Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 34
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Hoje é dia das mães. Então, esse capítulo é sobre essa experiência única e transformadora: a maternidade. E, a cada criança que nasce, nasce também uma nova mãe.

Boa leitura.



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Algum tempo depois – Casa de Patterson

Patterson terminou de ajeitar os últimos petiscos sobre a mesa e passou a mão pelo cabelo, empurrando uma mecha de cabelo para trás antes de gesticular em frente ao próprio rosto, direcionando seu olhar e reflexão:

— Casa em ordem. Mesa pronta. Sophia já está alimentada e vestida. É, eu sou boa! – e olhou em direção ao carrinho com a bebê que estava no canto da sala.

Imediatamente a ansiedade se dispersou. Sophia era tão angelical! A garotinha sorriu para a mãe atraindo-a para perto de si.

— Você sabe que eu não resisto a esse sorriso. Venha cá. – Patterson disse tomando-a nos braços e beijando sua cabecinha macia, ainda sem cabelos e ornamentada com uma discreta tiara de lacinho azul que combinava perfeitamente com a cor dos olhos da sua garotinha.

O começo da relação foi difícil, mas as duas logo se entenderam e encontram um ritmo peculiar de rotina.  Passavam os dias juntas, quase que grudadas. E como aquilo fazia bem! Patterson não se lembrava de ter sentido tanta paz em sua vida toda. Não haviam equações e quebra-cabeças desafiadores a sua frente. E ela nunca se sentiu tão desafiada.

Ela sentou-se no sofá, apoiou os pés na mesa de centro e colocou Sophia sentada sobre suas pernas. As duas começaram aquele diálogo pouco racional e repleto de caretas e sorrisos.

Todos os cálculos e previsões fracassavam quando o assunto era sua filha, sua inteligência aguçada parecia inútil para resolver qualquer problema que a maternidade colocasse naquele tabuleiro de jogo real. Então, ela aprendeu a usar seus instintos e deixar seu coração falar mais alto que todas as informações que tinha levantado durante a gestação. Sucesso total! Não era racional. Era uma relação processada por uma forma de amor tão puro que não podia ser colocada numa fórmula.

E deu incrivelmente certo! Sophia correspondia e era só isso que importava. Patterson nunca tinha imaginado que até uma simples troca de fraldas despertaria aquela sensação de satisfação tão grande quanto a resolução de um complicado quebra-cabeças computacional.

Do outro lado da cidade, já na área rural, Tasha aguardava Miguel terminar mais uma mamada. Ela nunca tinha planejado ser mãe. Na verdade, apostaria alto que nunca aconteceria. E aqui estava ela. Agora não havia nada no mundo que parecia tão perfeito para si mesma do que ser mãe desse garotinho.

Miguel era calmo e doce. Ele entrou na sua rotina complicada como um anjo, sem atrapalhar qualquer atividade e trazendo uma paz e alegria que ainda não tinha conhecido na sua vida. Até a amamentação se desenrolou de forma tão natural que ela não pensava em parar tão cedo. Era prático e tão compensador! Naqueles momentos só dos dois, trocavam olhares e carinho.

O pequeno soltou o peito e sorriu para sua mãe. Ela correu os dedos pela cabeleira negra do filho e perguntou:

— ¿Has terminado? – um novo sorriso do filho confirmou que sim. - ¡Riqueza de mi vida! Precisamos nos preparar. Vamos visitar tia Patterson e Sophia.

Ela já estava colocando Miguel na cadeirinha do carro, quando Christofer chegou.

— Você já estava saindo? Sabe que não pode deixar a casa antes de um de nós chegar. – ele disse.

— Não tem cinco minutos que trocamos mensagens e você disse que já estava à caminho. Sabe que sou responsável. E está tudo calmo hoje. Às vezes, acho que você exagera. Mas não vou discutir. Quero um tempo com Patterson e você me deve isso.

Sem dar mais margem para desentendimentos, ela estava disposta a ter uma ótima tarde com Patterson e os bebês, entrou no carro e saiu.

Pouco depois, lá estavam as duas trocando figurinhas da maternidade, rindo e desabafando. Comeram, riram, deitaram no chão com seus bebês, riram ainda mais. Desfrutaram da deliciosa amizade que parecia mais sólida que nunca.

De repente, Tasha ficou séria e disse:

— Patterson, tem uma coisa que eu estou escondendo de vocês...

A loira se colocou prontamente disposta a ouvir. Ninguém melhor que ela para se solidarizar com os desafios da maternidade. Mas o relato de Tasha nada tinha a ver com bebês ou fralda.

