Unguarded, In Silence — Reimagined New Moon escrita por Azrael Araújo


Capítulo 17
Fifteen




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Eu estava na floresta como sempre. Parecia estar simplesmente vagando por hábito, apesar de conseguir sentir que essa não era uma floresta conhecida. O cheiro era diferente, e a luz também. Cheirava... Bem, não como o chão molhado das matas, mas como a brisa que vinha do oceano. Eu não podia ver o céu; mas ainda assim, me pareceu que o sol estava brilhando — as folhas acima da minha cabeça eram de um verde brilhante cor de jade.

Eu tinha a forte impressão de que essa floresta, aonde quer que estivesse localizada, era perto de uma praia. Na semiconsciência desse estranho sonho, eu sentia uma urgência em ver o sol, então me apressei e segui em frente, seguindo o som fraco das ondas à distância.

De repente, Edythe Culen surgiu. Não tive tempo de registrar o impacto que sua figura me causou depois de tantos meses longe, pois ela agarrou minha mão, me puxando de volta para a parte mais escura da floresta.

— O que há de errado? — eu perguntei. Seu rosto era assustado e o cabelo ruivo e brilhante estava lindo de uma forma diferente. Não solto e rebelde como sempre, mas colocado para trás num rabo de cavalo firme, bem acima da sua nuca.

Ela não me puxava com força, mas eu resistia — não queria ir para o escuro.

— Corra, Bella, você tem que correr! — ela sussurrou, aterrorizada.

Uma luz estava vindo na minha direção de onde eu acreditava ser a praia. Em apenas um momento, uma Riley Biers saiu das árvores, a pele brilhando fracamente de suor, os seus olhos escuros e perigosos. Ela parecia me chamar enquanto sorria — um belo sorriso estranho com feições marcadas e dentes afiados…

Edythe soltou minha mão e rosnou. Do outro lado, Riley ganiu, tremendo e se contorcendo.

Tentei gritar, mas minha voz havia desaparecido.

Uma respiração depois e, de uma explosão de cabelo e sangue, surgira um enorme lobo loiro avermelhado com olhos escuros e inteligentes.

O sonho mudava de direção, é claro, como um trem saindo dos trilhos.

Esse lobo era gigante, monstruoso, maior do que um urso. Ele olhou atentamente pra mim, tentando me dizer algo vital com seu olhar caloroso.

Olhos calorosos como em sua versão humana, olhos como de Riley Biers.

 

Eu fiquei na minha cama por bons minutos com a cabeça rodando, cansada e desgastada demais, tentando entender o sentido de tudo aquilo.

Havia alguma coisa presa na minha garganta, me sufocando e tentei engolir, mas estava preso lá, sem se mexer.

— Lobisomem? — asfixiei.

Sim, essa era a palavra que estava me sufocando.

O mundo inteiro sacudiu, girando do jeito errado no seu eixo.

Que diabo de lugar era esse? Será que realmente poderia existir um mundo onde lendas vagavam nas fronteiras das cidades pequenas se deparando com monstros míticos? Será que absolutamente todos os malditos contos de fadas impossíveis eram de alguma forma baseados na mais absoluta verdade?

Havia alguma coisa normal na porcaria deste imenso mundo ou tudo era simplesmente magia?

Corri para o banheiro tentando de forma inútil fazer o mínimo de barulho, respirando pesadamente enquanto a bile subia e descia na minha garganta.

Muito bem, pensei depois de um minuto. Fechei a tampa do vaso e sentei sobre o mesmo, quando me pareceu que eu não iria vomitar meus pulmões pra fora do corpo.

Okay. Então não havia nenhuma gangue.

Nunca houve uma gangue. Não, era muito pior que isso. Era um bando.

Um bando de lobisomens incrivelmente gigantes.

Uma voz pequena atrás da minha cabeça me perguntava qual era o grande problema aqui.

Quer dizer, eu já não tinha aceitado a existência dos vampiros a tanto tempo atrás — e sem ficar histérica assim?

Exatamente, eu queria gritar para aquela voz. Será que um mito já não era suficiente pra qualquer um? Suficiente pela porcaria de uma vida inteira?

Além do mais, nunca houve sequer um momento em que eu não soubesse que Edythe Cullen era algo além do normal... Eu não fiquei tão surpresa de descobrir o que ela era, porque obviamente ela era alguma coisa.

Mas Riley? Ela era só… A Riley, a garota Biers. Tão normal e comum quanto eu mesma.

Suspirei.

Porque diabos a minha vida tinha que ser assim tão cheia de personagens de filmes de terror? Veja bem, eu meio que já sabia que havia alguma coisa profundamente errada comigo… Mas isso já estava ficando ridículo.

