Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

No retorno a NYC, havia muita coisa a ser esclarecida.

Boa leitura.



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Assim que o avião aterrissou, Jane sentiu o estômago revirar por lembrar que deveria voltar pra casa. Aquele já foi seu lugar preferido no mundo, não pelo espaço, mas por significar o reencontro com Kurt. Não havia um só lugar naquele apartamento que não lhe trouxesse a recordação de um bom momento entre os dois fazendo brotar em sua memória beijos, palavras, carícias, olhares, sensações.

Ele respirou fundo e finalmente atendeu ao terceiro chamado de Reade que tentava repassar o cronograma que seguiriam nos próximos dias. Madeline ficaria numa casa segura. Todos iriam para suas respectivas casas descansar o resto do dia e se reuniriam no SIOC na manhã seguinte.

Após se despedir do grupo, Jane entrou no táxi sozinha. Um calafrio percorreu seu corpo, somando-se às sensações anteriores de incômodo e implorando-lhe para tomar uma atitude que impedisse o que estava por vir. Seu lado racional gritava que ela precisava ser forte e colher o que plantou. Afinal, foi ela quem pediu ajuda a Nas, oferecendo Kurt numa bandeja de prata.

As pontadas fortes de dor na sua cabeça a fizeram fechar os olhos e aspirar o ar. Droga! Como ela pode fazer isso com ele? Empurrando o corpo contra o banco do carro e deixando a cabeça cair para trás, Jane se sentiu podre. Essa era só mais uma das coisas horríveis que ela havia semeado durante a sua vida. Quem não a condenaria quando sequer ela mesma era capaz de se perdoar por tantos erros?

Os fins justificam os meios” _ essa foi a máxima de Shepherd que ela abominou após ganhar uma segunda chance ao sair daquela bolsa na Times Square. E eis que tudo estava de volta agora. O cruel legado das memórias que ela recuperou: pessoas horríveis fazem coisas horríveis. Deus, que algum dia alguém pudesse compreender que suas decisões eram para um bem maior. Ela precisava proteger Kurt, afastando-o dela o quanto antes, colocando a vida dele nos trilhos dos quais ela o tirou.

Você só quis proteger a si mesmo!”— sua própria voz ecoou em suas lembranças, trazendo a acusação que fez a ele ao descobrir sobre a suposta morte de Avery. Ela estaria se protegendo agora? Antes que pudesse formular uma resposta, seus pensamentos se transportaram para um futuro provável em que era possível ver a dor nos olhos de Kurt quando seu quadro se agravasse e isso fez sua cabeça doer ainda mais.

— A senhora está bem? _ o taxista perguntou, observando-a pelo retrovisor.

— Sim. _ foi só o que ela foi capaz de responder enquanto suas mãos trêmulas tentavam abrir o recipiente com seus remédios.

Depois de engolir dois comprimidos e respirar fundo repetidas vezes, ela pegou o telefone e enviou uma mensagem a Nas, avisando sobre sua chegada e pedindo sutilmente que ela não esperasse no apartamento. Ela estava no seu limite físico e emocional. Encontrar os dois juntos poderia quebrar seu auto-controle.

A resposta de Nas veio rápido e trazia nas entrelinhas acusações que exigiam atitudes reparadoras:

Fiz progressos importantes por esses dias. Não foi fácil. Ele estava muito abatido com toda a situação. Por favor, Jane, não deixe esse avanço retroceder. Você sabe que homem incrível ele é. Kurt não merece sofrer ainda mais. Nós duas sabemos que não há esperanças para você. Deixe seu amor por ele te manter à uma distância segura para a saúde física e emocional dele.”

Jane reuniu toda força que ainda tinha e respondeu: “Foi o bem estar dele que me fez tomar essa decisão. Obrigada por tudo. Até mais.”

Pelo resto do caminho e enquanto subia pelo elevador, uma antiga força sustentada pelo desejo de vingar seu irmão, impediu que ela vacilasse na porta no apartamento. Ela foi forte sua vida toda e também seria agora, no desfecho de tudo. Assim que entrou, seus olhos percorreram o local. Kurt estava na cozinha, atrás do balcão, preparando alguma coisa. O local tinha um cheiro diferente e os sinais de Nas estavam sutilmente espalhados por todos os lugares.

