— Sniper para Falastrão. Sniper para Falastrão. Alvo na mira, câmbio.

— Eu não concordei com esse codinome.

— Vamos perder o alvo! Para de reclamar e vai lá!

— Tá, tá bem! Você fica mandona quando sobe na escola. Ei! Eeeeei, Muramasa!

O moreno, que atravessava o pátio da escola carregando uma prancha de madeira praticamente do seu tamanho, parou curioso ao ouvir seu nome. Quando virou o corpo na direção da voz, por pouco não acertou seu dono na nuca, que se abaixou rapidamente pra evitar um estrago.

— Ooopa. Cuidado aí, grandão. Precisamos conversar.

— Precisamos..? — ele finalmente se manifestou, a voz baixa e profunda, surpreso com a declaração. A pessoa à sua frente não era de sua sala, e não eram tão próximos assim, sendo mais conhecidos que qualquer outra coisa. Por isso, rapidamente imaginou que havia algum problema.

— É. Precisamos. Que tal agora? Você não tava fazendo nada mesmo. — o garoto simplesmente tomou a tábua da mão do maior (no mesmo instante disfarçando que quase a deixara cair) e a deixou de lado ali no pátio. Acenou alegremente com a mão e saiu andando, supondo que o outro o seguiria.

Muramasa o seguiu. Não era de sua natureza dizer ‘não’. Tinha melhorado nesse aspecto pelos últimos dois anos na escola, mas aquele pedido fora tão simples e de aparência bem-intencionada que a reação passiva foi completamente automática.

O garoto passeou por metade do enorme campus do colégio e Muramasa começava a se perguntar se ele tinha esquecido onde tinha que ir quando por fim ele parou... Junto a um trailler de lanchonete. Pediu uma porção de sata andagis, e se apoiou no balcão pra esperar enquanto eram fritos. Muramasa parou vários metros atrás, feito um poste, e levou as mãos às costas pra esperar, plantado e quieto. Estava acostumado a ser ignorado ou esquecido, então nada disse ou fez, paciente. O rapaz passeou os olhos pela praça quase vazia àquela hora, e então parou o olhar nele abrindo um sorriso antes de explicar.

— Ah! Estamos só esperando ela chegar.

— Ela..? — cada vez mais aquela história toda o deixava mais confuso, até que um THUMP alto de batida contra metal ressoou no lugar, para indignação do dono do trailler que, embora gritasse esbravejando, parecia acostumado com aquilo.

Muramasa demorou até entender o que estava acontecendo. Alguém acabara de saltar do alto do telhado da escola até o teto do trailler com apenas o suporte de um gancho e uma corda. Ele não precisou ver os cabelos lilases para confirmar quem era. Só tinha uma pessoa na escola que faria esse tipo de coisa.

— Hisashiburi~!! Mura-chan!

— Alyshie!?

— Estamos todos aqui! Ally, seu bolinho está pronto. — ele acenou, roubando um dos bolinhos da porção e o mordendo ao ir se sentar numa das mesas. Alyshie pulou do teto do trailler e se juntou a ele, chamando o moreno com a mão para a outra cadeira livre enquanto mordiscava também um bolinho, sacudindo os pés que ficavam no ar por suas pernas serem curtas demais para a cadeira. Muramasa outra vez obedeceu sem questionar, indo se sentar e olhando de um a outro. — Bom! Podemos começar. Chamei você aqui, Muramasa, por um motivo muito, muito importante. Uma informação confidencial chegou a meus ouvidos—Ah! Talvez você não se lembre de mim, apesar de termos nos falado algumas vezes. Sou Sora. Sora Kaneko, Ultimate Diplomata.

— ...Eu me lembro. — ele murmurou, os grossos braços musculosos se cruzando sobre o peito — Uma informação?

— Sim, sim! Muito importante. Veja bem, na sua sala existe um mímico, um Ultimate Mímico, de nome Jon Snow, talvez você o conheça? É claro que conhece. Chegou a meu conhecimento por fontes confidenciais de que, talvez, especulam-se rumores, você tenha tido pensamentos e emoções conflitantes quanto a...

— S-Sora-chan quer saber se você está a-apaixonado pelo Jon. — Alyshie o cortou, embora gaguejasse ao fazer isso. Ela perdia a maior parte de sua autoconfiança quando estava em chão firme.

— ..! — o carpinteiro corou de imediato. Por dois anos, pensara ter mantido isso em segredo, e agora que o terceiro começava, estava ansioso para se formar e deixar isso pra trás. Ele não respondeu, meramente baixando o olhar, mas para o diplomata, isso era confirmação o suficiente.

— Bem! Não é nenhuma surpresa. Jon é adorável, e realmente não tem a menor noção do quanto é capaz de derreter uma pessoa. É uma verdadeira batata. Além do mais, ele tem uma bela bunda. — acrescentou, e Alyshie engasgou com o bolinho ao seu lado.

— Sora-chan!!

— O quê?? É verdade! Não concorda, Muramasa?

— ..............Ele tem. — confirmou, incapaz de recusar-se a responder, a pele negra luzindo de rubor enquanto desejava com força que seu poder de ser ignorado retornasse.

— Bom, então isso resolve tudo. Ally, quando quer começar? Temos que aproveitar o clima do começo do ano, enquanto todos ainda estão descansados e de bom-humor!

