Across The Frontline escrita por overexposedxx


Capítulo 11
Capítulo 11 - À Superfície




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Nos dias que se seguiram, o dia-a-dia dos Cullen continuou a passar como usualmente: Rosalie visitava Royce pontualmente, conforme sua rotina pedia, sempre pretendendo livrar-se do sentimento incômodo que pesava em seu peito ao pensar no estado vegetativo do mesmo. Emmett, por sua vez, seguia com sua rotina no trabalho, assim como os irmãos e o pai, saindo pela manhã e voltando ao fim da tarde ou começo da noite. No escritório, vez ou outra o ex-soldado cedia à aura despreocupada dos irmãos, que convenciam-no de livrar-se do trabalho mais cedo para espairecer antes da ida pra casa - tão feliz quanto inconscientemente livrando-o dos pensamentos indesejados e traumáticos que por vezes ainda recorriam-lhe.

Naquela manhã, conforme havia dito na noite anterior, Emmett deveria sair mais cedo de casa para ir ao trabalho, já que alegava ter coisas profissionais para colocar em dia na empresa - e embora Carlisle e ambos os irmãos Cullen pudessem jurar mentalmente que as tarefas do ex-soldado encontravam-se, como de costume, até mesmo mais adiantadas que as suas próprias, nenhum dos três ousara fazer tal alegação, tendo em mente que os motivos por trás de tais possíveis afazeres poderia ser tão ilusório quanto intocável, no que lhes dizia respeito - e portanto, àquele costumeiro horário em que a família reunia-se à mesa para o café da manhã, contrariando o rotineiro, encontravam-se ali apenas os outros cinco membros de sobrenome Cullen - que, pelo que indicavam os ponteiros do relógio rústico em uma das paredes, logo mais dividiriam-se em virtude de seguirem seus próprios caminhos por mais aquela manhã da semana que ainda encontrava-se em sua metade.

—Até mais tarde, querida. - o loiro mais velho disse à altura da têmpora da esposa, depois de deixar um beijo suave no local, vendo-a sorrir ao passar um dos braços por suas costas - Não se esqueça do nosso jantar, te pego às seis e meia. - sorriu, lembrando-a amavelmente de tal compromisso romântico que haviam marcado para aquela noite.

—Estarei esperando. - ela assegurou, sorrindo, antes de exibir o seu costumeiro sorriso doce ao vê-lo se afastar, ainda com os olhos nos seus.

—Um jantar? - Rosalie perguntou quase que retoricamente, em tom um tanto brincalhão e surpreso, lançando olhares sugestivos aos outros dois irmãos, que riram levemente ao compreender o tom dela - Já posso ver as velas fazendo o clima romântico na mesa do restaurante. - brincou, sorrindo abertamente ao ver os pais acompanharem-na no riso e simultaneamente manearem as cabeças negativamente, em descrença aos comentários bobos dela.

—E eu já posso até mesmo sentir o cheiro do vinho. - Jasper acrescentou, também divertido, aspirando o ar lentamente e com os olhos fechados, fingindo veracidade à própria frase.

—Sem falar no garçom perguntando: "vinho tinto ou branco, Senhor?" - Edward simulou uma voz mais séria, gesticulando divertidamente em direção aos pais, que continuavam a divertir-se com tais brincadeiras dos filhos, que conferiam à eles alguns dos traços infantis que há muito haviam deixado de ter fisicamente.

—Certo, nós já entendemos que estão torcendo pelo nosso jantar e vão sentir nossa falta. - Carlisle acenou algumas vezes com a cabeça enquanto alcançava a própria mala preta sobre a cadeira em que antes sentava-se, também em tom divertido, respondendo da forma habitual à saudável brincadeira entre família.

—Nós prometemos contar qual vinho escolhemos e o quão bom estava, depois. - Esme agregou, sorrindo brincalhona para os filhos e conferindo um sorriso igual nos lábios corados do marido, que virou-se uma última vez para despedir-se.

—Não pensem que não vamos cobrar isso. - o mais velho dentre os três filhos lembrou, contando com feições de plena concordância dos irmãos, enquanto segurava o riso que guardava por trás dos lábios finos e bem curvados num sorriso, vestindo o paletó que havia pendurado atrás da própria cadeira há minutos atrás.

—Não pensamos. - o pai garantiu, levantando as mãos em sinal de rendição, para depois levar uma das mãos a um dos bolsos da calça que vestia, procurando pelas chaves de casa e do carro - Agora, é melhor nós nos apressarmos, ou eu posso me atrasar pra esse jantar. - lembrou, lançando olhares breves aos dois filhos homens que acompanhariam-no para a empresa, antes de despedir-se da filha e dar aos outros dois alguns segundos para fazerem-no com a mesma e a mãe, a tempo de retirarem-se pela porta da frente sem a demora de mais do que um ou dois minutos.