— Você devia ter nos contato antes! Isso é super mal! – disse ao final da declaração.

— Eu sei, mas ... é tão complicado.

— E Chris também não me disse nada!

— Nenhum de nós podia falar. Ele estava doente. Entregá-lo seria cruel. O plano era curar Roman e Jane e, então, conseguir ajuda pra ele longe daqui. Outro país, com tratamento psicológico e psiquiátrico ele pode ter uma vida normal. Mas então a cura dela não deu certo e veio a gravidez... Ele está irredutível. Só aceita partir depois que ela estiver bem. Não contamos o estado real dela pra ele. Isso o enlouqueceria.

— Qual a relação dele com Miguel?

— Ele dorme boa parte do tempo. Mas demonstra carinho quando está com Miguel. Aliás, só estamos conseguindo deixa-lo afastado de Jane por causa do bebê. Pra ele é novo estar rodeado de pessoas normais. Ele é esquisito como a Jane, acho que num nível hard, mas não é um monstro como eu pensava.

— Roman vivo! Melhor pensarmos bem quanto à quando e como contar isso para Kurt e Reade... – E olhou de forma maliciosa para a amiga – Hei, e quanto a sua gravidez, foi realmente uma inseminação artificial? Ou está rolando algo entre vocês dois?

— Não! – Tasha respondeu rápido e depois riu – Nem tudo tem que ser sacrifício da minha parte, não é Patterson! Eu engravidei naturalmente. Ele é bom nisso, acredite. Carinhoso, gentil. Mas não temos nenhum tipo de relacionamento. 

— Se você garante que não rola nada, vou confessar. Eu já tive algumas fantasias com ele. – a loira disse relembrando o passado e  sentiu o tapa da amiga no braço. – Quem nunca? Como diz Rich, Roman é um “deus grego”. E, Tasha, não diga ao Chris que me contou. Preciso ver quando e como ele vai me contar isso.

— Tudo bem, se você acha melhor assim.

E as duas foram interrompidas pelos resmungos dos bebês famintos.

Dois dias depois

Parecia um dia qualquer. A barriga de Jane estava bem maior agora. Não era uma daquelas barrigas enormes que eles viram em Patterson e Tasha. Era bem mais discreta, bem acomodada nos fartos quadris dela.

Kurt não se cansava de observá-la. Nunca a imaginou tão linda grávida. Como ela podia ainda assim ser tão sexy? Ele se lembrava do quanto estranhava Allie nessa fase da gestação. Mas Jane continuava maravilhosa. Ele a fotografava diariamente. Tinha montado um acervo enorme de fotos e vídeos. Se tudo desse certo, e daria, ela poderia ver depois todos os momentos do último trimestre da gravidez.

Passaram parte da tarde na piscina. Nos últimos dias, ela vinha se queixando de leves cólicas e dor nos quadris. A água ajudava muito com isso. Agora ele preparava o jantar enquanto ela caminhava pela sala. Parecia incomodada com algo. Devia ser a cólica ainda. Ele se apressou em terminar o jantar para poder fazer a massagem que ela adorava.

Jantaram. Ele fez a massagem. Mas a cólica não se foi. E se torno mais forte com o passar das horas. Estavam na trigésima oitava semana de gestação. E, pelo jeito, tudo terminaria ali, provavelmente ao amanhecer do próximo dia.

Eles tinham se preparado para esse momento. Leitura, aulas, conversas. Seguiram o combinado. Cuidaram da arrumação de tudo que precisaria ser levado para o hospital. Tomaram banho juntos. A água quente era tão reconfortante para ela que ficaram mais de uma hora embaixo do chuveiro. Se beijaram. Transformaram todo o amor que sentiam um pelo outro em toques carregados de carinho. Finalmente tinha chegado a hora. E a felicidade chegaria desconhecendo limites: primeiro o bebê e depois, em poucos dias, a cura de Jane. A vida voltaria aos trilhos. Ou melhor, encontraria um novo rumo, muito mais cheio de amor e alegria. Havia tanta paz ali entre os eles que sorriam o tempo todo.

Por volta de 1 AM as contrações resolveram vir intensas, tão fortes que Jane se mostrou assustada e disse que preferia ir para o hospital. A saída foi um pouco tensa. Ela se contorcia de dor no elevador e Kurt, sobrecarregado com a bagagem, não podia sequer segurar sua mão. Enquanto dirigia para o hospital, um trajeto de 20 minutos que pareceu mais longo do que a mudança para o Colorado, ele se dividiu entre tocá-la para demonstrar sua presença e dirigir.

