Waves escrita por Charles Gabriel
― Onde você estava? – Plutarch questionou o rapaz que chegava em casa. Tentava ao máximo manter um bom relacionamento com seu filho, entretanto, não havia sucesso. Peeta fazia o máximo para se fechar em seu mundo, conversava somente com Prim – ela era a única que conseguia baixar a guarda dele.
Plutarch detestava admitir, porém, além do sobrenome, dos cabelos loiros e olhos azuis, o filho havia herdado também a teimosia.
― Adianta responder? – O garoto retorquiu colocando o molho de chaves numa prateleira ao lado da porta de entrada.
― Peeta, já passa da meia noite. Onde você estava? – Insistiu.
― Fui dar uma volta – O rapaz deu de ombros.
― Volta? – Repetiu de forma debochada.
― Isso aí – deu de ombros, caminhando em passos lentos em direção a escada.
― Espere aí, mocinho. Ainda não acabei. – Plutarch bradou de forma autoritária. Peeta revirou os olhos, odiava voltar pra casa nos dias em que o pai estava de folga, pois sabia que ele estaria o esperando para dar algum esporro. Por esse motivo, só voltava depois de um dia cheio, que resultava em ir até a casa de Thresh jogar vídeo game, ir até o Amoeba Music ou ir para os bares jogar sinuca – Não quero mais saber de você voltando tarde da noite.
― Eu sempre volto tarde – Respondeu – Você estando em casa ou não.
― Não me interessa – expressou – ’tá de castigo e pronto.
― Uau, o que eu fiz dessa vez, papai? – Indagou com deboche.
― A escola me ligou dizendo que Cato está envolvido com drogas – Retrucou.
― Meu irmão faz merda e a culpa é minha? Faça-me o favor, Plutarch – Objetou com raiva – Cobre isso dele, não de mim.
― Vocês são gêmeos, devem partilhar segredos. E você não me contou nada disso.
Peeta riu de forma ácida.
― Cato é grandinho o suficiente para fazer o que bem entender. Foi-se o tempo em que partilhávamos segredos, já não somos crianças – Explicou.
― De qualquer forma, você não me disse – Replicou apontando o dedo indicador para o rapaz – Por isso está de castigo.
― Você nunca ligou pros teus filhos e agora, quer dar de bom pai? – Peeta mordeu o lábio inferior segurando o riso sarcástico.
― Enquanto morarem debaixo de meu teto, me devem satisfações.
Peeta observou o homem a sua frente com raiva.
― Grande coisa – deu de ombros – não me importo nenhum pouco.
― Vai passar a se importar. É de casa para a escola e da escola para casa. Nada de ir a show, bar e casa de Thresh. Somente escola e casa, entendeu?
― Ah, qual é? – resmungou – Tudo isso por que Cato usa maconha?
― Não, não é só isso – deu um mínimo sorriso – fiquei sabendo que está tendo notas baixas na escola.
― Não acredito que aquele velho fofocou sobre mim – praguejou.
― Velho ou não, ainda é seu diretor – Deu de ombros, a fim de provocar o garoto, que somente revirou os olhos.
― Já acabou? – arqueou as sobrancelhas.
― Espero que estejamos entendidos, Mellark – Lançou um olhar oblíquo.
― Relaxa, Plutarch, entendi – deu tapinhas nas costas do pai, subindo as escadas.
― Que bom que entendeu, pois vou querer uma cópia semanal da sua ficha de presença na escola – deu um sorriso largo – Boa noite, filho.
― Vai sonhando – respondeu já no topo da escada, rumando para o quarto, que ficava na segunda porta do corredor. Único ponto de refúgio e paz. Jogou a mochila em qualquer canto do quarto, enquanto fechava a porta. O cômodo estava muito mais pra desorganização do que baderna. Livros espalhados pela escrivaninha, roupas de cama bagunçada e alguns casacos em cima de uma cadeira, além dos mais variados pôsteres de banda – desde The Smiths, Sex Pistols e The Clash a Pink Floyd, Led Zeppelin e The Beatles. Jogou-se na cama, observando o teto, repassando os acontecimentos do dia.
Thresh. Escola. Sinuca. Vídeo Game. Katniss.
Maldito nome, pensou, enquanto retirava os coturnos do pé e jogava em um canto qualquer. Sentiu o celular vibrar, retirou o aparelho do bolso do jeans rasgado, atendendo a ligação sem mesmo ver quem era do outro lado da linha.
― Fala – Murmurou sem ânimo.
― Que isso, Peeta – Thresh exclamou exasperado – pelo jeito, não ’tá nada bem por aí.
