Arena Mortal escrita por Nyna Mota


Capítulo 22
Capítulo 21 - Deixando a ir


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindas!

Música que me inspirou pra esse capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=ge6ufuVj0QU

Capítulo não ficou muito longo, mas quis acabar exatamente assim pra não misturar muito com os próximos acontecimentos.

Boa leitura!



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Se passaram 1.825 dias. Já havia deixado de ser claustrofóbico tinha algum tempo. Depois de um tempo você acaba se acostumando com o teto de mármore escuro. Se acostuma com a sensação de que as paredes iriam se aproximar até te esmagar. Aquilo já tinha se tornado familiar. Eu não tinha mais medo das paredes me esmagarem, as vezes até torcia pra que aquilo acontecesse. Era torturante saber que ainda faltam faltavam 1.825 dias naquele inferno, e todo dia é como se ainda fosse o primeiro.

— Edward você tem visita. – Eu fui avisado de forma brusca. Ainda era estranho ter as pessoas me chamando de Edward. Por muito tempo eu fui apenas Tiger.

Levantei do catre duro e me dirigi pra porta da cela, virei de costas e senti as algemas pesadas e geladas em meus pulsos, dessa vez não apertou de forma a me machucar, apenas restringir.

A ala onde recebíamos visita não ficava longe, mas cada passo era uma incerteza gigante. Um gosto agridoce na boca. Querer e não querer duelavam em mim. Ao adentrar a pequena sala me surpreendi ao constatar quem estava lá a minha espera.

O carcereiro não tirou as algemas, não depois que a última mulher me visitou.

— Olá Rosalie.

Ver Rosalie ali me lembrou de Bella e de tudo que havia acontecido na semana anterior, me atingindo como um soco no estômago.

O olhar no rosto de Isabella me destruiu, eu a tinha quebrado. Os braços que antes estavam ao meu redor caíram, seu lábio tremulou e a expressão cansada se tornou ferida.

Ela nunca iria me perdoar, não de novo, não depois de tudo. Eu não merecia ser perdoado.

Mas olhando-a ali eu só conseguia pensar o que eu tinha a oferecer? O que podia dar a Bella dentro de um presídio de segurança máxima? Ferido, falido, surrado, eu não tinha nada, e só meu amor não era o bastante.

Mais cinco anos de prisão, depois uma tentativa de concertar minha vida, e se o que ela vivia era um prelúdio do futuro eu sabia que trabalhar não seria fácil, nada seria fácil e eu sempre seria um peso. Um atraso.

Eu não tinha o direito de fazer aquilo com Bella, não mais.

— Edward você não pode!

— O que eu não posso Bella? Não posso acabar com esse fodido namoro? Eu não posso sequer te levar pra sair!

— Eu não me importo! — Ela gritou tentando me alcançar.

— Mas eu me importo porra! Eu me importo! — Gritei de volta. — Eu odeio esse lugar com cada célula do meu corpo e saber que você tem que vir aqui me mata por dentro, saber tudo que você está vivendo e que você escondeu de mim! Diabos Bella eu confiei que você me contaria as coisas, que dividiríamos os problemas!

— Escondi porque sabia que você ia fazer isso! Ser sincero da mesma forma que você me conta quem te dá cada ferimento novo ou você acha que sou cego e não vejo?

— Talvez se você tivesse falado a gente tinha pensado em outra solução, mas você fodidamente me deixou no escuro! — Rebati ignorando a acusação voltada pra mim. — Caralho Bella eu odiei ouvir de outra pessoa, odiei não saber de você, odiei você não ter confiado em mim e odiei mais ainda não poder fazer nada! Eu não posso fazer porra nenhuma! — Falei alterado.

— Edward a gente vai dar um jeito a gente sempre deu um jeito.

— Não mais Bella! Já se passaram cinco anos, faltam cinco e eu não vou te prender a mim. Eu não posso fazer isso com você, não quero mais te ver aqui.

As lágrimas rolavam por seu rosto bonito, os olhos que eu tanto amava enevoados de tristeza, eu me sentia arrasado.

— Não quero que volte mais aqui Bella. O que tínhamos acabou. — Sentenciei segurando meu próprio choro.

O quão fodido era que eu não derramava uma lágrima enquanto apanhava, mas queria chorar ao deixar Bella ir?