— Olá _ ela disse um tom apenas casual.

— Olá. _ Kurt respondeu olhando apenas brevemente para ela e continuando sua tarefa _ Fizeram boa viagem.

— O voo foi tranquilo. _ ela disse enquanto atravessava a sala em direção ao quarto de hóspedes.

Ele parou de mexer o conteúdo e jogou a colher na pia fazendo o barulho ecoar pelo silêncio do apartamento. Então se virou pra ela:

— Vai ser assim? Você sequer vai me passar informações sobre o caso?

— Reade e Patterson já fizeram isso. Eu acompanhei.

— E não há mais nada que você queira detalhar?

— Kurt, sei que temos muito a conversar seja sobre esse caso...

— Não é só um caso, Jan.... Nunca foi só um caso, lembra-se. É você.  Nós.

— Outro dia, Kurt. Preciso realmente descansar. Sua curiosidade sobre meu passado terá que esperar. Amanhã tenho uma longa série de exercícios físicos logo ao amanhecer para Madeline começar os testes assim que chegar ao SIOC...

— Testes? _ Kurt passou a mão pelo cabelo aflito tentando se controlar antes de falar _ Nenhum teste pode ser feito antes de investigarmos detalhadamente quem é essa mulher. Não encontramos nenhuma informação sobre ela antes dos testes com ZIP começarem.

— Existem vidas em jogo, Kurt! E a única chance deles é enquanto estou disponível para esses testes.

Kurt balançou a cabeça negando o raciocínio dela

— Disponível... Sua vida também está em jogo e importa muito para nós. Pensei que você compreendia isso.

— Não vou discutir com você agora, Kurt. Amanhã você encontrará Madeleine e entenderá o quanto os testes são necessários.

— Então, que tal apresentar alguma justificativa para seu plano absurdo envolvendo Nas?

Esse segundo questionamento a pegou de surpresa. Instantaneamente, a raiva se tornou mais forte.

— O que ela te disse?

— Nada, Jan... Remi ou eu sei lá quem ou como você quer ser chamada agora. Ela não disse nada. Mas não sou um idiota como vocês duas parecem crer. Se recuperar a memória tirou completamente o seu bom senso, te fez esquecer coisas muito importantes, vou te lembrar de uma delas: pessoas não são objetos que você pode descartar. Essa regra serve tanto para planos envolvendo um ataque terrorista como para colocar outra mulher na cama do seu marido.

Jane contorceu o pescoço e buscou foco. Ela desejou ser uma pessoa comum que pudesse reagir a isso com gritos e lágrimas, apontando todos os motivos que influenciaram suas decisões e dizendo o quanto se sentia um lixo por cada uma de suas atitudes. Mas ela estava determinada em seguir seu plano e demonstrar suas fraquezas não a ajudariam nisso. Foi isso que a fez escolher o silêncio no lugar das palavras. Falar poderia traí-la e revelar sentimentos que ela precisava ocultar.

Então, Kurt continuou:

— Já que não sei mais quem é você, vou lembrá-la de quem sou eu: não abandono as pessoas que amo. Se algo entre nós se tornou inaceitável para você, podemos nos separar. Se for insuportável dividir esse apartamento comigo, podemos ver com Patterson se você pode ficar com ela. Ficar sozinha não é uma opção enquanto você estiver doente. Se quiser ficar aqui, essa casa também é sua e não desrespeitaria o espaço que você precisa forçando qualquer tipo de aproximação. Mas você não pode me tratar como um objeto me oferecendo para outra pessoa. Com quem eu estou ou com quem eu durmo é uma decisão minha e não sua.

Ele passou por ela e se dirigiu ao quarto do casal.

Ela estava imóvel. Aparentemente inabalada por tudo aquilo. Seus olhos só olhavam para a salada que ele havia preparado e agora estava sobre o balcão. Surpresa, ela ouviu sua própria voz chamando-o:

— Kurt...

Ele parou e esperou sem se virar para ela.

— Você precisa se alimentar. Ainda está se recuperando._ Jane continuou.

— Sirva-se se quiser. Eu perdi completamente a fome. _ e seguiu para o quarto batendo a porta atrás de si.

