A Namorada Misteriosa do Grayson escrita por MJthequeen


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que tenho Lar para atualizar, mas enfim hahaha vai demorar um pouco pq no momento tô focada em uma fanfic do fandom de Naruto ;)

Bem, dois meses atrás postei uma one chamada O Namorado Misterioso da Estelar e disse que muito provavelmente haveria a versão do Dick, então aqui está! ♥ vc pode acreditar que ela é do mesmo universo que a outra ou não, sua escolha ;) pessoalmente, eu acho que não é, se não o Damian seria meio burro de ignorar todas as dicas que ganhou aqui e não reconhecer o Asa na outra fic hahaah enfim.

Para ler a fanfic, é bom ter assistido os três filmes do Batman do universo animada, O Filho do Batman, Batman vs Robin e Batman: Sangue Ruim, e tbm o filme Jovens Titãs vs Liga da Justiça, que dá pra entender melhor hahaha eu ignoro a existência do filme do Contrato de Judas, pq não gostei, então ele nunca aconteceu aqui, ok? kk

Algumas falas foram tiradas dos filmes, provavelmente vcs vão lembrar quais!! Pra ser sincera, acabou sendo uma one de amor de irmão entre Damian e Dick, mas acho que falta fanfic assim aqui no fandom, então valeu a pena ter escrito kk eu me diverti bastante!!

Espero que vcs gostem ♥

Boa Leitura!



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A Namorada Misteriosa do Grayson

 

Damian não sentiu uma real curiosidade sobre Robin até encontrar Asa Noturna pela primeira vez.

Os primeiros dias em Gotham City, a cidade que seu pai bancava como Bruce Wayne e protegia como Batman, foram estranhos. Era esquisito não ser acordado cedo por um dos ninjas do seu avô, com uma espada no seu pescoço, como já tinha se acostumado. Ra’s acreditava que acordar sob um susto o faria ter mais percepção durante o sono – o que não deixava de ser verdade. Mesmo assim, depois de 11 anos acordando desse modo, se ver num quarto tão grande e confortável como o da Mansão Wayne, fez Damian rolar na cama muitas vezes durante a madrugada.

Também era estranho que estivesse em um lugar tão vazio, onde ninguém estava de olho nele. Passear pelos corredores do dojo, quando não estava treinando, era uma massagem importante no ego. Em todo lugar que se virava, havia alguém para reverenciá-lo. Sua mãe sempre estava por perto, de olho, mesmo que ela desse a entender que não estava o seguindo. Na Mansão Wayne, ao contrário, Alfred preferia polir as louças ou varrer o chão do que ficar lá, o encarando. Damian sabia que havia algum tipo de supervisão enquanto ele andava por ai e abria as portas dos cômodos, só para encontrar quartos cada vez mais bem mobiliados, mas não era como se Alfred ou Bruce, que passava o dia na empresa, estivessem com os olhos pregados em suas costas.

Damian podia fazia o que quiser, quando quisesse – desde que não saísse da mansão.

Na segunda manhã, ele achou uma espada numa moldura em um dos intermináveis corredores. Treinou boa parte do dia com ela, destruindo toda a topiária do jardim. Alfred ficou de olho nele durante a primeira hora, mas logo se cansou ao perceber que Damian sabia o que estava fazendo e só se machucaria se assim desejasse. Depois de quatro horas e zero arbustos restantes para cortar, ele também se cansou. Deixou a espada sobre o chão e, sentando-se à frente dela, pensou muitas coisas.

Precisava vingar o avô. Não era uma questão de escolhas ou de vontades – era uma de honra. Então, quando Damian entrou na Batcaverna pela entrada do relógio, que vira Bruce usando no dia anterior, ele tinha um objetivo. Alfred não estava em lugar nenhum para ser visto e o menino deslizou rapiDanente para dentro, até o relógio fechar a passagem atrás dele. Estava na caverna completamente sozinho, sob os sons de absolutamente nada, além do leve bater de asas e o zumbido de tecnologia que vibrava o chão e as paredes num ritmo lento.

Inegável admitir que era o melhor lugar da casa. Quando desceu o elevador, só tinha estado de olho no batcomputador, mas chegar até lá requeria passar pelo andar de cima, a ponte larga contornada pelo parapeito metálico. No lado oposto, estavam os expositores de vidro com trajes em manequins transparentes. Os passos de Damian se tornaram lentos quando passou por ali, dessa vez sem que ninguém testemunhasse que ele estava encarando – na noite retrasada, quando tinha chegado, Batman e Alfred estavam lá.

Dessa vez, Damian aproveitou o momento. Era seis mostruários: os três primeiros eram, sem dúvidas, trajes antigos do Batman. A estrutura era a mesma do seu atual, a máscara pontuda, a grande e escura capa, o símbolo no peito. Exceto que a primeira tinha uma cueca por cima da calça, seja lá qual foi o motivo dessa escolha, a segunda era muito mais cinza do que preta e a terceira não tinha as placas de proteção – era como se uma pequena, mas significativa, evolução acontecesse.

E aí vinha os dois últimos expositores. O quarto não parecia com nada que Batman usaria: era um traje collant azul escuro com luvas inclusas, mas um decote em v no peito seguia até o começo do abdômen e continuava na gola, que se abria como se para proteger o pescoço. No peito e ombros, um arco dourado brilhante parecia fazer o desenho de asas. Não que Damian entendesse nada de moda ou ligasse para isso, mas o uniforme era brega.  Ele não conseguia imaginar o peitoral de Bruce se revelando durante uma luta, por conta desse decote grande demais – a sua mãe usava coisas maiores que isso! E ele podia falar com propriedade que sua mãe não era a mais recatada das mulheres. Era difícil imaginar a quem aquela coisa pertencia, se não a Bruce.

O último fez Damian parar de andar e encarar. O uniforme do Robin. Apesar do shortinho ao em vez de calças descentes, como qualquer praticante de artes marciais deveria usar, a parte de cima era adequada e a capa amarela chamava uma boa atenção. O “R” do peito fez um gosto amargo surgir na boca de Damian. Alguém havia assumido a posição de aprendiz do Batman. Tudo bem, Bruce não tinha conhecimento dele, e Dan tinha crescido com figuras masculinas poderosas o bastante para suprimir qualquer falta que um pai poderia fazer, mas algo parecia errado. O aprendiz de um homem só poderia ser seu herdeiro. Como ele era o herdeiro de Ra’s. Mas, até onde Damian sabia, esse garoto não era seu irmão.

Ele balançou a cabeça e seguiu seu caminho pela escada, até o computador, onde hackeou o que precisava hackear. Foi muito mais fácil do que achava que seria – tinha ouvido muito sobre Batman, afinal. Ele deixou a caverna logo depois; havia um lugar importante para onde precisava ir.

Chegar à Torre Wayne demorou muito mais do que hackear o batcomputador, embora muito mais divertido. Foi bom deixar a mansão de lado e conhecer a cidade, mesmo que, na verdade, inclusive nas áreas boas, o local era horrível. Apesar de estar de tarde, tudo parecia escuro demais e sujo demais e fedia demais. Os prédios velhos e novos se misturavam numa bagunça desagradável ao olhar – ao menos era tudo muito alto. Tão alto que qualquer viradinha virava um beco com drogados ou mendigos; às vezes, os dois. Pelo menos a Torre era estonteante, brilhando sobre toda a podridão.

Era fácil entender o que seu avô tinha visto em Bruce Wayne, vendo àquela construção.

E, também por isso, foi difícil ouvir da boca dele que Batman não mataria o assassino do seu avô – e que ele, Damian, também estava proibido de fazê-lo. Mas que droga ele estava pensando? Ubu, a mão direita do Exterminador, estava na cidade. Estava na cidade e eles poderiam pegá-lo e obrigá-lo a dizer onde o Exterminador estava. O filho da puta era um idiota que não podia ficar longe de drogas, bebidas e prostitutas. Era fácil. Seria rápido. Talvez Damian nem sentisse vontade de torturá-lo antes de enfiar uma lança na sua garganta e cortar sua cabeça para fora do corpo. E depois, depois o Exterminador teria o que merecia por matar seu avô, seu mestre.

