Durante o tempo em que estive fora me esqueci do quão cansativo pode ser escrever relatórios detalhados de todo o processo em campo, e esse em questão fazia com que buscasse em minha mente cada momento que estive na presença dele.

Respirei fundo e tomei mais um gole do meu suco, olhei pela janela do prédio e percebi que já era noite, no relógio  marcava nove horas, me perdi em minhas lembranças e nas teclas do notebook em minha frente, abri a gaveta da minha direita e retirei um adesivo anti-inflamatório, a dor e a rigidez dos meus ombros estava cobrando o seu preço, no momento em que coloquei sobre minha pele um alivio tomou conta de mim.

— Ainda por aqui bebê? – Devon perguntou, já com sua gravata frouxa, o paletó do terno pendurado em sua bolsa transversal, e as mangas da camisa levantadas até o antebraço.

—fiquei longe por alguns dias e aparentemente os relatórios não vão ser escritos sozinhos –disse encostando-se a minha cadeira.

—já está tarde, que tal comermos alguma coisa?

—não sei Devon, acho que vou para casa – disse desligando o notebook e me levantado para pegar minha bolsa.

—vamos bebê, depois te deixo em casa, vai ser só um hambúrguer, e outra nós nem comemoramos a sua vitória.

Talvez o que eu precise agora seja apenas relaxar, e foi com esse pensamento que aceitei o seu convite, somente um lanche depois do trabalho, jogar conversa fora e ir embora para casa, assim por algumas horas eu conseguisse bloquear a vontade de ligar para certo professor.

A lanchonete que foi escolhida pelo meu amigo tem como um ambiente acolhedor, uma ótima iluminação e guarda chuvas coloridos imitando a Le Village Royal em Paris, assim que fazemos nossos pedimos Devon se volta para mim.

—Nossa Bella, faz tanto tempo que não sentamos para jogar conversa fora.

—verdade, mas também nosso trabalho requer muito da nossa atenção e principalmente do nosso tempo.

—nem me fale às vezes me sinto morando dentro daquele prédio, depois que seu pai me passou o cargo as responsabilidades aumentaram, mas me sinto realizado.

—meu pai fez uma boa escolha, lembro o quanto você se esforçou para chegar aonde chegou – disse bebericando a taça de vinho que o garçom acabara de colocar na nossa frente.

—não foi somente eu que me esforcei você surpreendeu a todos nos últimos meses, suas conquistas foi sem duvida memorável – disse me lançando um sorriso.

—não foi fácil Devon, a equipe que estava comigo sem duvidas nenhuma me ajudou muito, sem eles não sei o que eu faria, eles me deram muito suporte em todos os momentos.

—Além de linda é humilde e pensar que a garota tímida de anos atrás não se parece nada com a mulher forte e determinada que esta agora na minha frente.

—Obrigada pelo elogio, depois dos últimos dias eu venci tantas barreiras internas que me sinto muito mais confiante comigo mesma.

—fico feliz que eu tenha contribuído de alguma forma.

—você me deu oportunidade de estar nessa missão e sem dúvidas mudou a minha vida.

E nesse exato momento os nossos pedidos chegaram e minha barriga agradeceu até agora não havia percebido o quanto estava faminta.

Devon não havia mentido quando disse que os lanches desse lugar eram bons, juro que me senti no paraíso quando dei a primeira mordida e a conversa ficou um pouco de lado.

—aprovado? – perguntou

—com certeza, isso me lembra- me a época de faculdade em que vivia dentro de fast foods.

O garçom retirou os nossos pratos assim que terminamos e junto trouxe a comanda de pagamento, me virei para pegar minha carteira da bolsa, mas Devon foi mais rápido e efetuou o pagamento integral da conta.

—Hei me deixa pagar a minha parte. – disse estendendo minha mão com o cartão de crédito.

—hoje é por minha conta, afinal fui eu que te convidei.

— isso não é justo- argumentei

—que tal você aceitar o meu convite para um encontro e nos dividimos a conta? – perguntou com um leve sorriso nos lábios,

—desculpa, um encontro? -

—È Bella, um encontro nesses últimos dias confesso que tenho te observado com outros olhos, você ta com um brilho diferente, eu sei que pode ser estranho talvez você me veja somente como um amigo, mas eu queria ter a oportunidade de te conhecer melhor, não como filha do meu mentor, mas como mulher. – disse colocando a sua mão em cima da minha sobre a mesa.

Ai senhor, para o mundo que eu quero descer, eu não estava preparada para o que ele tinha acabado de me confidenciar, talvez a antiga Bella estivesse, mas o meu coração não esta batendo de forma descompensada, minhas mãos não estão geladas, e minha respiração não está ofegante e as famosas borboletas no estomago, não estão no meu neste momento.

—Devon, eu...

—só diz que aceita o meu convite

Repirei fundo controlando meus pensamentos, não queria perder a sua amizade e também não queria magoa-lo.

—Devon, se antes dessa missão você tivesse me chamado para sair eu aceitaria sem sombras de duvidas, confesso que por muito tempo eu tive um amor platônico por você.

—eu não sabia, desculpe- me.- Disse com um brilho no olhar

—você não precisa se desculpar, eu tinha escolhido gostar de você, mas era muito tímida para tentar te abordar de alguma forma, fui covarde de não deixar você saber desses sentimentos antes, você sempre me deu atenção e sempre me ajudou muito, eu vi você conquistando os seus sonhos, começando e terminando relacionamentos, ah como eu sonhava em ser a sortuda em estar ao seu lado, mas...

—mas, alguém foi mais rápido do que eu e roubou o seu coração – disse dando um riso sem graça.

—mais ou menos isso – disse

—cara sortudo, você é uma mulher incrível Bella, pena que eu só vi isso tarde demais. Amigos? - perguntou

—Sempre – disse me levantando da mesa e lhe dando um abraço, e como um verdadeiro cavalheiro ele me acompanhou até em casa.

È engraçado como as coisas mudam, eu sonhei tanto em ter uma chance com Devon, e essa noite foi tão inacreditável era somente para ser um jantar entre amigos, nunca me passou pela cabeça que fosse evoluir a um pedido para nos conhecermos melhor, e eu recusei.

Nesta noite eu fecho um ciclo, deixo para trás os sentimentos românticos que um dia passei a ter pelo meu amigo, e sinto um peso sair das minhas costas e meu coração leve.

Ter um amor platônico é bom, faz você sonhar acordada com a pessoa, imaginar varias situações com vocês dois antes de dormir, sortudos são aqueles que tem o amor platônico transformado em um amor recíproco,  que não era o nosso caso, mas a partir do momento que você experimenta um amor recíproco as coisas mudam você se sente realizada, completa, é assim que me sinto ao lado do Edward.

 Sabe aquela história de que se você quer muito algo, deixe ir, se voltar para você é porque é seu para sempre. Se não voltar, é porque nunca foi seu.

Aprendi que quem ama espera, e por ele eu vou esperar,