Despedaça-me escrita por Kurai


Capítulo 1
Despedaça-me - A Primeira Peça


Notas iniciais do capítulo

Essa songfic foi escrita com base no background de uma personagem que fiz pra um RPG de Danganronpa, mas até então é original por não mencionar elementos dali. A inspiração foi obviamente o videoclipe de Shatter Me - Lzzy Hale e Lindsey Stirling. Ayori Motosuwa e Hailey Storm são a mesma pessoa, mas orientais possuem dois nomes, um deles sendo o nome 'ocidental' pra melhor compreensão.



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“I pirouette in the dark
I see the stars through a mirror…”

Rachel sabia que aquele era o seu momento. Dizem que todas as pessoas do mundo possuem, alguma vez na vida, aquele momento. O momento pelo qual nascera, o momento pro qual todo o seu ser se dirigiu por toda a vida. Ali, no maior espetáculo de toda a Inglaterra, com a rainha e seus guardas no camarote, no topo de Londres, Rachel sabia que tinha chegado o seu momento.

Ela lutara muito pra estar ali. Ela praticara incessantemente e passara por dor e sofrimento. Ela derrotara outras quinze ballerinas pra ter aquele solo.

Rachel brilhou.

O espetáculo era dela, a atenção era dela, e por alguns instantes, os corações de todos os presentes na plateia lotada eram dela.

...Menos pra uma pessoa, apesar de ela não ter nenhum jeito de ter previsto isso.

Pra uma pessoa, esse instante jamais passou.

—-------

— Faça outra vez. Você não está sincronizada.

— Eu não quero… Não quero isso. Por favor, por favor…

— ...Outra vez, Rachel. Você não entende o que eu quero?

—-------

“Tired mechanical heart
Beats 'til the song disappears”

Ayori tinha feito quinze. Para seu avô, e para a alta sociedade britânica, era uma mulher, e portanto devia agir como uma. Isso queria dizer conviver com a família. E com os amigos da família.

‘Conexões’, seu avô dissera. ‘Ter boas conexões em um negócio como o nosso é o que nos mantém vivos. Você vai tomar conta dele um dia, Hailey. Vai precisar saber com quem está lidando.’

Ayori não queria aquelas conexões. Ela não gostava muito de pessoas. Desde o incidente que a fizera ter de mudar para a Inglaterra… era como se outras pessoas não significassem nada. De que adianta dar um significado a alguém, se você pode perder isso a qualquer instante? As pessoas passavam por ela cinzas e sem rosto. Ela odiava seu nome inglês também. Hailey Storm. Ela não era inglesa, apesar de adorar Londres, e qualquer um poderia ver isso.

Mas ela gostava do relógio. Aquilo Londres tinha lhe dado de presente e ela era sempre grata.

Desde que seu avô notou seu talento, ele a treinou até que confiasse em sua capacidade o bastante para lhe dar sua própria torre de relógio. Ele, é claro, tinha o Big Ben. Ayori ficara com o menor perto da mansão onde moravam. E desde então ele tinha falado em lhe deixar seus negócios. E isso voltava ao assunto… Conexões.

Ayori queria os relógios. As peças eram mais confiáveis que pessoas, e ela amava sua torre de relógio. Por aquilo, ela faria as tais conexões. Aprendeu a atuar. Aprendeu a sorrir quando não queria. Aprendeu a bajular e negociar. Em pouco tempo era uma das companhias favoritas de empreendedores e magnatas. O negócio de seu avô nunca foi tão bem.

Aquele espetáculo era mais uma dessas conexões. A dona da companhia de dança Blue Royal era influente e convidara a ambos para a apresentação de sua filial inglesa.

Ayori aceitou educadamente com um sorriso, sem esperar nada muito interessante. Estava tão cansada… cansada de pessoas.

Ayori estava errada.

—-------

Tão sozinha…

O acidente lhe tirou os pais, os amigos, o lar… A vida.

O acidente lhe dera peças.

Agora seu coração era mecânico. Nada o fazia bater.

—--------

“Somebody shine a light
I'm frozen by the fear in me
Somebody make me feel alive
And shatter me!”

