Space Between escrita por MaryDiAngelo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olar amorinhas ♥
Essa One é dedicada a Lesly, minha amiga secreta ♥
Good Reading ^-^



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— Eu sabia que borboletas no estômago era uma péssima coisa a se sentir, ainda mais quando se tem vinte-e-um anos, como eu; e quando se tem apenas amigos homens que adoram provocar com piadinhas bestas – as palavras saíam por sua boca enquanto Thalia focava em pedalar cada vez mais rápido, para ter ânimo de subir a ladeira que a levava para seu curso.

Ergueu o corpo para ter mais força, suspirando aliviada ao chegar em frente a fachada vermelha, a porta vaivém decorada com o nome do lugar: “Arte de Produzir Textos”. Deixou a bicicleta na grade e arrumou os fones em seus ouvidos, assim como o toca fitas portátil preso a sua calça negra.

— Quando estamos apaixonados, nos pegamos olhando fixamente para a pessoa com uma sensação confortável e um desejo inconfundível de guardá-la apenas para si – continuou falando, mantendo o microfone perto de sua boca enquanto entrava no edifício.

— Gravando suas palavras de novo, Grace? – um garoto moreno dos cabelos negros e olhos verdes-mar, Percy Jackson, um de seus melhores amigos do curso, a provocou assim que a viu entrar.

Thalia cobriu o microfone para abafar a conversa com ele, girando o corpo notando que tinha passado por ele sem perceber, para que pudesse o observar enquanto andava de costas até sua sala.

— Grandes escritores precisam ser ouvidos! – ela o respondeu, com um sorriso travesso.

O moreno apenas riu, negando em reprovação e observando-a até que sumisse de seu campo de visão.

— Esses sintomas nunca terminam, estão sempre em minha cabeça – comprimiu os lábios, começando a andar mais devagar quando entrou em um corredor vazio. – Nós ficamos repelindo esse trágico sentimento. Evitando-o. E, assim, nos deitamos na cama, vazios no nada. Seguindo nossas vidas de um jeito que não era para estar acontecendo...

Seus olhos azuis, tão intensos que lembravam uma chuva de raios, haviam se fixado em apenas um lugar e estavam evidenciando que ela estava imersa em pensamentos.

— Bravo! – uma voz masculina no começo do corredor a fez se sobressaltar, levando o dedo indicador de automático até o botão toca-fitas para interromper a gravação.

— di Angelo – Thalia o cumprimentou sem dar-se o trabalho de olhar por cima do ombro, uma vez que estava de costas para ele. E lá estavam elas em seu estômago novamente.

— Grace – seu sotaque italiano estava carregado, e deixava o sobrenome dela como uma melodia ao sair dos lábios dele.

Ela voltou a andar, não dando a chance para que ele começasse um assunto com ela no meio do corredor. Logo, se viu em uma sala vazia, esperando a hora de seu curso começar para por na prática tudo que havia planejado no caminho.

Ali, no silêncio, sentiu seu rosto esquentar em vergonha ao lembrar que Nico poderia ter ouvido o que ela estava recitando no meio do corredor. De certa forma, era algo ligado a história que os dois mantinham para suas próprias vidas. E era alto o risco de ele ter notado a semelhança.

— O espaço entre nós – disse baixinho, apenas para si e seu toca-fitas – é ensurdecedor. Não aguento mais ficar longe de você, não aguento mais pensar em você, não aguento mais tentar repelir essas borboletas no estômago sempre que você está por perto. Mas nós não quebramos e nem dobramos o silêncio. Apenas deixamos ele vencer. E, assim, nenhum de nós se render a isso.

Sim, Thalia sabia que o italiano sentia a mesma coisa por ela. Talvez tenha sido uma mera coincidência – ou a língua solta de Percy – que a ajudaram nessa conscientização. Portanto, desde que soube disso, preferiu se manter cada vez mais distante, assim como ele fazia com ela.

  Novamente interrompeu a gravação, dessa vez tirando os fones com calma e os deixando sob a mesa junto do aparelho. Subiu os olhos para a porta, onde o di Angelo estava encostado no arco com uma expressão ilegível. Contudo, ele notou seu olhar. E Nico a entendeu. Então, com um andar suave – depois de ter tratado de fechar a porta –, caminhou até ela. Seus passos ecoando no silêncio da sala, este rompido apenas pela respiração acelerada da garota.

