Última Jogada escrita por kamalaisart


Capítulo 1
Última Jogada - Jily (capitulo único)


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!

NOTAS: *Panta em grego significa "amor"
* Monetae em latim significa "dinheiro"
* Preflop são as primeiras quatro cartas dadas no Poker
* Flop é a próxima sequencia de três cartas
* Turn e River são as duas últimas cartas dadas, ambas com a face voltada para cima
* Full House é uma sequencia de três cartas iguais e um par
* Dealer é a pessoa que dá as cartas no poker
* Cadeiras: nos cassinos sempre se deve ter onze cadeiras numa mesa, mesmo que só se joguem dez pessoas (suponho que seja ao Dealer)
* Fichas é como é representando o dinheiro no poker
* Flush é uma sequencia de cinco cartas consecutivas do mesmo naipe
* Dois pares é uma sequencia de dois pares de cartas
* Trica é uma sequencia de três cartas do mesmo tipo e outras duas aleatórias
* Quadra é uma sequencia de quatro cartas iguais e mais uma carta
* Croupier é outro nome para designar o Dealer
* Marboro é uma marca de cigarros americana muito famosa
* Pote é o nome dado a recompensa/apostas do poker



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Capitulo único — Ultima Jogada (jily)

 

A noite caia sobre a cidade do pecado calmamente, deixando que o tumulto e as cores vibrantes, luzes e cassinos agora mostrasse a real alma da cidade.

O que acontece em Vegas fica em Vegas. 

Os saltos azuis esverdeados de Lily bateram sobre o asfalto molhado, quanto a porta do audi vermelho foi aberta e depois fechada com uma batida única. O motorista não tardou a arrancar o caro, sumindo sobre o movimento das ruas e pessoas. Evans respirou o ar familiar e o soltou, lambendo os lábios.

Seu cabelo era sustentado por uma trança, que caia até as omoplatas, a cor ruiva como o fogo em contraste com o vestido preto. O pano se arrastava suavemente sobre o chão, com dois cortes nas laterais, deixando as pernas pálidas — um brinde britânico a sua aparência — a mostra. A cor leitosa da pele de Lily ficava em uma degrade bonito e ainda mais aparente com as cores escuras da roupa.

Soltou o ar enquanto mastigava a parte interior da bochecha. Havia prometido a si mesma que nunca voltaria a pisar ali — um engano fatal. Jazia de uma carteira sobre a mão direta, aonde o ouro puro refletia, espelhando a escrita grega, panta*. Suas pernas congelaram, observando o fluxo constante de pessoas que entravam e saiam da Monetae*. O letreiro brilhava em neon, com luzes douradas apontando para a letra chique em que era escrito o nome do cassino em latim. Do lado direito se via a ilustração de mesas de poker, cartas e maquinas caça-níquéis, enquanto na outra extremidade da palavra brilhavam-se notas de cem dólares, moedas e cordões de ouro.

Os próximos passos de LIly foram confiantes, enquanto o salto quinze batia sobre os degraus de concreto, antes de sorrir com os lábios totalmente trabalhados no vermelho fogo ao segurança, sentindo o ar gélido e agradável dos ares condicionados do cassino envolverem seu corpo que se arrepiou ao encarar os jogos e pessoas, sorrindo e chorando.

Estava de volta ao lar.

  ♛ ♛ ♛

James mordeu os lábios, nervoso. Seu preflop* era horrível, disposto de um três e um sete de paus, um dois de copas e um nove de espadas. O flop* também não era bom, tirando por um par 10-10 de ouros e um dois de espadas. O turn* e river* eram por ordem, uma rainha de copas, e um três de paus. A aposta em fichas era alta, mil dólares na mão. James sabia que desde o começo da noite já havia perdido o carro — do qual agora era apostado de um lado para outro na mesa — e dezessete mil. Sua cabeça latejava, sentindo os olhares dos expectadores e dos jogadores queimando sobre si.