Menina boba, você é a única coisa boa na minha vida, a única coisa que eu amo e tudo que me motiva a viver. Eu pensava enquanto meus lábios diziam o contrário, enquanto suas lágrimas caíam.

— Eu vou voltar! — Bella retrucou obstinada.

Eu amava sua força e determinação, mas naquele momento odiava.

— O que caralho você não entendeu? Eu não te quero mais aqui Bella! — Bati com os punhos na mesa. Ela não se assustou, ela nunca se assustava.

— Foda-se! Seu cretino, idiota, imbecil! E eu? Eu não importa? O que eu sinto não importa? O que eu quero não tem porra de diferença nenhuma?

Ela gritava dando passos pra mais perto de mim. Ela não entendia, ela era tudo que me importava, e era por isso que ela não podia mais voltar.

— Não importa mais!

— Claro que importa! Edward você vai me ouvir!

Ela não podia me vencer, não dessa vez, eu tinha que ser firme, pro bem dela e se eu a ouvisse eu ia me deixar levar, de novo. Enlouquecido de medo, de dor, de frustração bati com a mão na cadeira que voou longe fazendo barulho.

Bella me encarava fixando diretamente aqueles olhos verdes e expressivos nos meus, ela estava triste, com medo, com raiva.

A porta se abriu, mas eu já esperava por aquilo, havia demorado até demais.

Nossa postura agressiva, a cadeira jogada disse tudo que os agentes precisavam saber, fui jogado no chão com brutalidade, algemado enquanto Bella olhava em choque o tratamento que me era dispensado, a brutalidade.

Bem vinda ao inferno queria, essa é minha realidade. Queria dizer.

— Edward...

— Não volta mais Bella, você não é bem vinda.

Fui levado antes de poder dizer mais nada. Fui direto pra solitária. Era uma parte da prisão que eu ainda não conhecia.

Jogado na cela fria e fechada, soquei a parede uma, duas, três vezes enquanto as lembranças vinham em minha mente com força total. A mão não doía da forma que eu queria, mas era uma pequena distração pra dor no meu peito que parecia que ia me sufocar, eu sentia o gosto salgado na boca, falta de ar e a visão nublada. Continuei socando, até meu corpo exausto cair no chão. Assim fiquei.

Perdi noção do tempo jogado, sentindo espasmos pelo meu corpo. Doía mais que a facada, mais que qualquer ferimento, mais que qualquer coisa que eu já senti na vida.

Alguém bateu na porta, por um compartimento foi entregue algo para comer, ignorei, continuei na mesma posição, incapaz de me mover.

Em algum momento devo ter dormindo, acordei sentindo o corpo doendo, gelado. Ignorei o incômodo e repassei de novo a conversa em minha mente. Doeu de novo, de forma mais cruel agora que eu podia ver tudo que havia falado, a forma como tinha falado.

Eu tinha mandado embora a única coisa boa da minha vida, ou eu era um fodido masoquista ou essa era a maior prova de amor que eu podia dar pra Bella. Deixar ela ir era a única coisa boa que podia fazer por ela.

Apoiei as costas na parede e esperei o tempo passar, rogando pra que os próximos cinco anos passassem rápido. Tão rápido que eu não visse, que só passasse, que quando eu abrisse os olhos eu já podia ver a cor do céu do lado de fora dessa prisão infeliz. Mas a vida era uma vadia, e eu sabia que sem nada de boa ia passar com uma lentidão sobrenatural.

***

A porta se abrindo foi um incômodo aos meus ouvidos habituados ao silêncio sepulcral existente na cela escura. O brilho da luz me fez piscar algumas vezes.

— Levanta Masen, hora de voltar.

Levantei em silêncio e estiquei as mãos para as algemas, só então notei os ferimentos. O sangue seco não mostrava a realidade de como estava, mas estava dolorido e rigído.

— Filho da puta! — Um dos agentes xingou me tirando rapidamente de lá, me levando pro lado oposto a minha cela.

Eu notei tudo, mas não me importava com nada, que me levasse pra minha execução, não tinha interesse, eu estava apático.

Só reconheci a enfermaria quando a enfermeira falou.

— Que diabos aconteceu com ele?

Eu perdi tudo porra, eu queria gritar, mas não respondi. Olhei pra ela e pras minhas mãos feridas.

— Se isso infecionar ele pode perder as mãos!

