Bella,

 Irmãzinha, nós estaremos conectadas para sempre, através de nosso sangue e o nosso forte laço. Você foi a única pessoa que soube de tudo sobre mim e talvez, por essa razão, você se sinta ainda mais culpada pelo o que eu fiz. Embora eu raramente tenha dito isso, eu te amo, muito.

 Nós sempre fomos muito grudadas, não é? Desde pequenas não conseguíamos ficar sem a outra, enquanto fomos crescendo, isso nunca sumiu, pelo contrário, se intensificou. Eu te contei todos os meus segredos e você os seus, compartilhei coisas sobre mim que iriam ficar apenas no meu túmulo, e isso é a única coisa pela qual eu não me arrependo. Te contaria outras mil vezes sem pensar duas vezes, até de olhos vendados, pois a minha confiança em você é inabalável.

 Sinto muito que as únicas coisas que você carregará de mim eternamente serão as lembranças, porque isso está grudado em nossas carnes, em nosso sangue e na nossa alma. Bella, por favor. Não. Se. Culpe!

 Sabe o que te revelei nas últimas semanas? Isso me corroeu até a alma, me quebrou e me matou. Eu já estava morta, não tinha mais motivo para respirar ou comer. Eu apenas... sobrevivia. Meu estado já era deplorável, você sabe disso, você tentou, eu sei, mas já não tinha cura. Mas eu também tentei, por você! Tentei ver uma luz na escuridão, eu juro que procurei, só que já não tinha como. Depois do que aconteceu, tudo em mim soava falso e errado, meu sorriso era falso, minha risada era errada, minhas palavras soavam estranhas e minha alma estava detonada. Eu me senti podre, a pior das pessoas, um lixo... Naquele dia, eu ferrei com a minha vida, talvez fosse a última esperança para que eu voltasse a viver. Nós nunca saberemos, porque eu matei minha única chance de ser feliz! Eu sei disso agora, percebi tarde demais.

 Por favor, esqueça James, deixe-o em paz, ele não merece nada que venha de você, nem o seu desprezo. Eu morri quatro vezes. Na primeira vez, eu assumo que foi parte culpa dele e minha, eu era inconsequente e queria ser diferente, queria experimentar coisas novas. Achava que assim faria parte dos outros adolescentes, eu queria ser especial e James me fez sentir especial, por mais que você se tente enganar, eu fui feliz com ele. Quando eu cheirei o pó... eu me senti única e viva, eu sei que morri naquele momento, uma parte de mim nunca se recuperou, jamais fui a mesma e por mais que eu tentasse, o vício já havia me matado. Eu menti quanto à recuperação, nunca fiquei 100% bem novamente.

 Bella, eu gostaria de estar com você nesse exato momento, comendo pipoca e revivendo nossas palhaçadas de criança, te abraçando e dizendo para você viver mais, sentir mais, se apaixonar e encontrar um cara legal que goste de você como você é. E eu sei que você vai conseguir isso, porque sempre foi a irmã mais sensata e eu me orgulho disso. 

 Bem, devemos voltar para os momentos tristes, não é? Na segunda vez que eu morri, estava louca de amor, eu pelo menos achava que era amor, mas hoje eu consigo ver que não era isso, infelizmente já é tarde demais para se arrepender. Aqueles remédios... Não foi uma coisa pensada, eu estava com raiva e furiosa com James e eu só queria esquecer! Foi estúpido, eu sei. Então, você apareceu e me salvou, talvez tenha sido essa ligação que falam que os irmãos possuem, ou pode ter sido só o destino. Mas você me achou e me ajudou, me abraçou, depois brigou comigo e choramos juntas. Aquele dia, você foi minha luz na escuridão e eu te agradeço, porque pudemos ficar mais um tempo juntas.

