Arena Mortal escrita por Nyna Mota


Capítulo 3
Capítulo 2 - Galo de Briga


Notas iniciais do capítulo

Oie...
Música do capítulo: Use Somebody do Kings Of Leon https://www.youtube.com/watch?v=gnhXHvRoUd0
A letra diz muito sobre o capítulo eu acho.
Boa leitura!



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Meu lábio doía e eu podia sentir o gosto de sangue na minha boca, em compensação Trevor tinha o nariz sangrando, e mancava de uma perna. Dado o último soco que dei nele seu olho deveria doer também.

Bater, jamais apanhar Tiger. Era o pensamento marcante na minha mente.

Não mais apanhar.

Ele veio cambaleando tentando me dar um soco, me esquivei e rebati com toda minha força, acertou seu nariz, senti algo mexer. O nariz dele esguichou sangue, e meu polegar doeu, percebi que começou a inchar e latejar.

Trevor sentou no chão chorando enquanto seu nariz não parava de sangrar.

 Veja Liam, trazer o garoto não foi uma perca de tempo total. Você me deve 500 dólares. O chefe sorria e espreitava Liam, aguardando o dinheiro.

O mais novo entregou relutante nos analisando.

Ele dará um bom galo de briga. Muito lucrativo sabe. Liam coçava sua barba rala e me analisava, aqueles olhos pretos me amedrontavam, mas eu jamais diria aquilo em voz alta.

Fiquei parado, quieto enquanto eles me avaliavam.

Mas que Diabos? O que você pensa que está fazendo no quintal da minha casa Charlie?! A senhora Swan vinha correndo, ela estava vermelha e nervosa, Bella vinha com ela. Oh Deus, esses pobres garotos!

O que? Isso? Isso é coisa de crianças Renée! Não foi nada demais. Charlie olhava pra esposa desaprovando sua reação.

Nada demais? Nada demais? Você me passa por tola Charlie?! Acha que sou cega? Eu vejo. Eu sei! Ela rugia enfurecida.

O olhar de Charlie me assustava, não por mim, mas por ela, a senhora Swan era sempre tão bondosa.

Estou cansado de você Renée, cansei dos seus chiliques e da sua falsa moral!

Ele levantou sua mão, eu esperei. O golpe não veio. Liam segurou sua mão.

Charlie, não. Era um aviso, uma ameaça, nos meus ossos jovens eu pude sentir.

Venham crianças. A senhora Swan nos chamou sem mais olhar pros dois homens que ainda estavam ali. Nós a seguimos. Ela amparava Trevor.

Você está bem? Consegue ir só? Ela se preocupava. Balancei a cabeça, e segui com a menina ao meu lado.

Meu dedo latejava, mas eu conseguia aguentar.

A senhora seguiu com Trevor e sua mãe, Leah, pro hospital, eu estava bem, eu era forte.

A engraçada menina de trancinhas sentou do meu lado, sem que eu percebesse encostou algodão no meu lábio machucado.

Aii! Isso doi! Reclamei me afastando.

Quieto! Vou cuidar de você! Eu vou ser médica sabe, e sempre vou cuidar de você.

***

A adrenalina corria por meu corpo com força total, era viciante e eletrizante. Cada ponta do meu ser ansiava por isso, precisava daquilo.

O público hoje era bem selecionado, os melhores clientes, traficantes de drogas do alto escalão, seus capangas mais fiéis e na maioria das vezes uma prostituta do lado.

Hannah estava ali, eu sabia, e não me importava.

Eu só pensava no meu oponente, um homem que devia a Charlie, e como um brinquedinho foi parar na Arena, implorando por sua vida já que não tinha como pagar a droga que havia consumido.

Ele me olhava de soslaio, não tinha ninguém ao seu lado. Nem do meu.

Então senti. Uma eletricidade já bem conhecida, um sentimento de posse. Isabella veio pra Arena essa noite. Eu odiava quando ela vinha, era perigoso, arriscado. O centro da sujeira.

