De todos os erros que já cometi, confiar em você definitivamente não foi um deles. Disso eu tenho certeza, e sei que você também tem.

Eu me lembro quando ainda estava no primeiro ano, poucos dias depois de chegarmos, e me encontrava insistentemente tentando convencer o fantasma do Sir. Lancaster a me contar onde exatamente ficava a entrada para as cozinhas quando você apareceu. Lá estava você, toda sorridente dizendo a ele que podia ir embora pois você cuidaria de mim... Naquele momento eu não fazia ideia do que viria, mas por alguns instantes eu realmente odiei você.

Claro, isso mudou pouco tempo depois, quando você desfez o sorriso brilhante, olhou bem pra mim e amarrou a cara, perguntando se eu tinha ficado louco. Veja bem, não era porque eu sabia alguma coisa sobre Hogwarts que eu iria prever que perguntar esse tipo de coisa para um fantasma poderia me causar problemas, mas naquela época também eu não me importava o suficiente com isso ou imaginava a proporção que poderia tomar... Mas ainda bem que você estava lá, no fim das contas, para me salvar da minha estupidez.

Eu queria muito ter dito que não precisava da sua ajuda naquela época, mas teria mentido pelo resto da minha vida já que isso não mudou desde então. E, também, não era todos os dias que uma garota mais velha e bonita aparecia sendo legal com um pirralho do primeiro ano, principalmente sendo de outra casa. Mas depois de entender a furada em que poderia ter me metido, eu confiei em você e não me arrependi disso nem por um segundo. Obrigado, inclusive por tão cedo ter me ensinado como entrar na cozinha do jeito certo, e sem cobrar nada em troca.

E as coisas não mudaram depois disso, não é? Ou melhor, mudaram muito, só que pra melhor. Você esteve presente em momentos precisos da minha estadia em Hogwarts que honestamente não sei se teria aguentado – ou sobrevivido – se não fosse pela sua constante ajuda e paciência.

Como aquela vez no segundo ano que invadimos a sessão reservada, mas o Prongs esqueceu de colocar a capa na mochila e você nos acobertou para sair de lá sem sermos pegos porque poderíamos nos ferrar muito. Ou quando você nos ajudou com alguns feitiços para o Mapa a ponto de perder sua varinha no processo... Acho que nunca te vi tão nervosa como dessa vez, mas ainda bem que o Marcus salvou a sua pele, e consequentemente a nossa. E também no quarto ano quando descobriu o que estávamos tentando fazer sobre a Animagia, e mesmo podendo comprometer seu estágio na biblioteca ainda assim se dedicou a nos ajudar porque não ia permitir que nós falhássemos... Nunca lhe agradecemos o suficiente por nos ajudar com isso.

E mesmo com todas as nossas diferenças de origem, idade e casa, você nunca se negou a me estender a mão. Desde as aventuras em que eu e os Marotos nos metíamos até as complicações com o meu irmão. De alguma forma, você sempre se fez presente tão espontânea e natural, me fazendo ver um lado diferente das coisas que eu jamais encontraria palavras para agradecer.

Porque é isso o que você faz Annie, você enxerga as pessoas e faz o seu possível para que elas se enxerguem também. Você foi minha primeira amiga em Hogwarts, e aquela que vou levar para o resto da minha existência sem jamais esquecer tudo o que você foi e ainda é pra mim.

Meu destino se encarregou de me privar de estar na sua presença à tempo de me explicar por tudo o que aconteceu, mas você antes de qualquer um sabe que eu jamais seria capaz de tamanha traição da qual fui acusado.

Sei que você ainda confia em mim. Disso eu tenho certeza, e sei que você também tem. Só espero que antes que seja tarde demais possamos nos reencontrar.

Uma vez você me disse que para confiar em alguém, às vezes você precisa de uma ação de boa fé. Você me deu todas as provas que eu jamais ousaria pedir, assim como segurei sua mão e aceitei a sua ajuda mesmo quando achei que não precisasse.

Eu ainda não desisti Annie, e espero que você não desista também.

Sinto sua falta, espertinha. Espero que esteja em segurança.