Nos bastidores, Rachel não conseguia parar de sorrir. Tinha sido incrível. Vários elogios. A dona do estúdio viera parabenizá-la, recebera flores. Tudo estava sendo perfeito.

— Rachel? - um dos seguranças a chamou da porta. Ela já tinha se trocado. Estava aguardando o lugar se esvaziar pra ir embora. - Querem ver você. Os Storm.

— Oh! - ela arregalou os olhos. - Mande-os entrar, não os deixe esperando. - Sua professora avisara da presença dos Storm. Eram possíveis patrocinadores. Devia tratá-los bem e convencê-los a financiar um novo espetáculo. Talvez uma turnê..? Se ela pudesse sonhar alto assim.

— Perdoe-nos a intrusão. - um senhor de idade com um terno tão perfeitamente cortado que parecia impossível entrou no cômodo. Logo atrás dele vinha uma garota que se chocava tão violentamente contra aquele visual que ela poderia achar que entrou ali por acaso. Ela usava jeans manchados, uma blusa de um ombro só, maquiagem pesada. Poderia ter saído de um show de rock ao invés de um concerto de balé. Além do mais, tinha olhos puxados. Asiática..? Mas ela a encarava tão intensamente, a expressão totalmente indecifrável, que se refreou de fazer alguma pergunta a esse respeito.

— De forma alguma, senhor Storm. Me sinto honrada. - ela deu um cumprimento educado e sorriu. A garota permanecia a encarando em silêncio.

— Vim parabenizá-la a pedido de minha neta, Hailey. Parece que ela gostou muito da dança, o que me foi uma agradável surpresa. - o velho sorriu acenando à garota. Ela? Ela quem tinha convencido o Storm a talvez dar patrocínio à companhia? - Estou ansioso para negociar com a companhia em breve.

— Oh! Isso é maravilhoso, eu garanto que o senhor não se arrependerá. - ela deu um sorriso esperançoso ao ouvi-lo, podia dar pulinhos de alegria ali.

— ...Você gosta de dançar? - a garota, Hailey, finalmente se pronunciou. Rachel voltou a atenção a ela com um sorriso orgulhoso.

— É o que me deixa mais feliz.

—-------

— Eu não aguento mais isso! Por que está fazendo isso? O que quer de mim!?

— Você ainda não entendeu o que eu quero? Não sabe o que eu desejo!?

— Me diga!

— A sua felicidade. A sua felicidade suprema. O que te deixa feliz… é dançar, não é, Rachel? Eu tornarei isso perfeito. Farei com que você seja minha peça perfeita… Dançando para sempre, num projeto perfeito, só para mim.

—-------

“So cut me from the line
Dizzy, spinning endlessly
Somebody make me feel alive
And shatter me”

Quando viu Rachel no palco, Ayori sentiu, pela primeira vez em muito, muito tempo, aquele coração paralisado e praticamente de metal bater uma vez mais. Ela nunca tinha se interessado por balé nem por música clássica, e não era isso o que a atraíra no espetáculo.

Rachel era perfeita.

Tudo nela era perfeito. Sua aparência, o modo como se movia, a suavidade e graça, o modo como via a multidão sem realmente ver, focada no próprio mundo. Sua sincronia, tão afiada quanto a de seu relógio, a cada passo que dava no palco. Até suas imperfeições eram perfeitas.

Ayori se viu completamente presa àquela bailarina desconhecida que jamais a vira na vida. Podia mesmo sentir todas as linhas que a amarraram naquele instante. Ela nunca, jamais, em toda sua vida, precisara tão desesperadamente de algo quanto precisara de… dela. De toda ela. Aquela garota não deveria estar ali… Não deveria estar naquele espetáculo com todos aqueles imperfeitos a atrapalhando. Deveria ter todo o palco para si.

Não… isso faria dela a atenção dos olhos de toda aquela gente. E também eram todos imperfeitos. Peças imperfeitas… Era isso. Ela finalmente entendeu.

Ela era a relojoeira, afinal. E todas as pessoas… todas aquelas pessoas sem rosto. Elas não importavam. Eram peças. Todas peças comuns. Era isso. Finalmente sua vida fazia sentido.

Ela era a relojoeira…

E Rachel era a peça perfeita.