E ela veria quem eu era, o galo de briga de Charlie, espancando um pobre homem que foi fraco o bastante pra se deixar levar pela cocaína. Ela veria o ser sujo que eu era.

O gosto amargo da bile subiu.

Não se deixe levar Tiger. Esse é você!

Ignorando o sentimento observei meu oponente.

Eu sentia pena, ele tinha uns 28 anos, talvez menos, mas o efeito da cocaína tinha o destruído. Sua pele envelhecida, amarelada. Ele me olhava, eu via medo em seu olhar, mas desejo. Eu era sua passagem de volta para as drogas e wow ele ia tentar me derrubar.

A arena ficava nos fundos do galpão da Swan Inc., a entrada era um lugar deserto e feito com muita descrição, até os carros ficavam de certa forma dentro do galpão. Em volta do tatame uma arquibancada, afinal todos tinham que ver o show.

Isabella estava na parte mais alta, próxima ao seu pai e a Tyler, que como na noite anterior tinha o braço em volta do seu corpo, o homem grande estava com ele novamente. Algo nele me intrigada, me alertava pra perigo.

Ela estava com a postura ereta, desconfortável, seus olhar ansiosa. Ela não queria estar ali. Então ela me olhou. Seu olhar encontrou o meu, olhos verdes claros, tão límpidos, era um bálsamo. Desviei o olhar e me repreendi.

Não Tiger, não se deixe levar. Não ouviu?! Não se distraia.

Minha atenção foi tomada por Liam, que foi para o centro da Arena.

— Senhora, senhores. Boa noite. – Ele olhou ao redor da multidão. – Hoje teremos 3 lutas. Tiger, contra este homem. – Liam apontou pro homem do outro lado do tatame. – E com mais duas pessoas que quiserem tentar a sorte hoje.

Risos foram ouvidos. Após todos aqueles anos, era raro alguém me desafiar, exceto se estivesse muito desesperado. Eu tinha fama. E não era boa.

— Lembrando as regras: sem golpes nas regiões baixas. – Mais pessoas rindo. – E é obrigatório uso de luvas pra proteção. No mais, não temos regras. Temos algum candidato?

Não olhei pra plateia. Me mantive ereto e centrado em um ponto qualquer.

O barulho das pessoas naquele local me alertou que teríamos um candidato. Não era comum, era difícil acontecer, mas as vezes acontecia.

Outros também lutavam ali, mas eu era a estrela da noite. O mais temido, o mais cruel e implacável, e aquele que lutava com quem devia a Charlie.

Ele. O moreno que estava com Tyler. Um homem muito alto, devia ter quase 2 metros de altura, com muitos músculo. Seus olhos cor de mel analisavam o ambiente com uma atenção fria.

Ele era diferente. Sua presença me deixava em alerta.

Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram.

Ele me olhou. Assim como eu o avaliava ele fez o mesmo. Seu olhar era crítico. De um especialista.

— Temos um homem de coragem hoje, Senhores. – O sorriso de Liam era frio, ele também avaliava o homem a minha frente. – E quem temos aqui?

A pergunta não era feita de forma desinteressada, Liam queria saber quem era aquele homem, e eu também.

— Emmet. – Liam arqueou a sobrancelha. Ele queria mais informações. –  Emmet Eagleton.

— Senhor Eagleton, teremos que revista-lo antes da luta. Espero que não se incomode.

Com um sorriso frio Emmet Eagleton assentiu. Harlan era quem estava mais próximo, se adiantou. Emmet entregou a arma pra ele, e se deixou ser revistado.

Foram-lhe entregues luvas semelhantes as que eu já usava.

— Senhoras e Senhores, façam suas apostas. – Liam anunciou dando o sinal de que aluta já ia começar.

O burburinho da multidão estava alto no ambiente fechado. Eu odiava. Gostava do silêncio. E a presença de Isabella me deixava irrequieto, eu queria me mover, mas me obriguei a permanecer parado.

Foco Tiger. Você não pode perder, você sabe que se perder haverá consequências.

