Perdas e Ganhos escrita por Lucca, alegrayson


Capítulo 9
Amigas?


Notas iniciais do capítulo

Remi e Nas se encontraram. A amizade vai guiar os acontecimentos?

Boa leitura.



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NAS

Derrubar a Sandstorm se tornou o propósito da vida de Nas. Essa organização terrorista tirou muito dela. Para atingir seu objetivo, sacrifícios tiveram que ser feitos: acordos que livraram Jane de qualquer forma de punição, o fim de seu relacionamento com Weller, a saída da ASN.

Por algum tempo, ela sentiu o gosto da vitória: a Fase 2 foi desmantelada, a Sandstorm derrotada e Shepherd ficou à sua disposição para interrogatório. Mas a terrorista tinha uma determinação fora do comum e não contribuiu com nenhuma informação capaz de alavancar a carreira de Nas.

Ela era uma mulher inteligente. Saiu da vida de Weller, mas manteve o monitoramento sobre ele com as escutas que plantou em sua casa durante o relacionamento dos dois. Foi assim que ela acompanhou os altos e baixos de seu casamento, esperando uma oportunidade para fazê-lo ver que Jane não era a mulher que ele idealizava, mas apenas a cria de Shepherd, tão perigosa quanto à mãe.

“Infelizmente, Weller é teimoso e nem mesmo a volta de Remi o fez caminhar de volta à racionalidade.”_ ela pensava.”  _Jane ter recuperado a memória dos tempos da Sandstorm faz toda a diferença.”

Nas tinha um acordo com Jane, uma mulher que todos consideravam morta agora. Não era uma morte física, mas tudo que ela viveu estava esquecido. Remi, para ela, era a artífice do plano da Sandstorm que acabou com dezenas de vidas e roubou uma parte significativa da sua. “Retroceder no acordo de liberdade que estabelecemos, no contexto atual, é algo natural e justificável.” E sua reflexão ousava ainda mais:  ter a oportunidade de interrogar Shepherd com tendo como moeda de negociação sua filha. Ela percebeu ao longo desses dois anos que a sociopata poderia ser quebrada a partir dos sentimentos de vingança que nutria por Remi.

Não, ela não podia perder essa oportunidade de avançar na sua luta por justiça. Mas ela sabia que Weller e o team defenderiam e protegeriam Remi a todo custo. Então, ela esperou o momento certo de agir, um momento em que Remi se encontrasse propensa a ir até a sede da Divisão Zero sem que ninguém do FBI soubesse. As palavras certas sobre tudo que ela não sabia do tempo que foi Jane fariam a filha de Shepherd aceitar passar por um novo interrogatório. Uma vez naquela máquina, Nas poderia “adequar” as informações dadas por Remi para garantir sua prisão. A própria Nas garantiria que mãe e filha fosse colocadas num buraco escuro tão inacessível que nenhuma intervenção do FBI seria capaz de tirá-las de lá.

Alguns poderiam questionar sua maneira de agir, mas ela estava com a consciência limpa. O mundo não seria um lugar seguro enquanto pessoas como Remi estivessem livres. Ela fez escolhas e deveria pagar por elas.

“Weller vai virar uma fera...” Nas ponderou e suspirou avaliando uma forma de lidar com aquela situação. Bem, ela poderia se aproximar dele, oferecendo ajuda na tentativa de livrar Remi. Ele confiava nela e, enquanto aguardava suas providências, o tempo iria passando o que dificultaria qualquer outra possibilidade de lutar pela liberdade da terrorista. “A derrota vai deixá-lo no chão. Então estarei lá para consolá-lo e reerguê-lo. Ele é um líder honesto, leal e admirável. Merece alguém à sua altura ao seu lado.”

Casa de Tasha

A latina saiu do banho e pegou o jornal para acompanhar as notícias daquela manhã ainda usando seu roupão. As notícias eram convencionais, nada que merecesse algo além de uma leitura rápida que ela executou em minutos.

Assim que chegou ao caderno de esportes, seu ânimo mudou. Como ela curtia aquilo. Essa leitura ganhou mais atenção.  O novo rebatedor do Meets era o destaque novamente. Zapata riu sarcasticamente ao lembrar de Roman discordando do talento do jogador.

“Ele é tão prepotente. Vou esfregar esse jornal na cara dele!”

