Doce Presente escrita por Marina Louise


Capítulo 1
Doce Presente


Notas iniciais do capítulo

Agradecimento especial para Lab Girl, que foi quem betou essa fic para mim!



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Deitado no escritório deserto do FBI, em seu antigo sofá marrom, Jane amaldiçoou pela milionésima vez a vítima do caso em que estavam trabalhando. Se é que alguém podia chamar Willian Fuller de vítima. O cara não passava de um sociopata, então, quem quer que o tivesse matado tinha feito um enorme favor para a humanidade. 


O problema era que o FBI não concordava com essa sua perspectiva. E nem Lisbon, diga-se de passagem. O que resultou com ele sendo obrigado a ir às cinco da manhã desse domingo a uma cena de crime deplorável e ficar trancafiado no escritório desde que voltara de lá, a espera dos resultados toxicológicos e da análise das digitais que acharam na cena do crime. Cho, Fisher e Wylie estavam com o Chefe na sala de reuniões analisando todas as informações que tinham conseguido sobre a vítima até o momento. Ele, é claro, havia se recusado a ajudar. A ficha do homem era das mais extensas. E se tinha uma coisa que detestava era ler relatórios. Geralmente só o fazia quando Lisbon lhe pedia ou mandava. E nem morto ele ia ficar com o nariz enfiado em todos aqueles papéis a procura do provável suspeito de ter matado o sujeito responsável por trancafiá-lo aqui justo nesse dia.


Uma onda de raiva ainda lhe percorria o corpo toda vez que se lembrava de seu dia arruinado. Dizer que se manteve irritado e hostil durante toda a manhã era um eufemismo. Abbott havia ficado furioso por ele ter ofendido o promotor responsável pelas investigações dos crimes que Fuller cometera. Mas quem podia culpá-lo? Era Dia dos Pais e ele vinha fazendo planos para essa data havia tempos. 


Só para começar, ele havia planejado acordar e fazer amor lentamente com sua esposa – era impressionante como aos cinco meses de gestação Teresa nunca ficava saciada, e isso era algo que ele adorava. Depois, ele iria acordar Bella e levaria as duas para passear no Parque, como havia prometido a filha na semana anterior. Ele até mesmo havia feito Lisbon se comprometer a fazer sua famosa carne assada para o almoço, e sua tarde seria gasta com o que elas quisessem. Agora, por culpa do canalha morto e das ordens idiotas de Dennis, ele fora obrigado a quebrar a promessa que fizera a sua princesinha e ainda por cima ficar sem o que mais queria. 


O Dia dos Pais havia voltado a ser algo sagrado para Patrick desde que sua filha com Teresa nascera. Ele ainda ficava hipnotizado cada vez que olhava para sua pequena. Não conseguia acreditar que havia ajudado a fazer algo tão belo e puro. E o melhor era que vinha outra obra perfeita como essa por aí. Dessa vez, um garotinho cujo nome eles ainda estavam tentando decidir. 


Quando Charlotte fora arrancada de sua vida, ele nem sequer considerara que um dia sentiria a alegria e a emoção de ser chamado de ‘papai ’ novamente. Por isso, apesar de não acreditar em Deus, ele ainda assim agradecia todos os dias por Lisbon ter entrado em sua vida. Graças a ela, agora ele tinha uma família e essa alegria gigantesca no seu dia-a-dia. 


Ele se lembrava como se fosse ontem do medo de Teresa de lhe contar que estava grávida. Isabella havia sido o melhor acidente que já acontecera aos dois. Na época havia, mostrado a ela quanto estava feliz, e até mesmo contado que queria ter outra menina. Mas ele sempre via um pouco de receio da parte dela com essa possibilidade. Medo de que ele não conseguiria lidar com isso. 