E Bruce tinha dito não!

Foi inadmissível. Fugir àquela noite e ir atrás de Ubu sozinho era o mínimo que Damian podia fazer, em respeito à memória de Ra’s. Em respeito à própria honra.

Então, de novo, ele fugiu. Sem Alfred perceber nada. Batman tinha saído àquela noite, o que facilitou um pouco as coisas. Damian vestiu seu traje negro de treinamento, com alguns equipamentos que Talia tinha o deixado trazer, cobriu a cabeça com a touca, e pegou a velha espada do seu bisavô Wayne. Achou Ubu com tanta facilidade quanto pulou de topo em topo de prédio, aguentando a barulheira incessível das ruas fulminantes de Gotham City. Como tinha imaginado, ele estava com duas prostitutas. Talvez tivesse cheirado pó, seus sentidos não pareciam os mesmos do tempo que Exteminador ainda estava no dojo e Ubu também.

Entre drogas e sexo, Damian não via um único motivo para esse cara continuar vivo. Então ele o perseguiu através das ruas, mesmo que o grandão fosse difícil de ser derrubado. Espancá-lo foi prazeroso. A única coisa que Damian sentia era não estar batendo em alguém importante desse cara – alguém importante e do mal – só para que ele sentisse o que Dan sentiu ao ver seu avó derrotado. Era a única coisa da qual se arrependia, ao erguer a espada alto, seus braços erguidos, e encarar o rosto deformado e sangrento do homem, que se recusava a lhe dar qualquer informação do paradeiro do Exterminador.

Damian soltou um grito de ódio, do fundo da garganta, lembrando-se de Ra’s, e desceu os braços furiosamente, ansiando a vibração da carne sendo cortada, rugindo nos seus músculos. Tudo o que ele sentiu, porém, foi uma pancada forte contra sua cintura e, num único segundo, Damian estava no chão, sem a espada, sem entender nada. Só com uma forte dor no seu estômago. Seja lá quem, ou o quê o atingiu, tinha sido forte. Forte demais. Quando Damian conseguiu erguer o rosto, viu o homem num sorriso vitorioso, erguendo sua espada com orgulho demais.

— Os psicopatas estão cada vez mais jovens. 

O filho do Bruce Wayne podia ter sentado e pensado um pouco sobre quem raios era esse cara. No entanto, ele preferiu se grunhir e se levantar num grito de guerra – tinha uma morte devendo para seu avô. E ele a conseguiria, seja desse cara, seja de Ubu, agonizando no chão próximo a ele.

E Damian avançou.

Ele nunca pagou a morte do avô. Na verdade, ele deve ter só aumentado a dívida, já que todas as suas atitudes atuais seriam desaprovadas pela Cabeça do Demônio. Àquela fora a noite em que conhecera Dick Grayson, o primeiro Robin, atual Asa Noturna, e um idiota completo. 

Mesmo um tempo depois, Damian ainda ficava pensado quem ele achava que era. Tudo bem, Dick tinha sido adotado por Bruce aos oito anos, depois da morte inesperada de seus pais durante um ato no trapézio. E ele tinha treinado e se tornado bom – não ótimo, mas Damian tinha que dar os créditos ao rapaz. E, bem, Alfred e Bruce o consideravam da família. Na verdade, mais de uma vez Bruce tinha deixado claro que Dick era como um filho, e Alfred ainda agia como se ele também fosse patrão dele, toda vez que Grayson aparecia por lá.

Na sétima vez, cinco meses depois de encontrá-lo pela primeira vez, Damian perguntou a Alfred:

— Ele não tem nenhum lugar onde precisa estar?

Foi só um sussurro, enquanto observava Dick praguejar e costurar o uniforme recém rasgado de uma batalha. Alfred tirou os olhos dos medicamentos em que arrumava, para olhar com certo desdém para Damian. Na verdade, “certo desdém” era a palavra certa para a expressão rotineira do mordomo.

— Essa também é a casa do patrão Dick, patrão Damian. – Foi tudo o que disse, como se isso explicasse muita coisa.

Damian cruzou os braços e arqueou uma das sobrancelhas.

— Mas ele não está sempre aqui. Onde ele vive?

Damian disfarçou o tom de voz, esperando que Pennyworth não pensasse que isso era curiosidade. Não era. Ele não se sentia curioso com nada, muito obrigado. Curiosidade era um sentimento inútil que sua mãe tinha assassinado em sua memória. Só era insuportável ter esse poço de otimismo e péssimas piadas e trocadilhos na sua casa.

Alfred, porém, tem um pequeno sorriso no canto dos lábios. Damian finge que não viu, preferindo não estimulá-lo a fazer comentários impertinentes.

— Patrão Dick está, atualmente, atuando em Bludhaven, onde ele mora.

— Hm. Tão ruim quanto Gotham?

— Alguns acreditam ser pior, patrão Damian, embora isso seja renda uma discussão acalorada.

— Hm. – Dick parecia alheio à conversa deles, concentrado em ficar na sua pose atlética, sem camisa, costurando o que deveria estar vestindo. Ele é idiota? Por que não trouxe um traje extra? – Só lá? Que ele fica, quero dizer. Deve ser um pouco solitário.

— Gotham não é?

— Batman tem você. E eu, agora. E ele, considerando que ele não sai do nosso pé.

Alfred ri, realmente ri, ao levantar a bandeja cheia de remédios, para levar para outro lugar. Ele olha Damian como se dissesse que há muito coisa que ele não sabe. O mordomo balança a cabeça depois que Dan envia um olhar fuzilante, odiando a zombaria.

— Bem, às vezes o patrão Dick vai para a Torre.

Damian arqueia as sobrancelhas, se virando para perguntar. Mas Pennyworth já foi embora com sua bandeja e o garoto franze os lábios, voltando assistir as costas do antigo Robin.

 Que Torre?

Damian alongou o pescoço, de repente cansado de tantos exercícios. Talvez tivesse mesmo sido muito para o dia. Desde que saíra da Liga dos Assassinos, tinha diminuído seus ritmos de treinamento – em compensação, eles eram bem pesados. Depois de 2 anos combatendo o crime juntos, Bruce sabia onde Damian precisava melhorar – mesmo que, na verdade, não fosse em quase nada.

Ele troca de roupa rapidamente após tomar uma ducha gelada e resolve ir para a cozinha, pegar algo para comer. Uma fruta, talvez. Algo mais leve do que o purê de abobrinha que Pennyworth tinha feito mais cedo. Ao virar no primeiro corredor em direção ao cômodo, porém, Damian para de andar abruptamente ao ouvir uma voz.

— Eu sei, eu também estou com saudades.

Damian junta as sobrancelhas de forma arrogante. Ah, é. Ele está aqui de novo. Asa Noturna. Bludhaven era entediante, ou o quê? Por que ele não ficava na casa dele, fazendo as coisas dele? Tudo bem, depois do incidente com o Garra e a Corte das Corujas, e sua mãe se mostrando uma lunática ao sequestrar seu pai e tentar matar os dois, já tinha se tornado comum vê-lo por aqui; mesmo por que Dick tinha vestido o manto há pouco tempo. Dessa vez, Batman tinha o chamado para ajudá-lo num novo caso de assassinato em série – aparentemente com as mesmas características de um psicopata que eles enfrentaram quando Dick ainda era Robin.

Ao em vez de continuar andando, algo prende Damian onde está. Ele usa a parede de cobertura e tenta olhar através da porta. Grayson está de costas, usando jeans e uma camiseta branca, comendo um sanduíche na bancada. Ele apoia o celular no ombro, para conseguir falar.

Se ele estava mesmo falando no telefone com alguém, então não era tão sozinho quanto Damian tinha imaginado. Na cabeça do menino, Dick tinha poucos amigos e por isso vivia por ali.

