Across The Frontline escrita por overexposedxx


Capítulo 29
Capítulo 29 - Tempestade


Notas iniciais do capítulo

Oie, amores. Espero que estejam muito bem! ❤️

Pra variar um tantinho, vou poupar vocês dos motivos para a demora. Só espero que gostem desse capítulo e, na verdade, que estejam gostando da história em geral.

Eu amo escrever essa aqui. Mas, como já sabem, tem sido um esforço arrumar tempo, então seria uma baita ajuda saber o que vocês estão achando, se estão gostando, se a espera vale a pena, pra ver se devo seguir postando.

Enfim, espero que gostem pelo menos desse capítulo! Boa leitura!



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—Ah, meu Deus, Emmett! Você se lembrou! - ela riu com gosto e o abraçou com força enquanto seus pés estavam longe do chão, e todas as dúvidas de antes deram lugar, sem questionar, à felicidade súbita que dançava em seu peito. 

 

Emmett riu também, seu riso estrondoso característico que não dava há tempos, e os braços que não queriam soltar o corpo da loira do seu, mas o fizeram depois de fazê-la rodopiar no seu abraço quase sufocante, libertando-a para perguntar tudo o que queria saber sobre aquela aparentemente pequena, mas na verdade tão grande, conquista.

(...)

 

Mais tarde naquela noite, depois que Emmett havia contado e repetido a todos alegremente, na hora do jantar, sobre a lembrança que recuperara na terapia - ao que Carlisle e Esme fizeram diversas observações e acréscimos muito interessantes, divertidos amáveis. -, cada um retirou-se para onde desejava, espalhando-se pela casa antes da hora de dormir. 

 

Rosalie e Emmett, por sua vez, caminharam para o lado de fora da casa, aonde deitaram na grama lado a lado e conversaram longamente sobre as coisas que haviam sido ditas mais cedo, e outras mais amenas e desimportantes.

 

Em dado momento, após uma série de risadas genuínas, houve um certo silêncio entre os dois - o que foi tempo suficiente para que Rosalie se lembrasse do que ainda restava entregar a ele, que havia recebido mais cedo e colocado no bolso do avental, enquanto usava a peça de que ainda não havia se livrado, para mexer no jardim após o jantar. 

 

—Ah, Emm, - ela começou, se mexendo ao lado dele, que a olhou de onde estava em resposta. - tem uma coisa que chegou hoje pra você e, com toda a conversa sobre o que se lembrou, acabei esquecendo de entregar. 

 

—Pra mim? - o veterano estranhou, ainda preso ao assunto de antes e por isso alheio às hipóteses mais óbvias, quando se apoiou num dos cotovelos para ver melhor. - O que é? 

 

—Isso. - ela respondeu simplesmente, se sentando ao lado dele e segurando o envelope entreaberto na direção dele, que olhou dela para a carta antes de pegar o papel, enquanto ela ia dizendo, sem poder se conter. - Você foi aceito, Emm. Na aeronáutica! - e sorriu brevemente, esperando o olhar dele no seu. 

 

O que, é claro, não demorou a vir, junto a uma mudança brusca de expressão: primeiro, o rosto de Emmett empalideceu, enquanto ele corria os olhos pela carta rapidamente; depois, se iluminou com uma felicidade verdadeira e súbita, antes que ele, ainda segurando a carta com força numa mão, se sentasse num ímpeto e voltasse o olhar para ela. 

 

—Meu Deus, Rose! Eu fui aceito!  - ele comemorou, os olhos brilhando quando avançou para ela sem hesitar, e a abraçou num giro, os fazendo cair e rolar na grama uma vez, a risada dele superando a dela, que foi leve e em surpresa ao gesto. 

 

—Você foi. - ela assentiu, sem poder evitar de sorrir com o momento e a vista que teve do rosto abaixo do seu, agora que haviam caído deitados outra vez e Emmett quem estava com as costas no chão, o que a fizera cair sobre ele. 