Na verdade ele também sentira o mesmo temor desde o dia que descobriram, no ultrassom, que realmente teriam uma garotinha até o momento em que ela nasceu. Por mais que tentasse não conseguia evitar o pensamento de que toda vez que olhasse para sua filha provavelmente se lembraria de sua Charlotte e do vazio que ela deixara em seu coração. Mas seus medos foram totalmente infrutíferos. Toda vez que olhava para Bella se lembrava da nova chance que estava tendo, e mesmo quando recordava-se de Charlotte por causa de algo que sua filha fazia ou dizia, seu peito se enchia de saudades, mas não da dor e da tristeza que imaginara. E isso o fazia amar sua pequenina ainda mais. 


Pensar em Teresa e seus filhos fez um pequeno sorriso surgir nos lábios de Patrick. Abrindo os olhos, o loiro começou a considerar que talvez fosse melhor auxiliar os colegas de equipe na análise de toda a papelada com as informações sobre a vítima. Quanto mais rápido lidassem com isso, mas rápido voltaria para sua família. 


Decidindo-se que essa seria a melhor solução, Jane estava prestes a se levantar do sofá quando a porta do elevador se abriu com o familiar assobio e uma vozinha cheia de alegria se fez ouvir por todo o ambiente. 


Papaaaaaaai ! ” Ele sentiu o coração acelerar ao escutar a voz de sua filha e sentou-se no sofá a tempo de ver Bella correr em sua direção enquanto Teresa mal havia conseguido colocar os pés para fora do equipamento. Ele próprio nem sequer tivera tempo de reagir antes que ela estivesse jogando os braços ao seu redor em um abraço apertado e lançando-se sob seu colo. 


“Eu senti sua falta, papai.” Ela disse com o rosto enfiado em seu peito, os braços subindo e se prendendo ao redor de seu pescoço enquanto ele correspondia ao abraço com igual intensidade. 


Aos cinco anos de idade, Bella era praticamente a cópia perfeita da mãe. Com o mesmo tom de pele e os mesmos lindos e inebriantes olhos verdes que transmitiam pureza e sinceridade. Os cabelos eram longos, escuros e levemente ondulados. E toda vez que ela sorria mostrava duas lindas covinhas. Mas o sorriso era dele. Um sorriso encantador e brilhante, capaz de conquistar qualquer pessoa no segundo em que aparecia. Na personalidade, havia puxado Teresa na maioria dos aspectos, e sabia como ser uma verdadeira princesinha raivosa. Mas, como Lisbon gostava de lhe lembrar, a filha conseguia ser um furacãozinho feito ele quando queria. Isso fora o fato de que era incrivelmente atenta e perspicaz. Tinha herdado sua incrível habilidade em captar os sentimentos e emoções das pessoas. Logicamente, mal tinha nascido e já havia se tornado o maior xodó da equipe, arrancando sorrisos até mesmo do estoico Cho com uma facilidade incrível. 


“Eu também estava morrendo de saudades de você, princesa!” Ele disse à pequena enquanto afastava-se um pouco para que pudesse olhá-la. 


Isabella estava linda. Os cabelos estavam soltos e ela usava um vestido amarelo pálido de cintura rodada que tinha pequenas flores aplicadas por todo o corpete. Nos pés, calçava uma pequena sapatilha preta. Desde que descobrira que tinha o apelido igual ao de uma princesa da Disney ao assistir ao filme A Bela e a Fera, fazia questão de usar vestidos com a cor igual a de Bela. Ele e Lisbon passavam apertado ao tentar convencê-la a comprar ou usar outras cores que não fossem essa. Mas, na maioria das vezes, ela conseguia dobrá-los e fazê-los ceder a sua vontade. 


“Bella! Quantas vezes tenho que dizer para você não sair correndo desse jeito?” Teresa parou ao lado deles, com as mãos na cintura e a expressão zangada no rosto. 


Automaticamente pai e filha se viraram para encará-la e a menina levou uma das mãozinhas aos lábios. “Desculpe, mamãe. Eu esqueci.” Imediatamente a garotinha lançou a Lisbon seu melhor olhar arrependido. Aquele que era exatamente igual ao que ele usava quando aprontava. 


“Não tente usar esse olhar comigo, mocinha! Depois de anos convivendo com o seu pai, eu já estou vacinada!” 


Mas Jane notou que Lisbon amoleceu imediatamente, e antes que se desse conta, estava estampando um largo sorriso com a cena. 