— Espera um pouco. — Muramasa por fim conseguiu se pronunciar, a voz soando um pouco mais alta. Os dois se viraram a ele com uma curiosidade inocente. — Eu não... Estou entendendo. O que isso resolve? Do que estão falando?

— V-Vamos juntar vocês! O amor vence qualquer coisa. — Alyshie abriu um grande sorriso animado ao responder, erguendo o punho em sinal de ‘força’.

— ...O que? Por quê??? — os olhos puxados do moreno se arregalaram, e ele ameaçava entrar em pânico. Sora se inclinou em sua direção, a postura se tornando mais tranquila, até a voz parecia ter sido feita para deixá-lo mais propenso a cooperar. Aquele era o talento de um Ultimate Diplomata?

— Vou tentar explicar a situação. Durante as últimas férias, Jon se mostrou... Interessado, por uma certa garota da sua sala. Então pedi à smurf para dar uma olhada—não essa smurf, outra smurf—e há indícios ainda não muito concretos de que essa garota não bata muito bem da cabeça. Poderia ser perigoso. E por isso Ally e eu — Alyshie o interrompeu com um ‘Ei!’ alarmado, e o diplomata rapidamente se corrigiu — ...Principalmente eu, pensamos que poderia fazer mais bem à ele se ele acabasse se apaixonando por... Outra pessoa. Sabe, alguém decente, que vá cuidar bem dele. Alguém como você.

— ...Alguém como... Qu-Por que eu?

— P-Porque você gosta dele, Mura-chan! Quer dizer... N-Não seria o melhor pra todo mundo..? O amor vence, Jon fica bem, você fica com quem gosta e Sora-chan não fica preocupado. Q-Qual o problema?

— O problema é que..! — ele começou, então hesitou, baixando a voz novamente. Encarava as mãos calejadas e enormes sobre a mesa. — ...O problema é que ele provavelmente nem sabe que eu existo. E possivelmente é hétero.

— Estamos contando com a batatice de Jon aqui. Quero dizer, eu sou amigo dele há muito tempo, eu não sei se você sabe. Nos conhecemos desde criança. Chances altas de ele não ter uma sexualidade bem definida além de alguém que dê atenção a ele.— Sora dissertou, a expressão séria, um dedo apoiado à testa como se estivesse refletindo. — Quanto ao primeiro problema, bom... — ele perdeu a pose séria tão rápido quanto a colocou, coçando a cabeça. — É pra isso que estamos aqui.

— Como assim..?

— Deus, você é tão lento quanto ele. Vamos ajudar você. Armar encontros, deixar vocês a sós, esse tipo de coisa. Deixar tudo favorável pra que você possa conquistá-lo.

— ..! Eu não sei... Eu não sei conquistar pessoas assim, eu... Isso não vai dar certo.

— Como não? Nunca teve um namorado?

— Eu... — ele começou, coçando a bochecha com o indicador. ‘Eu sou o passivo’, quis dizer, mas Sora estava, genuinamente, confiando nele com algo que, para o diplomata, era importante. Não era capaz de negar aquilo. — ...Não. Nunca tomei a iniciativa. Não sei o que fazer.

— Oh. Bom, isso é um problema. Jon vai cair infartado antes de tomar a iniciativa de qualquer coisa.

— Ah! Ahh! Você pode praticar!! — Tanto Sora quanto Muramasa sabiam que, pra Alyshie soar empolgada e não gaguejar estando no chão, algo a animara. Ela sorria ansiosa quando se viraram a ela, ambos confusos. — Praticar. Eu sei todas as situações em que começa um romance. Hyuuga-onii-chan me fez decorar todas. Você pode praticar com a gente, como um teatrinho, e podemos corrigir o que disser!

— Teatro..? Mas vocês não.....

— Oh, é uma ótima ideia! Podemos corrigir pessoalmente o que ele fizer. Talvez ele deva jogar com você? Você é a menor, Jon é baixinho.

— É-é verdade... M-Mas você é um garoto, Sora-chan, talvez ele fique mais à vontade.

— ...Vocês dois parecem baixinhos pra mim... — Muramasa conseguiu falar por fim, confuso e perdido na animação dos dois, mas mais uma vez incapaz de recusar. E por que recusaria? Era como Alyshie tinha dito. No fim, seria bom pra todo mundo.

— Nossa, é verdade. Quanto você tem? Chega a dois metros?

— ...Dois e cinco.

— Nesse caso faz todo o sentido que seja eu. Além do mais Alyshie aqui ficaria nervosa demais pra saber atuar. Você disse que sabe todas as situações românticas?

— Hm! — ela assentiu ansiosa com a cabeça — Menos uma. Hyuuga-onii-chan quis me mostrar o-o ‘hentai’, mas Ingram-onii-chan disse stoppu!! Ele ficou b-bravo e eu nunca soube o que é isso.

Muramasa e Sora se entreolharam. O carpinteiro desviou o olhar sem graça, mas o diplomata abafou a risada com a mão.

— Não vamos precisar desse. Só serve quando tem uma garota.

— Ah..! E-Então sim. Eu sei bastante. Eu p-posso... Posso criar pra vocês. As situações.

— Pra mim está bom o suficiente. Então, o que acha, Muramasa? Quer sair comigo? — o tom de Sora era brincalhão, mas Muramasa corou ainda assim.

— ...Ok.

— Yatta! — Alyshie bateu uma palma contente. — A primeira parada é a cafeteria de Tsutao-onii-chan! Baito-desu!!