Acariciou a carta desgastada da rainha de copas. Não havia jeito de ganhar, já que precisava ter uma mão alta e usar pelo menos duas cartas do preflop na jogada. Um jogador loiro a sua direta, pelo sotaque, californiano acabou ganhando a rodada, apresentando a mesa um full house* com três Az e dois reis.

E lá se eram mais mil dólares, somados a pequena fortuna que ele já havia apostado, agora indo para o lado do californiano sortudo. James, passou a mão pelo rosto, anunciando ao Dealer* uma pausa no jogo, que agora prosseguia com nove jogadores. James observou o mais novo ganhador pedir por mais uma rodada. O Potter torceu a boca, saindo do pequeno aglomerado sobre a mesa mais alta. Este era o problema do Poker, pensou pegando um drink sobre a bandeja de um garçom que passava por ali, nunca sabiam a hora de parar e acabavam perdendo tudo quando na verdade deveriam sair de lá ricos.

Era irônico que ele mesmo já havia feito tudo isso — e não apenas uma vez; o ser humano sempre acabava por ceder ao pecado da gula, de sair com toda a mesa nas mãos. James sentiu um gosto amargo subir a garganta, e não era apenas do Martini que tomava.

 ♛ ♛ ♛

Lily observou os olhos atentos das pessoas que sobrevoavam sobre si. Não era como se fosse uma novidade; seu rosto exibia uma expressão voraz, os lábios fechados, os olhos ágeis observando a movimentação de rostos de dinheiro, fichas sobre as mesas mais altas. Observou um moreno casual, vestindo uma camisa social, preta, jogada sobre uma calça marrom e um cabelo preto — tais como os olhos, negros, sustentado pór um topete. Os lados eram levemente raspados, dando uma impressão aveludada. Lily escondeu o olhar sobre a taça de champanhe que agora jazia sobre a mão, cristalina. 

Os olhos cor de esmeralda da ruiva seguiram o homem, estranhamente convidativo até ele se encostar sobre uma parede, tingida por um vermelho escuro, brilhante. Evans seguiu, sobre lá, jogando o cabelo avermelhado para trás do ombro, caindo sobre as costas suavemente como seda.

Encostou-se sobre a parede, relaxando os ombros. A cabeça era jogada para trás, os olhos miravam o teto distraidamente. Girou as orbes verdes, umedecendo os lábios rapidamente.

A voz do desconhecido se fez presente, rouca, próxima de Lily, que sentiu um arrepio subir pela coluna, engolindo o seco. Levou a taça de champanhe a boca, sentindo o gosto suave descer a garganta levemente adocicado.

— Quem é você? Isso não seria uma maneira muito rude de cumprimentar alguém? — Evans divagou, em resposta ao homem. Ele revirou os olhos, negros, porem estranhamente brilhantes e sorriu, um repuxo perceptível do lado direito dos lábios.

— É um pouco estranho uma mulher elegante parar ao lado de alguém de repente e apenas divagar com uma taça de champanhe. — Ele retrucou, agora encarando Lily. Ele era um cara curioso, saindo da mesa de maior aposta, pegando um Martini e pensando na vida. Era obvio que não estava com sorte no jogo, mas não estava desesperado ou se drogando na porta do cassino; era diferente.

— Talvez essa mulher esteja apenas curiosa sobre esse alguém. — Lily jogou, encarando o fluxo de pessoas que entravam e saia. Deveria ser perto da uma e meia da madrugada, a noite estava apenas começando.

Ainda havia muita coisa para rolar antes do sol raiar.  

♛ ♛ ♛

O quão louco era conhecer uma desconhecida chegar em sí em pleno um cassino, em Las Vegas, a cidade da diversão, ficar ao seu lado e querer saber da sua trágica e triste história de vida?

James riu sobre o Martini, olhando a ruiva incrédulo. Seu cabelo era trançado perfeitamente, caindo sobre as costas. A cor de fogo quase se confundia com a parede, tingida de vermelho escurecido. Ele franziu o cenho, a encarando.