Recuei com o pensamento e analisei Emmet. Algo nele estava errado. Sua postura era tensa, sua respiração calma. Seus olhos analisavam tudo, e todos.

Alto, forte, precisava testar a resistência dele. Precisava saber do que ele era capaz, ainda mais estando próximo dela.

A raiva tomou conta do meu ser, era uma mistura perigosa com a adrenalina. Uma linha tão tênue e sinuosa.

Respira. Inspira. Respira. Inspira.

— Apostas encerradas. – A luta se iniciará ao som do sino. Entendido? – Liam questionou já se retirando.

Aguardei o sino tocar. Fui pro centro do tatame e fiquei. Não me movi. Eu nunca dava o primeiro golpe. Minutos passaram enquanto nos analisávamos. As pessoas estavam ansiosas. Frustração passou pelos olhos do moreno.

Ele cederia a avançaria. Vi o soco vindo e subi o braço pra me defender. Foi forte e me fez recuar dois passos.

O soco certeiro me surpreendeu, e me assustou. Ele sabia o que estava fazendo.

Um soco vindo de baixo, que defendi.

Um joelhada que não desviei, acertou meu estômago me fazendo perder o ar. Um chute alto em direção a minha cabeça, abaixei e ataquei.

Um soco por baixo, no queixo. Ele cambaleou. Não perdi tempo. Ataquei novamente. Soco de direita seguido por um de esquerda que ele defendeu.

Virei e chutei. Ele parou o golpe. Puxei a perna mas vi ele se mover, um chute nas minhas costelas antes que eu pudesse me apoiar. Doeu. Incendiou a raiva dentro de mim.

Você não pode perder Tiger.

Emmet era assombroso no tatame, rápido e objetivo. Assim como eu.

Ficamos vários minutos nesse embate. Estávamos suados e ofegantes. Com machucados e escoriações. Minhas costelas doíam onde ele chutou.

Acertei três socos seguidos nele. Ele defendeu de forma precária, não tinha mais o mesmo fogo. Algo tinha mudado. Eu não sabia o que.

Aquilo me irritou.

Continuei na sequência de golpes. Soco de direita. Soco de esquerda. Um cruzado. Joelhada. Chute alto.

Alguns eram defendidos. Outros não.

Ele veio pra cima de mim, mas já não tinha mais a mesma força. Um soco de direita defendido, o da esquerda pegou em cheio meu rosto, mas eu tinha visto chegar. Aproveitei e acertei uma joelhada em seu estômago, fazendo com que o homem enorme caísse no chão sem ar.

Ele bateu a mão no tatame duas vezes me parando, e fez um sinal de rendição.

Mas inferno, ele me deixou ganhar. Eu senti isso. No fim seus golpes não tinham mais a mesma força, suas defesas eram falhas.

A multidão estava em polvorosa.

Eu não confiava em Emmet, tinha algo de muito errado com esse homem, e eu daria um jeito de descobrir o que.

Demorou vários minutos para fazerem a compensação das apostas, aproveitei o meio tempo para acalmar minha respiração.

Alice se aproximou com água. Ela era uma das poucas que tinha a coragem de se aproximar de mim.

— Mas que diabos aconteceu aqui?! – Ela sussurrou baixinho. Alice me conhecia bem demais, já tinha me visto lutar vezes demais.

— Isso, é algo que eu vou descobrir.

Sentei na cadeira próxima à mim e tomei a água. Alice aproveitou e passou algodão molhado com álcool no meu supercílio cortado.

— Caralho! – Resmunguei recebendo apenas um olhar reprovador em resposta.

Liam voltou ao centro das atenções.

— Mais alguém pra desafiar Tiger hoje?! – A expressão de todos estava agitada, todos queriam mais lutas, mas sem um novo desafio só restava uma luta. Apenas mais um desafio naquela noite.

Durante todo o tempo senti os olhos de Isabella em mim, algo que tinha de me esforçar muito pra ignorar.