Que se foda as mãos, eu não tinha mais coração. Eu não tinha mais Bella.

Ela me arrastou pra lavar as mãos na água corrente, depois começou o procedimento médico e tudo aquilo me fazia lembrar de Bella, e de todas as vezes que ela cuidou de mim e dos meus ferimentos.

Grunhi incomodado com as lembranças.

A partir daquele dia eu me tornei um fantasma de mim mesmo, eu apenas vegetava enquanto o tempo passava, enquanto eu esperava algum motivo pra me fazer continuar.

E o motivo veio, da forma e quando eu menos esperava.

Encarei Rosalie ignorando a dor em meu coração.

— Deus, você está péssimo! — Ela disse sem me cumprimentar de volta.

Minhas mãos foram presas na mesa, me sentei e esperei. Ela encarava minhas mãos feridas, já quase curadas.

— O que veio fazer aqui Rose? — Minha voz saiu grogue e mais ríspida do que esperava.

— Te dizer que é um idiota, mas isso pelo jeito você já sabe!

Me mantive calado, ela tinha razão.

— Porque mandou ela embora Edward?

Sua voz era dura, mas ao mesmo tempo suave.

Encarei a loira que estava na minha frente tentando entender o que a fez ir ali após cinco anos.

— Você sabe o porque Rosalie. — Dei de ombros.

Eu não queria Rose aqui, assim como não queria Bella, mas ao mesmo tempo eu queria, porque era tudo que eu tinha, a única chance de ter notícias de Bella, e eu precisava saber dela, precisava receber aquelas poucas migalhas.

— Eu vim pra ouvir de você! E se quer saber eu vim pronta pra chutar sua bunda!

Eu queria sorrir, mas não me sentia capaz.

— Eu fazia mal pra ela. — Foi a única resposta que achei coerente naquele momento.

Rosalie me olhava fixamente.

— Desembucha Edward, quero mais que isso, e então depois você vai me ouvir.

Engoli em seco, eu não queria falar, mas ainda sim me vi falando. Talvez ela fizesse Bella entender e me perdoar algum dia, talvez com ela eu conseguisse explicar de forma coerente e não como um louco descontrolado como aconteceu com Bella.

— Eu fiquei sabendo dos jornais a cada vez que ela vem aqui, também soube da dificuldade pra ela arrumar um estágio, um trabalho ou que quer que seja.

— E você achou que minha família ia deixar ela desemparada? — Ela perguntou me interrompendo com um tom de voz mais alto.

— Não. Mas eu conheço Bella, ela não quer depender dos seus pais pra sempre. Em algum momento ela vai querer tomar conta da própria vida, e se continuar assim, mesmo quando eu sair não iria ser fácil.

Ela assentiu mordendo o lábio inferior.

— Olha pra esse lugar Rosalie, não temos privacidade, não tem conforto, fora o constrangimento de ser revista intimamente toda vez que vem aqui, não posso levar ela pra sair, nem preparar o jantar, nem ver um filme com ela, não posso sequer pedir ela em casamento porque não tenho perspectiva de sair daqui vivo! — Parecia que tinha aberto a torneira e eu falava sem parar. — Ainda faltam 5 anos, 5 malditos anos. Como você acha que vai ser quando eu sair? Ela médica e eu o que? E como vou complicar ainda mais a vida dela? Vou impedir ela de viver?

Encostei a testa na mesa fria, fugindo do olhar astuto da loira.

— Você não acha que ao invés de gritar, jogar cadeiras e brigar, deveria ter falado essas coisas pra ela?

Sorri amargo.

— E você acha que Bella iria aceitar pacificamente? Ela lutaria por mim, e me convenceria de que venceríamos tudo juntos.

Ela sorriu triste.

— Ela realmente te convenceria.

— Eu não queria que fosse de forma tão agressiva, as coisas fugiram do meu controle. Como se eu tivesse alguma vez tido controle de algo.

Ela riu de mim e vi uma lágrima escorrer.

— Eu vim pronta pra brigar Edward, mas agora? Eu fodidamente não sei o que dizer, eu sei que você quer proteger Bella, mas você acha que essa é realmente a forma ideal? Vocês já passaram por tantas coisas, será que não pra passar por mais essa?

Mais uma vez um sorriso triste me tomou.