 

Com a proximidade, os dois se olharam por alguns instantes, o vestígio de riso ainda no rosto de Emmett e um sorriso leve no de Rosalie, até que ela pensara em algo pra dizer, evitando com esforço os pensamentos que falavam nos contras sobre aquilo. 

 

Afinal, ainda havia a parte sua que temia por quando tal coisa realmente lhes batesse à porta, e ela não tivesse escolha senão estar distante dele por meses, agora que havia se afeiçoado tanto e acostumado a tê-lo por perto. 

 

— Parabéns, Emm. Eu sabia que você ia conseguir. - ela disse e lhe deu um beijo rápido e suave, afagando seu rosto com carinho antes de escorregar dali, deitando de lado e próxima, um cotovelo sobre a grama, para que a mão servisse de apoio à cabeça. 

 

Com isso, o veterano sorriu também, mal notando a diferença de expectativas no comportamento dela, porque estava de novo preso à carta, relendo as linhas de palavras inacreditáveis, e retribuiu o toque no rosto dela com a mão livre.

 

—Não se você não tivesse me incentivado, depois de toda aquela conversa com Garrett. - e alongou o sorriso, surpreendendo Rosalie com a lembrança e se inclinando para roubar um beijo leve, ao que ela sorriu por reflexo depois. - Obrigado por isso, Rose. 

 

E à resposta silenciosa dela, que se limitou a um sorriso e a deixá-lo pegar sua mão, entrelaçando-as uma à outra no espaço entre eles, ela o ouviu repetir a comemoração desacreditada e várias palavras da carta até que, em certo ponto, não estava realmente o ouvindo mais. 

 

A ansiedade que havia sentido quando pegara a carta pela primeira vez, e depois a chateação misturada ao temor e à culpa de sentir tudo aquilo, quando achava-se no dever de sentir-se apenas feliz por ele,  estavam vigiando seus pensamentos de novo, cercando os sentimentos bons e amenos em seu peito, de uma forma opressora e quase rápida demais para processar. 

 

Ela não podia ouvir demais ao quanto feliz ele estava, porque isso instigava esse ciclo vicioso de muitas coisas que, apesar de clamarem por ganhar alguma voz, não sabia se diria em algum momento e, de toda forma, não achava apropriado dizer agora que ele havia tido, aparentemente, um dia tão bom.

 

Com esse pensamento, Rosalie continuou em silêncio e só sentou-se sobre o gramado, desamarrando o avental e, enquanto ele lentamente se apercebia da movimentação dela, disse:

 

—Nós devíamos ir deitar, Emm. Ainda vamos trabalhar amanhã cedo, e você com certeza vai demorar a dormir com toda essa empolgação. - ela aconselhou, sorrindo breve ao olhar dele, e se levantou calmamente, batendo nas roupas para se livrar das folhas.

 

—Tem razão, com certeza vou. - Emmett concordou, rindo e dobrando a carta enquanto se levantava de um pulo, e copiou o gesto dela nas roupas antes de puxá-la num abraço pelos ombros, inesperado, enquanto caminhavam na direção da porta. 

 

****

 

Alguns dias se passaram e, com isso, a véspera da viagem de Emmett chegou, amanhecendo ensolarada, como era típico do veraneio em que estavam.

 

Havia um tipo de tensão mista à alegria no ar e isso, quase todos achavam, não era anormal, visto que estava se falando da partida de um deles, ainda que temporária. 

 

Exceto, é claro, por Rosalie e Emmett. 

 

Desde o dia em que a carta da aeronáutica havia chegado, depois de uma longa e divertida conversa acerca da memória que Emmett retomara sobre a família, Rosalie foi quem disse a ele a novidade que havia chegado e, embora pelo teor do momento tudo tivesse sido predominantemente sobre comemoração, e nada além de coisas boas sobre o assunto tivessem saído em voz alta, não havia quem escondesse um do outro o que estava nas entrelinhas.