Uma maluca linda de morrer. Em que buraco de Las Vegas me enfiei?

 

— Digamos que esse alguém também esteja curioso sobre o que essa mulher está que está curiosa sobre sí? — James sorriu, soltando uma risada anasalada. Qual era porcentagem de chance de desabafar todos os seus problemas em uma mulher aleatória que quer lhe dar um ombro amigo no meio da euforia da madrugada, ou mais possivelmente apenas rir de suas merdas?

Ela pareceu hesitar um segundo.

— Então esse alguém poderia apenas perguntar a essa mulher sobre porque ela está curiosa, e então ela lhe responderia, e o alguém também a responderia e os dois estariam bem — A ruiva riu, enquanto batia a unha sobre o cristal da taça. James a acompanhou, sem acreditar no que ela falava; sua voz era suave, um som agradável de ouvir, fina e rouca ao mesmo tempo. — de qualquer forma — ela disse, após alguns segundos de silencio. James olhou para ela, reparando em como a cor verde caia bem sobre o ruivo e ascendia seu rosto — eu vi você saindo da mesa. Achei curioso que não estava desesperado por ter perdido tudo ou algo assim.

— E o que lhe faz pensar que eu perdi tudo?

— Quem diabos sai do jogo de aposta mais alta, pega um Martini e vai pensar na vida quando quebrou mesa? — a resposta veio rápida, afiada e curta. James sorriu pela personalidade dela.

— Tem razão. — James disse, um pouco mais baixo do que o tom casual da conversa. Pegara um outro Martini do garçom que passava ali, enquanto a mulher apenas recusava com um aceno — Não gosta de gim?

— Sou chata com bebidas. Ou vodka ou champanhe — sorriu, sem olhar para James. Ele não sabia se ela sentia seu olhar sobre seu rosto, então apenas encarou a direção para qual ela olhava.

— Gostos distintos não? — James sorriu, ouvindo um gargalhar suave.

E então veio o silencio. James sentia seu olhar sobre meu maxilar, e ele encarou-a de volta. E ficaram ali, apenas analisando as expressões um do outro até a mulher sorrir. Ela balançou a cabeça, fazendo a trança se agitar suavemente.

— Vai me contar algo sobre sua vida misteriosa, Mrs. Desconhecido ou é apenas uma tentativa falha? — Quando ela finalmente se pronunciou, James pensou nas possibilidades. Uma pessoa a mais para rir da sua cara, do que faria mal? Sirius já havia lhe dito que ele precisava desabafar com alguém afinal, então deu ombros. De qualquer forma, poderia colocar a culpa na bebida, por mais que ele soubesse que estava sóbrio.

— Se ao menos vou te contar minha vida, preciso sair do seu nome, Srta, Curiosidade.

♛ ♛ ♛

— Lily Evans — Lily não demorou a responder ao moreno. O analisou por um segundo, descansando a cabeça sobre a parede.

— James Potter — sorriu, enquanto Lily sentia sua mão ser apertada. Seu toque era bom, a pele era quente e macia. Lily nunca gostou de toques ásperos, como uma lixa. Esboçou um sorriso em resposta, enquanto James pareceu engolir o seco.

James bebeu mais um gole do Martini, parecendo pensar. Ela deveria achar muito louco um cara parar para contar toda a vida no meio de um cassino luxuoso, mas ela apenas sorriu, esperando sua confissão. Já havia visto muita coisa na noite.

— É... aqui que eu começo a contar minha história de vida? — ele começou, adotando um leve tom de humor em sua voz — sabe, não é toda noite que eu conto meus problemas para uma desconhecida. — Lily ponderou uma resposta, por um momento desejando colocar um cigarro sobre os lábios. A nicotina a fazia pensar melhor. Mas antes mesmo de Lily abrir a boca, James continuou — Bom, tudo começou quando minha mãe engravidou. Na verdade, não tenho certeza se ela queria um filho, muito menos eu...