— Sem novos desafios vamos pra última luta de Tiger esta noite! – A plateia rugiu em aprovação. Me senti em um circo, um animal enjaulado e treinado pra pular na hora que mandassem, sentar na hora que mandassem, uma atração barata.

Liam tinha um sorriso perverso no rosto, ele adorava aquele banho de sangue, todos ali adoravam, exceto Ela, mas não me atrevi a olha-la.

Me posicionei novamente no centro do tatame, o homem que lutaria por sua vida se juntou à mim, eu não sabia seu nome, mas seu rosto, assim como de vários outros eu nunca esqueceria.

O som do sino tocado por Liam nos autorizou a iniciarmos. Eu esperei, como um felino, paciente. Aguardei o primeiro golpe, eu queria apenas o último.

O homem estava ansioso, provavelmente em abstinência.

A multidão vaiava gritava, eles queriam mais luta, mais sangue.

A adrenalina viajava por meu sistema nervoso à uma velocidade inimaginável, junto com minha ira por Emmet ter me deixado vencer, assim como por ela estar ali. Eram muitos sentimentos de uma vez só perturbando minha mente.

Eu estava em posição, punhos para o alto, luvas vermelhas, pés firmes, mas minha mente uma completa confusão.

O homem sem nome se mexia irrequieto, agoniado e com uma respiração profunda agiu. Tudo acontecia em câmera lenta. A multidão rugiu em antecipação. O soco veio fraco e descoordenado, deixei que me acertasse, deixei ter confiança.

Outro soco, um chute.

Eu não sentia dor, mas sabia que estava machucado devido à quantidade de pancadas nos mesmos locais em um período muito curto de tempo.

A adrenalina estava à mil. Me movia rápido, e ele tentava me acompanhar mas não o ataquei, primeiro eu o queria cansado. Ele tentou um novo soco de direita, dessa vez defendi, então de esquerda que desviei rapidamente. Ele arfava, estava suado e cansado. Um chute cambaleante e foi sua ruina. Eu me abaixei e lhe dei uma rasteira, ele caiu.

Perdi o controle do meu corpo. A polvorosa de sensações que eu estava sentindo e reprimindo me tomaram. Naquele instante eu era mais animal que homem.

Apenas os instintos me dominavam.

Bater, nunca apanhar. Um soco.

Essa é a lei. Outro soco.

Aqui só sobrevivem os mais fortes. Mais um.

Eu sou um sobrevivente. Mais um.

Eu não via nada. Só sentia, precisava vencer. Ou seria punido. Ou machucariam ela. Eu precisava proteger ela.

Um arfar chamou minha atenção. Eu conhecia aquele som.

Parei.

Era ela.

Olhos verdes me olhavam chocados. Todos os olhares na Arena estavam assustados.

“Eis aqui o monstro que criaram” eu queria gritar. Mas o grito ficou entalado na garganta.

Isabella desceu correndo. Seus olhos assustados. Algumas pessoas tentaram detê-la. Eu queria que tivessem conseguido, mas também queria ela perto.

— Oh meu Deus! – Ela exclamou ao se aproximar do homem caído.

Seus rosto estava desfigurado. Inchado, roxo e sangrava. Ele estava desmaiado. Desviei o olhar. Minhas mãos tinham sangue.

Você perdeu o controle Tiger. Ela sabe. Ela sempre soube.

Ela se abaixou perto dele e Harlan veio tentar tirar ela de lá. Meus instintos ainda levavam o melhor sobre mim.

— Não toque nela. – Rosnei. O som foi assustador até pra mim.

Harlan parou assustado. Pálido. Eu não a machucaria. Mas ninguém tocaria nela.

— Tenho que tirá-lo daqui. Levá-lo para um hospital! Edward. Tiger! Por favor. – Ela choramingou.

Lágrimas escorriam por seu rosto. Isabella tinha uma alma boa de mais. Um anjo encarnado na terra. Ninguém era bom o bastante para alguém como ela.

Balancei a cabeça. Eu não conseguia dizer nada. Me abaixei e peguei o homem nos braços. Sua respiração estava fraca. Sai indo em direção ao carro. Eu precisava ajudar Isabella, ninguém mais faria isso, ninguém se importava com aquele homem, e pra ser sincero nem eu. Eu fazia por ela.

