Quis sim! – ele a olhou e Ron viu frieza em seus olhos, Bethany era boa, mas não boba e tomada pela raiva, não da morena, mas do noivo ela deu a cartada final, sabendo que, infelizmente, acabaria com ele – E se você quer saber, é melhor você aceitar esse novo romance, porque quando eu cheguei no apartamento dela, Krum estava lá, fazendo o café da manhã!