— Sério? — Lily interrompeu, revirando os olhos, enquanto uma risada suave preencheu o canto. Ela sentiu o sorriso dele sobre seu rosto. 

— Eu cresci em Nevada. Minha adolescência se formou entre identidades falsas para entrar nas casas de show, madrugadas, e muita loucura — seu olhar era baixo, para o chão, o cenho levemente franzido. Ela mordeu os lábios — eu acabei entrando para a Universidade de Nevada, claro. Fazia engenharia. E então eu comecei a vir aos cassinos, jogar uns quinhentos dólares no final de semana. Depois comecei a vir todos os dias, jogar mais, ganhar mais, perder mais. — Lilian suspirou. Ela conhecia perfeitamente aquela história — e aí comecei a me endividar, tranquei a faculdade, comecei a dever empréstimos — suspira — hoje é a última noite. — James olhou para Lily como se buscasse compreensão ou conforto, mesmo que sua face parecesse para ela tão dura como mármore. Forcou um sorriso compreensivo, mas deveria ter saído mais como uma pena. Ela nunca havia, mesmo em dez anos de cassinos, chegado a um ponto tão critico assim. Já havia tido suas merdas, e ah, se quantas merdas, mas ela sabia a hora de parar antes de cair no abismo.

— Deve quanto?

— Trinta mil dólares — Lily quase engasgou.

♛ ♛ ♛

— Oque... — Lily se pronunciou, após um silencio repentino. James batucava a unha curta sobre o cristal da taca do Martini, os lábios compensados um sobre os outros, quase nervoso. Ela pareceu ponderar antes de retornar a falar — você faria se tivesse o dinheiro? Digo, pararia de jogar ou... — Ela acrescentou rapidamente a última parte sobre o olha questionador e curioso de James.

— Se eu sair vivo dessa, eu vou parar de jogar. Acho que a mente humana só detecta o mal de certas coisas quando se chega ao limite, ao fundo do poço. Quando se cai no abismo. Vou terminar a faculdade e sair daqui, ajudar meus pais. Quem sabe faturar uma grana alta, pensei em Miami. Tem sempre mais e mais construções por lá.

Lily pareceu concordar. James observou ela agora olhava para frente, mordendo o lábio. O batom agora começava a ficar desgastado aonde era puxado, como um degrade aparente dos limites dos lábios ao começo. Ela o olhou e James deu ombros, esboçando um sorriso. Triste e melancólico, mas um sorriso.

— Qual é a aposta da mesa? — Ela perguntou, enquanto James pensou por um segundo.

— Setenta, oitenta mil. Apostei meu carro, e parece que tem um milionário por ali. E deve aumentar a cada hora. Pessoas entram com dinheiro e saem sem.

— Claro. Cassinos — ela murmurou — sabe, eu já joguei muito. Era viciada — James a olhou com curiosidade. As palavras pereciam sair mais rápidas, e depois mais lentas, como um começo de um impulso e depois uma percepção do que estava fazendo — perdi, ganhei. Minha mãe morreu no dia em que eu ganhei a maior aposta da casa. E enquanto eu virava a noite, o corpo era preparado para o velório. Foi uma cerimônia rápida e simples, ela tinha câncer terminal. Nós... nós sabíamos que era inevitável. O enterro foi ao meio dia do dia seguinte, já que ela morreu logo no início da noite anterior. Eu cheguei em casa as seis — ela olhou para o teto, piscando — e então eu prometi a mim mesma que nunca mais jogaria. Faz três anos.

— Mas está aqui.

— Problemas financeiros — Ela o encarou, as írises verdes brilhando melancólicas agora.