Foi ele quem a beijou primeiro. Seus lábios pressionados em busca de uma sensação eletrizante que apenas seus beijos causavam. As paredes negras da sala pareciam concentrar mais o calor de ambos os corpos, deixando o clima abafado e até mesmo romântico para um simples beijo. Thalia foi quem reconheceu o agradável som dos batimentos cardíacos acelerados do moreno, sendo puxada para mais perto para que a intensidade entre seus corpos fosse maior e a distância menor. O cheiro de baunilha dela mesclado ao perfume dele inebriando ambas as partes, deixando-os extasiados. Arrepios enchendo-lhes o corpo como uma corrente elétrica. Ela queria mais. Sim, ela queria muito mais toques como aqueles.

Mas não iria se render.

Sendo assim, se afastou devagar, ainda de olhos fechados, enquanto apreciava o momento em silêncio com as pontas dos dedos tocando seus lábios, estes que formigavam.

Sem mais combates. Thalia recitou mentalmente, abrindo os olhos devagar e fitando o chão. A fase que eles não se importavam com mais nada e se beijavam.  

— Eu vejo você em casa – o di Angelo se pronunciou, a fazendo assentir sem subir os olhos para ele.

A um tempo, ela começou a ter dificuldades para manter seu apartamento. E, como o melhor amigo de seu irmão estava precisando de um lar, lá foi a tola compartilhar o aluguel com Nico di Angelo. O que será que poderia dar errado?

Quando sozinha, puxou o ar para seus pulmões, prendeu a respiração por alguns segundos e a soltou. Virou-se para a mesa, espalmando suas mãos ali, para logo em seguida voltar a colocar seus fones de ouvido e posicionar seu toca-fitas, voltando a falar com o gravador.

— Ninguém está em movimento, nos falta coragem – recitou quando teve certeza que estava gravando. – Não vem a iniciativa de nenhum dos lados para começar um relacionamento. Nós estamos em um impasse e desejando que o outro faça.

Abafado por seus fones, o sinal soou, avisando que a aula iria começar. Portanto, ela foi obrigada a desligar e ir para seu respectivo lugar.

~”~

Era por volta das oito horas da noite quando Thalia ainda pedalava de volta para casa, tão depressa que até mesmo estava estranhando sua boa vontade para chegar em casa.

— O coração tem suas razões, que até a própria razão desconhece – dizia enquanto passava pelo hall de entrada do prédio. Esperou o elevador e apertou o botão do sexto andar. – Mas isso não me importa. Eu não posso, de jeito algum, gostar dele. Eu proíbo esse sentimento dentro de mim mesma, está ouvindo coração?

Suspirou e fitou seu reflexo no espelho: seus cabelos negros presos em um rabo de cavalo alto. Sua blusa com escritas “Morte a Barbie” mostrando uma pequena boneca Barbie com uma seta através de sua cabeça. Os brincos de caveira. A jaqueta de couro preta. A calça igualmente preta. E, por fim, seus coturnos.

— Nota: eu estou muito gata – sorriu consigo mesma, mas logo este sumiu quando do elevador se abriu, revelando o pequeno corredor que levava para quatro portas, onde, em uma delas, o di Angelo estaria a esperando.

Saiu do elevador devagar, pescando as chaves no bolso de trás e parando em frente a seu apartamento.

— A imaginação cura a solidão – disse, fitando cada traço que a madeira tinha – e se eu imaginar um final feliz, talvez isso passe sozinho, não é mesmo?

Assim, parou de gravar. Escorregou os fones para seu pescoço e entrou em casa. Fechou a porta e sorriu, fitando Cérbero – um buldogue francês – pular até ela com suas pequenas patas gordas.

— Quem é o garotão? – ela questionou, agachando para acariciar o pequenino.

Seu pelo curto em uma tonalidade impecavelmente branca, tendo algumas manchas negras espalhadas pelo corpo. Dando destaque a uma em cima do pequeno rabo, duas circundando seus olhos e uma em sua orelha esquerda.

— Precisamos conversar – acima de si, a voz com aquele sotaque italiano extremamente sexy chamou sua atenção, a fazendo subir os olhos sem parar de brincar com o cachorro, que tinha a barriga para cima enquanto tentava abocanhar a mão de Thalia, que passava por seu torso, desviando das patas que se juntavam em uma tentativa de para-la.

— Sim?

— Você quer namorar comigo? – o pedido foi tão inesperado que a Grace travou. Seus olhos se fixaram nos deles enquanto sua boca abria, evidenciando que sua respiração estava extremamente rápida.

Sem mais combates, nós já desistimos. Em sua mente aquele pensamento gritava e implorava que ela saísse correndo. Mas seu coração a mandava se jogar nos braços dele. Finalmente um deles havia cedido ao outro.

Thalia respirou fundo, descendo os olhos para Cérbero – que agora estava sentado observando-a com as orelhas, grandes demais para seu pequeno corpo, em alerta –, e abriu um pequeno sorriso.