De repente, ela se viu tomada por uma animação atípica. Foi para o quarto se vestir imaginando o desenrolar de seu triunfo na cela de Roman. Ela devia ser objetiva ou fingir casualidade? Definitivamente ela não era uma pessoa de rodeios. Não conseguiria camuflar o real motivo de sua presença na cela do irmão de Jane.

Tasha balançou a cabeça relembrando sua trajetória com Roman. O cara já entrou na sua vida com classificações negativas e, de lá pra cá, conseguir cair mais e mais no seu conceito a cada escolha que fez. Ela fez uma pausa na reflexão e se olhou no espelho avaliando a roupa escolhida para aquele dia. Desaprovou e voltou ao guarda-roupas.

Ele foi o principal fator que a fez trocar o FBI pela CIA. Sua antiga agência não estava colocando a força devida para lidar com casos como aquele. Nova pausa e nova desaprovação em frente ao espelho. Mais uma tentativa, vasculhando suas roupas e memórias.

  E Roman foi derrotado e agora era prisioneiro no SIOC graças a condição singular de Jane que voltou a ser Remi. Ela riu. Era tão disfuncional toda aquela história que chegava a ser engraçado. E a terceira roupa também parecia não estar adequada. O que havia de errado com ela hoje?

Tasha Zapata negociando com um sociopata terrorista para que ele poupasse sua própria irmã. Será que era isso que a desagradava na frente do espelho?

Não! Ela queria estar diferente hoje. Ela queria estar melhor. Algo nas visitas que fazia a Roman a enchiam de ânimo e traziam de volta um lado dela que julgava já morto e enterrado. Ele trazia de volta a ideia de que a força não resolvia Talvez Roman estivesse a manipulando, talvez os resquícios de humanidade que ela viu em seus olhos não fosse reais, mas ela sentia reflorescer dentro de si mesma aquela pessoa capaz de acreditar que todos podiam mudar. Isso lhe trazia uma sensação de paz e esperança na vida e na humanidade.

Será que... Não, não e não! tudo. Jane/ Remi era sua amiga e merecia todo o empenho ao seu alcance para protegê-la. Era isso que a impelia para aquele cara.  

— Sua animação não tem qualquer ligação o fato de Roman ser tão atraente, Tasha!_ disse ao seu reflexo no espelho. _ E agora que você descobriu isso, já pode parar com os flashes ridículos que te assaltam o dia todo com ele sem camisa rebatendo uma bola no beisebol.

Divisão Zero da ASN

A chegada à Divisão Zero foi estranhamente parecida com os bastidores da Sandstorm. Nas era respeitada e temida por todos os funcionários.  Sua sala era ampla e sóbria, desprovida de qualquer tipo de pertence pessoal. A mesa de madeira maciça parecia se somar à figura da mulher atrás dela, reforçando a ideia sobre ser arriscado questionar seu poder. Daquele pedestal, Nas começou seu jogo:

— Eu tinha certeza que poderia contar com sua colaboração. Para demonstrar minha disposição em fazer disso uma colaboração entre amigas, quero te contar sobre tudo que você não se lembra dos últimos três anos. Sei que já deve ter percebido que a versão dos seus amigos do FBI não continha toda a verdade.

Toda aquela generosidade regada com a palavra “amigas” estava sendo cuidadosamente digerida por Remi. Jogo é jogo. Ela se recostou na cadeira, assumindo uma posição mais confortável e procurando demostrar que aquele ambiente não a intimidava e disse:

— Sou toda ouvidos.

— Não sou boa em amenizar as palavras e fatos, Remi. Quero deixar isso claro para que você não interprete minhas palavras como agressivas.

Remi revirou os olhos:

— Fale!

— Ok. Falar sobre quem foi Jane é um bom começo. Os efeitos do ZIP sobre você apagaram muitos traços de sua personalidade. Jane era muito instável e oscilava entre a Sandstorm e o FBI. Ela também usou a fragilidade desencadeada pela falta de memória como uma arma poderosa de manipulação sobre Weller e o team.

Remi estranhou aquela informação. Todos sempre pareciam tolerá-la por tudo que Jane foi para eles. Será que não passava de pena, então? Antes que ela pudesse questionar, Nas continuou.

—Um assunto fundamental que precisamos abordar é a morte de Mayfair. Você deve ter deduzido a importância que essa mulher tinha para Weller quando soube que ele deu o nome dela à sua filha com Allie.

— Com certeza. Eles disseram que Oscar a matou.