Riley, minha amiga.

Riley não era humana.

De repente, eu estava com uma pressa frenética. Olhei para o relógio — era cedo demais, mas não importava. Eu tinha que ver Riley agora.

Me vesti com as primeiras roupas que consegui encontrar e desci as escadas dois degraus de cada vez. Eu quase esbarrei com Charlie enquanto corria pelo corredor à caminho da porta.

— Onde você está indo? — ele me perguntou, surpreso. — É cedo demais pra sair.

— Isso não importa, eu tenho que ir falar com Riley agora mesmo.

Ele estava bloqueando meu caminho para a saída e considerei a ideia de desviar dele e tentar sair correndo, mas eu sabia que teria que explicar isso depois.

— Eu vou voltar logo, okay? — revirei os olhos.

Meu pai fez uma careta.

— Direto para a casa dela certo? Sem paradas no caminho?

— É claro que não, onde é que eu ia parar? — minhas palavras estavam saindo todas juntas com a minha pressa.

— É só que… Bem, são esses ataque de lobos. O mais recente aconteceu bem perto do resort, perto das piscinas quentes, nós temos uma testemunha. A vítima só estava a doze metros da pista quando desapareceu. A esposa dele viu um enorme lobo cinza apenas alguns minutos depois, enquanto ela estava procurando por ele, e correu pra pedir ajuda.

Meu estômago se mexeu como se eu tivesse batido num corvo numa montanha russa.

— Um lobo o atacou?

— Não havia sinal dele, só um pouco de sangue de novo. — o rosto de Charlie demonstrava dor — Os patrulheiros estão saindo armados, e levando voluntários armados. Tem um monte de caçadores que estão loucos pra se envolver e tem uma recompensa sendo paga pela carcaça de lobos. Isso significa que vão haver muitos disparos na floresta e isso me preocupa. — ele balançou a cabeça — Quando as pessoas ficam muito excitadas, acidentes acontecem.

— Quer dizer que eles vão atirar nos lobos? — minha voz subiu uns três oitavos.

— O que mais podemos fazer? Isabella, o que há de errado? — ele me perguntou, seus olhos tensos examinando o meu rosto.

Me senti fraca — talvez eu devesse ter feito um esforço para vomitar minutos antes.

Simplesmente havia esquecido sobre os mochileiros desaparecidos, as pegadas com marcas de sangue… Eu não havia conectado esses fatos às minhas mais recentes descobertas.

— Olha, querida, não deixe que isso te assuste. Só fique na cidade ou na estrada, sem paradas, okay?

— Claro, claro — eu repeti de forma automática.

— Eu tenho que ir.

Olhei-o de perto pela primeira vez e vi que ele estava com a arma amarrada na cintura e as suas botas de caminhada nos pés.

— Você vai atrás daqueles lobos, pai?

— Eu tenho que ajudar, Bells. As pessoas estão desaparecendo. — ele caminhou para a porta e a segurou aberta. — Você não vai sair?

Eu hesitei, meus estômago ainda dando cambalhotas desconfortáveis.

— Talvez esteja cedo demais. — dei de ombros tentando fingir normalidade.

Charlie me encarou por um segundo e saiu para a chuva, batendo a porta.

Assim que ele estava fora de vista, eu corri para o banheiro e me joguei de joelhos antes de começar a vomitar.

Será que eu devia ir atrás de Charlie?

Será que eu devia ir avisar Riley? Quer dizer, se ela é uma lobisomem — lobagirl, lobo-fêmea, qualquer que seja a porcaria do termo —, então Charlie estaria indo caçá-la nesse momento. As pessoas iam tentar matá-la se ela continuasse correndo por aí como uma loba gigante.

Charlie estava lá na floresta.

Riley era minha melhor amiga, mas seria ela um monstro também? Um de verdade? Ela seria má?

Eles tinham que parar! Eu precisava dizê-la pra parar.

O suor frio pingava lentamente pelo meu rosto enquanto eu tentava normalizar a respiração.

Eu não sabia nada sobre lobisomens, claramente. Quer dizer, confesso que esperava alguma coisa mais próximas dos filmes como criaturas que eram meio homens e cabeludos. Então eu não sabia o que os fazia caçar, se era a fome ou a sede ou se era simplesmente o desejo de matar. Era difícil julgar, sem saber dessas coisas. Mas isso não podia ser pior do que o que os Cullen tinham que suportar na sua tentativa de serem bons. Não era?