 

Afinal, Rosalie não era tão boa em esconder o que estava sentindo e pensando tanto quanto se achava, principalmente com sua tentativa, nos últimos dias, de se deixar um pouco mais afastada de Emmett - pensando que isso iria amenizar a angústia, a falta e qualquer outra coisa a partir do momento em que ele estivesse longe, e também considerando que não gostaria de contaminar a felicidade atual dele com algum desses sentimentos.

 

E Emmett, por sua vez, apesar de não ser mais tão mau em perceber as coisas que Rosalie não dizia, e em sentir a atmosfera ao redor deles vez ou outra, estava tão animado sobre a viagem e inebriado pela sensação de que tudo estava, finalmente, se acertando em sua vida, que a mudança sutil nela havia passado despercebida.

 

O que podia estar, ou não, em vias de se desfazer agora que a família - que os mantinha dispersos e mais leves em certo ponto -, quase inteira, sairia para conhecer a casa nova de Jasper e Alice.

 

—Tudo pronto, podemos ir! - Alice disse animada, a um passo de passar para o lado de fora da casa. - Tem certeza de que não quer ir, Rose? Você iria adorar conhecer a casa! - e colocou uma mão no ombro da cunhada, sorrindo largo.

 

Jasper, ao lado da esposa, sorriu brevemente e olhou para a irmã sem mais expectativas, apenas com compreensão antecipada. 

 

—Eu tenho certeza que sim, estou ansiosa pra conhecer, mas não hoje. Não estou me sentindo muito bem. - explicou, olhando de um para o outro e franzindo o rosto levemente para demonstrar o que dizia. - Eu irei com Edward num outro dia, sim? - e lembrou a ausência do irmão, que estava em algum lugar com Isabella.

 

—Claro, nós combinaremos! - Alice assentiu na mesma hora, olhando do marido, que assentiu sorrindo, de volta para a cunhada. - Bem, nós vamos indo, então! Até depois, Rose. 

 

—Até depois. - ela disse e sorriu brevemente, avançando para abraçá-los um de cada vez, como despedida, e seguiu-os até a porta de entrada, por onde acenou para os pais. - Divirtam-se por lá!

 

E assim os assistiu acenar de volta, sorrindo, e depois se acomodarem nos respectivos carros e sair, até sumirem pela rua, o que a liberou para fechar a porta e retornar ao sofá. 

 

Com um suspiro longo, os olhos de Rose varreram a sala vazia e, sem deixar-se pensar demais, ela se sentou de volta aonde estivera antes de Alice e Jasper chegarem. Ela se perguntou aonde Emmett estaria e, com o pensamento e o nome, um calafrio a fez encolher as mãos que estavam sobre as pernas: logo ele estaria longe de verdade, mas ainda estava ali. 

 

E ela, na verdade, queria estar com ele também - sobretudo depois de toda aquela história que ele se lembrara, sobre seu aniversário de cinco anos, que a fazia sentir seguramente mais próxima e curiosa sobre a parte da infância que, de alguma forma, haviam compartilhado. 

 

Mas, havia uma grande intuição de que aquilo lhe puxaria uns cinco passos para trás dentro da dinâmica que achava-se fazendo para, antecipadamente, não sentir tanto a falta dele depois, e também para não dizer coisas de que se arrependeria quando já estivessem ditas. 

 

Além das coisas difíceis sobre aquela partida, sobre as quais queria confrontá-lo há muito porque não as via em suas preocupações, havia muito mais o que ela queria conversar depois que ele havia recuperado aquela memória, do aniversário dela quando pequena. 

 

Ela queria perguntar sobre sua família - sua mãe, que parecera tão legal com ela pelo que haviam lhe dito, coisas sobre seu pai, sobre como ele havia se afastado e outras menos específicas - e sobre sua infância, as partes boas como aquela, falar com ele sobre a pulseira de presente, que ainda não havia achado, e o que mais ele quisesse lhe contar.