— Sim. Só faltou o detalhe de que você estava presente quando isso aconteceu. Mayfair descobriu a ligação entre vocês e fez um flagrante. Então, não restou outra forma de dar continuidade ao plano que não fosse eliminá-la. Claro que Jane escondeu isso de Weller.

Remi engoliu seco. Ter atingido Weller dessa forma doeu fundo. Talvez eles tenham se envolvido antes da morte de Mayfair e tenha sido isso que os afastou? Ela poderia lidar com isso e mostrar a ele que não concordava com suas atitudes no passado... Isso trouxe de volta uma esperança que Remi considerava perdida. No seu interior, ela sentiu crescer a raiva por Jane ter sido tão tola. E Nas prosseguiu:

— Não demorou até o FBI suspeitar de seu envolvimento no desaparecimento de Mayfair...

— Foi depois da morte dela que você se juntou à força tarefa e eu decidi colaborar me infiltrando na Sandstorm.

— Na verdade, o desaparecimento de Mayfair fez o FBI desistir do caso Jane Doe.

— Como assim?

— Todos estavam emocionalmente envolvidos. Weller estava destruído. A verdade sobre seu pai ter matado Taylor Shaw, sua mentiras, o desaparecimento de Mayfair, a morte de David, tudo foi demais para ele. Então, para a segurança da investigação, a CIA assumiu o caso e você foi transferida e interrogada num black site. Infelizmente Jane não compreendeu a necessidade de tudo aquilo e não colaborou com nada relevante nos três meses que ficou afastada.

Remi foi da comoção a indignação. Interrogatório num black site da CIA! Ela conhecia bem os métodos utilizados por eles. Weller e o team permitiram isso? Era desumano, era... Antes que ela pudesse processar aquilo, Nas despejou uma nova onda de informações:

— Foi então que resolvi trazer a força tarefa do FBI de volta à ativa, convencendo todos vocês a trabalharem juntos. Mas você fez exigências. Queria resgatar Roman e pressionava Weller para retomar o envolvimento amoroso que tiveram. Ele estava sob muita pressão e sofreu demais com suas atitudes. Pra piorar, você injetou ZIP no seu irmão e, mesmo com ele sob custódia do FBI, não conseguíamos nenhuma informação capaz de colocar a Sandstorm em xeque. Conseguimos contornar a situação, mas quando a memória de Roman voltou, ele se virou contra você e apoiou Shepherd. Você teve a chance de prendê-lo, mas não o fez.

Remi sabia que precisava verbalizar algum comentário para disfarçar o impacto emocional que sofreu com tudo aquilo:

— É, eu já imaginava que Jane seria uma decepção...

Nas suspirou em concordância. E continuou:

— Bem, Weller estava tentando reorganizar sua vida. Estava num novo relacionamento amoroso e esperando pelo nascimento da filha. Mas o desfecho com Roman foi usado por Jane como uma arma poderosa para manipulá-lo. Ela ficou depressiva, acabou doente, se é que estava realmente doente._ nesse ponto, o relato de Nas fez uma alteração sutil e significativa, deixou de se referir a Jane como uma pessoa separada de Remi_  Enfim, você tinha crises toda vez que Weller se afastava. A nova namorada de Weller achou melhor romper com o relacionamento para que ele tivesse espaço para cuidar de você o que ele fez em quase tempo integral. Ele realmente se entregou à sua recuperação. Até você desaparecer sem deixar rastros. Kurt te procurou pelo mundo todo, temendo por sua segurança. Em sua busca, encontrou Avery e descobriu que ela era sua filha.  Quando você voltou, alegou que precisou de 18 meses longe para redescobrir a si mesma e esfregou na cara dele o outro cara com quem viveu nesse período. Você não aceitou bem a ideia de ter uma filha e alimentou ciúmes da relação paternal que ela tinha com Weller.  Mas novamente, ele colocou suas decepções e dores pessoais de lado para trabalhar com você nas novas tatuagens.

Remi sentia a bile queimar em sua garganta. A avalanche de informações trouxe fortes emoções à tona não deixando espaço para o racional. Ela concentrou seus esforços em não demonstrar o quanto tinha sofrido o impacto de tudo aquilo. Mas Nas sabia ler as entrelinhas de suas reações e resolveu que esse era o momento de mostrar a que veio:

—  Bem, essa era a minha parte: te contar a verdade. Sei que não deve ser fácil ouvir tudo isso... Só contei porque acredito que é um direito seu. Bem, agora preciso de sua colaboração. Remi, você participou da maior organização terrorista doméstica dos EUA. Até muito pouco tempo atrás, não tínhamos acesso a tudo que você sabia antes de ser zipada. Mas sua memória voltou e todas as informações que recuperou com elas são valiosas. Como parte da Agência de Segurança Nacional, preciso que concorde com um interrogatório básico e nos forneça as informações que precisamos para colocar outras ameaças sob controle do governo.