Era inevitável que eu comparasse Riley e seus amigos aos Cullen... Se Riley realmente fosse uma criatura dos filmes de terror em todos os sentidos, seria errado protegê-la.

Levantei com dificuldade, o suor frio agora descia por todo o meu corpo — eu precisava de um banho.

Olhei no espelho, observando meus olhos assustados e indecisos.

Até agora, só estranhos haviam desaparecido. Isso significava alguma coisa, ou era só uma coincidência? Será que esses lobos ao menos se importariam com isso?

Eu passei meus braços ao redor do corpo, lutando com a indecisão em meu peito.

Bem, bem. Eu tinha que fazer algo, pensei. Riley me visitara na noite passada por uma razão, certo? Ela me devia respostas.

De qualquer forma, eu iria avisá-la.

 

Maldita garota Biers, eu pensei comigo mesma, balançando a cabeça enquanto dirigia pela pista cercada de floresta à caminho de La Push.

Eu não tinha certeza de que a encontraria aqui, mas algo — uma voz no fundo da minha mente — me dissera que ela devia estar com o bando. A julgar pela última conversa que eu tivera com a pequena Allyson, poderia afirmar que esse palpite era bem confiável.

Estremeci.

Eu entendia agora o que Riley havia dito na noite passada — que eu podia nunca querer vê-la de novo — e eu podia ter ligado ou mandado um SMS como ela sugeriu, mas isso parecia covarde.  Nós duas precisávamos de uma conversa cara a cara, pelo menos. Eu ia dizer na cara dela que não faria vista grossa para o que estava acontecendo — eu não podia ser amiga de uma assassina e não dizer nada, deixar essa matança continuar… Isso me tornaria uma monstro também.

Mas eu também não podia não avisá-la. Eu tinha que fazer o que podia para protegê-la…

Parei na frente da casa dos Black com os lábios pressionados numa linha dura. Qual era o meu problema? Porque eu sempre escolhia amar os monstros?

A casa estava escura, não haviam luzes nas janelas, mas eu não me importava de acordá-los. Meu punho bateu na porta com a energia da raiva; o som ecoava nas paredes.

— Pode entrar — ouvi Bonnie falar depois de um minuto, e uma luz se acendeu. Eu girei a  maçaneta; ela estava destrancada. Bonnie estava inclinada na abertura de uma porta bem do lado de fora da cozinha, mas não estava sozinha. Ao seu lado, a Sra. Biers me encarava com uma expressão jocosa, um roupão de banho ao redor dos ombros. Quando Bonnie viu quem era, seus olhos se arregalaram brevemente, e depois seu rosto ficou estóico.

— Bem, bom dia, Isabella. O que é que você está fazendo acordada tão cedo?

— Oi, Bonnie. Eu preciso falar com Riley, onde ela está?

— Hm… Eu realmente não sei. — ela mentiu na cara dura.

Revirei os olhos, doente com tanta enrolação e depois assumi uma expressão vazia.

— Eu já sei a coisa toda. Lobisomens, blá blá blá. — abanei com a mão como se não fosse nada demais — Então eu gostaria de falar com Riley sobre isso, se você não se importa.

Bonnie apertou seus lábios finos por um longo momento.

— Ela ainda está dormindo. — a voz grave da Sra. Biers ecoou pelo ambiente fechado. Ela acenou com a cabeça em direção ao pequeno corredor fora da sala. — Ela tem ficado fora até tarde esses dias e precisa de descanso, então provavelmente você não devia acordá-la.

Suspirei enquanto me mandava pelo corredor.

Riley dormia no único quarto mais próximo da sala. Eu não me importei de bater, apenas abri a porta; ela bateu na parede com um estrondo.

A garota Biers estava jogada na diagonal numa beliche que não era grande o suficiente — os pés dela ficavam de fora de um lado e a cabeça ficava de fora do outro. Ela estava dormindo pesado, roncando suavemente com a boca aberta.

O som da porta não a fez nem se mexer.

O rosto estava em paz com o sono pesado, todas as linhas de raiva haviam se suavizado. Haviam círculos embaixo de seus olhos que eu não havia notado antes. A despeito de seu tamanho ridículo, ela parecia muito jovem agora, e muito cansada. A piedade me chocou.

Eu dei um passou pra trás, e fechei a porta silenciosamente atrás de mim.

Bonnie me encarou com olhos curiosos enquanto eu caminhava lentamente de volta pra sala da frente.

— Eu acho que vou deixá-la descansar.

A Sra. Biers ainda me lançava um olhar não amigável. Bonnie balançou a cabeça, e então ficamos olhando uma para a outra por um longo momento.