 

No entanto, Emmett parecia estar simplesmente tão focado e alegre com a ideia da Aeronáutica, que só não havia espaço e disposição nele para falar sobre isso, quando tentava - e por isso havia parado de fazê-lo. 

 

Às vezes, ela desconfiava que fosse também uma espécie de desinteresse, uma tentativa de insensibilizar-se agora que estava voltando para um ambiente militar, onde pensamentos do tipo que o faziam acreditar que, para dar o seu melhor lá, precisaria deixar de aprofundar e deixar-se levar pelos assuntos sensíveis, ganhavam espaço. 

 

Mas, essa era uma ideia que lhe daria muito trabalho para, afinal, poder ser só uma ideia com que perder seu tempo na véspera da partida dele, então Rosalie fazia o seu melhor para deixá-la de lado, ocupando-se com outras coisas. 

 

Como, por exemplo, o que se prometera e vinha adiando por dias: arrumar de verdade as coisas que trouxera da casa antiga e que estavam ajeitadas em seu quarto num improviso, de forma que selecionasse tudo aquilo que iria levar para a nova casa - que ainda estava sendo procurada -, e aquilo do que se livraria. 

 

E assim Rosalie fez por uma hora inteira, causando alguns barulhos chamativos à atenção de Emmett que, no entanto, se conteve em força das arrumações que também precisava terminar, no próprio quarto. 

 

Até que, enfim, ouviu um estrondoso demais para ignorar, que o levou a correr para a direção indicada.

 

—Rose? - ele chamou, antes mesmo de entrar no quarto da loira com urgência, e a viu abaixada, recolhendo coisas do chão que, aparentemente, haviam caído de uma caixa também derrubada. - Eu ouvi um barulho, está tudo bem? 

 

—Está, sim. - ela assentiu rápido e gesticulou para as coisas derrubadas. - Eu só derrubei isso, tentando pegar uma coisa no alto do armário. 

 

—Ah, sim. - ele suspirou, um pouco aliviado enquanto se abaixava para ajudá-la a recolher o que havia caído, checando seu rosto, sombreado pelas mechas loiras como efeito da cabeça baixa,  por um segundo. - E conseguiu pegar o que queria?

 

—Na verdade, não. - e falou com um tom de estresse e desapontamento, expirando com força pela boca quando se levantou para colocar a caixa de papelão, para onde havia acabado de retornar itens caídos, sobre a cama. - Mas, tudo bem. Vou arrumar outras coisas enquanto isso. 

 

—O que quer pegar? Essa aqui? - ele perguntou, indicando uma dentre outras duas caixas que haviam restado no alto do armário. 

 

—É a da esquerda. - ela disse, e Emmett não notou que havia sido sem olhar, então apenas se virou para o armário e pegou a que achava que ela estava indicando, sem esforço, e caminhou para perto dela em seguida.

 

—Só precisava pedir, sabe. - ele brincou, querendo entregar a caixa a ela, que demorou a olhá-lo, concentrada em algo nas próprias mãos. Isso o fez emendar, colocando a mão livre na cintura dela para chamar sua atenção. - Onde coloco? 

 

—Em qualquer lugar, Emm, olhe isso! - Rosalie interviu, de repente entusiasmada e se virando para ele com rapidez, estendendo a mão na sua direção. 

 

Na palma, Emmett viu o que parecia uma pulseira muito pequena, feita de linhas e com duas pedrinhas no centro, em suma, muito igual àquela com que se lembrara de ter presenteado uma versão muito mais nova da mulher à sua frente.

 

—O que...? - ele hesitou, franzindo o cenho enquanto ela expandia os olhos em um sinal de confirmação. - Quando você achou isso? Rose, ela é igualzinha à... - e começou a dizer, largando a caixa sobre a cama para pegar a pulseira entre os dedos, analisando devagar.