Ainda incapaz de ordenar o caos emocional que se instalou no seu interior, Remi tentou ser rápida para liquidar o assunto:

— Nas, já coloquei todas as informações à disposição do FBI. Disponibilizei todos os nomes e ligações que me lembrava. Eles têm tudo isso arquivado.

— Weller me passou todas essas informações. Mas preciso de uma cobertura mais completa e confiável diante dos nossos aparatos de segurança. O governo de nosso país não pode correr o risco de ter informações manipuladas para o caso de você desejar proteger alguém.

— Não tenho ninguém para proteger e forneci todas as informações de forma integral. Você pode ficar segura disso.

— Não se trata de mim, Remi. Isso tudo é maior que nós. O interrogatório será rápido. Apenas uma formalização de tudo que você já nos informou. Temos um equipamento que confirmará a veracidade de tudo que você disser.  Depois você estará dispensada.

Atordoada por tudo que descobriu, Remi concordou.

Enquanto seguiam para a sala de interrogatório, Remi varreu o lugar com o olhar. Muitos seguranças bem armados para uma situação que não envolvia riscos. Ela entrou no cubículo onde Nas lhe pediu pra trocar sua roupa pelo avental que usaria na maquina durante o interrogatório. as emoções em ebulição fizeram brotar em sua alma o antigo mal estar já costumeiro. Aquela sensação fazia sua vida ser nada diante dos objetivos a atingir. Cumprir sua parte do trato com Nas e seguir para a próxima etapa.

Ao despir a calça, seu celular caiu no chão. Ela alcançou o aparelho. Seu instinto dizia que Weller precisava saber onde ela estava. Bastava uma mensagem curta: Estou segura, com Nas. Ela ligou o aparelho. Fora de área.

“Estou segura com Nas?”

A resposta pareceu óbvia. Sobreviver, essa sempre foi a regra de sua vida. Ela estava em perido. Mas esse não foi o mar no qual ela sempre navegou? A familiaridade trouxe a segurança que ela precisava para guiar seus passos a partir dali. Rapidamente, vestiu sua calça de volta.

“Uma frase curta... talvez uma única palavra é tudo que Nas precisa para selar meu destino em alguma forma de Black Site sob os auspícios da proteção à segurança nacional. Não mesmo, Nas. Não hoje, Iron Lady!”

O apelido trouxe uma gostosa familiaridade. Ela abriu a porta e encarou mais esse desafio de frente:

— O que houve, Remi? Porque ainda não está pronta?

— Eu não vou ser colocada naquela máquina, Nas. Você terá que confiar nas minhas declarações sem isso. E, como elas já estão em seu poder, vou sair agora.

— Nós temos um acordo, Remi, e você concordou com os termos. Eu cumpri minha parte.

— Todo acordo pressupõe confiança. Não estou negando informações. Apenas garantindo a segurança do meu corpo._ em sua visão periférica, Remi observou os seguranças discretamente se posicionando.

— Eu esperaria isso de Jane, não de você.

“Você não pode confiar nela. Ela vai fazer jogos mentais com você, confundir sua cabeça.” A voz de Kurt ecoou na cabeça de Remi. “Por que ele me alertaria sobre Nas?” Mas isso não importava agora. O alerta bastava.

— Nós vamos fazer isso do jeito mais difícil, Nas?

— Remi, eles estão armados e você não.

— Mas você me quer viva.

Remi percebeu os dois seguranças se aproximando e se preparou. Atacaram ao mesmo tempo. Eram bem treinados e ela estava fora de forma. Isso prolongou a luta e criou hematomas que normalmente Remi evitaria.  Nas observava afastada e calma.

Com os seguranças inconscientes, Remi pegou uma das armas encarou Nas:

— O que vem agora, Nas? Vai me enfrentar também ou chamar mais alguns capangas para fazer o trabalho sujo no seu lugar?

— Remi, isso tudo é tão desnecessário._ disse gesticulando com as mãos e tentando ganhar tempo.