Ela deveria cuidar que a peça perfeita fosse colocada na obra perfeita.

—-------

Ela tinha amigos. Muitos amigos. Ela sorria para eles. Brincava com eles.

Máscaras.

Por baixo de todas aquelas máscaras… haviam engrenagens.

Metal frio e sem vida.

Talvez… ela buscasse aquilo que a quebrasse. Que quebrasse a máscara… e todas as engrenagens embaixo dela.

—-------

“If only the clockwork could speak
I wouldn't be so alone
We'd burn every magnet and spring
And spiral into the unknown”

...O que estava acontecendo..? Seu corpo doía. Sua cabeça doía. Tudo doía.

Estava escuro. Ela tentou andar. Bateu contra… um vidro…?

— Olá..? - Ela tentou gritar. Sua voz saiu abafada. O vidro abafou.

As luzes se acenderam. Luzes fracas e amarelas que mal fizeram  um arranhão na escuridão do lugar. Mas o suficiente pra deixá-la ver.

Estava presa. Presa no que parecia uma redoma de vidro gigante sobre uma… caixa de metal. Estava pendurada acima do chão. E a toda sua volta… Fora da redoma de vidro… engrenagens. Engrenagens gigantes e de aparência ameaçadora por toda parte.

— Eu levei muito tempo pra conseguir fazer tudo isso, sabe. - a voz ecoou pelas engrenagens. Ela mal conseguia ver sua fonte. - Só estava faltando uma peça… A peça perfeita.

A dona da voz avançou pra perto dela e ela finalmente a reconheceu. Era a garota Storm. Ela tinha comparecido a cada um de seus espetáculos depois daquele dia mesmo quando eram iguais. E então… sua cabeça doeu quando tentou se lembrar do dia anterior. Depois de terminar o espetáculo não se lembrava de mais nada.

A garota parou perto dela, do outro lado do vidro, e rodou uma gigantesca chave de corda. Uma música começou a soar.

Rachel estava presa em uma caixa de músicas gigante.

— Dance, Rachel. - a garota ordenou a olhando pelo vidro. Tinha um sorriso enorme de quem estava fazendo algo muito bom. Seus olhos brilhavam. - Você completa a obra. Eu sou a relojoeira… e eu criei a perfeição.

—-------

Sozinha.

Sozinha.

Completamente sozinha.

Se os relógios pudessem falar…

Se as caixas de música dançassem com ela…

Se as engrenagens soubessem rir.

Talvez…

Talvez outra peça…

Talvez a peça perfeita………

—-------

“Somebody shine a light
I'm frozen by the fear in me
Somebody make me feel alive
And shatter me
So cut me from the line
Dizzy, spinning endlessly
Somebody make me feel alive
And shatter me”

Ayori ficava quase o dia inteiro no relógio agora. Não saía mais com os ‘amigos’. No máximo aparecia para jantar com o avô e mostrar algum progresso na profissão. Quanto mais ficava perto de Rachel, mais queria ficar.

Era… novo. Empolgante. Ela não imaginava o que poderia ser aquela sensação. Uma sensação tão forte que acordara seu velho coração metálico. Era ao mesmo tempo uma vontade de tê-la para si e de protegê-la de todo o resto, querer conhecer cada parte dela e ao mesmo tempo adorar mesmo sem conhecer.

Era como se algo nela tivesse se quebrado ou se libertado. Talvez Rachel quebraria aquelas máscaras.

No começo, a garota só implorava. Chorava e perguntava o porquê. Pedia pra ir embora. Ayori se manteve férrea. Acreditava convictamente que estava a protegendo ao mesmo tempo que a tornava perfeita e a elevava ao máximo do que poderia ser. Acreditava que um dia a garota veria aquilo e fosse feliz.

Então Rachel se tornou obediente. Mantinha silêncio absoluto e dançava quando era ordenada. Tinha graça e beleza, mas faltava o brilho da apresentação. Ayori começou a ficar incomodada e cada vez mais zangada. Sem o brilho, sua peça ficava imperfeita. Não era a mesma coisa.