—Bem, acho que agora é a minha vez de pegar minhas coisas e chegar logo no primeiro horário de visitas no hospital. - Rosalie sugeriu suas próximas ações, referindo-se à visita rotineira que faria à Royce naquele dia, antes de oferecer um sorriso à feição compreensiva da mãe, que deixou-a livre de quaisquer impedimentos para rumar escada acima, em direção ao próprio quarto.

Já no andar de cima, após o escovar rápido dos dentes no banheiro da suíte em que encontrava-se, enquanto formava livres e rápidos fios de pensamento em sua própria mente, Hale distraía-se com o conferir de itens que levava em sua bolsa para aquela, com sorte, breve visita, combinando simultaneamente os passos lentos e inconscientemente hesitantes para fora do quarto com o olhar atento a cada um dos objetos que alcançava com as mãos, quase às cegas, dentro do compartimento de alças que pendia por um de seus braços. Ao, enfim, concluir que possuía à mão tudo o que precisava para aquela pequena e costumeira saída, fechou e trancou, um tanto distraidamente, a porta da própria suíte, para enfim prosseguir com os próprios passos pelo corredor que abrigava, a certa distância umas das outras, as portas de três das cinco suítes da casa, até que ao passar pela porta que guardava a suíte do ex-soldado, os ruídos estranhamente incomuns que chegaram até seus ouvidos a fizeram parar.

—Andrew! - ela pôde ouvir a voz um tanto trêmula de McCarty chamar, sem saber realmente o que acontecia do lado de dentro do quarto - Andrew, eu sinto muito... Eu... - ele disse de forma exageradamente espaçada, parecendo soluçar - Eu juro que vou acabar com aqueles nazistas, eu vou... - ela arqueou uma das sobrancelhas enquanto perguntava-se o que acontecia além da porta à qual estava, agora, quase colada, sendo capaz de ouvir a oscilação de emoções na voz daquele que falava do lado de dentro, antes de ser surpreendida pelo som de vidro quebrando e, tomada pelo ímpeto e a intuição que dizia-lhe que nada positivo poderia estar guardado por trás de tal som, abrir a porta amadeirada quase que automaticamente.

Ao adentrar o cômodo, enfim, antes que os lábios tingidos pudessem proferir qualquer palavra - ou, como seria mais propício para a ocasião, indagação -, os olhos atentos e levemente arregalados de Rosalie encontraram a figura de Emmett desajeitadamente acomodada sobre a cama de casal que era ocupada apenas pelo próprio, oscilando entre o deitar em que antes encontrava-se e o sentar que ameaçava completar, agora que havia sido desperto de seu sono turbulento pelo som e toque de sua mão contra o copo de vidro ao lado da cama, que agora encontrava-se ao chão, bem como o restante da água que este abrigava há poucos minutos.

Entre o recobrar da consciência e os flashes de memória do que o insconciente reproduzia há pouco em sua mente fragilizada, o de olhos azuis, sem notar propriamente que era observado, começava, enfim, a associar o ardor que começava a expandir-se em sua mão direita com a visão que tinha do próprio caos - que incluia a bagunça dos cobertores sobre a cama e principalmente o copo envidraçado, antes cuidadosamente desenhado em detalhes, partido em pedaços espalhados pelo chão amadeirado em companhia da água que continuava a espalhar-se por ali.

—Emmett, o que...? - a voz dela preencheu o ambiente de forma um tanto cuidadosa e simultaneamente assustada, com certa discrição em demonstrar tal coisa, enquanto arriscava aproximar-se um pouco mais, vendo-o ainda um tanto concentrado nos cortes que agora marcavam o dorso da mão direita, enquanto o rosto recém desperto ia de feições confusas a um misto de impacientes e dolorosamente decepcionadas consigo mesmo , ou com qualquer expectativa ilusória que tivesse criado dentro de si em algum momento, que havia feito-o acreditar que tal episódio não voltaria a ocorrer tão cedo - Sua mão está toda cortada. - falou, mais para si mesma do que para ele, cuidando para não pisar nos cacos de vidro e a água sobre o chão - Me deixe ver. - pediu, impulsivamente fazendo menção de tocar a mão direita dele, que hesitou, um tanto arredio, flexionando o braço para trazer tal membro para mais perto de si, fazendo-a recuar um tanto também.