Emmet se aproximou. Tinha uma expressão escura. Ele tinha alguns machucados. Sua aproximação me deixou tenso.

Me preparei pro ataque. Ninguém tocaria nela. Ela faria o quisesse. E se ela quisesse cuidar daquele homem ela cuidaria.

— Tiger não! Ele vai nos acompanhar, só isso. – Isabella falava comigo como um cãozinho machucado. Eu queria rir daquilo. Mas não conseguia.

Cheguei ao SUV, joguei o homem de qualquer jeito lá dentro, Isabella já tinha entrado e estava o ajeitando. Apenas entrei e acelerei, sem dar tempo do moreno entrar. Pelo retrovisor vi ele e Alice nos olhando partir.

Eu não sabia aonde ir, o que fazer. Isabella queria cuidar do homem, mas eu não sabia como, quando ou onde.

Ainda estava perdido no meio dos meus sentimentos, da adrenalina, da raiva.

— Tiger! – Ela gritou. Freei o carro. Ela passou pro banco da frente. Segurou minhas mãos. – Eu preciso de você agora! Olha pra mim.

Obedeci e olhei seus olhos brilhantes de lágrimas.

— Se não o ajudarmos ele vai morrer. Preciso que dirija com calma pro Centro de Detroit. Essa hora não deve ter ninguém nas ruas. Vá pra uma que não tenha câmeras de vigilância, lá eu cuidarei de tudo. Você pode fazer isso? – Ela falava calma, mas suas mãos tremiam e estavam geladas. – Por favor Edward. Por mim.

Edward. Edward. Edward. O nome ressoava em minha mente como uma lamina nas feridas já conhecidas.

Eu não era mais o Edward gatinha, você precisa saber disso.

Por ela. Sempre por ela. Por ela eu agi contra tudo que deveria ter feito. Eu sabia que haveria consequências, mas só queria que ela ficasse bem. Eu não queria lágrimas em seus olhos, eu não queria o olhar torturado. E por ela, eu aguentaria tudo.

Tirei minhas mãos das dela. As minhas ainda tinham sangue, eram indignas, as mãos de um animal, de um assassino. Fiz conforme ordenado. Parei o carro e esperei.

— Tire ele do carro coloque num canto e entre de novo. – Ela mandou, mas não entrei após colocar o homem no chão.

Fiquei ao seu lado enquanto ela sentava no chão e sacava o celular.

“Tio”

“Preciso da sua ajuda”

“Não, não é pra mim!”

“Um homem na rua, no centro, ele está muito machucado.”

“Um homem correu quando viu o farol.”

“Não sei”

“Estamos na Labrosse St com a Trumbull Ave”

“Não estou sozinha”

Um carro se aproximando tirou minha atenção da ligação, levei a mão a minha cintura percebendo que estava de bermuda e regata pra poder lutar, e com isso desarmado.

— Inferno Isabella, entre no carro! – Ela me ignorou e continuou ao telefone e monitorando o homem.

Eu ainda tinha meus punhos, nada aconteceria com ela ali. Não enquanto eu estivesse vivo.

Emmet e Alice desceram do carro. Alívio e apreensão me tomaram.

“Ok tio, obrigada!”

Isabella desligou o telefone e me encarou.

— Não vamos ficar aqui, preciso cuidar dos seus ferimentos, e dos seus! – Apontou pra Emmet.

Rosnei algo em resposta.

— Cale a droga da sua boca Edward e vamos sair daqui antes que te vejam todo arrebentado e queiram maiores explicações. Entra nesse carro e dirija pro seu apartamento!

Isabella se transformou da gatinha assustada pra uma mulher mandona, mas seus olhos, seus olhos não mentiam. Ela tinha medo, ela estava assustada. Ela estava perdida e a culpa era minha.

