Estava no meu quarto admirando as novas maquiagens que eu tinha comprado, quando Pedro bateu na porta.

— Entre!

— Oi, Su.

— Oi — eu respondi sorrindo. — Você quer alguma coisa?

— Não. Na verdade, só queria avisar que eu, Edmundo e Lúcia vamos sair amanhã... quer vir com a gente?

— Hum. Não sei... é que eu tenho uma festa para ir amanhã... mas para onde vocês vão?

— Vamos nos encontrar com o Professor Kirke.

— Está bem... — eu estranhei. — Mas para quê?

— Conversar. A Srta. Plummer também vai estar lá. E o Eustáquio e a Jill Pole, da escola dele, sabe?

— Sei... e por que o Eustáquio e a namorada dele achariam interessante conversar com dois idosos?

— Porque eles são pessoas legais, diferente de você! — acho que ele estava perdendo a paciência...

— E vocês vão falar sobre o quê? Filosofia? — perguntei incrédula. Eu realmente não sabia o que pessoas tão diferentes e de idades diferentes teriam em comum para conversar...

— Vamos falar sobre Nárnia.

— Esse nome não me é estranho... é de algum filósofo moderno?

— Nárnia não é uma pessoa, é um lugar... ah, esquece! Então você não vai, né?

— Não, obrigada. — respondi com um tom menos educado do que pretendia.

Ele saiu com uma expressão triste e fechou a porta. Me senti um pouco mal. Acho que fui meio chata com ele... não exatamente chata, indiferente... mas o que eu podia fazer? A ideia de diversão dos meus irmãos é muito diferente da minha!

~~

No dia seguinte, eu estava me maquiando em frente ao espelho para ir àquela festa, quando comecei a me sentir estranha. Pensei nos meus irmãos. Será que era peso na consciência? Talvez eu devesse ter aceitado o convite do Pedro... tudo bem que me encontrar com idosos e crianças para conversar sobre não sei que lugar não me parecia assim tão legal, mas os meus irmãos estariam lá...

Quando éramos crianças, nós quatro sempre fazíamos tudo juntos. Não me lembro direito das nossas brincadeiras, mas sei que nos divertíamos. Porém, de uns tempos para cá, meus três irmãos ficaram mais unidos... ou será que eu fiquei mais distante? Não sei. O que eu sei é que não sou mais uma criança, mas meus irmãos, por outro lado, parece que nunca deixam a infância para trás... nem o Pedro, que é o mais velho! Eles vivem falando de terras mágicas e outras besteiras do tipo que a gente inventava. Eu não penso mais nessas coisas, sou uma mulher, tenho os meus compromissos sociais, tenho que namorar... sinceramente, aqueles três deviam crescer!

~~

Havia se passado uma semana e eu estava sozinha em casa. Pedro e Edmundo já tinham saído quando eu acordei, Lúcia saiu logo depois de almoçarmos e nossos pais estavam viajando. Por incrível que pareça, eu não tinha nenhum compromisso naquele dia, então decidi aproveitar a paz e o sossego de ficar sozinha em casa. Na minha cabeça, era o plano perfeito, mas na prática, não. Chegou um momento em que eu comecei a me sentir sozinha... mas não sozinha por não ter ninguém em casa, por não estar saindo com ninguém ou por não estar rodeada de pessoas numa festa. Me sentia solitária de verdade. Como se não existisse mais ninguém, sabe?

Até que o telefone tocou. Eu fui atender otimista, achando que conversar com alguém, quem quer que fosse, mudaria a minha situação, acabaria com a minha solidão. Mas o que aconteceu foi totalmente diferente: meus olhos se encheram de lágrimas e eu comecei a me tremer. Como não conseguia falar nada, larguei o telefone, me joguei no sofá e, a cada minuto que passava, eu chorava ainda mais. Estava desesperada, chorei como um bebê pelo resto do dia!

Eu havia perdido toda a minha família! Eu não sei por quê, mas Lúcia estava viajando no mesmo trem que nossos pais, e Pedro e Edmundo estavam na estação. Houve um acidente. Não entendi muito bem como aconteceu, a notícia me deixou aflita demais para entender qualquer coisa! Tudo o que eu sei, é que esse acidente tirou a vida de todos eles. E agora eu sou a única Pevensie...