— Meus pêsames. De verdade. Deve ter sido horrível — o tom de James era sincero, mas não tão íntimo como um de amigo. Ela sorriu, silabando um “obrigado”.  James queria a abraçar, mas sabia que a conhecia a o que? Meia hora? Não deixou de pensar, por alguns segundos, que ela sabia mais de sua vida do que vários amigos da faculdade, e julgava que era reciproco. Mas não tardou a afastar o pensamento.

Lily olhou o celular, antes de se voltar a James. Ele sabia que ainda estava abalada de admitir os erros em voz alta, mas sua expressão era mais suave.

— São duas e três. Teoricamente você ainda tem vinte e duas horas para conseguir trinta mil dólares.

— Eu não acho que Deus iria parar de fazer os seus trabalhos missionários de salvar pessoas de doenças e fome pra fazer um milagre e presentear minha conta bancaria com trinta mil.

Ele riu e ela sorriu. James pensou ter o vislumbre de algo mais sobre o olhar da ruiva.

— Ás vezes Deus tem uma aparência mais exótica e talvez cabelos ruivos.

♛ ♛ ♛

Lily sorriu. James a olhava confuso, com um olhar questionador pairando sobre a expressão.

— O que quer dizer? — sua voz saiu rouca derrepente

— Você precisa de trinta mil. Tem setenta apostados na mesa, você fica com trinta e eu com quarenta para liquidar as contas. — o tom de Lily era sério, o timbre baixo e pensativo. James sorria, incrédulo.

Porque? — a pergunta meio rápida e solida. Lily o encarou, os olhos negros ainda mais escuros pela madrugada, que caia como uma luva sobre os problemas. A rouquidão aparente pelo gelo e gim da bebida, Lily pensara.

Porque não? — a resposta veio curta e afiada como uma navalha. Na verdade, nem a Evans sabia bem o porquê ajudar. Mas também não via o porquê não; James não parecia notar sua oscilação sobre a afirmativa, ainda a olhava perplexo. Era uma de suas qualidades afinal, surpreender. 

Os saltos altos bateram contra o piso enquanto ela virava a costas para ir a mesa de apostas. Seu coração batia rápido, a adrenalina era liberada pelas veias lentamente, enquanto Lily sentia como a velha e comum sensação de sentar na cadeira de jogadas e apostar tudo o que tinha. Perdeu a conta de quantas vezes saiu sem nada.

E pensar que antes, aquilo era tão comum como respirar lhe dava arrepios. Ela jogou a traça para trás da coluna enquanto ela balançava com a caminhada. Ela sorriu ao Dealer enquanto se sentava sobre uma das duas cadeiras vagas* sobre a mesa, esperando a nova jogada. James lhe fitava pelas costas, seu olhar quase furando o pescoço da ruiva por trás.

— Aquele é seu carro? — Ela perguntou sussurrado, enquanto a chave era jogada para o centro da mesa, em uma nova aposta. Provavelmente não haviam muitas fichas* para representar o valor em dinheiro dele.

— Sim. Escute, você vai realmente me dar trinta mil dólares assim de bandeja, se é que você vai conseguir quebrar a mesa? Não vou ter que me prostituir ou algo assim né? — Sua voz era sussurrada, próxima ao ouvido de Lily, que mexia sobre o veludo da mesa para se distrair. Ela riu.

— Essa é a impressão de mulher que eu passo então? — Brincou, enquanto James engasgou atrás de sí.

— Não, claro que não, mas convenhamos que é um pouco estranho uma caridade desse tamanho.

— Minha mãe sempre me dizia que não se precisa de hora nem lugar para ajudar alguém. Eu não preciso do dinheiro e simplesmente te achei interessante. Penso.... penso que ela ficaria feliz em me ver ajudado alguém a sair daqui. — James se calou, enquanto o Dealer substituía sua voz, na ponta da mesa. Seu timbre era agudo, o sotaque alemão. — São dez mil de início.

