Un Maudit Amour escrita por Laurus Nobilis


Capítulo 4
Seis de abril de 1731


Notas iniciais do capítulo

Desde a última atualização, mudei a capa duas vezes. Agora vou parar. Eu cismava com as outras porque tinha tentado fazê-las eu mesma (a última parecia mais um banner), mas essa é trabalho de design. O que acharam? Eu particularmente gostei muito, embora seja um bocadinho reveladora.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753075/chapter/4

Querida Emmeline,

 

Hoje foi um dia profundamente tedioso. Ou talvez apenas normal, considerando os últimos acontecimentos. Cheguei a pensar em deixar esta página em branco, embora o objetivo de um diário seja registrar cada um dos meus dias, do mais simples ao mais empolgante. Então não espere ouvir nada além dos meus pensamentos inquietos. Porque, desde o meu comportamento inconsequente de ontem, posso garantir que minha mente não tem me deixado em paz.

É domingo, e apesar da chuva incessante, não ousamos faltar a missa. Admito ter ficado com medo de que algo ou alguém dentro da igreja revelasse minha farsa de anteontem. Mas ficou tudo bem. Encontramos Pierre, que estava auxiliando o padre Jean-Baptiste em seu trabalho. A felicidade dele em nos ver era transparente. Ontem eu disse a Ignus que Pierre virou padre, embora, na verdade, ele ainda seja muito jovem para isso. Não passa de um seminarista. No entanto, não demorará até que ele precise realizar seus votos de castidade. Confesso como gostaria de poder ler sua mente para saber como ele se sente em relação a isso. Convenhamos que... Não há quem não conheça sua antiga fama. Apesar do semblante sempre sério que costuma adotar agora, ele já foi um dos rapazes mais charmosos e galanteadores da região. Estava sempre cortejando alguma menina – com frequência, mais de uma ao mesmo tempo. Lembro-me, inclusive, de como tudo isso desmoronou quando ele anunciou sua escolha de profissão. Uma das garotas esbofeteou-lhe o rosto sem hesitar, porque ele lhe fizera muitas promessas de compromisso sem antes pensar nas consequências. Outra ameaçou suicídio, mas nada fez, felizmente. Houve ainda uma terceira que ficou apenas chorando por horas a fio; eu mesma fui consolá-la.

Nossos pais fizeram vista grossa diante de tudo isso. Estavam felicíssimos com a ideia de ter um filho religioso. E sei que Pierre é um bom moço, apesar de tudo, e que estava apenas se divertindo. A partir de agora ele certamente saberá assumir suas responsabilidades, colocando Deus acima de todas as coisas mundanas.

Quanto à Blanchefleur, como você deve estar se perguntando... Não temos ouvido muito dela. Suas cartas são escassas. Jamais comentei sobre isso com papai e mamãe, entretanto... Tenho a impressão de que seu marido a restringe em vários aspectos e não gosta que ela se comunique demais nem mesmo com sua família. Ela costumava ser sempre tão alegre, tão radiante... Espero que continue assim. De qualquer forma, descobrirei mais sobre isso em breve, pois Blanche prometeu de pés juntos estar presente no meu casamento. É claro que eu estive no dela, há dois anos. E seu noivo... Nunca simpatizei com ele. Talvez apenas por isso eu esteja nutrindo opiniões como essas.

Meu Antoine tem uma aparência muito melhor. Mas hoje tive uma experiência um pouco estranha em relação à pintura dele. O olhar representado ali, de repente, parecia muito... reprovador. Como se aqueles olhos esverdeados pudessem realmente me ver e soubessem de tudo que andei fazendo. Passei um tempo diante da imagem e quase a tirei do lugar para deixá-la de lado, virada no sentido oposto. Apesar de que à essa altura, todos já perceberam como estou usando esse retrato de analogia para o próprio noivado, e caso eu não o quisesse mais na minha parede, isto haveria de possuir algum significado. Disse para mim mesma que aquilo tudo era uma grande besteira e por fim, deixei-o intocado.

Fui ocupar-me com outras coisas, então. Não que houvesse muito o que fazer, pois a chuva não dava a menor trégua. Eu estava ora observando a rua pela janela, ora lendo, ora costurando. E se eu permitisse, minha mente se voltava direto para aquele cigano. Mas eu quase não permitia. Às vezes, apenas, imaginava como ele e sua grande família estariam se abrigando nessa chuva torrencial. Não consigo imaginar como é aquela vida. E ele deve pensar o mesmo da minha. É estranho.

Houve ainda um acontecimento; uma única coisa interessante em meio a um dia tão pacato. Eu estava perto da porta da frente quando a correspondência chegou e fui correndo receber. Logo vi que ali, entre as cartas, havia uma dos pais do meu noivo. Papai veio ligeiro atrás de mim e arrancou-a das minhas mãos. Protestei um pouco, mas ele insistia que aquilo não me interessava. Eram apenas negócios; burocracia. Admito que me senti muito mal em ouvir isso, e nem sequer sei explicar porquê. É meu casamento. Vai mudar minha vida. E meu pai encara como se fosse algum tipo de aquisição.

Ele enfurnou-se na biblioteca para ler aquilo. Quando saiu de lá, veio me contar a fração da carta que me dizia algum respeito. Os preparativos para meu grande dia estão quase prontos. Em menos de um mês, deverei partir para a cidade de Antoine. Então, dentro de pouco tempo, estarei desposada. Isso significa que, depois da partida de Ignus e dos outros ciganos, em breve estarei indo embora também.

E por que diabos acabo de inserir aquele homem no meio disso?

Mantenho meu medo de deixar minha casa amanhã, caso o sol retorne. Eu sinceramente não sei o que aconteceria se alguém me visse sendo abordada por aquele rapaz. Talvez, na próxima vez, eu precise fazer um escândalo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tirei o nome Blanchefleur de Rei Arthur, mas quando fui pesquisar, descobri que é também um lindo tipo de rosa branca.