Capítulo 109

18 de abril de 2008

  Hoje à tarde eu fiquei sozinha em casa porque mamãe precisava caçar. Ela não queria ir e me deixar sozinha. Esme relutava, mas eu a ‘convenci’ de que seria melhor que ela fosse se alimentar, pois ela não iria querer acabar me machucando caso não conseguisse resistir e não suportasse mais a sede. Ela retrucou dizendo que poderia esperar até Carlisle chegar ou esperar até amanhã quando eu estivesse na escola (mas amanhã não tem aula, é sábado. Mamãe esqueceu?) para ir porque ainda podia ficar algum tempo a mais, não teria perigo.

  Eu expliquei que não havia problema porque eu já fiquei muitas vezes sozinha em casa quando meus pais iam para o mercado e meus irmãos estavam na aula. Eu ficava porque alguém tinha que ‘cuidar’ da casa. Muito que adiantaria uma menina se um ladrão entrasse em casa. O perigo era maior ainda de ele querer fazer mal para mim, talvez até me matar depois de abusar. Eu poderia ser o alarme e gritaria se algum estranho aparecesse, mas eu sou tão tímida, o ladrão taparia minha boca. Muito que tinha de valor para proteger, nossa residência era humilde, não precisaria ficar. Seria mais útil ajudando a fazer a compra, mas não me levavam.

  Nada de mal iria me acontecer, eu não era tão desastrada que não posso ficar sozinha alguns minutos. Eu não sou como Bella, talvez um pouco descoordenada, mas isso vai ser resolvido quando eu for transformada. Nada é mais perigoso do que ficar sozinha com vampiros, ao menos os Cullen não são ameaça, apenas os nômades. Eu tenho medo só de imaginar. Eles se alimentam de nós. Tenho medo desses vampiros ‘tradicionais’. Sem falar nos Volturi, só de pensar neles tenho pavor e fico arrepiada.

  Mamãe disse que agora era diferente, que eu poderia ser um alvo fácil para quem quisesse atacar os Cullen. Assim como Bella foi um dia, eu sou o membro mais fraco e vulnerável da família e preciso ser protegida – ao menos por enquanto.

— Então me transforme agora mãe – eu peço.

— Aí que eu não vou sair mesmo. E agora não seria o momento propicio porque eu posso não parar a tempo, sweetie— ela toca meu queixo com a ponta dos dedos. Sempre sinto um arrepio gostoso quando ela faz isso por causa do toque gelado.

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Após me dar algumas instruções e recomendações, como se eu fosse uma garotinha de 10 anos de idade, finalmente mamãe foi caçar...

Eu estava sentada no sofá da sala assistindo televisão sem muito interesse quando olhei através da parede de vidro para nosso quintal. Realmente estava horrível, folhas cobriam quase completamente o chão e a grama estava quase invisível. Então eu decidi ir lá fora limpar. Lembrei que Esme havia me pedido para não sair de casa, mas eu não estarei fora de casa, estarei no jardim.

  Levantei do sofá e desliguei a televisão com o controle remoto, depois no botão do aparelho e fui lá fora varrer.

  Não sei quanto tempo depois Esme voltou – é claro que eu não percebi quando ela chegou e nem teria percebido a aproximação de qualquer outro vampiro. Ela ficou surpresa ao me ver ali fora:

— Filha! Não disse para você ficar lá dentro de casa?!

Muito que iria adiantar se um vampiro aparecesse ele poderia facilmente arrombar a porta. O alarme até chamaria a polícia, mas não iria adiantar muito. Seria tarde de mais para mim.

Eu tenho um sabor tão chamativo assim? Ou é só para mamãe? Mas os humanos de qualquer forma são todos iguais para os vampiros que se alimentam de nosso sangue. Ao menos quanto ao fim a que servimos: comida, mais exatamente, bebida.

Mas pelo menos eu estaria dentro de algum lugar não assim exposta como comida na bandeja.

— Desculpe, mãe. Mas eu estou dentro de casa, eu entendi que não podia sair do portão.

— Ai Carol, você não entende o risco que correu? Se algum vampiro fizesse algum mal para você eu não sei o que eu faria.

— Não aconteceu nada mamãe.

— Ainda bem, graças a Deus, mas poderia.

— Vocês não têm inimigos; têm, mãe?

— Não exatamente, mas... Você não pode se expôr dessa forma, querida. Sabe que eu amo muito você e não posso perdê-la. Você não quer me fazer sofrer, quer?

— Não, mãe. Me desculpe – abaixo a cabeça.

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— Não fique assim, querida. Tudo bem, graças a Deus não aconteceu nada. Mas assim como eu apareci de repente poderia ter sido outro vampiro e você nem notaria.

— É verdade, mamãe - admito.

— Eu percebi que você se assustou um pouco quando me viu, mas quando percebeu que era eu ficou tranquila. Se algum vampiro a raptasse não deixaria que você o visse.

— Mas quem poderia ser?

— Algum nômade atraído pelo nosso cheiro em torno de você, depois poderia sentir seu doce aroma e beber seu sangue ou poderia ser algum Volturi. Eles já saberiam de você se a sequestrassem para impedir que se torne uma Cullen...

  Engulo em seco. Esme percebe meu pavor.