“Isso não é engraçado, Patrick!” Agora era ele quem estava sob o foco dela. “Ela podia ter se machucado.” 


O sorriso dele se alargou ainda mais. Teresa ficava incrivelmente linda quando estava brava, ainda mais agora, grávida de cinco meses e com a barriga já se fazendo aparente com o vestido que usava. Sem contar que ele amava quando ela ficava toda autoritária com ele. 


“Eu sei.” Disse, dando-lhe um pequeno meneio. Com os hormônios dela à flor da pele, não era louco de provocá-la além dos limites como fazia normalmente. “E eu tenho certeza de que ela não vai fazer isso mais, não é, Bella?” Perguntou, abaixando o olhar para a filha, apertando-a nos braços e arrancando dela uma pequena risadinha. 


“Sim, papai, eu juro juradinho!” Isabella disse com seu belo sorriso adornando a face, mostrando aos pais suas lindas covinhas. 


“Além disso, como um homem pode não sorrir ao estar cercado pelas duas mulheres de sua vida?” Foi a sua vez de abrir seu melhor sorriso brilhante enquanto voltava a encarar Lisbon. 


“Ela não puxou esse lado arteiro e desobediente de mim, Jane.” A morena disse em um tom de reprovação, mas claramente lutava para conter um sorriso. “Isso é tudo culpa sua!” 


“Eu não sou desobediente, mamãe!” A voz indignada da filha fez com que os pais voltassem à atenção totalmente para ela. “Papai sempre diz que eu sou um anjinho.” Completou, fazendo um lindo beicinho. 


“E você é, meu amor.” Ele deu um rápido beijo na bochecha dela. “Você é meu anjo lindo.” Os olhos de Isabella brilharam com suas palavras e ela imediatamente corou. Essa era outra coisa que ela havia puxado da mãe. Tinha uma incrível capacidade de corar com o mais leve dos elogios. 


Lisbon sacudiu a cabeça enquanto se sentava ao lado deles no sofá. “Eu estou condenada com vocês dois.” Mas o tom de voz que ela usava era totalmente carinhoso e brincalhão. E, naquele momento, com suas pessoas favoritas ao seu lado, Jane imediatamente se esqueceu do dia horrível que estava tendo. 


“E você nos ama mesmo assim.” Disse, dando-lhe uma piscadela. E foi a vez de Teresa corar. Essas eram suas meninas. 


“Então,” Começou enquanto se recostava no sofá e ajeitava Bella melhor no colo. Esteve tão perdido nas duas que só agora notara que a menina esteve o tempo todo segurando um papel nas mãos. “Posso saber o motivo dessa visita tão agradável?” 


Lisbon não gostava de levar a filha ao FBI. Só o fazia quando necessário. Ela sempre dizia que aquele não era um lugar apropriado para crianças, por mais que a equipe a adorasse. E nesse ponto ele concordava plenamente com ela. 


Dois pares de olhos verdes agora o encaravam, e ele sentiu o coração inchar no peito com isso. Elas definitivamente conseguiam tudo que queriam dele com aqueles olhares. 


“Nós viemos fazer surpresa, papai!” Sua princesinha disse com sua usual empolgação. “Você gostou?” 


“Eu amei!” Disse, fazendo cócegas na barriga dela, arrancando uma risada maravilhosa que fez ele e Teresa sorrirem feito dois patetas enquanto observavam a filha. “Vocês duas sabem como fazer surpresas maravilhosas, não é?” 


Seu olhar se voltou então para Lisbon. Jamais teria palavras para dizer a ela o quanto aquele gesto significava para ele, e antes que pudesse fazer qualquer coisa, a voz dela chegou aos seus ouvidos. 


“Eu sei o quanto esse dia significa para você, Patrick.” Uma das mãos dela agora estava acariciando sua face. “Eu vim te buscar para almoçarmos juntos.” 


Com um sorriso emocionado, ele pegou a mão dela que estava em seu rosto e levou até os lábios, beijando a palma. Lisbon sempre o surpreendia com sua bondade, sua lealdade e sua dedicação, e apesar de se conhecerem havia anos, a cada dia ele descobria novas facetas de sua personalidade que o faziam amá-la ainda mais. 