 Minha terceira morte... foi sem dúvidas a pior. Bella, eu me arrependo muito por ter feito isso, eu teria dado minha alma para voltar no tempo e deveria ter conversado com você, mais uma vez eu fui imprudente. Bella, eu sei que você disse que eu poderia tentar de novo, entretanto, aquela foi minha morte definitiva. Eu fiquei sem chão e um buraco se abriu no meu peito, um buraco que nunca poderia ser coberto novamente. Você tentou me salvar, mas eu já estava acabada, eu era uma casca sem conteúdo, um corpo oco. Já não sentia nada. 

 Você é minha irmã, minha melhor amiga, minha confidente e nesses últimos dias você foi minha âncora, mas eu não aguentei. A dor era constante, incurável e insuportável, me perdoe por minha quarta morte. A última morte é a mais insignificante, não se preocupe, meu corpo já não sentia dor e eu não sofri, eu sei que foi libertador, eu já posso me sentir livre escrevendo essa carta e quando eu morrer definitivamente, vou estar desprendida.

 Não existe mais dor, nem arrependimento e muito menos um culpado. Eu vou estar liberta!

 Onde quer que eu estiver, vou cuidar de você e torcer por sua felicidade, quando chorar estarei ao teu lado, te abraçando e dizendo palavras bobas, quando rir estarei gargalhando contigo, quando se machucar cuidarei dos teus ferimentos com uma breve carícia do vento, e quando você, minha irmã, amar, estarei em paz com a tua alegria.

 Com todo o amor do mundo,

    Annastasia.

 Minhas mãos tremiam após ler a carta, ela estava tão... deprimida, que consegui sentir a dor através de suas palavras. Annastasia. Ela morreu porque não suportava mais, estava tão quebrada ao ponto de se suicidar. Eu achei que me sentiria aliviado, mas eu só sinto uma vontade de chorar e gritar, eutenho que entregar essas cartas para sua família. Isso é o único consolo que eles terão. 

 Meu peito se apertou com a vontade de abraçar sua irmã Isabella e dizer para que não se sentisse culpada, pois a carga que ela está carregando agora deve ser enorme.

 Olhei para o relógio e percebi que já passavam das dez da noite, peguei o celular e vi a nova mensagem.

 'a garota morta se chamava Annastasia Swan, cara, a filha do Chefe Swan! nem dá para acreditar. - Emmett'

 Decidi ignorar essa mensagem do Emmett, já que é uma informação que já sabia. Meu estômago roncou e resolvi descer para vasculhar a cozinha.

 Entrei na cozinha e dei de cara com minha irmã, Alice, que estava com uma expressão de choque olhando para o celular.

— O que houve? - perguntei.

— Hm, acabei de saber que uma menina da minha aula faleceu. - respondeu ainda com o celular em mãos.

— Nossa, quem? - me fiz de desentendido, não queria levantar suspeitas.

— Annastasia Swan, ela também é irmã de uma das minhas amigas. - fiquei surpreso por ela ser amiga de Isabella.

— Que triste... - minhas palavras eram sinceras, e a cena dela pulando se repetiu em minha mente, tremi levemente.

— O que foi? - Alice percebeu minha reação e me encarou com uma sobrancelha arqueada.

— Nada. - dei de ombros e passei por ela, indo até a geladeira. - Vai querer que eu leve você amanhã na casa dos Swan? Sabe, pra deixar seus pêsames. - novamente fingi ser casual, eu só estava atrás do endereço deles.

— Certo... - me virei e ela estava olhando desconfiada para mim. - Papai não tirou seu carro?

— Ainda tenho minha moto. Então, qual é o endereço? - assim que ela me informou onde eles moravam, seu celular apitou.

— Edward, não precisa me levar mais, vou com a Rosalie. - disse e eu quase suspirei aliviado.

— Tudo bem. Vou subir. Boa noite.

— Boa noite. - praticamente corri para o meu quarto, me sentei na cama com o lanche em mãos e olhei de relance as cartas, que estavam na mesa.

 Bom, eu teria que ter uma desculpa para entregar a eles.