Perdas e Ganhos escrita por Lucca, alegrayson


Capítulo 4
Rota de Colisão


Notas iniciais do capítulo

Qual seria o lugar de Remi no team? E na vida de Weller?
Boa leitura.



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A casa segura estava bem preparada para receber Jane. Havia muitas coisas lá que ela gostava. Tasha e Patterson se dedicaram para deixar o ambiente familiar e confortável.

Quando ela entrou com Kurt, lançou o mesmo olhar de sondagem como em qualquer ambiente novo que entrava sem demonstrar qualquer familiaridade com os detalhes.

Mais uma vez, Kurt suspirou. Tudo foi preparado para Jane, mas era Remi ali.

Após apresentar brevemente a casa. Kurt se despediu:

— Bem, agora que você já está acomodada, vou indo.

— Hei, espere. Pensei que você ia passar a noite aqui. _ ela disse deixando escapar uma ponta de sorriso malicioso no canto da boca.

— Acho que não é necessário. _ respondeu triste.

— Ok, então._ e ela se sentou no sofá_  Você é sempre tão protetor que achei que não me deixaria dormir sozinha. Mas você está certo em ir. Estou bem e não há problema algum nisso. Não sou um bebê.

Kurt assentiu sem ânimo para alongar a conversa. Ela continuou:

— Weller, você nunca tira essa cara de velório?

Kurt sorriu apesar de tudo. Era irônico.

— Sério, parece que você perdeu alguém. Se anima um pouco. Podemos sair beber alguma coisa...

—J... Remi, você não pode beber pelo resto da semana enquanto estiver tomando esses remédios. Tome um banho e tente descansar. _ e se dirigiu a porta.

— Hei, Weller...

—  O que foi, Remi?

— Desculpe-me pelo comentário.  Você tem sido realmente atencioso comido. Obrigada por tudo.

Ele deu um leve sorriso e saiu.

Após a liberação médica, o FBI decidiu que Remi poderia se tornar uma consultora já que agora se lembrava de muitas informações significativas sobre Orion, Daylight e Sandstorm. Todos no escritório foram alertados para evitar falar do casamento com Weller e também sobre Avery e Roman.

Após muita resistência, cara e bocas, Avery concordou em colaborar temporariamente.

Kurt percebeu a empolgação de Remi através das inúmeras perguntas que fez a ele ao longo da semana. No dia de voltar ao trabalho no SIOC, entretanto, ela parecia desprovida de qualquer emoção.

 Tasha e Patterson resolveram aguardar a chegada do casal no escritório de Reade para terem um pouco mais de privacidade. Os três a receberam com sorrisos calorosos que esbarraram na gélida reação de Remi. Ela os cumprimentou educadamente enquanto seu olhar sondava o ambiente.

— Remi, como é bom tê-la de volta _ Patterson procurou demonstrar sua alegria e se aproximou para um abraço que foi interrompido pela mão estendida de Remi mostrando que era só o que a loira teria.

— Ficarei feliz em ser útil. Estava embolorando dentro daquela casa.

— O que não falta aqui é trabalho pra você._ Tasha entrou na conversa e recebeu um olhar de Remi que a observou de alto a baixo. _ Ei, algum problema?

— Pra mim não, Zapata,e pra você? _ Remi respondeu mostrando que não cederia fácil a intimidade com a latina.

Depois que Kurt e Remi se retiraram, Tasha desabafou:

— Eu não sei até onde consigo me segurar. Se ela continuar com as provocações no olhar e nos comentários, vai escutar de volta!

Patterson levou a mão até o ombro da amiga e disse:

— Tasha, temos que ter paciência com ela e conosco também. Muitas de nossas reações podem ser mais intensa porque queremos muito a Jane de volta.

—Isso eu não posso negar._ a latina desabafou._ E Jane não vai voltar. Será que existe alguma possibilidade de se aproximar da senhorita Frozen ali?

Patterson riu do apelido e continuou:

— A estratégia de Weller, ao confiar e se aproximar de Jane, funcionou. A casca de Remi parece muito mais dura, talvez seja necessário uma combinação de fatores para rompê-la. Eu vou acreditar que paciência, persistência, observação, tentativas e mais tentativas podem trazer resultado. Sei que parece um otimismo exagerado diante de tudo que já percebemos desde que ela voltou do coma, mas Jane sempre procurou o lado bom das pessoas, então, devo isso a ela.

Tasha pensou um pouco e concluiu:

— Eu vou concordar com você, mas minha estratégia será outra: te sigo, pisando só onde deu certo pra evitar confrontos. _ e sua risada repercutiu no ar contagiando Patterson.

