Seu coração parecia correr uma maratona, mesmo estando apenas sentado em uma cadeira naquele teatro. Seu melhor amigo desviava os olhos azuis do palco para ele diversas vezes preocupado.

— Tem certeza que é ela? — questionou Will, olhando o panfleto que tinham entregado na entrada, falando todas as danças que estariam ali.

— Tenho — Nico deixou que sua voz soasse mais fraca do que queria.

As luzes do teatro apagaram e os apitos que indicavam que o show começaria em breve soaram, um por um, parecia uma eternidade.

As cortinas pesadas vermelhas se abriram, revelando uma garota, sua cabeça baixa, suas pernas em uma posição de ballet que Nico Di Ângelo não saberia nomear, o vestido negro colado no corpo, ressaltando a pele clara.

Ela levantou a cabeça, revelando seus olhos azuis elétricos e ele soube que era ela, todos os anos passaram em sua cabeça de forma que ele mal conseguia acompanhar, agora os cabelos dela presos em um coque complexo de bailarina que ela um dia o tinha feito aprender fazer nela tinham a tonalidade azul com mexas rosas, mas ele a reconheceria mesmo se ela tivesse feito plástica.

— Bem-vindos a uma apresentação que vai mexer com vocês — sua voz apenas o confirmou, fazendo um calafrio surgir em todo o seu corpo — essa peça foi toda coreografada por mim e retrata uma época da minha vida aonde eu queria correr atrás dos meus sonhos, mas ao mesmo tempo tudo parecia distante demais, eu sei que isso é algo que atinge quase todos nós, então espero que se identifiquem e aproveitem a noite.

Dito isso a cortina se fechou por cerca de trinta segundos ela continuou assim e logo estava aberta novamente, agora tinham mais pessoas no palco e ela não estava mais ali, a música começou lenta, logo ficando mais intensa.

Nico quase sentia que aquilo descrevia tudo que um sentia pelo outro, o que eles tinham passado, mas ele sabia que era loucura, apesar de levemente acreditar nisso.

Lembrava que todos os dias a buscava na academia de ballet, eles iam lado a lado caminhando para a casa de ambos, que se encontrava no final da mesma rua, quando com o tempo ela começou a ficar triste e mais triste, quando a contou.

— Thalia! — chamou, sentando ao lado dela na grama, era noite a família de ambos tinham se reunido novamente em um jantar — Eu queria te contar algo — confidenciou.

— Diga — sua voz saiu fraca, ela abraçou seus joelhos o analisando agora, não mais o céu estrelado.

Suas bochechas coraram, ele sorriu tímido e começou a brincar com a barra da blusa preta, que havia ganhado dela de aniversário a quase um ano.

— Eu queria ter certeza, quando te contasse — confidenciou —, mas agora eu tenho.

— O que houve? — indagou, levemente preocupada.

— Eu estou apaixonado por você — soltou, vendo os olhos dela arregalarem.

Ela olhou pra frente, segurando o choro na garganta, mordendo o lábio inferior nervosa.

— Nessas férias, quando eu for viajar com minha família eu não vou voltar — anunciou, apertando as unhas contra a palma da mão. — Meu pai conseguiu uma promoção e ele vai se mudar para França, ele já me matriculou em uma das maiores escolas de ballet, Nico, não vamos nos ver de novo.

Ele levantou e correu para dentro de casa, esse foi seu erro, ela o ouviu o chamar, ouviu ela batendo na sua porta, mas nunca respondeu, mas o sentimento não sumiu como todos diziam que aconteceria, quase dez anos se passaram e ele tinha seguido sua vida, dia após dia, quando tudo voltou como um soco na cara ao estar andando até a cafeteria, coisa que ele nunca fazia e ver um cartaz com o nome dela reluzindo em dourado.

Nico nem havia pensado, logo estava comprando um ingresso para o show, com direito a conhecer os dançarinos depois da apresentação, ele tinha que vê-la pessoalmente, ele não tinha ideia do que faria, mas iria vê-la.

Seus pensamentos foram arrancados com Will o cutucando, seus olhos foram para o palco e lá estava ela, dançando, tão maravilhosa quanto ela era quando criança.

O corpo dela parecia simplesmente flutuar com tanta delicadeza que ela tinha, os movimentos ágeis e suaves, dando vida a tudo aquilo que ela havia criado.

— Acho que entendi — seu amigo comentou — ela parece ser incrível.

Nico assentiu, sorrindo, ao ver o sorriso nos lábios pintados de vermelho da Grace.

A dança, apesar de ser incrível de se ver confundia Nico, pois ela parecia lenta demais quando Thalia não estava no palco, mais rápida demais quando ela estava, ele queria olha-la, queria por o que ele sentia para fora.

Os dançarinos agradeceram e a cortina se fechou pela última vez, as pessoas começaram a se levantar e alguns dividiam-se entre ir embora e outros em ir em direção ao camarim. Will saiu, dizendo que iria esperar lá fora e Nico caminhou em passos lentos até a fila para conhecer o elenco, fazendo questão de ser o último da fila.

Pareceu uma eternidade, mas lá estava ela, apoiada na mesa, um sorriso no rosto tirando foto com uma garotinha de seis anos que a adorava.

— Próximo — o coordenador chamou notando que o Di Ângelo era o último.

— Oi, gostou da peça? — ela questionou, sorrindo animada olhando nos olhos de Nico.

— Adorei — sorriu tímido, corando.

— Desculpa, algum problema? — questionou, endireitando a postura.

— Não, eu só achei... nada, foi incrível — sorriu novamente, virando as costas para sair.

Ela mordeu o lábio inferior confusa, sentindo seu corpo esquentar.

— Desculpa...— chamou, vendo-o olhar.

Seus olhos cruzaram e a eletricidade que tinha quando ambos eram adolescentes parecia estar ali novamente, fervendo.

— Sim? — indagou sentindo a voz rouca.

Ela levou uma das mãos ao outro braço em um ato nervoso.

— Nico? — indagou corando, fazendo o Di Ângelo sorrir e olhar para o chão, assentindo.

— Desculpa, eu não sabia o que fazer, acabei agindo impulsivamente quando vi seu nome em um cartaz, não pensei no que poderia te dizer, eu...— ele se cortou ao vê-la andando em sua direção.

As mãos dela o seguraram pela camisa o puxando para si e seus lábios se selaram. Nico nem hesitou em corresponder, sentia seu corpo todo pedir por isso, seu coração disparado, suas mãos formigando ao leva-la até a cintura fina da garota a puxando mais para si. Thalia escorregou a mão até envolverem o pescoço dele, infiltrando uma no cabelo negro liso que ele possuía, o puxando lentamente.

Quando o ar foi necessário eles separaram o beijo, mas não aumentaram a distância, ela sorriu corando.

— Eu ia dizer que também estava apaixonada por você, por isso eu chorei, não porque iria embora, mas porque não poderia ficar com você — sorriu corando e deixando uma lágrima sair de seu olho — mas agora eu posso... se quiser...

Nico sorriu, selando seus lábios ao dela novamente, era claro que ele queria, tinha esperado dez anos por isso, esperaria o tempo preciso por ela.