— Você sabe que quando Bruce me chama, eu não posso evitar vir. Eu prometo compensar daqui uma semana, ok? – A voz dele é um tom mais leve e arrastado do que o que ele usa com Damian ou Bruce. Dan não move nem um músculo, desejando conseguir ouvir a voz no outro lado. – Tudo bem, não quero mais te atrapalhar. – E uma risadinha! Uma risadinha maliciosa. Dick estava dando uma risadinha maliciosa no meio da cozinha da Mansão. Isso era nojento. – Não, você desliga primeiro. – Dessa vez Dick afina sua voz mais do que deveria e Damian faz uma careta. Ok, isso não podia estar acontecendo. – Vocês desliga primeiro... Não, você... Eu não vou desligar...

Ah, pelo amor de Deus. Damian tem vontade de entrar lá com uma espada e cortar o telefone no meio. Ou jogá-lo pela janela, o que seria mais simples. Dick continua com essa palhaçada por mais algum tempo e, cansado e sem fome, Damian dá meia volta.

— Que tipo de pessoa discute para saber quem vai desligar primeiro? – O menino resmunga, retirando seu cinto de utilidades.

O homem do seu lado, usando uniforme, levanta a sobrancelha.

— Você falou comigo, Damian? – pergunta, em dúvida, procurando o olhar de Alfred.

Eles tinham acabado de chegar à caverna, depois de mais uma noite de patrulha, e Damian não pôde evitar um resmungo. Estava pensando nisso desde o dia anterior e algo dentro de si se revirava para saber com quem Grayson estava falando. Isso atrapalhava seus sentidos durante uma luta.

E não, não era curiosidade!

Era só... hã... Cuidado! Sim, cuidado. Grayson já tinha se provado um idiota antes, ou sempre, então já que ele não sairia de perto, Dan sentia a necessidade de ter certeza que ele não ia espalhar a identidade secreta deles para alguém que não era de confiança. Tinha dito “Bruce” no telefone, o que demonstrava que a pessoa já sabia mais do que deveria. Na última vez, ele tinha revelado para Kate, a Batwoman, pouco depois que a conheceu.

Damian se vira como se só tivesse ouvido a voz do pai agora.

— Por que alguém discutiria no telefone sobre quem deve desligar primeiro? – é uma pergunta honesta. Ele tinha vivido sua vida toda em um dojo, lutando, e era particularmente difícil entender essas tais relações sociais. Pennyworth tinha garantido que ele tivesse muitos filmes “modernos” para assistir, mas Damian se entediava na metade deles e desligava. Ele não iria para uma escola, mesmo, então por que deveria ficar vendo sobre? Os filmes sempre tinham garotas brigando por vestidos, também, o que ele acreditava que distorcia totalmente o sexo feminino. Sua mãe nunca teria colocado filmes desse tipo para ele assistir; e ela também nunca brigaria por roupas. Ok, sua mãe tinha se provado doida, mas mesmo assim.

Bruce encara Alfred mais uma vez, um ponto de interrogação percorrendo seu rosto. O mordomo parece tão confuso quanto e mexe os ombros e a cabeça, como se dissesse que não sabe de nada. Então Bruce se volta para Damian, que espera uma resposta pacientemente, apesar do rosto bravo – e quando esse menino não está bravo, mesmo?

— Hã... Por que talvez a pessoa não veja muito a outra, e os momentos no telefone são importantes...? – Bruce chuta, um pouco confuso. Damian parece pensativo.

— Hm. Então só discutimos no telefone com pessoas que gostamos?

— Acredito que sim – Bruce ainda parece confuso, mas se concordar vai fazer o menino entender, por ele tudo bem. – Por que a pergunta, Damian?

O filho se encosta no corrimão da escada, cruzando os braços. Ele está levando o assunto muito a sério e é perceptível na sua careta.

— Ontem ouvi Grayson dizendo que não iria desligar primeiro, no telefone. Muitas vezes. E a sua voz era... – Damian olha para o lado, tentando achar a palavra. – ...Como a de um bebê.

Bruce olha imediatamente para Alfred e, num segundo, os dois estão rindo. Rindo! Damian só tinha visto alguns poucos sorrisos no rosto do seu pai, mas agora ele estava rindo tanto que seu rosto logo se tornara vermelho. Pennyworth era um pouco mais contido, como se seus olhos rissem por ele.

O homem por trás do manto do morcego respira fundo, tossindo algumas vezes para conter a risada. Dan não está rindo nem um pouco. Na verdade, parece ofendido. Bruce se desculpa com o olhar, mas seu rosto ainda é bem humorado.

— Então você pegou Dick falando com voz de bebê no telefone? – pergunta, tentando com toda a sua força não rir entre as palavras. Damian só pisca, balançando a cabeça que sim. – Bem, você... Você não deveria ficar ouvindo a conversa dos outros, Damian.

— Eu estava passando. Ele que não deveria ficar fazendo vozinha no meio da cozinha dos outros. – Damian está sério e seu tom é até irritado. Bruce, porém, fica vermelho, como se fosse muito esforço para uma pessoa só.

Não rir, não rir, não rir, é tudo o que está passando na sua cabeça. Alfred parece perceber as expressões que Bruce faz e, contendo um sorriso, se aproxima dos dois Wayne, colocando a mão no ombro do mais velho para lhe dar suporte.

— Acredito que o patrão Dick estava falando com a namorada, patrão Damian – ele explica, pacientemente.

“Ele tem uma namorada?!” é a primeira coisa que passa na cabeça de Damian. Isso ele não tinha imaginado.  Tudo bem, aparentemente Grayson era uma espécime bonita do sexo masculino. Algumas revistas de Gotham, quando falavam sobre a beleza de Bruce Wayne, citavam seu herdeiro Dick Grayson como outro exemplo – não que Damian lesse revistas de fofocas, ele só tinha visto as capas quando passava por bancas. Mas já o conhecia há dois anos e, enquanto já tinha pegado Bruce com uma mulher ou outra, nunca tinha visto Grayson com ninguém.

Não querendo chamar a atenção de Bruce ou Pennyworth para seus pensamentos, ele dá de ombros e murmura um “entendo”, emendando com um “preciso tomar um banho e me deitar”. A última coisa que vê é o olhar cúmplice que Bruce dá para Alfred, ambos com meios sorrisos em suas bocas.

É bom que estivessem rindo de Dick, e não dele!

— Você conheceu a namorada dele?

Alfred fraqueja na escada por um instante e se vira de olhos arregalados para o garoto, no chão. O mordomo estava limpando o lustre da sala principal da casa.

— Patrão Damian! Você poderia ter me dado um ataque do coração – diz, um pouco mais exagerado do que ele é no dia-a-dia. Está descendo as escadas com um espanador na mão.

Damian sorri de canto.

— Você ainda vai viver por muito tempo, Pennyworth, tenho certeza – Alfred levanta uma sobrancelha frente à declaração, mas não a questiona. – E então?

Damian cruza os braços sobre o peito, esperando uma resposta. Já fazia três dias que Dick tinha ido embora, de volta para Blud, e ele estava esperando por isso para começar a questionar. Não queria que Grayson descobrisse, por que ele poderia tentar esconder a identidade da moça – e então como Dan saberia que ela é confiável? Obviamente, confiança é o único motivo que estava o levando nessa pesquisa, 

— O patrão Bruce arranjou uma nova namorada? – pergunta, sem se importar muito, limpando o pó das mãos em um pequeno pano branco.

O garoto junta as sobrancelhas.

— Não. Quer dizer, não sei. Talvez. – Ele pisca, se perguntando se o pai arranjou uma nova namorada. Provavelmente. – Mas estou falando do Grayson.

Alfred levanta a sobrancelha e aquele ar de humor está de volta nos seus olhos. Damian está começando a se irritar com isso, sinceramente.

— Oh. Por quê a curiosidade, patrão Damian?

Argh, Dan odeia aquela palavra. Não é curiosidade. Pessoas idiotas são curiosas. Ele era um... um... detetive. Isso. Damian tosse, dando de ombros como se não fosse nada demais.

— Estou entediado.

— A simulação de batalha da Batcaverna está danificada, senhor?