O capturou em seus braços, se levantando e pendurando-o em frente ao rosto de Nico, que arqueou as sobrancelhas querendo rir da cara de seu cachorro.

— A mamãe Thalia disse sim.

Ela balançou suavemente o buldogue, fazendo parecer que ele havia falado. E, quando ele foi tomado de suas mãos, pode ver o sorriso nos lábios do di Angelo. Então, ele pegou sua mão direita e escorregou um anel em seu dedo anelar. Simples, porém maravilhoso. Reluzia a prata com pequenos diamantes salpicados por ele.

— O silêncio vale mais do que mil palavras – a Grace citou, entrelaçando seus dedos com os dele e subindo o olhar para fixar nos olhos negros que ele possuía. – Sabe o que isso significa?

— O silêncio que seus beijos causam em mim explica em mais de mil palavras a felicidade que eu sinto de finalmente nós dois estarmos em algo que não é ficar evitando os sentimentos que nutrimos um pelo outro – respondeu, a deixando com um sorriso nos lábios.

E, agora, foi ela quem o beijou.

Contudo, todos sabemos que tudo que é bom dura pouco. Naquela mesma noite, eles haviam juntado suas camas – anteriormente duas de solteiro, cada uma de um lado do quarto – e Thalia quase adormeceu quando o moreno a envolveu pela cintura, a deixando encostar a cabeça em seu peito e tornando aquilo algo que trazia a ela uma sensação de segurança.

Quando você se torna um prisioneiro. Sua cabeça ecoava o verso repetidas vezes, enquanto a Grace sentia a vontade de chorar cada vez mais próxima. E, quando seus olhos se encheram d’água, ela apertou os lábios e deixou que deslizassem livremente por seu rosto.

Chorava silenciosamente, mas isso não durou muito, já que se sobressaltou quando o di Angelo se mexeu e deixou um beijo em sua testa, a fazendo limpar as lágrimas e subir os olhos para encontra-lo a observando com uma expressão preocupada.

— Você não está pronta para algo sério, não é?

Thalia era tão fácil de se ler que quando ouviu ele dizer, tudo ficou mais real e ela só pode baixar o olhar, antes de segurar apertar o tecido da blusa dele contra a palma de sua mão e deixar-se chorar.

— Quer conversar agora sobre isso? Ou quer esperar amanhecer? – a voz do moreno não passava de um sussurro, tentando falar o mais suave possível, mas seus olhos mostravam que estava levemente perturbado. Ela negou, comprimindo os lábios e reprimindo um soluço. – Thals, a gente pode fazer o seguinte...

“Eu e você não vamos namorar porque eu sei que você não está pronta para um relacionamento. Muitos dos seus textos demonstram isso, você passa um pouco das suas características para os personagens e eu te conheço a bastante tempo para perceber isso. Nós podemos ter uma relação do jeito que você quiser. Ou seja, poderíamos ficar apenas nessa coisa de ‘nós estamos ficando, não namorando’, então, quando você se sentir pronta para ir para o próximo passo, nós vamos. O que acha?”

Um tempo se passou em silêncio, até que ela fungasse baixinho e assentisse. Soltou a mão da blusa dele, levando a mão esquerda e para a direita e começando a deslizar o anel por seu dedo. Porém, Nico a interrompeu.

— Fica com ele – disse, fitando-a nos olhos – é uma lembrança que nós estamos juntos indiretamente.

Não era uma surpresa para o italiano que isso fosse acontecer. Mesmo que algo lá dentro se apertasse, dando pontadas de dor em seu peito esquerdo, sabia que aquilo poderia passar logo e ambos poderiam se tornar um belo casal algum dia.

Ao lado da cama, Cérbero latiu alto, tentando pular em cima do colchão, o que fez a Grace rir internamente e se desvencilhar de Nico, pegando o buldogue e o colocando entre ela e o di Angelo.

— Boa noite, Nico – Thalia murmurou, sentindo-o passar o braço por sua cintura e entrelaçar suas pernas, deixando o cachorro entre eles.

— Boa noite, Thals – ele sorriu, se acomodando no travesseiro.

E, por mais que a morena estivesse por um fio da linha que separava a realidade do mundo dos sonhos, sua mente não deixava de finalizar o seu próximo trecho.

O espaço entre nós era ensurdecedor. Não o dobramos ou quebramos. Apenas ultrapassamos e voltamos a linha inicial.


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Notas finais do capítulo

YAY! Chegamos ao final do capítulo! :3
O que acharam? Gostaram? Lesly gostou?
Espero que tenha gostado! ♥

Beijos de Escuridão ♥
~Mary.