—Eu estou bem. - assegurou, embora claramente oscilante, piscando consecutivamente os olhos ainda fixos na própria mão, enquanto ajeitava a postura sobre o colchão, fazendo menção de levantar-se, com a feição um tanto mais séria, como quem veste dada postura para defender-se de ataques que só existem em seu subconsciente - Foi só um sonho ruim e eu acabei perdendo a hora. - assegurou outra vez, ainda evitando o contato visual direto, confuso sobre onde os pés deveriam pisar no labirinto que formava-se por cacos de vidro e poças d' água pelo chão diante de si - Isso não foi nada, eu posso fazer um curativo e... - deu de ombros, como se não tratasse-se de muita coisa, embaralhando-se entre as desculpas que gostaria de dar para que ela realmente acreditasse que não era grande coisa - E eu preciso ir trabalhar. - desconversou rapidamente, passando por ela com cautela e hesitação, mencionando dirigir-se ao banheiro da suíte, ainda discretamente concentrado nos ferimentos de sua mão.

—Agora não é uma boa hora pra se fazer de durão, Emmett. - ela alertou-o, com a feição um tanto mais séria, vendo-o ceder à sua fala e parar no local em que encontrava-se, ainda de costas para ela - Eu posso fazer um curativo na sua mão se você me deixar ver, eu sei como fazer isso. - ela insistiu, vendo-o respirar profundamente antes de virar-se para ela, cedendo com certa desconfiança, antes de vê-la estender uma das mãos para receber sua mão ferida - Você não precisa me explicar o que aconteceu, eu só vou ver o machucado. - assegurou, vendo-o enfim relaxar um tanto e estender a mão ferida na direção da sua estendida.

Pelos segundos seguintes, enfim, quando a hesitação de ambos os lados não passava mais de uma sensação na atmosfera silenciosa, Rosalie sustentou a mão decorada de cortes ensanguentados de McCarty na sua, visivelmente menor e mais delicada - e agora, um tanto mais bem cuidada, uma vez que a dele encontrava-se repleta de feridas agressivas -, e com alguns poucos e cautelosos toques aqui e ali, com os dedos finos da mão livre, constatava a profundidade distinta de cada um dos cortes, enquanto secretamente, em sua mente ágil, ligava cada um dos mesmos à possível cena que havia deixado-os marcados ali, pensando nas possibilidades: se teria ele batido agressivamente a mão no copo envidraçado e arrastado-a por sobre os cacos de vidro espalhados pelo criado-mudo, ou se teria apertado-o contra sua mão, ainda inconsciente da realidade.

—Deixe-me ver, Carlisle certamente deixou uma daquelas caixas de primeiros socorros no armário do banheiro pra cuidarmos disso. - disse, um tanto pensativa sobre tal coisa consigo mesma, antes de dirigir-se até o cômodo citado e confirmar o que havia dito há pouco - Certo, pode vir até aqui? A luz é um pouco melhor. - pediu e explicou, respectivamente, aparecendo por poucos segundos no batente da porta do banheiro, até vê-lo caminhar em sua direção e enfim, compartilhar o mesmo espaço no cômodo menor que, conforme o olfato de ambos podia notar, cheirava a essência de lavanda inglesa.

—Você sabe que não precisa fazer isso, certo? - ele quis assegurar, ainda um pouco inseguro sobre a presente situação, demorando um pouco a ceder a mão ferida à dela, cuidadosamente estendida e disposta em sua direção - Quero dizer, eu poderia dar um jeito nisso, já tive machucados muito piores. - atrapalhou-se um tanto, por fim referindo-se seriamente ao período traumático que havia causado os maus sonhos daquela noite e consequentemente, o cenário atual.

—É, eu sei. - ela assegurou, expirando um tanto fortemente em demonstração do cansaço em ouvir e vê-lo hesitar - Você ainda tem machucados muito piores, por isso estou te livrando desse. - enfatizou o tempo verbal da terceira palavra de sua frase, lançando-lhe um olhar sugestivamente alerta, deixando explícito o que pensava sobre o episódio pelo qual ele havia acabado de passar e que parecia banalizar erroneamente, fazendo com que o silêncio instalasse-se pelos segundos seguintes.