“Eu também trouxe outra surpresa, papai.” Isabella disse dando pulinhos em seu colo, quebrando o encanto entre os pais e obviamente não gostando de ter deixado de ser o foco da atenção deles. 


“Outra surpresa?” Perguntou a ela erguendo as sobrancelhas e os olhinhos expectantes de sua filha brilharam em troca. 


“Sim!” Ela praticamente gritou enquanto descia de seu colo para o chão e virava-se de frente para ele, as mãozinhas apertando o papel que segurava contra o peito. “Adivinha o que é?” 


Essa era uma das brincadeiras favoritas dela. Pedir-lhe para adivinhar seus pensamentos. Uma brincadeira apenas dos dois e ele amava ter esses momentos de pai e filha com ela. 


“Hum, deixe eu ver...” Disse, colocando uma expressão pensativa no rosto. “Você vai me dar um chocolate?” 


“Não!” Bella deu uma risadinha, e Lisbon apenas sacudiu a cabeça enquanto continuava com os olhos pregados neles, um sorriso totalmente amoroso adornando os lábios delicados. 


“Não?” Sua filha balançou negativamente a cabeça, agora saltitando impacientemente no mesmo lugar. “Poxa, eu jurava que era isso. Deixe-me ver, então...” Ele escorou o braço na perna e apoiou o queixo na mão para ficar com os olhos na altura dos dela. “Você me trouxe um cartão?” Apontou com a mão livre para a folha que ela segurava. 


“Simmm!” Bella abriu os braços e pulou de emoção, arrancando uma gargalhada de Lisbon com sua animação. Patrick podia literalmente sentir o coração explodir com a cena. 


“Eu fiz pra você.” Ela estendeu papel com uma mãozinha. “Feliz dia dos pais!” 


Aceitando o cartão que ela lhe entregava, Jane a abraçou apertado antes de soltá-la para olhar o que estava no papel. Quando viu o conteúdo, seus olhos imediatamente se encheram de lágrimas. 


Ela havia feito o que parecia ser um desenho dele, deitado em seu sofá, e havia escrito em letras delicadas e coloridas, porém ainda trêmulas de uma criança que estava aprendendo a escrever, ‘Você é o melhor papai do mundo’ na parte de cima da folha e ‘Eu te amo’ na parte de baixo. 


“Você gostou?” Quando ergueu o olhar de volta para ela, viu que Isabella estava mordendo o lábio inferior em sinal de insegurança. “Foi eu que escrevi também. Mamãe apenas me disse as letras.” 


“Ela fez o resto todo sozinha.” Teresa acenou com a cabeça em consentimento, encorajando sua filhinha. 


“Eu amei.” Ele disse com a voz embargava. “Foi o melhor presente que eu poderia receber.” O sorriso que sua filha lhe deu em troca foi o suficiente para fazer seu coração acelerar a ponto de parecer que iria saltar a qualquer segundo para fora do peito. 


“Muito obrigado, princesa.” Com uma das mãos, a puxou de volta para seu colo, dando-lhe um beijo no topo da cabeça e ela se aconchegou em seus braços enquanto Lisbon disfarçadamente tentava enxugar algumas lágrimas. 


“Obrigado.” Ele sussurrou com o queixo apoiado na cabeça de Isabella, olhando profundamente nos olhos de Teresa que, em troca, pegou uma de suas mãos que estava ao redor da filha, levando-a até sua barriga arredondada. 


“Seu filho também quer te desejar Feliz dia dos Pais, Patrick.” Um lindo sorriso adornava o rosto de porcelana da morena e ele correspondeu de imediato, sentindo os olhos marejarem outra vez ao sentir o forte chute sob sua mão. 


A manhã não havia começado como ele queria, e as coisas não estavam ocorrendo como planejara. Mas só de estar ali, com as três pessoas mais importantes de sua vida, já foi o suficiente para tornar esse dia perfeito. 



Fim!


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