 

—À pulseira que vocês me deram, Emmett, porque é ela! - ela disse, animada, e moveu-se para o lado dele, entrelaçando um braço ao dele com firmeza e proximidade, querendo ver mais de perto o objeto nas mãos dele, que apenas sorria suavemente, ainda concentrado. - Eu sabia que tinha guardado. - ela acrescentou, e quando estreitou os braços deles com um aperto, conseguiu que Emmett a olhasse, sorrindo. - Nós achamos!

 

—Você achou, Rose. - ele frisou e riu, também se divertindo com o ânimo dela, apesar de levemente tomado por uma sensação estranha que parecia emergir da pulseira, um misto de saudosismo com realização e reencontro que era, de fato, demais para aprofundar. - Estava procurando por ela? 

 

—Não, isso é que é mais incrível! - ela sorriu e tornou a caminhar para perto da cama. - Eu estava arrumando as coisas que estão no armário, que eu trouxe da casa de Royce, decidindo com o que vou ficar e o que não. E aí eu fui pegar essa caixa - e apontou para a que ele deixara na cama. -, mas não alcancei e acabei derrubando aquela outra - indicou uma no chão. - Foi nela que achei a pulseira. 

 

Depois da explicação, Emmett acenou com a cabeça, realmente impressionado.

 

—Caramba, Rose, isso é demais mesmo. - ele passou um polegar pela pulseira, antes de aproximar-se para entregar a ela, com um olhar sugestivo, para o qual ela sorriu mais. - Até quando você é teimosa o bastante pra fazer as coisas sozinha, elas dão certo. Você realmente é demais, parabéns. 

 

E com isso, Rosalie não pôde evitar de rir, mais alto do que gostaria, sob o olhar sorridente de Emmett, que pegou-a de surpresa ao trazê-la para perto com a mão em sua cintura - mas só por tempo o suficiente para deixar um beijo em sua testa e explicar, mencionando sair.

 

—Preciso ir arrumar minhas coisas.

 

—Eu estava pensando, - ela disse depois de hesitar,  como se não tivesse ouvido a explicação dele e segurando sua mão antes que se afastasse, chamando a atenção de volta. - você disse que ajudou sua mãe a fazer essa pulseira, não é? - e esperou a confirmação dele, entrelaçando os dedos das mãos deles, enquanto Emmett assentia positivamente. - Eu fiquei me perguntando se você ainda iria saber fazer uma dessas, depois de tanto tempo. Eu iria gostar de aprender.

 

—Ah, não, eu não me lembro de quase nada mesmo sobre isso, Rose. - ele negou com a cabeça num tom de riso e, ela percebeu, com certa pressa. - Só de dar um nó no final, e isso não ajuda em nada sem o resto, não é? - e então voltou a se aproximar para beijar sua testa. - Além do mais, preciso ir terminar de arrumar as malas e deixar o quarto ajeitado. 

 

Com isso, Rosalie subitamente suspirou, exausta, e largou sua mão sem sequer pensar, se afastando pra outro canto do cômodo quase tão logo quanto ele fizera até a porta. 

 

O que, por mais improvável que soasse, já que ela havia se segurado aparentemente tão bem durante todo aquele tempo, foi suficiente para que todas as coisas que agitavam seu íntimo há dias ganhassem espaço garganta acima, a fazendo decidir libertá-las num átimo, depois de tanto silêncio.

 

—Pode apostar que não ajuda. - ela murmurou, o que fez Emmett hesitar em continuar para o quarto, mas ainda ameno, porque restava uma dúvida sobre o tom dela. - Assim como você evitando falar de tudo comigo ultimamente. Tudo de que eu quero falar, não é possível agora. - e gesticulou no ar, arqueando as sobrancelhas e dando as costas para ele, com tom sarcástico. - Incrível.

 

—Evitando falar com você? - Emmett estranhou, franzindo o cenho com confusão genuína enquanto se virava de volta para o quarto, uma espécie de adrenalina ameaçando crescer em seu estômago. - Rosalie, eu só disse que preciso terminar de arrumar as malas, você sabe que viajo amanhã.

