E então, ela pulou.

 Paralisei. Não conseguia me mover, meus músculos estavam rígidos e senti um embrulho no estômago. A garota simplesmente... pulou. Eu nem tive a fudida chance de segurá-la. Ela morreu, óbvio, ninguém sobreviveria a essa queda, e não tive forças para verificar se seu corpo estava lá embaixo.

 Voltei a olhar para os objetos que ela deixou no chão, do jeito que ela olhou... era como se quisesse que fossem entregues a alguém. Mal percebi minhas mãos pegando as cartas, era como se fosse no automático. As coloquei de qualquer jeito no bolso da jaqueta e peguei meu celular ao mesmo tempo que eu seguia para a moto. Liguei para o 911.

— Você ligou para o 911, qual é a sua emergência?

— Uma... uma garota acabou de pular de um penhasco na praia de La Push. - assim que terminei de falar desliguei. Merda! Eu não posso ficar aqui e esperar pela polícia, minha mente já está muito fudida.

 Peguei a moto e saí de lá, voltando para a estrada. Só havia um lugar para onde eu poderia ir. Casa.

[...]

 Estacionei a moto de qualquer jeito na garagem e parei em frente a porta de casa, respirei fundo e tentei não pensar nos último acontecimentos. Enfiei a mão no bolso da calça e peguei as chaves, abri e tentei fazer o mínimo de barulho possível. Lógico que eles estariam me esperando no sofá.

— Edward, precisamos conversar.

— Agora não, Carlisle. - os evitei e subi a escada, mas parei quando ouvi minha mãe.

— Por favor, meu filho. Só queremos o seu bem. - ela suplicou com sua voz embargada e me senti um merda.

— Eu... só não quero conversar agora. - falei, sem coragem para virar e ver o rosto de decepção deles. Voltei a subir sem esperar respostas e me tranquei no quarto. Eu me sentia tão exausto que desabei na cama. Aqueles olhos castanhos... tão sem vida não saiam da minha mente.

 Porra! Eu acabei de presenciar um suicídio... E não fiz absolutamente nada! Fiquei só... parado e a vi tirar a vida. E pensar que momentos antes eu tinha pensado em fazer a mesma coisa. Imaginei meus pais, principalmente minha mãe, triste e desolada caso eu morresse, e o pior, tirasse minha vida por vontade própria.

 De repente, senti como se o bolso da minha jaqueta pesasse quilos, as peguei e foi como se queimasse meus dedos. Deixei uma das cartas ao meu lado e observei a outra. Procurei algo escrito no envelope e achei:

 Para Renée e Charlie Swan.

 Swan... Deus! Esse é o Chefe Swan, da delegacia. Porra, e eu achei que as coisas não poderiam ficar pior. Aquela garota... Será que já a encontraram? Será que eu poderia ter impedido? Ela já estava tão próxima da borda... E se descobrirem que eu estive lá? Ou se acharem que eu a joguei? Caralho, por que não a arrastei até a moto e a levei pra um lugar seguro? Será que poderia ter funcionado? E se ela voltasse até lá no dia seguinte? Ou se ela tentasse se matar de outra forma? Inferno! Eu poderia ter ajudado?

 As cartas... Por que as peguei? Era melhor não ter tocado em nada, mas já que estão aqui comigo... E se tivesse o motivo dela ter se matado escrito nessas cartas? Sinto a necessidade de lê-las, a curiosidade é tão grande que parece que vai me esmagar. Se eu só entregar pros Swan, eles nunca vão me deixar ler, ou podem me acusar de algo. É como se a culpa se instalasse no meu corpo, eu só preciso saber de algo que alivie isso. Vou apenas ler e amanhã devolverei, e foda-se se não são endereçadas a mim, isso não é como se fosse um crime terrível. Preciso aliviar minha consciência, saber se a garota teria feito aquilo mesmo que eu a impedisse. São só duas malditas cartas.

 Prendi a respiração e abri o envelope. Eu só preciso de respostas.