— Não. – Ok, Pennyworth acha que a única coisa que Damian sabe fazer é ficar enfurnado naquela caverna, lutando com hologramas de ninjas? Isso não é verdade! Bem, meia verdade.

— Entendo. – Alfred começa a fechar a escada, para botá-la no devido lugar. – Não, eu não conheço a namorada do patrão Dick, embora possa imaginar quem é.

Damian o segue em silêncio, os braços ainda cruzados.

— Mesmo? Quem?

— Por que não pergunta isso ao patrão Dick? Tenho certeza que ele ficaria entretido em te contar.

O garoto deixa de andar, seguindo com o olhar até que o mordomo desapareça num corredor. Pennyworth tinha acabado de despistá-lo, ou era só impressão sua?

— Você a conhece?

Damian está encostado na mesa do escritório de seu pai, que o olha através de uma pilha de papéis que precisa assinar. Lucius vinha cuidando de tudo com muita dedicação, mas existiam coisas que só Bruce poderia aprovar. Não queria jogar tudo nas costas de Fox, então arranjou um tempo pela tarde para verificar os documentos. Nesse momento, porém, ele tinha sido interrompido pelo seu filho, com as palavras “namorada” e “Grayson”.

Bruce ainda estava tentando acreditar que tinha mesmo ouvido isso. Damian interessado na vida de Dick. Talvez o tempo que eles passaram como Batman e Robin, quando ele estava sob a custódia de Talia, tenha feito alguma diferença na relação deles...? Bruce se encosta à cadeira, olhando-o com certo humor.

— A namorada do Dick? Ele nunca me apresentou pessoalmente, mas sei quem é.

Damian franze os lábios.

— Ele gosta de se gabar de que é seu filho, então não deveria te apresentar a namorada? – diz. Honestamente, Dan está “jogando um verde”, para ver se Bruce dá qualquer dica de quem seria a moça. E então Damian poderia procurar informações sobre ela, como o último emprego, o que ela gostava de fazer... e se estivesse com Dick atrás do dinheiro Wayne? Ah, não. Esse dinheiro era dele. 

O rosto de Bruce endurece um pouco, ele suspira, entretanto, e olha com certo carinho para o filho, tão parecido com ele.

— Dick é meu filho, Damian. – Se move um pouco na cadeira, tentando manter um tom de voz agradável. – Tenho certeza que ele vai nos apresentá-la quando decidir que é a hora certa.

Ótimo, era o segundo que não ia lhe dar informação nenhuma. Dan decide cutucar a onça um pouco mais.

— E se ela só estiver atrás do dinheiro dele? Ou atrás da nossa identidade secreta...

Bruce faz uma careta estranha, como se pensasse nisso. Logo depois ele sorri de canto, achando algo engraçado.

— Estou certo de que dinheiro não a importa, Damian. Ou nossas identidades.

Damian repete as palavras mentalmente. Se dinheiro não a importava, então ela era rica, certo? E, aparentemente, ela sabia a identidade deles há algum tempo, já que Dick tinha falado com tanta intimidade no telefone. Talvez por isso Bruce acreditava que, se a mulher quisesse atacar, ela poderia ter atacado. Mas as pessoas muDan! Mesmo se ela não tivesse atacado ontem, amanhã a história pode ser outra.

Antes que ele possa dizer qualquer coisa, porém, a voz de Bruce, muito relaxado em sua cadeira giratória, faz ser ouvida:

— Por que todas essas perguntas? Tem certeza que não está com ciúmes de Dick? – Bruce sorrir ao ver a cara de espanto do filho. Ele tosse e procura as palavras que Alfred, ou seu pai, ou mesmo Lucius, teriam usado. – Sabe, isso é normal, Damian, você o vê como um irmão mais velho e, hã, é normal sentir ciúmes quando um irmão mais velho arranja uma namorada. Mas eu tenho certeza que Dick não vai te deixar de lado ou...

Oras, por favor! Damian já tem 13 anos, não sentiria esses ciúmes bobos de criança. E Dick não era seu irmão mais velho, obrigado. Da onde Bruce tirou essa ideia horrível? Ele estava delirando. Como Pennyworth estava delirando que ele estava curioso.

Será que ele precisava lembrá-los que já tinha matado mais de 10 pessoas na idade de seis anos?! Damian se vira, tentando engolir a ofensa.

— Estou na caverna.

Na verdade, ele não foi para a caverna. Sentado confortavelmente na lateral mais escura e quieta de uma lanchonete na cidade que sabia que a convidada gostava, Damian a esperava. Não ficava muito perto da mansão, já que era no centro da cidade, mas ele tinha autorização para sair para onde quisesse desde que, 1, fosse de dia, e, 2, ele avisasse pelo menos à Alfred onde estaria.

Ok, ele não seguiu a segunda regra, mas acreditava que estaria em casa cedo o suficiente para Bruce não notar sua ausência.

A porta da lanchonete se abre ao som de um sino e a mulher que entra, usando jeans e uma regata babylook lilás, olha ao redor. Ao ver Damian, ela franze o cenho e se aproxima, sorrindo gentilmente para a garçonete, mas a dispensando com a mão.

— Achei que Bruce tinha me chamado – diz, sentando-se de frente para ele. Seu cabelo curto, vermelho, está meio-preso. Ela parece um pouco mais magra do que a última vez que a viu, mas, bem, ela estava de uniforme. As placas em sua roupa com certeza a deixavam maior.

— Achou errado.

Kate levanta uma das sobrancelhas ruivas e apoia o cotovelo na mesa, o queixo na mão.

— Você tem certeza que não quer atravessar a rua ir para o McDonald’s? Eu te pago um McLanche Feliz, para ver se você perde essa sua cara feia. – Quando a careta de Damian aumenta depois de ouvir as palavras, Kate ri alto, se divertindo à custa dele.

Dan nunca tinha mesmo gostado dela, a Batwoman, e menos ainda de suas piadas sobre ele ser uma criança – ele não era! Porém Dick tinha demonstrado ter certa intimidade com a mulher, que deveria ser dois ou três anos mais velha, e ela não tinha motivos para esconder qualquer coisa de Damian. Certo...?

— Corta a palhaçada, Kate. Eu quero saber se você conhece a namorada do Grayson.

Encostando-se às costas do sofá da lanchonete, Kate levanta só a sobrancelha esquerda, franzindo os lábios com gloss labial. Bem, ela era bonita. Definitivamente.

— Uau, ele ficou irritado. – Ela sorri. – Não, não conheço. Eu e o Dick só voltamos a nos falar recentemente, se você não percebeu...

Damian bufa. Ótimo, tinha saído para nada. Kate, porém, continua:

— Por que essa preocupação? – Ao menos ela usava a palavra certa! Preocupação, era tudo. Por que Grayson era um idiota e podia acabar botando a vida deles em risco. Ou à dela, a namorada.

— Ele não a apresentou à Bruce, então algo me diz que ela pode ser... perigosa. – Damian move os ombros. – Você sabe, como Dick confia rapidamente nas pessoas.

Katherine o encara de uma forma mais carinhosa do que vinha fazendo, um sorrisinho na sua boca. O que há com todo mundo que ficam o olhando dessa forma, hein? Ao mesmo tempo, parece que ela está pensando que ele é tão mais velho do que seu corpo aparenta. Provavelmente reflexos dos treinos que a mãe lunática e o vovô-demônio lhe deram.

— Você é perigoso – corrige, rindo, mas Damian a olha feio e ela balança a mão. – Vamos, não fique assim. É verdade que Dick tem uma tendência exagerada de ver o lado bom das pessoas, mas ele não é nenhum idiota. Não tanto, pelo menos. Deve ser uma boa garota. E se não for, vai ter você atrás dela. E eu, se é isso o que você quer ouvir. Odeio garotas que partem corações.

Dan se move na cadeira, balançando a cabeça.

— Você não tem mesmo nenhuma ideia de quem possa ser?