Jane fez o mesmo e, assim que entrou no cômodo, fechou a porta e correu para o banheiro. Abriu o chuveiro e entrou embaixo sem tirar a roupa. Deixou seu corpo escorregar para o chão enquanto a umidade da água e o barulho do chuveiro disfarçavam seu choro.

 Na manhã seguinte no SIOC

Weller chegou por volta das 9 am. Os remédios ainda o faziam dormir demais. Já saiu do elevador bufando e buscando com o olhar alguém que pudesse lhe dar informações sobre Jane. Reade percebeu imediatamente a ansiedade do amigo e veio ao seu encontro:

— Weller, bom dia! _ Reade pensou em fazer uma abordagem que lembrasse a Kurt que ele deveria estar em casa por ordens médicas, mas sabia que era uma tentativa inútil.

— Onde está a tal bióloga?

Reade levou a mão até ao ombro do amigo:

— Precisamos conversar, Kurt. Venha até a minha sala.

Enquanto se dirigiam ao escritório, Reade pediu reforço de Patterson e Rich que chegaram rapidamente. Após todos estarem na sala, começou:

— Infelizmente não conseguimos levantar mais informações sobre Madeline Burke. Os arquivos sobre ela são bem recentes. Mas desde que os testes com o ZIP começaram, ela tem sido um nome de referência. Sei que isso não nos oferece a segurança que gostaríamos, Kurt, mas sem ela, não temos mais nada.

— Li as pesquisas dela, Kurt. Tudo tem grande embasamento, comprovação e reconhecimento da comunidade científica. Ela fez progressos importantes para o tratamento. Agora sabemos que precisamos manter Jane numa rotina intensa de atividades físicas.

— Adrenalina, serotonina e outras “ninas” mais vão ajudar nossa garota a suportar até encontrarmos a cura._ Rich comentou tentando demonstrar esperança. Então colocou as mãos nos ombros de Weller que estava sentado na cadeira em frente à mesa de Reade _ Isso significa que sexo ajuda!

Patterson deu-lhe um cutucão seguido por um olhar ameaçador.

— E quanto ao driver?_ Kurt perguntou.

— Estamos trabalhando nisso. Patterson já fez avanços essa manhã. Madeline acredita que Roman pode ter deixado uma informação importante para a composição da fórmula guardada ali. Ele tinha feito contato com outro cientista a pedido dela.

— Isso é bom. Mesmo assim, tenho uma sensação estranha a respeito dessa mulher. Isso não e me agrada.  E tem algo que preciso contar a vocês: Jane recuperou a memória depois do último desmaio.

Os amigos ficaram em choque.

— Eu notei algumas mudanças, mas pensei que era efeito do ZIP... _ Patterson comentou _ e como tem sido pra vocês.

— Eu mencionei as mudanças importantes com vocês antes da viagem como uma forma de prevenção. Raiva e vingança são seu foco principal agora...

— Céus, minha deusa agora é a Bela e a Fera também..._ Rich refletiu em voz alta

— Kurt, você acha que ela é perigosa?

— Acho que não. Mas vocês precisam ficar em alerta. Como você sempre disse, meu julgamento sobre ela nunca foi totalmente racional.

A tristeza no olhar dele era latente. Patterson e Rich abaixaram-se um de cada lado procurando dar apoio:

— Kurt, estamos aqui com você e por você. Não vamos deixá-lo sozinho._ Patterson falou.

— Vamos ver pelo lado bom. Depois de salvarmos a vida dela e o mundo, vocês dois poderão se apaixonar de novo e então reviver tudo como se fosse a primeira vez: o pedido, o casamento, eu como padrinho...

Nem mesmo Kurt conseguiu conter o riso, mesmo que fosse breve e superficial.

— Obrigado. Por favor, me levem conhecer essa tal bióloga.

Laboratório de Madeline, instalado onde ficava a Divisão Zero.

Assim que o team entrou no laboratório, Madeline estava sentada em sua mesa de trabalho próxima à parede de costas para eles enquanto Jane, deitada numa maca, recebia algum tipo de fórmula por via intravenosa.

Patterson se aproximou de Jane e levou a mão até o cabelo da amiga para um carinho:

— Hei, como você está se sentindo?

— Bem. Quer dizer. Nada de diferente até agora...

Kurt se aproximou preocupado:

— Não deviam estar injetando isso em você. _ e se virou atônito para cobrar justificativas da bióloga.