 

—É claro que eu sei. - ela respondeu de imediato, num tom de riso sem humor, e acrescentou mais baixo, sem encará-lo. - É só sobre o que você fala ultimamente. 

 

E com isso, Emmett franziu ainda mais cenho, os tendões riscando os braços conforme sua postura ficou rígida, dando passos lentos porta adentro. 

 

—O que você está querendo dizer com isso? - ele instigou, então, a adrenalina da incerteza e da atmosfera de repente inóspita, subindo as paredes de seu estômago. - Pode me falar logo? 

 

—Estou querendo dizer o que você ouviu, Emmett. - a loira confirmou, com tom firme e sem parar sua arrumação, nervosa demais para olhá-lo. - Que você não fala de mais nada, pelo menos pra mim, que não seja sobre a aeronáutica. É quase como se não tivesse nada de mais interessante ou importante que você quisesse falar comigo.

 

Ao falar isso, Hale sentiu as cordas vocais tensionarem em sua garganta, a fazendo querer chorar e engolir a seco, ao mesmo tempo. Na cabeça, ela se repreendeu por expressar tanto do que sentia numa só frase, e suas bochechas coraram por isso. 

 

Ela agradeceu por não estar olhando Emmett nos olhos, e por seu rosto estar fora do alcance dele. 

 

—Bem, me desculpe por falar tanto de algo que está chegando, e significa muito pra mim. - o veterano respondeu com ironia, mais firme do que de costume e, de repente, visivelmente irritado.

 

Mas, depois de não ter resposta alguma, tentou baixar a guarda levemente outra vez, num respirar fundo e esfregar da mão no rosto, fitando as costas da loira. 

 

—Do que você quer falar? Podemos fazer isso enquanto eu arrumo as coisas? - ele disse, num tom que reprimia impaciência. 

 

—Não, esqueça. Você pode ir fazer as malas. - Rosalie teimou, decidida, e completou com ruído, ao largar algum objeto dentro da caixa.  - É melhor me deixar sozinha mesmo hoje, quem sabe eu me acostumo a tempo.

 

A atmosfera do quarto, então, se adensou ainda mais. O silêncio voltou a pesar sobre os dois, quando ouviu-se uma risada baixa e sem humor de Emmett, entre a respiração. 

 

—Ah, claro. - ele negou com a cabeça, jogando as mãos no ar e depois batendo-as nas pernas. - Então é tudo sobre isso? Você se arrependendo de ter me apoiado, agora que estou perto de ir? - ele instigou, desacreditado, avançando um pouco no ambiente, como se quisesse chamar a atenção dela de vez. 

 

Agora, a raiva parecia um crescente monstro em seu peito, guardado por trás de suas costelas e expandindo com seus pulmões a cada respiração profunda, cada vez mais transparecido em seus olhos. 

 

Isso era parte do motivo para Emmett querer que ela olhasse em seus olhos, de uma só vez. 

 

Não estava com raiva dela - não podia. Mas, das coisas que ela estava insinuando, tão teimosamente e num dia tão improvável, sim. E queria que ela soubesse disso, que entendesse o quão afetado ela o estava fazendo ficar, e que visse que ele não iria recuar dessa vez, porque ela nem sempre poderia estar certa e hoje era um desses dias. 

 

A outra parte fazendo o todo era que ele esperava que, olhando nos olhos dela e ela nos dele, ambos retomassem, de alguma forma milagrosa, a compaixão, os sentimentos saudáveis e a sanidade, que pareciam ter sido puxados daquele quarto, e das cabeças dos dois, enquanto discutiam. 

 

—Eu não estou me arrependendo. - Rosalie sibilou, finalmente se virando para encará-lo, o ultraje crescendo em sua voz naquela única frase. 