Outra vez, Kate apoia a cabeça na mão, franzindo os lábios de modo pensativo. Seus grandes olhos cinzas encaram o teto, como se procurasse uma resposta.

— Bem. Ele gosta de ruivas, se eu me lembro com clareza. 

Damian a encara e pisca sobre a revelação. Então seus olhos passam imediatamente para o cabelo vermelho, brilhante e vivo, dela. E para o fato de que ela é uma mulher bonita, muito bonita, quase da idade de Dick. E também, ela era a Batwoman e dinheiro não deveria importar nem um pouco – até onde ele sabia, o pai dela tinha ótimas economias. A identidade deles também não! Dã, Kate já os conhecia. 

Tudo faz sentido e um grande alívio começa a passar por seu estômago. Ok, ele não gostava de Kate, mas ela não parecia perigosa o suficiente para roubá-los ou coisa do tipo. E ela não vivia na cola de Grayson; não que isso o importasse...

Ao ver a expressão dele, Kate arregala os olhos e entreabre os lábios, surpresa.

— Ah, você acha que eu e ele... – Ela nunca completa, pois seu rosto se transforma numa careta engraçada e ela começa a rir, ri muito, abraçando o próprio estômago. Dan arqueia as sobrancelhas, sem entender nada. Ela estava tentando fingir que era mentira? Por que ele não cairia no truque da risada. – Meu Deus! Hahahaha, Damian, valeu a pena ter vindo aqui hoje. Você fez meu dia – diz, limpando as lágrimas que se formam de tanto rir. O garoto espera que seu olhar fuzilante a faça se sentir pelo menos um pouco ameaçada.

— Se controla, mulher.

Kate morde o lábio inferior e as risadas vão parando, devagar. Mas quando o olha, ainda está sorrindo.

— Não se preocupe, Damian. Da fruta que o Dick gosta, eu como até o caroço.

Damian franze o cenho.

— E o que isso tem a ver com... – Ele se cala, fechando a boca sob o entendimento. – Ah. Ah!

E Kate pisca para ele, ainda sorrindo.

— E então?

— E então, o quê?

Damian olha bem fundo nas íris castanhas de Luke, que ainda está se perguntando como esse moleque sabe onde ele mora. E como escalou a janela do seu apartamento e entrou pela sala de estar sem, 1, estar com o equipamento adequado e, 2, sem que ele ouvisse nada. Os anos no exército pareciam inúteis agora que ele tinha sido invadido por uma criança. Uma criança!

— Quem é a namorada do Grayson?

Luke se aproxima e segura o garoto pelo antebraço. Algo lhe diz que Damian poderia facilmente se soltar, mas ele não o faz, esperando uma resposta.

— Eu não me importo com quem Dick está trans... – Ele estala a língua, olhando para o rosto do menino e se perguntando se ele entendeu. Logo depois tosse, tentando retomar o que estava falando.  –...está ficando, então sai da minha casa.

— Não é possível, vocês são amigos – Damian diz, sendo arrastado até a porta. Ele quer puxar o braço de Luke e jogá-lo por trás do seu ombro, mas resiste ao desejo.

— Como você sabe que é uma namorada, de qualquer forma? Pode ser um namorado – diz, parando de frente à porta. Na verdade, ele queria jogar Damian pela janela, mas Bruce provavelmente bateria na sua porta com as contas do hospital. E Luke estava quebrado demais no momento para pagar para esse garoto continuar com o rostinho de bebê.

Damian junta as sobrancelhas.

— O quê? Não, não pode ser um namor... – Ele se cala, erguendo o rosto numa expressão séria. – Está tentando me dizer algo? Você é o namorado dele?

Luke o olha surpreso, arregalando os olhos.

— Quê? Não!

— Você está namorando o Grayson? – Damian continua, com o braço agora liberto. Ele se aproxima um passo de Luke, desejando ter a espada na bainha agora. Infelizmente, ele está de jeans e não tem bainha nenhuma. – Isso é algum tipo de golpe para ficar com a Empresa Wayne?

— Eu não estou namorando ele, cara. Eu gosto de mulher! – Luke diz, tentando entender o que raios está acontecendo. Damian continua encarando-o desconfiado.

— Ah, é? Prove.

O Fox só pode olhá-lo em branco, se perguntando o que isso quer dizer. Provar como? Esse garoto deve ter batido a cabeça quando nasceu. Cansado da brincadeira, Luke abre a porta que dá para o corredor e, felizmente, de frente ao elevador, e puxa Damian para fora. 

— Se eu descobrir que você está namorando o Grayson, a coisa vai ficar feia pro seu lado, Wing...

Luke fecha a porta na cara dele, ficando parado na frente dela por alguns segundos, tentando absorver o que aconteceu. E torcendo para Damian não resolver voltar com uma katana ou shurikens, por que sua cabeça já tinha tido informação o suficiente para uma semana.

Sinceramente, Damian não queria ter que fazer isso. Era sua última alternativa. Ele sabia que o quarto de uma pessoa era um lugar para ser respeitado, sua mãe e seu avô tinham deixado isso muito claro quando ele era criança. Um espaço tão pessoal como um quarto, era quase sagrado. Invadi-lo era como invadir a mente de uma pessoa e isso só deveria ser feito em último caso.

Mas, outra vez, seu avô se intitulava Cabeça do Demônio, comandava uma liga de assassinos e tinha mais de 700 anos de idade. Sua mãe, por outro lado, tinha criado uma centena de filhos, de outros Damians, só a espera que um fosse perfeito. Então eles não poderiam ser considerados as pessoas mais adequadas para ensinar alguém, muito menos uma criança.

Damian entra pela porta trancada sem dificuldade e a fecha atrás de si. Ainda estava pensando sobre as palavras de Luke, mais cedo. Se Pennyworth e Bruce sabiam que Grayson estava namorando um homem, talvez não o contassem por medo de sua reação? Damian já tinha ouvido falar que homossexuais não eram tratados igualmente em outras sociedades. Ele, por sua vez, tinha sido criado sabendo que a sexualidade, como um todo, era uma fraqueza. O amor ou o sexo só poderiam trazer fraqueza para um/a guerreiro/a – nada a ver com mulheres juntas ou homens juntos. O sexo só deveria ser feito pela procriação, puramente.

Então Grayson já era um idiota por estar namorando e não fazia diferença nenhuma para Damian se fosse um homem ou uma mulher.

O quarto de Dick, que acabou de ser invadido, é maior do que o de Damian, muito provavelmente por ter sido dois cômodos fundidos em um – no caso do quarto dele, o quarto de dormir e o quarto de jogos. Há uma cama de casal, diferente da de solteiro de Dan, um guarda-roupa, e uma escrivaninha com um notebook fechado e alguns livros empilhados. Também há livros numa estante larga e pequena, perto do guarda-roupa. Todo o resto é equipamento de treino, que Damian observa com aprovação. Há um boneco de treino de boxe, um banco de supino, um cavalo com alças e argolas suspensas. Ele era mesmo um ginasta, não? Do outro lado havia uma porta que, muito provavelmente, seguia para o banheiro. Bem, o cômodo era bem decorado e espaçoso, com poucos lugares para procurar. Damian foi direto para o guarda-roupa.

Sabia que Dick deveria ter movido quase tudo para seu apartamento em Blud, mas ele ficava tanto na mansão que ele duvidava muito que não houvesse nada pessoal. Sabia que muitos casais guardavam fotos juntos, então se ele pudesse achar um retrato, ou alguma carta... O guarda-roupa é enorme e tem muitas roupas, mas Dan nunca viu Dick usando metade. Talvez tivesse sido ideia de Pennyworth comprar tantas, pois o mordomo também tinha feito a mesma coisa consigo e Dan usava, no máximo, três calças e cinco camisetas. O resto, os tênis de marcas e casacos caros, ficavam parados no guarda-roupa.