Eu podia ver muitas perguntas pra mim nos seus olhos escuros, mas ela não fez nenhuma.

— Olha… — eu disse, quebrando o silêncio perturbador — Eu vou ficar na praia por um tempo. Quando ela acordar, diga que eu estou esperando lá, okay?

— Claro, claro — Bonnie concordou.

Eu me perguntei se ela realmente diria. Bom, se ela não dissesse, eu tentei, não é mesmo?

Dirigi até a praia e estacionei no estacionamento vazio e sujo.

Ainda estava escuro — o pré-nascer do sol de um dia nebuloso — e quando eu desliguei os faróis ficou difícil de enxergar. Eu deixei meus olhos se ajustarem antes de poder encontrar a trilha que guiava pela alta cerca de ervas. Estava frio lá, com o vento vindo das ondas pretas, e afundei minhas mãos no fundo dos bolsos da minha jaqueta. Pelo menos a chuva havia parado.

Caminhei na praia no caminho da parede marinha do norte e segui o meu caminho cuidadosamente pelas rochas, prestando atenção nas ondas que molhavam meus pés.

Eu avistei por entre a neblina uma longa árvore de salgueiro branca feito osso que estava enfiada no fundo das rochas quando estava a apenas alguns metros de distância. As raízes se entrelaçavam no mar, com centenas de pequenos tentáculos.

Sentei e olhei para o mar invisível.

Ver Riley daquele jeito — inocente e vulnerável enquanto dormia — havia roubado toda a minha repulsa, dissolvido toda a minha raiva. Aquela garota era minha amiga, ela matasse pessoas ou não. E eu não sabia o que ia fazer em relação a isso.

É claro que eu ainda não podia me fingir de cega para o que estava acontecendo, mas eu também não podia condená-la por isso.

Suspirei.

Eu não era a maior especialista em amor, mas acho que poderia dizer que conhecia uma ou duas coisinhas sobre ele. E o amor não funciona desse jeito, eu decidi.

Quando você se importa com uma pessoa, já não pode mais pensar nela usando a lógica.

Puxei de volta aquela imagem do meu mais recente sonho — ou pesadelo —, onde eu podia ver Edythe em toda a sua perfeição. Lembrara daqueles breves meses onde vivemos tão felizes e em paz, e senti uma necessidade dominante de proteger aquela vampira. Completamente ilógico.

— Oi.

A voz de Riley vinda da escuridão me fez pular. Ela estava macia, quase tímida, mas eu meio que estava esperando alguma espécie de som nas rochas que me servisse como aviso, então isso me assustou.

— Riley?

Ela ficou a vários passos de distância, mudando seu peso de um pé para o outro ansiosamente.

— Minha mãe me disse que você apareceu. Não te levou muito tempo, não foi? Eu sabia que você ia descobrir.

— É, eu me lembro da história certa agora. — sussurrei. Tudo ficou quieto por um longo momento, e mesmo estava escuro demais pra ver o seu rosto direito, minha pele fez cócegas com se ela estivesse vasculhando o meu rosto. Devia haver luz suficiente para que ela lesse minha expressão, porque quando falou de novo, sua voz estava repentinamente ácida.

— Você devia só ter ligado, sabe. — ela disse duramente.

Eu balancei a cabeça.

Riley começou a andar pelas rochas. Ela não me pediu para segui-la, mas eu fui mesmo assim.

— Porque você veio? — ela quis saber, sem parar a sua caminhada raivosa.

— Achei que essa coisa cara a cara seria melhor.

Ela bufou.

— Oh, muito melhor.

— Riley, eu tenho que te avisar...

— Sobre os patrulheiros e os caçadores? Não se preocupe com isso. Nós já sabemos.

— Não se preocupe com isso? — eu quis saber sem acreditar — Riley, ele estão armados! Eles estão plantando armadilhas e oferecendo recompensas e...

— Nós podemos cuidar de nós mesmos. — ela grunhiu, ainda andando — Eles não vão pegar nada. Se quer saber, só estão dificultando as coisas, logo vão começar a desaparecer também.

— Riley! — eu gritei.

— O que? É só um fato.

Minha voz estava pálida de revolta.

— Como é que você pode... Ser assim? Você conhece essas pessoas. Charlie está lá! — esse pensamento fez meu estômago revirar.

Ela parou abruptamente.

— O que Você quer que eu faça? Hã? Anda, me dê algumas sugestões.

O sol deixou as nuvens com uma cor rosa acinzentada acima de nós. Eu podia ver a expressão dela agora — era de raiva, frustração, de traição.