 

E ela não soube como, mas, conseguiu fitar os olhos dele com firmeza por um ou dois segundos - tempo suficiente para absorver o tom diferente ali, como o seu também deveria soar. 

 

Uma maré de azul impassível, alta e revolta, imparável - diferente de todas as outras vezes em que a havia visto. Não calorosa e calma, como costumava ser, mas também não incandescente, como fora contra Jared. 

 

—Bem, então, esclareça pra mim, porque eu acho que estou perdendo alguma parte. - McCarty continuou, enfiando as mãos nos bolsos, a expressão desacreditada, apenas para colocá-las de volta no ar, enumerando. 

 

Rosalie desviou os olhos com firmeza, o maxilar se trincando conforme desfazia da vista que tivera nos olhos dele, e suspirou com impaciência, enfiando uma caixa de volta no armário. 

 

Ela queria mandá-lo embora dali agora mesmo, empurrá-lo até que estivesse fora do quarto e pudesse bater a porta bem em sua cara, o impedindo de repetir a história que ela já sabia, mas não queria ouvir agora, porque não valia de nada. 

 

Afinal, se ela estava se sentindo diferente agora sobre a viagem dele, de como havia se sentido em primeiro lugar, era por coisas que não se comunicavam com a linha cronológica que ele falava em voz alta. 

 

Coisas que ela não podia, e nem iria, revogar, só porque não faziam sentido pra ele. 

 

Ora, se ela as estava sentindo, era porque tinham algum fundamento e faziam sentido ali, nela, aonde importava - e a irritava grandemente que ele quisesse fazer parecer o contrário. 

 

—Primeiro você me incentiva, diz que eu deveria pensar sobre o que Garrett disse. - Emmett começou, contando nos dedos. - Depois, continua me apoiando e diz que vamos conseguir fazer isso acontecer juntos, mas de repente, quando se torna real, você recua? - ele deu de ombros, irritado. - Parece arrependimento pra mim.

 

—Eu não me arrependeria de te apoiar em coisa nenhuma, Emmett! - Rosalie respondeu num fôlego só, igualmente irritada e parando de súbito aonde estava, para encará-lo. - Eu só não pensei que seria tão rápido e tão difícil, e só pra mim!

 

—Só pra você, Rosalie? - ele retrucou e, sem acreditar, negou com a cabeça e gesticulou para o próprio peito. - Acha mesmo que não vai ser difícil pra mim? 

 

Porém, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa para complementar o que queria ser um argumento, Hale foi mais rápida. 

 

—Honestamente? Eu não sei. - disse ela, dando de ombros. - Até agora está parecendo que vai ser bem fácil. Afinal, - completou, se virando para separar mais coisas sobre a cama, com um tom de riso sem humor. - se você parece mal estar lembrando de mim enquanto está aqui, imagino quando estiver lá. 

 

Com isso, houve outra pequena pausa em silêncio: as palavras dela simplesmente não faziam sentido na cabeça de Emmett. 

 

Por que ela iria querer que ele sofresse assim, quando podia apenas se esforçar para deixá-los em bom estado enquanto era possível, e adiar o sofrimento até que ele realmente fosse inevitável? 

 

Não podia ser o que ela estava querendo dizer, mas ele também não conseguia dar outro sentido àquelas palavras. 

 

—Mal lembrando de você? - ele repetiu, incrédulo e sem entender. - Eu só estou tentando pensar nas partes boas pra não desistir de ir, Rosalie, porque finalmente estou seguindo o que sinto, como você me disse pra fazer, e animado em fazer algo que gosto! - ele disse de uma vez, o cenho franzido quando arrastou a mão pelos cabelos, se virando para a porta e de volta para ela, num segundo. - O que foi que deu em você? Será que não pode cooperar com isso e ficar um pouco feliz por mim?

 

E as perguntas foram suficientes para atiçar o amargo que rondava a língua de Rosalie, desfazendo o nó em sua garganta de uma só vez. 