Ok, nada pendurado chamou sua atenção, então ele olhou para as prateleiras. A primeira de baixo para cima, só tinha sapatos e botas. A segunda, por sua vez, tinha algumas caixas e, sentando-se no chão, Damian pegou uma delas. Um monte de besteira, como cadernos do ensino funDanental e fotos do circo e dos Graysons Voadores, estavam lá dentro. Dan olhou as fotos rapiDanente, mas resolveu não se intrometer muito – já estava se sentindo um pouco mal de ter entrado no quarto dele. Invadir lembranças pessoais era algo que não gostava que fizessem consigo e que não gostaria de fazer com ninguém. Ok, ele podia provocar durante uma luta ou outra, mas aí a intenção era machucar; agora mesmo, ele não queria machucar Dick ou qualquer cosia do tipo. Na verdade, o contrário. Estava tentando tirá-lo de um potencial relacionamento perigoso. 

Ele pegou a próxima caixa. Essa tinha coisas interessantes. Ele achou algumas fotos de Robin – um usando calças, então Dick já deveria ter mais de 8 anos, o ano em que fora adotado – e de outros heróis, que pareciam ser tão jovens quanto ele. Damian encarou a foto por um momento, mas não achou ninguém que ele conhecesse. Havia uma garota de cabelos negros e roupa vermelha, um outro também de cabelos negros, mas roupa azul, um ruivo com arco e flechas, e outro ruivo com uma roupa muito semelhante ao do Flash. O fato de ser um time lhe lembrou da Liga da Justiça, embora esses heróis da foto ele não conhecesse. Eram várias fotos deles, em diversos lugares, mas a maioria parecia se passar perto da praia, apesar de um grande prédio, bem moderno, se destacar atrás. Dan deixou isso de lado e seguiu revirando as coisas.

Até achar uma caixa de presentes cor-de-rosa, decorada com um grande laço vermelho. Ela parecia um pouco amassada, mas provavelmente era o tempo. Havia um pequeno cartão grudado em cima, que dizia “Para Dick, com amor, sua K”. K. “Sua” K. Feminino, então era uma mulher. Damian consegue até imaginar uma moça educada e bonita que tinha dado àquele presente. O laço é só uma decoração na tampa da caixa e, sem cerimônias, Dan tira a tampa, para ver o que tem dentro.

Ele pisca.

É um par de chinelos. Um par de chinelos para ficar em casa. Quem tipo de presente é esse? Damian continua encarando, sem nem conseguir piscar mais. Para piorar a situação, os chinelos são brancos e têm uma estampa... Damian pega um, sem acreditar. Eles estão estampados com uma foto do Grayson, uma dele naquele uniforme cafona horrível que ficava em um mostruário da caverna.

Não eram simples chinelos, o que já seria horrível, mas eram chinelo estampados com a própria imagem! E numa roupa terrível, convenhamos. Não parece que Dick os usou muito, uma vez que estão quase novos, mas a razão é entendível. O que Damian não conseguia entender é por que Richard não tinha logo tacado fogo neles.

Ele volta a tampar a caixa e decide o próximo passo.

Bludhaven é a prima pobre de Gotham.

Claro, Gotham por si só não é lá muito rica. Mas o centro da cidade é adequado e a população rica se espalha de uma forma que mesmo as áreas mais pobres conseguem ter certa imponência. Blud, por sua vez, não tem uma classe alta significativa. Na verdade, se havia uma classe alta nesse lugar, estava muito bem escondida.

Gotham era azul, nebulosa. Blud era amarelada, os raios do pôr-de-sol atravessando as camadas de poluição, refletindo nos carros velhos e nas pessoas em seus casacos e bermudas. Todas as pessoas por aqui pareciam ter frio nos braços e calor nas pernas, o que Damian tenta ignorar ao pular de prédio em prédio sem ser visto. Pelo menos todos os prédios são super altos e ele não seria identificado por nenhum jornal ou pessoa curiosa.  

Ele para em uma torre com o topo triangular, um relógio grande e chamativo ali. O sol já foi embora, mas a noite de Blud não têm o sinal branco que sai de suas entranhas, em direção ao céu num formato significativo de morcego – por um momento, Dan se pergunta se Dick sente falta disso. De ter um sinal para seguir.

A resposta, definitivamente, é não. Se Dick seguia o seu sangue cigano, e Dan acreditava que sim, ele realmente não gostaria de ter um sinal com seu símbolo. Ele iria para onde o vento o levasse e, minutos depois de Dan pousar e se agachar como um passarinho, o vento o trouxe para cá.

— Bruce sabe que você está aqui?

Dan se vira ao ouvir a voz, mesmo que já tivesse ouvido os passos. Asa não queria ter escondido a sua chegada, se não teria o feito. Damian tinha que admitir que ele era muito bem treinado e podia se esconder dele, Dan, quando quisesse.

— Ele vai saber. Eventualmente. – Damian dá de ombros e vê quando a máscara no rosto de Asa Noturna se arqueia significantemente. Ele também cruza os braços, o que faz o símbolo azul parecer mais brilhante.

— O que está fazendo aqui, Damian?

— Queria conhecer a cidade – diz, esperando que sua voz seja verdadeira o suficiente. Ele não era capaz de mentir para Bruce, que sempre o pegava. Pennyworth, por outro lado, era um pouco mais fácil. Então que Pennyworth tenha treinado os sentidos de detetive de Dick, amém. – Um clima novo.

— Um clima novo...? – repete, desconfiado, e se aproxima para ficar do lado dele. – Você é sempre bem vindo, Damian, mas podia ter avisado. – Antes que Dan possa responder, Asa coça a nuca e o olha, um pouco desconcertado. – Brigou com Bruce de novo? Eu sei como ele é difícil às vezes. Hm... Na maioria das vezes.

Damian abre a boca. Ótimo, agora Dick estava pensando que ele saiu de Gotham, horas atrás, por que tinha tido uma discussão com Bruce. Mas não era isso. Ele tinha pensado em como abordar o assunto a viagem toda, e agora estava sem palavras. Fecha a boca e a abre de novo, ideias passando por sua mente como um furacão.

— Não! Eu quis vir por quê... Por quê... – Dan engole em seco. Ele nunca ficava sem palavras.  Rápido. Precisava de alguma coisa. Alguma coisa que ligasse Dick a namoradas. Ou namorados. Bem, não importava. – Eu preciso de um conselho.

— Um conselho...? – Dick resolve se agachar também, então se senta na beirada do prédio. Ele dá uma olhada lá embaixo, como se procurasse algum crime, mas Blud parece tão ruim quanto é sempre, então pode esperar alguns minutos. – Que tipo de conselho? – Ele e Damian tinham, com certeza, se aproximado muito nos últimos dois anos. Dick realmente gostava do garoto e geralmente achava que Bruce era muito duro com ele, mesmo que Dan não fosse uma criança fácil. Ele ainda era uma criança, afinal. Quando vestiu o manto de Batman por certo tempo, sentira uma estranha sensação de paternidade. Foi esquisito e, de certa forma, bom. Ele sempre imaginou se casar e constituir uma família. Esperava que seus filhos verdadeiros fossem menos cabeça dura do que Damian, mas, outra vez, a criação impiedosa dele tinha culpa nisso. Mesmo assim, era incomun ouvir que Dan tinha o procurado para um conselho. Às vezes ainda pegava o menino lhe dando um olhar feio ou um xingamento brusco.

Damian resolve se sentar também, buscando no fundo da sua mente que tipo de ideia era aquela que tinha tido. Ele mantém o rosto sério.

— Um conselho... a ver com garotas. – Certo, isso parece bom. Não diz muita coisa. Ainda tem tempo para pensar.

Dick faz uma careta e logo depois entreabre os lábios. E então um sorriso. Um bem gentil. Estava esperando pelo momento que Bruce lhe ligaria, falando que Damian está tendo algum desses problemas de puberdade, mas não imaginava que o garoto o escolheria para falar sobre isso. Asa até se sentiu bem e meio pai. Ter falado com Bruce sobre garotas foi um pouco estranho, felizmente Alfred estava lá também. Então saber que Damian confiava nele para falar sobre isso, ainda mais sabendo que Damian era péssimo e inexperiente com qualquer relação afetiva, fez ele se sentir um pouco orgulhoso de si mesmo.