Madeline se virou sorridente. Mas assim que seus olhos encontraram Kurt, o sorriso desapareceu.

Weller ficou nitidamente em choque ao ver a mulher. A cor desapareceu de seu rosto.

— Você não é Madeline Burke...

— Deus, com tantos Kurts na face da terra, tinha que ser justamente você... Calma, eu posso explicar.

Ao ver o impacto que o encontro com a bióloga causou no marido, Jane se sentou na cama atraindo o olhar dele e sua reação. Rapidamente ele se aproximou:

— Precisamos tirar isso de você. Ela não é Madeline Burke e isso pode te matar.

Patterson, sem questionar, ajudou a interromper a medicação de Jane.

— Vocês se conhecem... Quem é ela? _ Jane perguntou, segurando forte o braço do marido, mais preocupada em oferecer-lhe algum apoio por vê-lo tão abalado do que atenta ao risco que sua vida podia estar correndo naquele instante.

— Kurt, acalme-se. Eu sou Madeline Burke agora. As pesquisas são minhas. Ela está segura.

— Ela não é sua cobaia. Você não vai brincar com a vida dela, entendeu?

— Eu sou a única chance que ela tem, Kurt. Entenda isso! Deixe-a receber a fórmula para que eu possa continuar os testes.

Kurt não responde, levou a mão ao rosto de Jane visivelmente transtornado:

— Você está bem?_ ela assentiu assustada._ Tem certeza? Acha que pode andar.

— Sim, eu estou bem...

— Kurt, deixe de ser teimoso. O mundo não gira em torno do seu umbigo. Impedir esses testes só porque sou eu vai matá-la.

Sem tirar as mãos do redor de Jane, ele respondeu:

— Se você tivesse alguma intenção boa, não teria porque esconder sua identidade. Onde está a verdadeira Madeline Burke?

— Eu já disse, sou eu. Mudei de identidade depois que deixei o país. Estou tentando salvar a vida dela, filho. Você continua teimoso como seu pai!

Todos sentiram a informação cair sobre eles como uma bomba. Jane apertou suas mãos sobre as de Kurt e o puxou para fora da sala.

No corredor, Jane o encostou na parece e ficou bem à sua frente. Levou uma mão até o rosto do marido enquanto a outra continuou segurando a dele. Ela não se lembrava de vê-lo tão abalado.

— Calma, Kurt. Está tudo bem. Eu estou bem.

— Ela não se preocupa com as pessoas, Jane. Ela não vai se preocupar com você. Não posso deixar que ela te transforme em mais uma experiência na vida dela. E se isso faz parte de algum tipo de vingança?

— Ela é nossa esperança agora. E está tão surpresa em reencontrá-lo quanto você. Quando nos conhecemos no Japão, ela sequer sabia que eu era casada ou qual seu nome. Por favor, acalme-se..._ Jane sentia seu corpo todo pulsar a cada tentativa frustrada de Kurt em se acalmar. Quase por instinto, colocou a mão dele sobre seu coração e conectou seu olhar ao dele _ Hei, vai ficar tudo bem. Eu estou aqui, ok? Apenas respire. _ e o puxou para um abraço, enterrando sua cabeça no pescoço do marido.

Kurt se agarrou à ela como quem precisa disso para manter-se vivo. Ela aspirou o ar querendo desfrutar daquele abraço tanto quanto ele. Foi então que um cheiro familiar lhe trouxe de volta para uma triste realidade: o cheiro de Nas. Kurt cheirava assim porque precisava ser afastado dela. Ela estava morrendo. Roman estava morto. O bebê foi uma ilusão. A dor não era um sonho.

A última coisa que ela ouviu, foi a voz de Kurt parecendo infinitamente distante:

— Você está tremendo, honey?

A sequência que se seguiu foi rápida a pavorosa. De repente, Jane estava no chão e seu corpo convulsionava enquanto Kurt gritava por ajuda.


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Notas finais do capítulo

Espero que minha linha de pensamento esteja sendo compreendida. Se estiver confuso, por favor, me avisem.
As últimas semanas foram bem corridas, então a revisão desse capítulo foi superficial. Se encontrarem, erros também me avisem, por favor.
Espero que estejam gostando.
Comentários, críticas e sugestões são bem vindos.

Muito obrigada pela leitura.



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