― ’tá tudo ótimo sim, só estarei de castigo pelos próximos meses – sorriu de forma sarcástica – está tudo ótimo.
― Castigo? Como assim? – Indagou.
― É – revirou os olhos – meu pai descobriu que estou com notas baixas.
― Que infer... Ah, droga, eu morri – barulhos de socos foram ouvidos.
― Ah, ótimo! – o loiro bradou – Estou aqui desabafando com você, e você fica jogando? Muito obrigado.
― Calma, cara – risos escandalosos ecoaram pelo microfone do celular – eu ’tô numa partida ranqueada.
― Por que me ligou se ’tá na ranqueada? – Chiou.
― Caralho, mano! Você está difícil hoje, hein? Tudo isso por conta do seu pai?
― Quem dera fosse só ele... – Divagou.
― Ah, já sei – sussurrou de forma marota – tem a ver com a Everdeen?
― Infelizmente! Aquela menina é um porre – Respondeu lembrando-se do ocorrido na biblioteca.
― Mano, eu não queria dizer nada, mas olha... – Sons de bala foram ouvidos – Ah, mas que desgraça, eu morri de novo.
― Dá pra parar de jogar e me falar logo de uma vez? – Peeta demandou sem paciência.
― Tá bom, tá bom. Já saí da ranqueada – Jubilou do outro lado da linha.
― Desembucha.
― Cara, já que você ’tá de castigo, por que não aproveita pra ter aquelas aulas de ajuda com a Everdeen? – Propôs.
― Você ficou maluco? Não, nem pensar.
― Eu sei que você a odeia e isso deve ser recíproco, mas...
― Nem vem, Thresh! – Interrompeu o melhor amigo.
― ’Cê sabe que não vai dar pra enrolar o teu coroa pra irmos nos shows de rock no fim do ano, né?
― É, sei sim... – suspirou derrotado.
― Aproveita a vibe, mané— debochou – começa a pedir ajuda pra hippie.
― Eu não vou fazer isso.
― É você quem sabe. Quer continuar nesse castigo?
― Não! – Se exaltou.
― Então... – pigarreou – cai dentro, cara.
― Inferno! – Peeta praguejou.
― Vai, aproveita a oportunidade. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
― Muito engraçado, Thresh, porém, dispenso – chacoteou.
― Então tá, Peeta, depois não diga que não avisei – O garoto respondeu de forma indiferente – Vou voltar pra minha ranqueada. Falou!
Antes mesmo que o loiro pudesse responder alguma coisa, a ligação já havia sido desligada. Bufou de ódio, colocando o dispositivo em cima da mesa de cabeceira.
― Peeta? Você ’tava brigando com quem? – Uma voz infantil o fez olhar para a porta, encontrando uma figura minúscula de pijama, cabelo bagunçado e olhar sonolento.
― Não estava brigando com ninguém, Prim – deu um sorriso caloroso.
― É que eu ouvi do quarto, pensei que estivesse bravo... – A garota olhou para o chão de forma envergonhada.
― Não, eu só estava conversando com Thresh – Sussurrou.
― Hm... – A menina soltou crispando os lábios.
― Aconteceu alguma coisa, meu amor? – Peeta indagou, franzindo a sobrancelha.
― Eu tive um pesadelo. Posso dormir com você? – Perguntou de forma genuína, observando o rapaz. Os olhos azuis brilhavam em expectativa.
― Claro, vem cá! – A garotinha correu desajeitadamente até a cama, deitando-se ao lado do irmão, que a envolveu num abraço caloroso – Quer me contar o pesadelo?
― Não – respondeu manhosa – só quero dormir.
― Tudo bem, então. – Sorriu, enquanto cobria a menina com cuidado – Durma bem.
Logo, a menina foi levada pela consciência, sonhando com um belo canteiro de rosas – diferente de Peeta, que velava o sono da irmã de forma inquieta. Detestava admitir, todavia, Thresh tinha razão.
Agora, com seu pai sabendo das notas baixas, não haveria escolhas, a não ser pedir ajuda a Everdeen – sabia o quanto Plutarch era insistente e não o deixaria reprovar por mais um ano seguido.
Inferno, pensou, passando a mão pelos fios loiros, ao lembrar-se do que a garota havia lhe dito mais cedo. Naquela hora, sentiu vontade de mandá-la se ferrar, entretanto, se conteve e, percebendo agora, foi uma decisão sensata, já que, como seu melhor amigo havia dito, ela era a única fonte de ajuda que ainda tinha. Iria melhorar suas notas, assim, se veria longe de um castigo idiota – mesmo que pra isso, precisasse aturar uma garota que odiava.
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