— Ah. Você conheceu uma garota? – pergunta, o mais interessado que pode. Quer demonstrar que vai ouvi-lo até o final.

Damian balança a cabeça.

— Sim, conheci. Ela... hã... é muito legal.

— Isso é bom. Quer dizer, isso é ótimo. Então... Você gosta dela? – Dick tenta resistir a pergunta onde ou como Damian a conheceu, sabendo que isso é um pouco invasivo. Ok, ele tinha se metido com o Garra uma vez, mas não era bobo para se deixar ser manipulado novamente. Deve ser uma boa garota.  

— Não! – É a resposta automática de Damian, uma cara de nojo. Argh. Ele não quer conhecer nenhuma garota; sua mãe tinha deixado bem claro o que paixão ou sexo podiam fazer com uma pessoa. Ela tinha o garantido que não escolheria ter se apaixonado por seu pai, se pudesse ter escolhido. Ao perceber a confusão no rosto de Dick, porém, se arrepende completamente. Ele tinha que manter o papel, idiota. – Quer dizer... Gosto, gosto muito dela...

Dick ri baixo, sorrindo de orelha a orelha a todo momento.

— Não se preocupa, eu sei como é difícil admitir isso no começo.  

Ótimo, Dick estava falando dele. Damian queria manter nesse ritmo.

— Mesmo? Você já passou pela mesma coisa?

— É claro! Eu era louco pela Kate, na sua idade. E outras garotas... – Ele parece pensativo por um momento. Então balança a cabeça e volta a olhar Dan. – Mas não vou ficar falando sobre mim. Qual é o problema com ela?

“Não, idiota, é exatamente sobre você que precisamos conversar”, Damian tem vontade de dizer. Felizmente, ele consegue controlar a língua na boca antes de arruinar tudo.

— Ela... hm... Nós... – Damian pisca, perdido. Que tipo de problemas ele poderia ter com uma garota? Ele nem conhecia nenhuma, na verdade. Ok, as civis não contavam. Não tinha passado mais do que alguns minutos na presença delas. Uma ou outra era bem bonita, ele não podia negar, mas elas estavam assustadas demais ou procurando seus pais, o que não permitia nenhum tipo de conversa. Além disso, ele estava de Robin. Batman não permitiria uma conversa casual se ele estivesse de uniforme. Não que Damian quisesse, até parece. Dick espera pacientemente, e parece acreditar em tudo o que Dan fala. Talvez confusão nessas horas fosse normal, pensa. – Ela quer... Ela quer que eu fale em voz de bebê com ela! Um ultraje!

Pronto, saiu. Damian absorve as próprias palavras. Era o único problema que ele poderia imaginar num relacionamento com uma garota, agora. Além de sexo. Mas algo lhe dizia que se falasse “sexo”, Grayson piraria – melhor não arriscar.

Dick fica pálido e abre a boca, o queixo quase caindo no peito. Ele se recompõe quando Dan não deixa de encará-lo com uma sobrancelha levantada sob a máscara, e se abana, um sorriso voltando devagar para seu rosto.

— Nossa, que horror. Hã... Ninguém merece passar por isso.

Damian arqueia a sobrancelha, se lembrando dele discutindo no telefone, um tempo atrás.

— É, acho que não.

Dick arruma a postura.

— Sabe, muitas mulheres são assim. Elas dizem que você deve agir de um jeito, quando você quer agir de outro – diz, a voz mais grossa do que de costume. Ok, Damian estava ficando louco, ou ele queria bancar o machão? Se é o que Asa quer, por ele tudo bem. – E você quer saber? Não pode as deixar mandarem em você, Damian. Você tem que colocar um limite.

— Um limite...?

— Sim, isso, um limite! – Dick continua, como se essa fosse a única coisa no seu discurso anterior que tinha feito sentido para ele. Damian tenta não rir, já sacando qual era a dele. Não queria que Damian pensasse que ele era um escravo da namorada ou coisa assim. – Você tem que pegar ela pelos ombros e dizer “mulher, eu sou meu próprio chefe”.

— É o que você faz? – Todo o esforço de Dan, nesse momento, é para controlar os músculos no seu rosto. Grayson parece um desses caras saídos de novelas ou filmes que às vezes ele pegava Pennyworth assistindo e, sem nada para fazer, se juntava.

Dick para de falar por um momento, como se a resposta não chegasse aos seus lábios. É claro, a resposta é “não!”. Ele se recompõe logo depois e, sério, balança a cabeça. Uma pessoa comum nem perceberia tal hesitação, mas Damian não é uma pessoa normal.

— É claro! Você tem que mostrar que é firme, Damian. Uma vez controlado, controlado para sempre. Elas não podem te controlar com sex... – Dick tosse, batendo no próprio peito. – Digo, elas não podem te controlar com... hã... nada. É isso. Mas se lembre de ser sempre gentil, ok?

Damian fica em silêncio por um momento, fingindo que está decorando a resposta dele e Dick sorri de aprovação, limpando uma gota de suor da testa.

— Então, hm, você tem uma namorada? – Finalmente, foi para isso que Damian veio aqui. Dick não poderia negar, já que disse que agia daquele jeito.

Parecendo um pouco mais leve, ele se apoia no prédio, balançando a cabeça positivamente.

— Tenho.

— Eu não imaginava – Damian diz, perguntando-se como chegar ao assunto sem ser intrometido. Dizer “QUEM É ELA?!” com sua katana na garganta de Grayson não parecia uma alternativa.

— Acho que você gostaria dela, vou apresentá-los um dia. Tenho certeza que ela gostaria de você. Quer dizer, desde que você faça um esforço e sorria – brinca, rindo. Damian imagina que é só sua impressão, mas é só falar da tal garota (não é um namorado!!) que o rosto de Dick parece se abrir e clarear. Dan não pode ver os olhos profundamente azuis, mas imagina que eles devem estar brilhando agora. Isso era... estranho. Se sentir tão feliz só de falar de alguém. O estômago de Damian se revira.

— Você poderia me apresentar agora! – Damian diz, rapidamente. Dick o olha sem entender. – Quer dizer, ela deve ser daqui de Blud, não é?

Outro sorriso aparece no rosto dele, como se achasse tal pensamento engraçado. Damian não está rindo, é claro.

— Ah, não. Ela não é daqui. – A última palavra tem um tom diferente, como se Dick não estivesse falando especificamente de Bludhaven.

Em silêncio, Damian encara Asa Noturna. Isso está ficando cansativo. Só queria conhecer a garota. Só queria ter certeza que ela era confiável para... Para eles. Sua boca fica amarga com o novo sentimento. Sua mente estava lhe dizendo que, na verdade, ele queria se certificar se ela era confiável para... para... Damian engole em seco. Ele queria se certificar se ela era boa para Grayson. Isso era estranho, mas imaginá-lo triste e murmurando infortúnios, sem fazer a barba ou tomar banho, como nos filmes que também tinha visto com Pennyworth, apesar de nunca chegar ao final, não parecia certo. Dick não combinava com um clima desses.

Ele se levanta, tentando não se chocar com a nova revelação. Uma mão vai para a espada. Dick junta as sobrancelhas sob a máscara.

— Quero conhecê-la agora mesmo. – Se pedir com gentileza não tinha funciona, talvez um tom de comando fosse melhor. Dick, ainda sentada, parece muito tranquilo, sem se intimidar com a ameaça dele.

— Hã...? Damian, você está bem?

— Essa mulher está o obrigando a falar com voz de bebê e te dou chinelos de presente. Ela não pode ser coisa boa.

Dick se levanta na hora.

— Chinelos de presen... Damian, você entrou no meu quarto?! – acusa, mas o rosto de Dan está tão sério que é inegável. – Ei, você não pode entrar no meu quarto ou mexer nas minhas coisas. Mesmo quando eu estou fora da mansão.

 — Eu precisava de informações sobre essa mulher. Você não disse para ninguém quem ela era. Ninguém que nós dois conhecemos. Ela pode ser uma ameaça!