Alice tinha um olhar preocupado, mas o sorriso em seu rosto não negava à satisfação de me ver naquela situação. Calado e amuado com uma mulher com quase metade da minha altura e meu peso.

— Uma ambulância está à caminho a pedido de Carlisle, não podemos ficar aqui ou haverá questionamentos! – Ela estava impaciente e eu lento.

Entrei no carro, Isabella sentou ao meu lado e ficou em silêncio. Alice foi com Emmet que iria me seguir, não gostei, ainda não confiava nele. Queria ela debaixo da minha asa para que eu pudesse cuidar e proteger.

— Pare em alguma farmácia, preciso comprar bandagens. – Ignorei e continuei dirigindo. – Eu disse pra parar na droga de uma farmácia agora Tiger! – Ela gritou.

Olhei assustado pra mulher do meu lado. Isabella normalmente era doce. A versão que eu via hoje era mandona, brava, determinada, destemida. Nada pararia ela. Essa era uma Isabella nova que eu ainda não conhecia e não sabia se queria conhecer. Ela me assombrava e me excitava.

Mesmo naquela situação o cheiro dela me perturbava. Morangos e paz.

Parei na farmácia, fiz menção de descer mas o olhar dela me paralisou. Essa mulher tinha um poder sobre mim que estava sendo descoberto por ela. Suspirei resignado enquanto ela descia na farmácia 24 horas.

Alice foi com ela, enquanto eu estava confinado naquele carro. Começava à sentir algumas dores. Meu queixo e meu supercílio, minhas costelas e minha coxa.

Talvez eu precisasse mesmo de remédios e bandagens, mas nada que eu já não tenha feito sozinho antes.

Elas voltaram, Bella tinha uma sacola com coisas demais.

— Vai fazer o que Isabella? Fazer curativo em Detroit inteira? – Se olhar matasse o dela teria me matado.

Ah gatinha se você soubesse o que tem por trás desse sarcasmo.

— Só dirige Edward! – Sua voz denotava cansaço e frustração.

Segui direto pra casa. O apartamento já pequeno ficou ainda menor com 4 pessoas lá, sendo duas delas, homens enormes.

Estávamos sob o escrutínio de duas mulheres que não demonstravam medo, mesmo após tudo que aconteceu na Arena, aquilo me irritou. Elas deveriam ao menos ter receio, mas só via determinação.

De Alice era compreensível após tudo que ela passava, mas de Isabella? Ela devia ter mais consciência, ela devia saber mais, temer mais.

Segui pro banho e as deixei lá sem falar nada. Não era um bom momento pra eu abrir a boca e enfurecer ela novamente. E eu não a queria furiosa mesmo que aquilo me excitasse como o inferno.

O banho acalmou meus músculos, mas tornou mais evidentes as dores. Meus rosto tinha alguns cortes e começava inchar alguns lugares. Minhas costelas estavam arroxeadas, talvez tivesse quebrado ao menos uma. Ignorei o reflexo no espelho, no quarto me vesti com outra regata e uma calça de moletom.

Na sala Emmet já tinha curativo na sobrancelha e no queixo. Seu pulso estava enfaixado, e estava com uma careta engraçada.

Isabella tinha uma carranca. Alice estava apenas séria, observando tudo com atenção.

— Senta. – A morena mandou indicando a cadeira à sua frente. – Aonde doi? – Isabella estava irritada.

Minha alma doía gatinha, mas isso você não é capaz de curar.

Um sorriso irônico surgiu no meu rosto, causando incômodo.

— Caralho Edward colabora comigo! – Ela pediu exasperada passando as mãos por seu cabelo nervosamente.

— Não quero ser medicado Isabella. – Eu não queria que ela tocasse em mim, não queria que ela ficasse perto de mim. Não depois que eu perdi o controle. Algo que não podia ter acontecido.

— Pro inferno com o que você quer! Eu vou cuidar de você! Eu prometi lembra! – Ela gritou, lembrando de uma época em que éramos apenas dois garotos, uma época em que ainda existia inocência em mim.