Então começou a conversar com ela. Queria saber o que faltava. No começo Rachel não respondeu. Mas sem nenhuma outra companhia e se rendendo ao interesse genuíno da garota, começaram a se falar. A se conhecer. Rachel ficava esperançosa. Se conhecesse melhor a garota… Se a entendesse… talvez pudesse convencê-la. Então foi gentil e paciente. A ouviu e a respondeu. Rachel teve certeza de que teriam sido próximas em outra situação. Se ao menos…

—-------

— Hailey…

— Ayori. Por favor. Não gosto muito do meu nome inglês.

— ...Ayori. Posso… fazer uma pergunta?

— Claro.

— Eu já estou aqui… quer dizer, eu já danço na sua obra a cinco meses. Só pra você. Não acha… Que já está perfeito?

— ...Como assim?

— O que eu quero dizer é… Não está na hora de… de me deixar ir?

— ……………

— Não! Não foi o que eu quis dizer! Desculpa, eu…

— Rachel, você não entende? Você é minha peça perfeita. Minha peça. Você nunca, nunca… Nunca mais sairá do meu paraíso. Seremos felizes aqui… para sempre.

—-------

“If I break the glass then I'll have to fly
There's no one to catch me if I take a dive
I'm scared of changing, the days stay the same
The world is spinning but only in gray”

BAM.

Nada.

BAM.

Dor.

BAM! BAM! BAM!

Agora havia sangue.

BAMBAMBAMBAMBAMBAMBCreck.

Uma fina, fina rachadura…

O sangue pingou torrencialmente de sua mão. Ela cerrou o punho e ignorou a dor.

BAM! BAM! BAM!

...Ela caiu.

Repentinamente, a rachadura se espalhou como teia de aranha ao seu redor, e numa chuva de cacos que a cortou em vários pontos, o último soco a impulsionou pra frente… pro nada que agora a separava da queda.

Ela caiu… caiu… quase em câmera lenta. As engrenagens giravam à sua volta.

Não caiu em nenhuma delas por sorte. Mas caiu em sua perna. Agora ela sangrava também. Se levantou.

Correr…

Tinha que correr. Agora. A porta. Correr.

— Rachel, eu trouxe o jant…

...Ayori.

Fugir.

Fuja!

FUJA!

—-------

“If I break the glass then I'll have to fly
There's no one to catch me if I take a dive
I'm scared of changing, the days stay the same
The world is spinning but only in gray”

O prato com comida que Ayori carregava caiu no chão com um barulho alto que ecoou por toda a torre. Um tempo que se estendeu infinitamente de um mero segundo se passou enquanto as duas se olharam, Ayori aturdida, Rachel apavorada.

E então Rachel saiu correndo.

Sua arrancada foi bem rápida, e ela tomou uma boa distância antes que Ayori percebesse o que estava acontecendo e decidisse segui-la escadaria acima.

Mas Rachel mancava ainda da aterrisagem forçada sobre a própria perna. Ayori conseguia sentir a velocidade de sua presa diminuir a cada passo. E a cada passo que se aproximava sua mente se rachava mais um pouco.

Por que ela fugia..?

Ela era a peça perfeita, na obra perfeita. Ela fazia o que a deixava feliz, perfeitamente, e tinha sido abençoada com uma forma de fazer isso por toda a vida. Aquilo era… era o sonho de qualquer peça, certo? O que mais uma peça poderia pedir que não um relojoeiro que a usasse com perfeição?

Então por quê… por que Rachel fugia..?

As possíveis respostas assustavam Ayori. Assustavam muito. Muito mais do que sua mente instável parecia capaz de aguentar.

Talvez Ayori não fosse a relojoeira perfeita digna da peça perfeita. Talvez a tivesse usado da forma errada… E agora a peça que um dia tinha sido perfeita fugia rachada logo à sua frente. Mancando. Uma peça que deveria dançar… Mancando. Ela rachara a peça perfeita. Era culpa dela..?

Ayori estava cada vez mais perto. O que faria quando a alcançasse..? Rachel estava quebrada. Não era mais a peça perfeita que se encaixava em sua obra. Não tinha nenhum sentido ela continuar perseguindo a garota. Deveria simplesmente deixá-la ir… Esquecer essa peça agora imperfeita.