Dick está o olhando, as expressões entre a raiva e a diversão. Ele sabe que deveria estar irritado com tudo, mas é engraçado imaginar a cara de Damian ao abrir seu presente e dar de cara com chinelos.

— Você fez perguntas sobre mim?!

— Foi inevitável. Eu precisava saber se ela era adequada.

Grayson pisca, em choque.

— Adequada... Damian, você está dizendo que precisa aprovar minha namorada? – Asa diz, devagar, repetindo mentalmente que ele é uma criança. Uma criança de 13 anos com uma mão numa lâmina mortal que, Deus o ajude, sabe usar muito bem.

Damian estreita os olhos lentamente, apesar de ainda estar de máscara. Dick já está acostumado com elas e qualquer movimento é perceptível para seu olhar.

— Considerando que meu julgamento é melhor que o seu, sim. – Seu tom de voz é o de “isso é óbvio”. – Você acredita facilmente nas pessoas e seria fácil te enganar.

Robin espera que ele fique bravo e os dois partiriam para uma batalha. Considerando o histórico de treinos dele, Damian não tem certeza se pode vencer, mas talvez conseguisse convencê-lo a simplesmente apresentar logo a garota. Richard, porém, cruza os braços no peito e tem um sorriso divertido nos lábios. Não parece nem um pouco irritado ou bravo mais.

— Damian você... Você está preocupado comigo – fala, claramente se divertindo. Na verdade, parece um pouco impressionado também.

Dan solta a espada na hora, piscando para o que ele disse.

— O quê?! Não, eu não...

— Não acredito que tenho um irmão mais novo preocupado com minha vida amorosa.

— Eu não sou seu irmão mais novo! – Damian grita, irritado, mas Dick continua rindo. As bochechas do pequeno Wayne já estão vermelhas. Ele tinha acabado de admitir tal pensamento para si mesmo, mas não estava pronto para ouvir isso em voz alta. Raios.

— Bem, está agindo exatamente como um. Perguntando por ai sobre minha namorada e vindo me entrevistar logo depois, só para conseguir a informação.

— Eu estou preocupado com... com o meu dinheiro! Minha mãe me avisou de mulheres interesseiras, que usam sexo e filhos para obrigar um homem a se casar com elas! – diz, nervoso consigo mesmo. Tinha sido um erro ter vindo para Blud. Ele podia sentir seu nariz vermelho, sabia que estava constrangido e essa era a pior sensação do mundo. Argh.

Dick deixa de rir, seu sorriso se tornando um pouco mais carinhoso. Como o de Kate na lanchonete. Ele se aproxima mais um passo de Damian e se abaixa para ficar da altura dele.

— Damian, eu agradeço a preocupação. De verdade. Eu sei que deve ser difícil para você vir até aqui ou admitir isso, ok? Se você quer saber, eu te amo também. E eu vou ficar muito feliz em te apresentar a Ko...

Damian dá um passo para trás, sentindo a testa quente. Céus, ele deve estar parecendo um tomate agora.

— Eu não estou preocupado! E eu NÃO te amo!

E pula do prédio antes que Dick possa dizer qualquer coisa. A última coisa que vê é o sorriso do babaca. Argh.

— Eu que tinha que estar dirigindo – Damian murmura, olhando através da janela do batmóvel. Eles já estão na estrada há, o quê? 4 horas? E parece não ter fim.

— Depois do que você aprontou? – ele ouve a voz de Asa Noturna, dirigindo, e revira os olhos por baixo da máscara. É, ok, ele já tinha ouvido todos os sermões possíveis do Batman. E os olhares de Pennyworth. Não precisava de mais. – Tem muita sorte de poder chegar perto de um volante.

Talvez Damian não devesse ter pegado o batwing e atacado o Mago do Tempo sem autorização do Batman, mas o que mais poderia fazer? Ele estava sendo subutilizado para uma tarefa tão patética quanto fazer as pessoas saírem da rota de batalha. O mínimo que um civil poderia fazer, ao ver uma batalha da Liga da Justiça contra a Legião do Mal, era permanecer longe. Ninguém deveria ter que ficar avisando que, dã, era perigoso.

Então Damian viu que podia servir para algo de verdade, já que o próprio Superman e a Mulher Maravilha estavam tendo problemas, e ajudou. Realmente ajudou e derrotou o Mago do Tempo, que parecia ter ganhado novos poderes ou coisa assim. Tá, ele desmaiou e não houve explicação plausível para esse ganho repentino de poderes, mas ai o problema já não era de Damian.

Agora Bruce tinha decidido que ele precisava aprender a trabalhar em equipe – ! – e por isso pediu que Asa o levasse até onde esse tal time estava. Damian estava controlando a vontade de dizer “você faz tudo o que Batman diz?!”, se poupando em observar a vista.

Dick acelerou e Damian quase podia sentir o cheiro da costa no seu nariz. Eles estavam no litoral, bem diferente da cidade fria e chuvosa que Gotham era. Honestamente, Dan já estava sentindo saudades do cheiro podre e da aura pesada. Montanhas? Ok. Cidades chuvosas? Ok. Praias? Ah, não.

— Então esse é meu castigo? Aguentar um bando de criancinhas? – pergunta, sem esconder o tom irritadiço na voz. Tudo o que Batman tinha dito sobre, entre os gritos e as caras bravas, era que a equipe era jovem. Só. No caminho para cá, Dick vinha falando um pouco sobre os membros, mas eram informação básicas como nome e poderes.

Havia uma tal de Ravena, aparentemente uma feiticeira, ou bruxa, era o que ele tinha entendido, Mutano, um garoto verde que se transformava em animais – fala sério –, Besouro Azul, que tinha tecnologia alienígena incrustada nas suas costas, o que lhe dava um traje superpoderoso, e Estelar, uma princesa de outro planeta. Se era para essa descrição fazê-lo se animar, não tinha dado muito certo.

Dick o olha, sorrindo de canto.

— Mas isso não é um castigo. Tem que aprender a fazer parte de uma equipe.  E não são crianças, são adolescentes.

— Piorou.

Dick balança a cabeça, olhando a estrada.

— Não me diga que Damian Wayne está com medo de se enturmar... – provoca, assistindo a reação do mais novo. Obviamente, não é das melhores. Damian já estava cheio de ouvir sobre esse assunto; não bastava tudo o que ouviu de Bruce? E o fato dele estar sendo praticamente expulso de casa, também...

— Eu não tenho medo de nada! Colegas de equipe são um fardo.

— É mesmo? – Dick arqueia as sobrancelhas, parecendo se divertir. – E o que eu sou para você?

Isso faz Damian se lembrar da conversa deles no topo de um prédio em Bludhaven, três meses atrás. Dick tinha dito que ele era seu irmão mais novo. Hm, até parece. Asa Noturna podia acreditar no que quisesse, Damian não se importava. Nesse momento, ele só estava focado em ficar muito irritado e desejar voltar para Gotham e se enfiar na caverna. Sem falar com nada ou ninguém. A voz do Grayson só estava o deixando mais irritado – e com vontade de enfiar uma lâmina em algo ou alguém.

— Uma irritação inevitável! – grita, voltando a encarar a janela logo depois. Dick, no entanto não parece afetado, já que seu sorriso permanece no rosto.

— Sei. Se você prometer não degolar ninguém, Damian, vou te apresentar uma pessoa importante. 


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Notas finais do capítulo

O Namorado Misterioso da Estelar: https://fanfiction.com.br/historia/748674/O_Namorado_Misterioso_da_Estelar/

Meu headcanon é que a Kori não sabe dar presentes terrestres hahahahaaha ela só deve dar coisa ruim, mas o Dick não quer chateá-la e sempre fica tipo "nossa amor adorei vou usar muito essa camiseta listrada laranja e azul te amo" kkkk inclusive acho que vai rolar um hentai com a história desses chinelos rsrsss mas veremos.

Obrigada todo mundo que leu, espero que tenha gostado ♥
Eu não reviso, então desculpem os erros hahaha
Um beijo, até a próxima ;D



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