 

—Certo, eu vou te dizer o que deu em mim! - ela começou, explosiva ao se virar por completo para ele, seus traços refeitos em angústia e fúria. - Só o que tenho feito nos últimos dias, antes mesmo daquela carta chegar, é ficar feliz por você. Me mantive feliz e esperei só que me incluísse em algum dos seus planos pros próximos meses, que não fosse simplesmente "se esforçar e aguentar firme", porque nós dois sabemos que isso não é suficiente pra manter as pessoas juntas. E adivinhe só? - ela ergueu as sobrancelhas, agora mais perto dele. - Nada em retorno. Foi isso que deu em mim. 

 

Depois das palavras, Rosalie passou por ele com ímpeto, os passos ecoando mais do que deveriam pelo hall e enfim pelas escadas, enquanto algo mantinha Emmett no mesmo lugar, fitando o quarto sem realmente vê-lo, e principalmente, sem acreditar no que estava se passando e todas as coisas que ela havia falado, sonoras em sua cabeça. 

 

Ele esfregou uma mão por cima dos olhos fechados, sob um suspiro longo e impaciente, as extremidades dos tendões formigando para sair do lugar, até que ele o fez, seguindo Rosalie escada abaixo. 

 

—Bom, Rosalie, quer saber de uma coisa? - começou, os passos rápidos conforme a via se afastar para o meio da sala, jogando uma caixa sobre o sofá. - Isso só mostra, mais uma vez, como você só vê o que quer. Você continua se deixando cegar pelo medo de estar 100% nisso, comprometida conosco. - ele disse com acidez, e então Rosalie se virou com um semblante descrente, deixando um riso sarcástico, que fez o veterano aumentar o tom de voz, escapar. - Porque eu, sim, incluo você em todos os meus planos. Eu só não os fico falando em voz alta porque preferiria passar esses últimos tempos juntos aproveitando o agora, falando sobre e fazendo coisas por nós agora. 

 

—Mas, parece que nem mesmo importa o que eu faça ou por quê. - ele quem riu sem humor dessa vez, vendo Rosalie evitar seu olhar. - Mesmo se eu falasse tudo que planejo pra nós, ainda correria o risco de te ter apontando milhares de coisas racionais que eu não considerei, e depois correndo porta afora com essa desculpa de temer o incerto, que na verdade é a sua falta de confiança em mim e falta de fé em nós, e por isso nunca estando 100% disposta a se comprometer conosco. E eu não vejo como posso fazer qualquer coisa sobre isso. 

 

E com o eco das palavras dele, Rosalie apenas levantou os olhos do chão, fitando pontos aleatórios atrás dele enquanto assentia lentamente, parecendo concluir alguma coisa com ressentimento e, ao mesmo tempo, uma fúria enjaulada por trás do seu semblante perfeito. 

 

—Se isso é mesmo o que você pensa, - ela assinalou, finalmente encontrando os olhos dele. - então sim, certamente não há nada que você, nem nenhum de nós dois, possa fazer sobre isso. 

 

Emmett, então, apenas assentiu firmemente com a cabeça, impassível, e cedeu um último olhar longo de conclusão à tempestade castanha clara que eram os olhos dela, tão frios ao invés de naturalmente quentes, antes de se afastar na direção da cozinha. 

 

Daquela direção, uma vez sozinha na sala, Rosalie ouviu a porta para o jardim bater com mais força do que o usual, e fechou os olhos com força em sobressalto, e também como que para dar-se refúgio por alguns instantes. 

 

Mas, a atmosfera tempestuosa que tomava conta do ambiente não fora embora com ele para o jardim: estava também em sua cabeça, em seu âmago e, principalmente, entre ela e Emmett - que pareciam agora a uma longa e irrecuperável distância um do outro.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso! Espero vê-los nos comentários, me contando seus achismos - e ajudando com aquele favorzão que comentei nas notas iniciais.

Beijos, se cuidem e, quem sabe, até a próxima!



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