Então por quê..? Por que Ayori continuou a perseguindo..? Por que ela sentia tanto… Tanto medo… E estava tão apavorada em perder a garota..? Ela não devia sentir nada por uma peça… uma mera peça agora quebrada… uma mera…

Peça..?

Seu coração apertou. Ela correu mais depressa. Rachel não podia fugir. Ela não tinha certeza de porquê.

—-------

“Somebody shine a light
I'm frozen by the fear in me
Somebody make me feel alive
And shatter me”

Rachel alcançou o final da comprida escadaria torre acima. Ela sentia Ayori logo atrás dela. Passou pela porta sem pensar duas vezes. Então finalmente pôde ver aonde estava.

Estava no alto de uma torre de relógio. A porta saíra logo na frente do mostrador. Estava escuro, os ponteiros gigantes ao seu lado pareciam indicar quase onze horas da noite.

Enquanto notava isso, a porta tornou a se abrir atrás de si. Ayori estava parada na porta, pouco visível emoldurada pelas sombras do interior da torre além da porta. A garota, pouco atlética ao contrário da bailarina, parecia recuperar o fôlego. Rachel deu vários passos pra trás, se aproximando da cerca de segurança ao redor do mostrador.

— Não se aproxime.

— Rachel… se afaste daí… Qual é. Volta pra cá.

— Qual o seu problema? Voltar praquilo!? Quem escolheria aquilo?

— Você sabe que eu nunca machucaria você! Eu cuido de você, Rachel, sabe que ninguém nunca se importou tanto com você quanto eu!

— Cuidar! Chama isso de cuidar? São cinco meses Ayori! Você me prendeu nessa torre por cinco malditos meses!

Ok! Ok, mas foi por você. Você estava dançando. É o que te deixa feliz, não é? Fazer sua função não deveria deixar a peça feliz!?

— … - Rachel olhou pra expressão perturbada e doente da garota. Olhou pra altura em que estava. Então sorriu. Era um sorriso gentil. O mesmo sorriso de quando a conhecera. - Não mais. Eu escolho a liberdade, Ayori.

E com aquilo, ela subiu pela cerca de proteção, e pulou.

Ayori mal teve tempo de erguer um braço e arregalar os olhos.

—-------

“So cut me from the line
Dizzy, spinning endlessly
Somebody make me feel alive
And shatter me”

Não… Não! NÃO!

NÃO NÃO NÃO

NÃONÃONÃONÃON

Quebrada. Quebrada… Despedaçada.

Ayori apertou a cerca de proteção com tanta força que os nós de seus dedos ficaram brancos da má circulação. Ela olhava, do alto de sua amada torre de relógio, sua também amada peça lá embaixo, no chão, despedaçada, partida, quebrada para sempre. Morta.

Amada…? Oh não. Não. Não… ela a amava, não amava? Isso explicava bastante. Por que a quisera mesmo quando inútil… Achava que podia consertá-la. Ela não era assim. Ayori a amava… e agora nada podia fazer por ela. A peça se partira.

A peça…

A garota.

A garota que amava.

Rachel estava morta e nunca dançaria outra vez, nem para Ayori, nem para ninguém.

—-------

 


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Notas finais do capítulo

O avô de Ayori encobriu toda a história com a ajuda do submundo. A garota foi dada como desaparecida e seu caso foi arquivado. Para evitar qualquer tipo de suspeita e prejuízo para a empresa, o homem a enviou de volta para o Japão, lhe ordenando que entrasse para a (Hope’s Peak no RPG de onde veio). Ela era mais do que qualificada para a academia mas nunca ingressara pela sua mudança súbita pra Inglaterra, e seu avô decidiu que a ‘pausa’ lhe faria bem, além do nome da academia ainda ter bastante influência. Ayori não quis comparecer ao funeral, porque estava confusa e perturbada demais e ainda não processou direito o que se passou.
Quando A Peça Perfeita se inicia, se passaram alguns meses desse ponto, e Ayori tinha se forçado a voltar a seu estado de 'coração de metal', se recusando a ter sentimentos outra vez e quebrar mais alguma peça, ou, o que se recusava a admitir, mais alguma parte de si mesma. Estava mentalmente instável e beirando a insanidade, o que a fez cair bem rápido quando o desespero começou.



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