Remi se mostrou tão focada no trabalho quanto Jane  e  descobririam que ela era  ainda melhor em campo. Por segurança, os arquivos relacionados a Jane Doe receberam algumas censuras básicas: a forma como Mayfair e Oscar morreram, o tempo que Jane passou no Blake site da CIA e a traição de Roman no momento da derrubada da Sandstorm.

Ao longo do dia, tanto Remi quanto Weller se flagraram observando um ao outro. Ela também aproveitou cada oportunidade que teve para ir até a mesa dele:

— Você se sente tão sufocado quanto eu por esses papéis?_ disse com um sorriso simpático

— Com certeza. Mas faz parte do trabalho. É necessário._Kurt respondeu.

— Você tem todo esse jeito de boy scout, mas sei que é um cara que se transforma em ação!

O comentário  deixou Weller sem palavras, ele riu tentando disfarçar o constrangimento:

— É, eu acho que sou melhor em campo...

— Que tal uma sessão de  treino para deixar a tarde mais agradável?

Weller tentou ponderar pós e contras. Na verdade, algo no seu interior gritava alto que aquela seria uma situação “perigosa” principalmente após o diálogo que acabaram de ter. Entretanto, ele sabia o quanto esses momentos de exercício físico ajudavam nesses dias burocráticos e Remi estava sem isso desde o hospital. Arriscar deixa-la treinar sozinha era correr um risco que ele avaliou como desnecessário.

— Ok, podemos fazer isso.

Na sala de treino, logo na primeira sequencia de golpes, Weller se surpreendeu com Remi. Enquanto Jane apenas reagia e procurava conter o opositor, ela era mais agressiva, sempre partindo para o ataque. Assim como Jane, mesmo em desvantagem, nunca desistia e buscava uma oportunidade de virar o jogo.

A primeira sessão terminou num empate técnico, exigindo a segunda. A troca de golpes e a proximidade de seus corpos sobre o tatame era familiar e foi deixando o casal bem envolvidos na atividade. Num golpe bem calculado, Weller derrubou Remi e a imobilizou ficando com seu rosto a poucos centímetros do dela:

— Essa vitória é minha!

Remi relaxou embaixo dele, olhando maliciosamente nos seus olhos para depois levantar discretamente o joelho roçando o meio das pernas de Kurt para confirmar o efeito óbvio que aquela posição causava nele:

— Ganhou? Mas eu também estou me sentindo vitoriosa. Que tal sairmos beber algo após o trabalho para comemorar isso?

Aquele olhar, o cheiro dela, sentir sua pela sob seus dedos... tudo era mais que uma tentação. Mas antes que ele cedesse ao beijo, do fundo de sua alma veio um grito em sua consciência: “ Não!  Você não pode fazer isso com Jane!” Ele rapidamente saiu de cima dela e disse enquanto já caminhava para o chuveiro:

— Eu gosto da ideia. Vou avisar o resto do team, eles também devem estar querendo um momento com você fora daqui.

Remi afundou a cabeça no tatame se esforçando ao máximo para não dizer “Qual é, Weller? Você sabe muito bem que quero um tempo só pra nós dois!”, mas a decepção se misturou com um leve desejo de retaliação pela atitude dele, então decidiu se embrenhar por um assunto que sabia ser delicado:

— Ok, convide quem você quiser. A propósito, antes de você se “refrescar” para voltar ao escritório, podia me dizer quando vão me deixar falar com Roman. Tenho o direito de ver meu irmão!

— Você vai vê-lo logo, Remi. Eu prometo.

À  noite, no bar, Remi se comportou de forma mais discreta sem desistir de demonstrar a Weller seu objetivo ali. Sua discrição não foi eficaz o bastante para passar desapercebida pelos amigos acostumados a perceber os detalhes nas investigações. O que eles estranharam foi o fato de Kurt não entrar no jogo dela apesar de seus olhos estarem sobre Remi quase o tempo todo.

Infelizmente para ele, os deuses pareciam conspirar a favor dela. Reade foi ao banheiro, Tasha se afastou para atender um telefonema de Keaton e Patterson foi buscar mais bebida. Sem perder a oportunidade, Remi aproximou-se de Kurt:

— Eu realmente não imaginei me divertir tanto hoje à noite com a presença de seus amigos.

— São nossos amigos, Remi. Eles gostam muito de você e queriam fazer um “bota dentro” pra demonstrar isso.

— Eles gostavam da Jane, Weller. Mas todos parecem sinceros na tentativa de aproximação. Parecem pessoas legais. _ e tomou outro gole de sua bebida._ Mas não era deles que eu queria falar e sim de nós. Se você realmente não se sente tão atraído por mim quanto eu por você, deveria pelo menos tentar tirar os olhos de mim. Desse jeito, você não conseguirá me afastar. Só vou chegar mais e mais perto.