— Você já pensou em... Bem... Tentar não ser uma lobisomem? — eu sugeri espremendo os olhos. As palavras pareceram ridículas no segundo em que deixaram meus lábios.

Ela jogou as mãos para o ar.

— Oh, claro, como se eu pudesse escolher! — ela gritou — Ou como se isso ajudasse em alguma coisa.

— Eu não te entendo.

Ela olhou pra mim, os olhos se apertando e a se contorcendo em um rugido.

— Você sabe o que me deixa com tanta raiva que me dá vontade de peidar?

Eu virei a cabeça da expressão hostil em seu olhar. Ela parecia estar esperando uma resposta, então eu ergui o queixo e balancei minha cabeça.

— Você é uma hipócrita, Bella. Aí está você, aterrorizada de medo de mim! Como é que isso pode ser justo? — as mãos dela tremiam de raiva.

— Hipócrita? Oh, mil perdões, eu não podia imaginar que ter medo de um monstro me transformaria numa hipócrita.

— Ugh! — ela rugiu, pressionando os punhos nas têmporas e fechando os olhos com força — Será que dá pra você se escutar?

— O quê?

Ela deu dois passos na minha direção, se inclinando pra mim e espumando de fúria.

— Sabe, eu lamento que não ser o tipo certo de monstro pra você. Lobisomem está abaixo de um bebedor de sangue na sua lista de prioridades?

— Você é uma doente, sabia disso? — eu gritei — Não é o que você é, inferno, é o que você faz!

— Que diabos isso significa? — ela grunhiu, todo o seu corpo tremendo de raiva.

Eu respirei fundo. Aquela gritaria não ajudava em nada, percebi aos poucos. Parecíamos duas histéricas.

Bem, vamos tentar uma outra abordagem então.

— Riley — fazendo o tom da minha voz parecer macio e uniforme — Apenas me diga: é realmente necessário matar as pessoas? Não há outro jeito? Quer dizer, se até os vampiros conseguiram encontrar uma maneira de sobreviver sem matar as pessoas, você podia ao menos tentar, não é?

Ela se estendeu com um impulso, como se as minhas palavras tivessem mandando uma corrente elétrica pelo seu corpo. As sobrancelhas pularam pra cima, e ela me encarou com os olhos arregalados.

— Matar pessoas? — ela quis saber.

— Sobre o que você acha que estávamos gritando?

Ela já não estava mais tremendo. Olhou pra mim com uma descrença meio esperançosa.

— Eu pensei que estávamos falando sobre o seu desgosto por lobisomens.

— Não, Riley, não. — revirei os olhos — Não é que você é uma loba. Eu meio que não dou a mínima. — prometi, e eu sabia enquanto falava as palavras que eu estava falando sério. Eu não me importava se ela havia se tornado um lobo grande, ela ainda era Riley — Se você pudesse apenas encontrar um jeito de não machucar as pessoas... É isso que me aborrece. Essas pessoas são inocentes, Riley, pessoas como Charlie, e eu não posso simplesmente olhar para o outro lado enquanto você...

— É só isso? Mesmo? — ela me interrompeu, um sorriso brotando no seu rosto — Você só está assustada porque eu sou uma matadora? Essa é a única razão?

— E não é razão suficiente?

Me perguntei se a mutação pra lobo podia tornar alguém insano.

Ela começou a rir.

— Bem, eu não acho que isso seja engraçado.

— Claro, claro — ela concordou, ainda sorrindo.

Riley deu um longo passo e me agarrou em outro apertado abraço de urso.

— Você realmente, honestamente, verdadeiramente não se importa que eu me transforme num cachorro gigante? — ela perguntou, a sua voz estava alegre no meu ouvido.

— Não — eu asfixiei. – Não, consigo respirar, Riley!

Ela me soltou, mas segurou minhas duas mãos.

— Eu não sou uma assassina, Bella.

Eu estudei o rosto dela, e estava claro que era verdade. O alívio pulsou pelo meu corpo.

— Mesmo? — eu perguntei.

— Mesmo. — ela prometeu solenemente.

Joguei meus braços ao redor dela. Começamos a pular sem sair do lugar, ainda agarradas uma à outra, como duas crianças numa manhã de Natal. Isso me lembrou daquele primeiro dia em Forks High School, na primeira vez em que a vi. É claro que éramos pessoas diferentes agora — a vida de ambas também estava diferente nesse momento.

Respirei fundo pela incontável vez esse dia. Minhas mãos estavam tremendo como as de Riley haviam estado antes, mas eram de alívio puro e genuíno ao invés de raiva.


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Notas finais do capítulo

TT: @eldiablexx



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