Ela tinha uma voz doce e lágrimas nos olhos. Como ela passava da mulher enfurecida pra garota doce em segundos eu não entendia. Era essa mulher doce que não podia ter alguém como eu perto, essa mulher que se preocupava e aquecia meu peito, que me fazia sentir inteiro. Eu era ruim pra ela.

— Não Isabella eu não lembro! – Menti evitando lembrar daqueles tempos. –  Você é quem tem que lembrar das coisas aqui! – Eu estava puto, comigo. – Já se esqueceu do que aconteceu na arena agorinha? Já se esqueceu que eu quase matei um homem com minhas mãos! Já se esqueceu que até cinco minutos atrás minhas mãos tinham sangue! – Eu gritei bravo, ela tinha que lembrar, ela tinha que ver o perigo.

— Eu nunca vou esquecer daquela cena Edward. – Sua voz estava quebrada. – Mas eu sei que você não é assim!

Tão doce e boa. Um riso amargo escapou.

— Esse sou eu Isabella, Tiger! – Fui me aproximando, encurralando a contra a parede. Seu cheiro me inebriando. Um felino a caça da sua presa, nesse caso, da sua parceira. – Eu sou aquele homem que você viu na Arena, eu sou assim Isabella, não tem nada de bom aqui, apenas um monstro, um galo de briga, alguém treinado pra matar e morrer!

Ela não recuou meu olhar. E me surpreendeu ao passar a mão no meu rosto machucado. Seu toque era tão bom!

— Tem mais sim, mas você prefere ser o Tiger, porque o Tiger não precisa sentir. – Sua voz era decepcionada. Ela olhou além do meu ombro, Emmet e Alice ainda estavam ali.

— Senta logo Tiger, eu sei que você está com dor. – O tom de Alice não deixava alternativa, eu queria retrucar mas a mão quente e delicada me desnorteava.

Ela fez os curativos com calma e delicadeza, limpou com cuidado. Seu toque doía na minha alma, eu não merecia ser cuidado por aquele anjo, mas eu queria. Bom Deus como eu queria.

Ignorando cada grama de bom senso tirei a blusa pra ela cuidar da costela, aproveitando mais aquele momento. Seus olhar era ferido e horrorizado eu tinha algumas marcas ali, apesar de tudo ela era objetiva na sua missão de cuidar dos ferimentos.

Seu toque em meu abdome mandou um choque por todo meu corpo, muito forte pra minha virilha. Eu me arrepiei. Ela sentiu, ofegou.

Seus olhos nos meus. Tão lindos. Toda linda.

— Vai doer por alguns dias, mas não acho que esteja quebrado.

Eu assenti enquanto ela enrolava a faixa com precisão. Seu toque roçando minha pele, eu queria mais!

— Amanhã virei ver como você está Tiger, faça repouso. Isso é um ordem médica! – Eu queria retrucar mas estava cansado, e ela também. Eu não queria mais discutir naquele dia.

Seu olhar era ferido e dolorido. Isabella estava sofrendo.

— Eu não sou mais aquele menino Isabella. – Fechei os olhos e falei. – Agora eu sou o que fizeram de mim, uma máquina, um capanga, um assassino.

Ela não respondeu, ouvi o clique da porta se fechando.

Senti sua ausência no apartamento logo que ela se foi, ela era a única que me fazia falta, que me fazia ter vontade de ter alguém, que me fazia querer ser algo além de um simples galo de briga.


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Notas finais do capítulo

Genteeeee, estou tão feliz com a quantidade de comentários que vocês não fazem ideia. Quase chorei a medida que foi chegando e que a reação a Arena Mortal foi essa!
Vocês não fazem ideia do medo que tive de postar essa fic. Juro que repensei mil vezes, mas vocês estão me fazendo mudar de ideia.
Agradeço a todas pelo carinho e pela atenção.
Agradecimento especial a Lola e Chloe que me aturaram até o meio da madrugada pra curar minha insegurança com esse capítulo.
Espero que tenham gostado. Assim que der eu volto!
Vejo vocês nos comentários.
Beijinhos.
28.01.2018