A cobra era previsível. As chances de escapar dali eram mínimas e talvez a vida de Remi fosse dispensável para manter em segredo a verdadeira face da chefe da Divisão Zero.

— Eu tenho uma proposta pra você, Nas: nós duas saímos juntas e vivas daqui. Tudo o que aconteceu aqui será nosso segredo. O FBI nunca saberá. Ou eu te mato assim que o próximo segurança passar por aquela porta. Não tenho nada a perder.

Nas ponderou as palavras de Remi. A chance de tentar outro dia era uma proposta tentadora diante da derrota de hoje. Incapaz de verbalizar, ela assentiu com a cabeça.

Remi camuflou a arma embaixo da jaqueta e as duas saíram da sala. Percorreram o imenso corredor de forma silenciosa. Na rua, Nas permaneceu sob a mira da morena até conseguirem um táxi.

Assim que o carro partiu, Remi pegou o celular para pedir a ajuda do team. As inúmeras chamadas perdidas de todos eles trouxe uma estranha sensação de conforto depois de tudo que ela passou. Chamou o número que pareceu mais adequado no momento:

“Patterson, sou eu. Por favor, me envie ajuda. Não sei se estou segura.”

 Patterson tentou desesperadamente conter a respiração descompassada, mas ela sabia que esse não era seu pior problema no momento. As ondas elétricas que faziam todo seu corpo pulsar de desejo era algo bem maior. Ela jogou o tablet do outro lado da cama como quem quer afastar um inimigo.

Ela puxou o ar e contou até dez uma, duas, três vezes. Parecia que finalmente estava se acalmando.

— É só um jogo. Não é real._ disse em voz alta precisando ouvir algo que a trouxesse definitivamente de volta daquele mundo virtual.

Um guerreiro viking. Esse foi o personagem escolhido por Roman no seu aplicativo WizardVille. Adequado, ela pensou. Combatível com suas características físicas e seu jeito feroz. Guerreiros vikings são lutadores de segunda ordem no jogo. Como ele foi capaz de vencer tantas fases tão rapidamente? Mais que isso. Como ele conseguiu entrar no castelo de uma Maga Negra, a sua avatar no jogo?

“Ele tem tempo para jogar...” pensou. Mas ela era a programadora e sabia muito bem que, mesmo os melhores jogadores, teriam dificuldade em chegar tão longe com um personagem tão fraco.

Ao longo dos últimos dias, ela tinha acompanhado o avanço dele no jogo, avaliado suas estratégias, decifrado os quebra-cabeças que ele montou para ela em cada cenário. O guerreiro viking tinha um objetivo: chegar até a Maga Negra. Ela riu do que classificou uma “arrogância inocente” de Roman. Ele nunca conseguiria. Mas fase a fase, ele persistia no seu objetivo. E as mensagens para ela foram marcando sua trajetória. Noite após noite, ela logou esperando se deparar com seu infortúnio, mas estranhamente se alegrando ao ver que ele avançava em direção à ela.

Ela balançou a cabeça tentando afastar a realidade virtual de sua mente. Banho! Banho sempre acalma. Entrou no banheiro e começou a despir a roupa. Mas a cada peça eliminada, as frases ditas pelo guerreiro viking voltavam à sua mente. A força das palavras que falavam de sua admiração ao aprisionar a Maga Negra. Como ele confessou sua fragilidade e pediu sua ajuda prometendo superar suas imperfeições...

Impossível conter a forma como sua mente a transportou para aquela fantasia. Roman vestido de guerreiro, vencendo todas as barreiras impostas por ela, adentrando seu castelo proibido e confessando seu desejo e admiração por ela. As mãos dele rompendo os limites. Ela não sendo capaz de se opor porque o desejo era mútuo.

Respiração acelerada novamente. Chuveiro, rápido! Ela se jogou embaixo da água e passou as mãos pelos cabelos molhados surpreendida consigo mesma. E Roman veio de novo, agora completamente nu como ela o viu no elevador do SIOC durante o coma.

Não, não e não! Ser enganada por Borden já foi demais, ela não poderia desenvolver sentimentos e desejos por alguém ainda pior que ele!

“Objetividade, Patterson! Assuma o controle!” ela repetiu pra si mesma.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura.
Espero que tenham gostado.
Se tiverem sugestões sobre o que gostariam de ler na sequencia dessa história, deixem nos comentários e faremos todo o possível para atendê-los.



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