—Eu sei no que está pensando. - Emmett voltou a falar, engolindo a seco antes de continuar a formular as expressões que havia criado há pouco em forma de pensamentos rápidos em sua mente turbulenta, enquanto pouco sentia da ardência física pela assepsia que ela fazia em seus ferimentos com determinado remédio - Está pensando que eu sou outro ex-soldado perturbado por causa da guerra, e o pior, estou na sua casa, na sua família agora. - disse, ainda calmamente, controlando-se contra a ansiedade que pedia-lhe para jogar as palavras disparadamente para além do limite dos lábios ressecados, franzindo um tanto a expressão ao finalmente atentar-se para o incômodo ardor que o remédio no frasco que ela agora colocava de lado causava nos cortes abertos - E certamente, que eu preciso de ajuda urgente, perguntando-se o que diabos eu penso que estou fazendo, convivendo com isso até agora e colocando as pessoas que você ama em perigo, com esses ataques imprevisíveis. Um adulto dando todo esse trabalho. - finalizou, sentindo o ar esvair-se rapidamente de seus pulmões conforme as palavras saíram de forma diferente da anterior, ficando entre o silêncio desesperador do próprio caos que acabava de comprovar e o riso irônico que escapava discretamente pelo espaço entre os lábios.

—Emmett, você está... - Rosalie começou, também entre a seriedade plena e o riso que demonstraria o que realmente passava por sua cabeça diante de toda aquela adivinhação errônea feita nervosamente por ele, enquanto cortava um pedaço generoso de gaze com a tesoura metálica sobre a pia.

—Não precisa negar, eu sei que está pensando essas coisas. - dispensou e reafirmou, secretamente mais para si mesmo do que para ela, que procurava concentrar-se na tarefa atual, mantendo os olhos no dorso da mão direita dele - E sinceramente, você provavelmente está certa em pensar algumas delas, afinal de contas, se não fosse por Carlisle ter me abrigado naquele Natal, você não teria que estar se desgastando com isso agora, cuidando dos cortes na mão de alguém que não deveria ser mais do que um estranho pra você. - maneou a cabeça lateralmente, como se concordasse com os supostos pensamentos dela, que discretamente deixava alguns sopros impacientes de ar escaparem por sua boca, enquanto tentava contornar a mão dele com a grande tira de gaze de forma a cobrir todos os cortes distribuídos por ali - Mas, se tem algo que eu posso garantir, é que eu sei dar conta de tudo isso e eu não preciso de ajuda, foi só um momento. Eu estou bem. - garantiu, mais para si mesmo do que para ela, que finalizou a colocação do esparadrapo sobre os caminhos da gaze na mão dele, colocando-se imediatamente a reorganizar os utensílios utilizados na caixa amadeirada, após vê-lo recolher a própria mão e encarar os curativos por alguns segundos.

—Tente não dobrá-la demais ou os curativos podem começar a sair. - pediu, numa forma um tanto mais de aviso do que de pedido, lançando-lhe um olhar breve depois de deixar a tal caixa novamente em seu lugar e fechar tal armário, oferecendo-lhe um sorriso breve antes de fazer menção de sair do cômodo, levando-o a repensar os efeitos, agora evidentes, de tudo o que havia dito antes, nela - Esme provavelmente deve estar preocupada a essa hora, porque alguém já deve ter telefonado para falar sobre a sua ausência no trabalho, então eu vou dizer a ela que não imagino o que possa ter acontecido, mas que vi a porta do seu quarto estranhamente fechada, e que então, ela deveria checar. - enunciou, sabendo que livrava-o um pouco da insegurança explícita dele em contar a qualquer outro membro da família sobre o preocupante episódio que forçava-se a não encarar de tal forma.

—Obrigado, Rose. - agradeceu, enfim colocando um singelo sorriso no rosto abatido - Eu espero contar isso pra ela um dia, afinal a devo ao menos isso. - disse, concordando consigo mesmo sobretudo na última parte de sua fala, vendo a aproximar-se do batente da porta do quarto - Mas, não gostaria de preocupá-la agora.

—Eu não tenho a ver com isso, Emmett, você sabe. - sugeriu a preocupação que ele deveria ter, por si só, com aquilo, fitando-o enquanto abria a porta amadeirada outra vez - Só garanta que ela não veja toda essa bagunça, ou você não vai ter escolha. - aconselhou, indicando com a cabeça, ao longe, os cacos de vidro e a água espalhados pelo chão, no canto mais oposto do quarto, fazendo-o manear a cabeça naquela direção também, por um segundo - Os panos também estão no armário do banheiro. - disse, apenas, sabendo que ele entenderia que poderia utilizá-los tanto para secar o chão, quanto para envolver os cacos de vidro, até que pudesse levar para o lixo sem que ninguém notasse, deixando-o, por fim, sozinho em meio ao caos particular que agora estendia-se, em parte, para além daquela porta, em espaços da consciência ativa da mulher que havia enfaixado suas feridas naquela manhã levemente atípica.

 


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