— Eu não vejo outra solução. — Respondi sincero. —Rose?

Ela me olhou.

— Se eu tivesse a oportunidade de viver com Bella, mesmo com os riscos, mas de estar com ela longe dessa prisão, eu estaria, eu viveria sem pensar duas vees, eu não deixaria a oportunidade passar. — Vi mais uma lágrima cair. — Quer um conselho...na verdade, apenas escute. Sei que está magoada com ele, sei que ele mentiu, mas ele te ama, e eu sei disso porque ele me falou, e Rose, eu perdi tempo demais lutando contra meus sentimentos, tentando proteger Bella, tentando me proteger, tentando não sei, inventando desculpas e no fim o tempo que tivemos não foi o bastante.

Segurei as mãos dela nas minhas algemadas e feridas.

— Aproveita seu tempo, não lute contra isso.

— Não é tão simples. – Ela resmungou.

— Nunca é. — Eu disse triste. — Mas se você conseguiu me escutar e me entendeu, pode entender ele também. Apensar escute, sim?

Ela assentiu.

Nosso tempo estava acabando, eu sabia disso.

— Rose, você veio aqui apenas pra brigar comigo?

Ela engoliu em seco, mudou a postura.

— É complicado.

— Já chegamos a conclusão que sempre é.

— Bella está grávida.

O mundo girou, o ar me faltou. Eu encarava Rosalie sem entender.

— Desculpe, não entendi.

— Bella está grávida Edward.

Eu ouvia, mas não entendia.

— Como? — Gaguejei.

— Você quer mesmo que eu te explique como ela acabou grávida?

Ignorei o sarcasmo ainda zonzo com a informação.

— O que você vai fazer com essa informação Edward apenas você pode decidir, mas se quer um conselho, não perca isso.

Um filho. Ouvi a porta se fechando. Ela tinha ido.

Fui levado no piloto automático de volta pra minha antiga cela.

Bella grávida. Um filho. Um fruto do nosso amor.

Respirei fundo tentando pensar, mas só conseguia ver a imagem de Isabella grávida, a barriga protuberante, sonhava com o bebê mexendo, as roupinhas.

Eu seria um bom pai? Eu iria conseguir?

Me sentindo sufocar sentei na cama dura.

Eu estava alarmado, apavorado e deliciado.

Eu tinha mandado Bella embora grávida, o que foi ruim mais não de todo ruim. Ela e meu filho não mereciam ficar naquele inferno, eles eram bons demais pra essa merda.

Respirei fundo tentando acalmar meu coração acelerado.

Uma vida, uma vida gerada por mim. Eu ainda não conseguia acreditar. Eu havia deixado Bella ir, tinha perdido meu único motivo pra viver, pra então ganhar outro, mais forte, mais poderosos, mais tudo.

Eu poderia perder tudo, mas ainda teria um filho. Um pedaço de mim.

Ou seria uma filha? De cabelos chocolates e olhos verdes como os da mãe, ou um menino espoleta de cabelos arrepiados.

Eu não sabia, só sabia que queria! E como queria aquele bebê.

Eu precisava falar com Emmett, com Jasper, com alguém, eu precisava do meu filho! Eu faria o meu melhor pra cuidar daquela criança.

Suspirei pesadamente sentindo algumas lágrimas de felicidade correr pelo meu rosto.

— Eu não vou te abandonar. Eu juro que você nunca vai estar sozinho, eu vou fazer isso, vou ser um homem melhor, e vou cuidar de você, de vocês dois, eu só preciso que você espere o papai um pouquinho, só alguns anos pra eu sair daqui e eu juro, que você nunca vai estar sozinho!

Limpei as lágrimas com um sorriso e uma resolução fixa em mente.

Eu sairia daquele lugar e daria uma vida digna ao meu filho, e se eu tivesse sorte Bella me perdoaria, e quem sabe, talvez a gente pudesse recomeçar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam da Bella grávida?
Da reação do Edward?
Deles se separando?
Estou realmente ansiosa pra opinião de vocês.
Obrigada por cada comentário, vou responder na quarta feira pois amanhã vou escrever Noiva em Fuga, pra quem ainda não leu e quiser dar uma olhadinha: https://fanfiction.com.br/historia/790742/Noiva_em_Fuga/

Obrigada por tudo gente!

Beijinhos
Até breve!
07/06/2020.



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