Ao longo da mesa as apostas foram aumentando, somando uma quantia realmente parecida pela qual James estimou. Somavam quase oitenta mil agora com os outros dez de Lily sobre a mesa. Após a rodada de apostas, o Dealer não tardou a distribuir as cartas. Lily começou com um dois de paus e dois setes. O flop foram um três, um dez e um az, finalizando a sequência com um três e um sete novamente. O ganhador da rodada foi um americano, parecia já ser intimo da casa, apresentando um flush* de paus, com um 2-10-8-A-5.

E as apostas foram todas para o lado dele, que não tardou a apostar tudo na próxima jogada. Lily apostou desta vez apenas cinco mil, recebendo uma sequência de dois pares* de dois reis, dois ás e um três. O ganhador da rodada ganhou com apenas uma mão acima da sua, uma trinca* de três noves, um Az e um sete.

Enquanto o Dealer recolhia mais uma rodada de apostas. Evans virou o pescoço para encarar James, que incrivelmente assistia à partida com uma serenidade bizarra. Lily silabou para ele, retribuindo com um olhar confuso. Ela sorriu maldosa.

Desta vez sua mão era composta por uma quadra*, com quatro setes e um cinco de ouros. Um homem a direta bateu primeiro, com uma full house de Azs, a encarando zombeteiro. Lily riu, e enquanto o Dealer puxava as fichas para o seu lado, Lily bateu as cartas na mesa, fazendo ambos congelarem.

— Levo tudo e não desejo apostar novamente. Quero o dinheiro. — a voz de Lily ecoou firme e forte, enquanto o Croupier* jogava as fichas para seu lado.

— Você tem certeza, Srta.? — A voz dele vacilou por um momento, enquanto Lily olhava para o rosto do homem, que antes jogava a sua frente vermelho de raiva enquanto encarava o pobre homem.

Lily sorriu. — Algum problema? — A sobrancelha se ergueu, como uma acusação. Ele mordeu os lábios em um sussurro, um murmúrio de um “claro”. Evans se levantou elegantemente da cadeira. Ela voltou a rosto ao de James, pedindo que a esperasse lá fora, com um Marlboro*.

 

♛ ♛ ♛

Quando você acorda de manhã, provavelmente a última coisa que vai passar pela sua cabeça era que alguém vai cair dos céus e te ajudar com todos os seus problemas. James nunca acreditou muito em Deus, para ele era algo místico. Fé não era com ele.

Mas agora as cinco pras três, tudo parecia tão surreal e inacreditável. O ar da rua era pesado, gélido sobre o rosto. Os dedos dele brincavam com a caixa de cigarros, lacrada, a pedido de Lily. Ele sentiu quando a cabeleira ruiva parou do seu lado, abrindo a caixa e tragando do cigarro, a fumaça se dissipando no ar. Ele olhou para ela, enquanto ela imitava a ação. Ela lhe entregou um cheque.

— Obrigado. — a voz saiu quase um miado, mais rouca do que nunca.

— Me liga. — Ela disse enquanto lhe deva um papel com um número anotado, os dígitos um pouco amontoados e grossos pela letra . — Pedi caneta e papel quando fui pegar o pote*. O milionário a minha frente havia comprado o Dealer, era aparente pelos sinais que ele fazia quando precisava de tal carta, quando se joga muito acaba aprendendo sobre isso, mais cedo ou mais tarde. Ele se confundiu com as cartas, parecia novo da casa, e então, minha deixa.

 

James lhe assentiu enquanto ela inclinava o corpo para lhe dar um beijo sobre os lábios. Os braços dele envolveram a ruiva, sem movimentar os lábios. Era apenas uma pressão boa, o gosto do cigarro levemente tangível, sobre o batom vermelho. Ela sorriu, enquanto levava o cigarro aos lábios, andando calmamente para frente, a multidão fervente de Las Vegas a envolvendo, e por um segundo James não conseguia ver nada além dela, desfilando como se fosse algo casual pelas ruas.

E ficou ali, a noite envolvendo o corpo, até que se cansou de tentar achar uma explicação.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler ♥



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