Chegaram. Fizeram a ficha de entrada. Por que tantas perguntas? Eles tinham feito um pré-natal, deveria existir um arquivo digitalizado para ser requisitado de algum lugar. Quem vai se lembrar corretamente das datas numa hora dessas? Por duas vezes, ele abandonou a ficha e a abraçou até que a contração passasse. Quando terminou: aleluia!

Já no quarto, avisaram seus amigos. Todos queriam ir para o hospital. Agradeceram e disseram ser desnecessário. Avisariam quando estivesse próximo da hora do bebê chegar. É claro que ninguém mais dormiu. O grupo do WhatsApp virou um novo clube de apostas para o sexo do bebê. As ligação para saber se tudo estava bem chegavam em intervalos mais regulares que as contrações de Jane.

Por volta das 3 AM, as contrações foram ficando mais intensas e em intervalos curtos. Nada do que leram ou aprenderam no curso parecia ajudar. Passaram por todas as posições na banheira, de cócoras, semi deitada, nada era era eficaz em aplacar a dor ou trazer algum conforto. As combinações mais loucas foram tentadas. E continuaram nessa sequência incerta procurando uma forma de lidarem com aquilo.

A cada visita da equipe médica, as notícias não podiam ser melhores. O trabalho de parto evoluía rápido e estava tudo bem. Todos ali tratavam Jane com muito carinho e respeito. Pareciam muito sensibilizados pelas limitações dela. E admiravam a garra como enfrentava as contrações.

Kurt participava ativamente de tudo aquilo. Não deixava o lado de Jane em nenhum momento. Aquela experiência escrevia com fogo a história dos dois em seu coração. Ele achava que nunca poderia amar mais sua esposa, mas estava enganado. Vê-la usar a dor a seu favor e ainda sorrir no curto intervalo entre aquelas contrações nos quais mal tinha tempo de respirar, a fez amá-la de forma transcendental. Ela era única e sempre o teria por completo.

Dilatação completa! Eles finalmente se prepararam para o grande momento. Os amigos foram avisados. O casal nunca entenderia como chegaram tão rápido ao hospital. Jane estava totalmente concentrada em buscar a força necessário para trazer àquele bebê ao mundo. Começaram a sequência de empurrões. Jane se agarrava à Kurt e à uma barra que estava ao alcance de sua mão. Sem poder ver ou ouvir, ela contava apenas com seus instinto para saber a hora certa de empurrar. E a vontade vinha forte, tão forte quando a dor, alimentada pelo desejo de trazer aquele bebê ao mundo. Ela ignorou as pontadas na sua cabeça, estava exausta, tinha sido uma noite longa. Mas descansar só seria uma alternativa depois que o bebê chegasse. Também ignorou os flashes de luz que conseguia identificar, devia ser a forte iluminação da sala de parto. Ela tinha percebido luz com muito mais frequência nas última semanas.

Num determinado momento, após uma sequência de vários empurrões e dores tão intensas que ela não era sequer capaz de dimensionar, Kurt tirou sua mão do braço dele e a dirigiu até que ela tocasse aquela coisa tão macia e redonda. Era a cabecinha do bebê. Quase sem cabelos. Isso redobrou sua vontade de continuar quando ele trouxe sua mão de volta. Quando a dor veio, ela respondeu com toda a força de tinha. E sentiu Kurt a soltando e se afastando. Isso não assustou. Ela sabia o que tinha acontecido: o bebê estava aqui.

Os flashes voltaram intensos e as pontadas na sua cabeça deram um tempo. Ela piscou várias vezes irritada enquanto respirava e tentava loucamente ver através daquelas luzes.

Aos poucos, a imagem a frente dela foi ganhando nitidez enquanto o tempo parecia desacelerar. Kurt com o rosto inundado por lágrimas e radiante de felicidade enquanto segurava o bebê mais lindo que ela já vira nos braços. Ela não precisava ouvir para saber que era um menino. Ele era simplesmente a miniatura de seu pai, a testinha enrugada e a boca lindamente torta para o lado pelo choro só acentuavam ainda mais a semelhança.

Kurt contornou a cama, trazendo o bebê pra ela. Jane estendeu a mão para alcançar a cabecinha do filho e olhou para o marido. Ele entendeu imediatamente e estreitou o olhar esperando a confirmação dela que disse:

— Kurt, eu estou vendo vocês.

Então, tudo ficou escuro e frio.


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Notas finais do capítulo

Estamos apenas a dois capítulos do final dessa história. Então, se você tem alguma crítica ou sugestão, aproveite que ainda dá tempo: deixe um comentário.
Muito obrigada pela leitura.



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