— Acho que você não sabia disso e eu deveria ter alertado você antes de sair. Me desculpe, eu esqueci – quase revirei os olhos. Como assim ela esqueceu? Ela tem perfeita memória de vampiro e, como ela esqueceria uma coisa tão crucial sabendo que a afetaria? Eu não fui tão culpada. Sou apenas humana não sou adivinha nem vidente como minha irmã Alice. Eu não poderia saber. – Mea culpa, eu admito. Você deveria saber que essa escolha acarretaria algumas consequências. Ser uma Cullen não é fácil.

— Eu sei que não é.

— Mas agora eu estou aqui e vou cuidar de você, não tenha medo querida – ela me abraça.

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— Não precisa se incomodar em varrer as folhas. Pode deixar que eu faço isso – ela pode fazer num piscar de olhos, mas claro que ela não vai dizer para não se exibir sobre a minha humanidade: sou tão frágil e lenta!

  Odeio isso! Que vantagem Rosalie vê? Que vantagem tem? A única que eu posso ver é ser possível me tornar uma vampira, se eu fosse um animal não seria possível.

  E odeio mais ainda porque faz mal para Esme, eu não queria vê-la sofrer – como ela pôde dizer que eu gostaria disso? Mas meu tempo como humana está com os dias contados, cada dia é um dia a menos. Que Deus me perdoe se essa é a escolha errada, mas eu não acho que seja. Eu não vou machucar nenhum ser humano quando for vampira. Vou lutar contra a minha ‘natureza’ para viver como uma boa Cullen desde o começo.

— Não é incômodo nenhum mãe. Eu fazia isso em casa. Você já faz tanto, eu quero ajudar de alguma forma. Acho justo.

— Eu sei querida. Eu entendo como você pensa. Você é tão pura e sem malícia. Um presente para mim. Não sei se eu mereço tanto.

— Claro que sim mamãe. Eu é que às vezes não me sinto a altura de você e papai. Vocês são tão maravilhosos! O que eu sempre sonhei, mas nunca imaginei que poderia ter um dia. Vocês dois são meu sonho que se tornou realidade.

— Oh meu amor!

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— Não precisa se cansar limpando o jardim, querida – ela diz ao perceber que eu estou ofegante.

— Não se preocupe, mãe.  Um pouco de exercício aeróbico faz bem para o coração. Pode perguntar ao papai.

— Eu sei minha linda. Você é tão fofinha! Me orgulho de ser sua mãe. Além de inteligente você é bondosa e prestativa.

— Obrigada mamãe – eu recebi um elogio sem corar e respondi! – Eu é que me sinto honrada de você e papai terem me aceitado. Tive medo que vocês não fossem me querer, que me rejeitassem como eu fui. Eu deveria estar acostumada, mas não estava; ninguém pode se acostumar com isso.

— Você nunca mais vai ser rejeitada, prometo.

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— Já estou quase terminando – digo me abaixando para recolher um monte de folhas e colocar na pá e depois levar até a pilha no canto que eu fiz com alguns tijolos que encontrei para que o vento não espalhe de novo.

(Mais tarde papai queimou as folhas como eu já vi ele e mamãe fazerem antes. Eu mesma só não ateei o fogo porque eu fiquei com medo de fazer algo errado, então deixei para os adultos.

Se eu soubesse que vampiros são mortos com uma fogueira não teria permitido. Mas antes temos que ser esquartejados para depois ir para a fornalha. Não sei o que aconteceria se pegássemos fogo estando inteiros. Nem quero descobrir. Talvez eles nem tenham tanto medo, pois já fizeram isso e sabem que tem que tomar cuidado e manter distância das chamas. Assim como nós humanos também. somos inflamáveis e queimadura é algo muito sério.)

— Está bem, querida. Vou esperar você lá no seu quarto, não demore muito.

— Vou tentar, mãe. Você sabe que ser humana significa que sou um pouco lenta. Ao menos para os padrões dos vampiros. Não sou tão rápida. A noção de tempo também é diferente para vocês e para nós.

— Para nós o tempo parece passar mais depressa mesmo que pareça contraditório porque temos a eternidade toda para esperar. Mas entendo o que você quer dizer filha. Eu sei ser paciente e esperar.

— Não queria ser assim, mãe. Eu não queria demorar e fazer você esperar mais do que o necessário - digo com tristeza.

— Não se aflija filha, eu sei que você é apenas humana. Gosto de você assim. Não se preocupe, eu não vou esperar mais do que o necessário, eu sei que vocês humanos são mais devagar. Não tenha pressa, sweetie. Não vá se machucar meu amor – ela beija minha testa e vai para dentro de casa. Tão rápido que nem a vejo e parece que ela desapareceu como por encanto.

  Me concentro no que eu tenho que fazer e pelo jeito ainda falta muito. Vou demorar até a noite, mais uma ou duas horas para limpar tudo. Tento ser mais rápida e vou mais depressa achando que posso ganhar alguns minutos de sobra, mas eu fico ainda mais cansada devido ao esforço extra. Posso correr um minuto, mas depois eu fico ainda mais devagar, pois preciso descansar. Então, no final das contas acabo levando o mesmo tempo que demoraria se não tivesse acelerado e exigido mais de meu corpo.

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