Preso ao olhar dela era impossível para Kurt forjar uma mentira mesmo que básica para cortar o rumo que aquilo estava tomando. Diante da falta de uma resposta pronta que a repelisse, Remi sentiu o caminho aberto para deixar ainda mais claro sua posição, se aproximou e sussurrou:

— Quero uma oportunidade pra te mostrar o quanto sou grata por tudo que você tem feito por mim. _ e pousou a mão na coxa dele apertando suavemente _  Se rolar um décimo dessa química que temos no cotidiano quando estivermos na cama, você sabe que será uma das melhores noites de nossa vidas.

Kurt colocou a mão sobre a dela e apertou-a entre seus dedos.

— Esse seu ar felino não me ajuda...você sabe que não é falta de desejo, mas tudo é muito recente, não quero que faça algo e arrependa. Também não temos certeza se é bom pra sua saúde. Você ainda está se recuperando...

Remi riu alto e continuou:

— Gatos têm sete vidas, Weller, e, mesmo que eu já esteja na minha última, morrer não me assusta, muito menos se for pra fazer o que eu quero e com quem eu quero.

Remi olhou rapidamente para Reade e Patterson se aproximando e finalizou:

— A noite foi ótima, mas você pode deixá-la ainda melhor.  Vamos, Weller, me tira daqui antes que esse seu jeans não seja suficiente pra disfarçar tudo que tá rolando entre nós.

Ela, então, se afastou e se recostou na cadeira aguardando a desculpa que Weller certamente usaria para levá-la pra casa. Ele sorriu demonstrando satisfação com a brincadeira, mas no retorno dos amigos, deu sequencia as conversas triviais não parecendo querer deixar logo o bar.

Irritada após mais de meia hora de conversas, Remi se levantou para buscar outra bebida e Reade a acompanhou. Weller aproveitou para pedir socorro:

— Patterso, Tasha, vocês acham que Roman está preparado para receber a visita de Remi?

— Eu acho que sim. _ Patterson respondeu.

— Por mim também está liberado._ Zapata arrematou.

— Ótimo! Hoje ela já me cobrou essa visita. _ então ele coçou o pescoço demonstrando  incômodo com a situação e disse _ Meninas, preciso que me façam um enorme favor: levem Remi pra casa. Eu preciso sair agora.

Zapata não conseguiu disfarçar:

— Weller, eu não acredito que você vai fazer isso! Vocês flertaram a noite toda. Não é do seu perfil fugir assim...

Ele fechou os olhos inspirando o ar para tentar por em palavras seus conflitos:

— Eu não consigo evitar. Quando ela está por perto, é mais forte que eu...

Foi Patterson quem continuou:

— Claro, Kurt. Você a ama! Ela é sua esposa.

— Não, Patterson. Não é Jane. É Remi...

Tasha tocou a mão dele, chamando sua atenção:

— Você não está falando sério, né? É ela: a mesma mulher, a mesma... Além disso, vai que o lance da memória muscular ajude ela a se lembrar... Deve existir um acervo bem grande no inconsciente dela do tempo que passaram juntos.

— Eu não posso fazer isso com Jane. Por favor, meninas...

Percebendo o quão emocional Kurt estava diante daquela situação, Patterson interviu:

— Kurt, vá pra casa. Nós levamos Remi. Mas que me prometa pensar muito sobre o que eu vou te dizer agora: Kurt, ela está viva e seu amor por ela também!

Kurt mal se despediu e deixou o bar. Reade e Remi voltaram à mesa com ele já anunciando:

— Pessoal, preciso ir. Amanhã Bem cedo tenho uma reunião importante. Cadê o Weller?

Zapata levantou as sobrancelhas e aguardou Patterson explicar:

— Ele sentiu um mal estar e resolveu ir pra casa. Nós vamos ficar com Remi.

Remi despediu-se secamente de Reade e se sentou irritada. Tasha arriscou levar a mão até o ombro da morena e chacoalhou a cabeça num aceno solidário.

Por mais duas rodadas de bebidas, as três aproveitaram o momento para conversarem sem tocar em assuntos mais delicados, depois deixaram o bar.

 Já na porta da casa segura, Patterson arriscou dizer:

— Remi, foi algo realmente sério que levou Kurt pra casa essa noite.

Ela balançou a cabeça negativamente e não disse nada porque não estava disposta a falar sobre aquilo. Mesmo assim, Patterson continuou:

— Eu odeio me intrometer, mas preciso te dizer isso: uma das coisas que mais gosto em você é sua persistência. Não abra mão disso, insista e você não vai se arrepender. Boa noite.

Remi tentou esboçar um sorriso sem sucesso:

— Obrigada pela carona e pelos bons momentos. Boa noite, meninas.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura!
Perdoem a ausência de embates no trabalho. Eles virão.
Gostaram?



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