Durante o caminho até o metro, Jéssica estava muito compenetrada mexendo no Whatsapp.

— Com quem está falando Jéssica? – Me intrometi bisbilhotando a conversa.

— Só pode ser o Carioca-Kun – Afirmou Samanta espiando também.

— Pergunte se ele melhorou. – Pediu Kin-chan.

— Pessoal, calma, deixa eu terminar aqui e já passo as informações. – Respondeu Jéssica, ela continuou vidrada no celular, hora séria, hora rindo e por fim parou de digitar. – É o seguinte, o Carioca-Kun disse que senti muito o que aconteceu com você Catarine, porém falou que é muito sonhador de sua parte querer o Irie-Kun, mas como o coração não é racional ele entende. Já a você Kin-Chan, ele está melhor sim, e hoje já consegue ir visitar a nova casa da Catarine, foi apenas uma febre, mas já passou, está tudo bem. De resto só as piadas bobas dele.

— Que você ri né bonita! – Zombei dela. – Calma, espera aí. ELE JÁ ESTÁ SABENDO DA CARTA???

— Mas ele é muito engraçado, fala sério. – Jéssica afirmou. – Esqueceu da live no face?

— Puts, que saco! – Falei ao lembrar daquela tonta da Mayumi.

— Então tudo combinado para hoje? Iremos sem falta a sua casa Cata! – Relembrou Samanta.

— Finalmente a sua casa ficou pronta, seu pai deve estar muito feliz, era um sonho antigo dele. – Jéssica disse.

— Sim, tão antigo que a casa está do mesmo jeito que ele sonhou à décadas, parece uma casa velha, em todos os sentidos, apesar do cheiro do material ser novo, eu tenho uma desconfiança da qualidade deles. – Desabafei com meus amigos. Realmente eu estava preocupada. – Mas deve ser coisa da minha cabeça. No grupo vou mandar o mapa com o endereço, não se percam está bom? Vocês são muito lesados, não sei se confio.

Rimos bastante e as meninas me deram um tapinha de leve. Kin-Chan me abraçou e fez um cafuné bem forte na minha cabeça, bagunçando meu cabelo.

(Naoki observava de longe, sem que percebessem).

***

— Chegueiiiii, papi Otousan.

— Filha, que tristeza, eu sabia que não ia dar certo, eu te perguntei se era isso mesmo que você queria, porquê, PORQUÊ?

— Porque o que Otousan? Que tristeza é essa?

— A carta filha, que foi rejeitada, eu vi tudo na internet, está sendo compartilhado no facebook os dois vídeos. – Nessa hora meu pai já estava chorando.

— DOIS VÍDEOS?

— Sim, o da entrega da carta e o outro que ele disse que não gosta de garotas estúpidas... – Nessa hora eu saí de órbita, quase não escutei essas palavras que ele pronunciou. – Você não é estúpida filha, você é inteligente, quer dizer, um pouco inteligente, não, só um pouquinho burrinha, mas bem pouco. Você devia ter esperado pelo Kinho, eu te avisei.

— Pai um pouquinho burrinha? – Ele estava certo e ainda era um elogio. – Esquece o Kinho pelo amor de Deus!!!

— Duvido que ele faria algo assim.

— Esquece. Outra coisa, o pessoal vai vir aqui hoje nos ajudar com a mudança está bem? Pai, faça bastante comida, porque hoje eu estou triste e quero comer muito. Ah, por favor não esquece a Coca-cola, pois somente ela me consola.

— Filha você come muito quando está triste, come muito quando está feliz, come muito quando está com raiva, come muito quando está com preguiça, come muito... SEMPRE!!! E não sabe cozinhar, espero que ninguém dependa de você para cozinhar.

— Arigatou! – Disse batendo palma. – Ofende mesmo, humilha, mas cozinhe, por favor! Quero pastel e bolinha de queijo! TE AMOOOOOOOOOO. – Saí correndo.

Fui para o meu quarto tentar assimilar tudo o que aconteceu hoje. Poxa vida, difícil engolir esse dia. Peguei a minha, pobrezinha, nunca será lida. O que será que aquele Iceberg Oriental está pensando.

***

(Casa Irie)

— Cheguei. – Naoki avisou.

— ONICHAN, como você teve coragem de rejeitar uma carta dessa maneira. – Advertiu Irie Machiko, mãe de Naoki.

— Estava me espionando na escola de novo?

— Não.

— Como você sabe disso? – Perguntou Naoki espantado.

— Veja você mesmo.

Então, Machiko mostrou o seu celular com o vídeo compartilhado pelo grupo “Mulheres Antenadas” no whatsapp.

— COMO CHEGOU A ESSE PONTO? – Naoki exclamou indignado.

— Eu é que te pergunto, criei meu filho para ser um grosseiro, uma menina tão kawai como aquela.

— Você aprovando alguém? Chega ser assustador.

— Ela não parece ser como essas megeras que são frias igual você. Até chamou a pobre de estúpida!

— Até isso você está sabendo?

— Sim, veja você mesmo Onichan, que vergonha.

— Okaasan, por favor não se intrometa na minha vida, arigatou. – Disse Naoki de forma ríspida.

— Eu queria saber quando foi que eu te dei esse tipo de educação Onichan. – Enquanto Machiko pronunciava essas palavras, Naoki virava as costas e subia a escada, suspirando. – Que dia tumultuado. Espero que amanhã volte tudo ao normal, a velha e tranquila vida chata de sempre.

Naoki pega um biscoito da sorte que está no seu bolso. Ele lê a sorte que contém nele:

— “As adversidades que o destino lhe causar são a forma de dizer que seu revés na verdade é sua sorte”.

***

( A noite )

— Filha, eu te fiz passar muitas privações, não consegui te criar da maneira correta que se cria uma filha, não consegui fazer o papel de mãe que era necessário a você e quando sua mãe estava viva, não consegui realizar nosso sonho de ter uma casa própria. Mas hoje, sei que ela nos olha do céu e sente feliz, por pelo menos isso eu poder te proporcionar. – Meu falava com lágrimas nos olhos.

— Pai, realmente, você me fez passar por privações. – Ele me olhou espantado e triste ao mesmo tempo. – Me privou das tristezas, me privou da fome, me privou da falta de amor, me privou de uma vida chata, me privou da solidão e principalmente me privou de ter um péssimo gênio. Estou cansada de te falar, Pai, VOCÊ É MEU SUPER-HERÓI. Eu te amo. – Nos abraçamos. – Mas essa casa podia ser mais moderna, você sabe, e esses materiais, não sei, parece que essa casa range.

— Catarine, pare de falar asneiras e come. – Falou enfiando uma bolinha de queijo na minha boca. Então eu assenti com a cabeça. Gente a bolinha de queijo dele é muito boa, hummmmmm...

Dim dom

— Eu atendo Otousan.

— Oi pessoal!!!

— Oiiiiiii. Parabéns pela casa. – Todos disseram. Vieram Kin-chan, Carioca-Chan, Samanta e Jéssica.

— Kin-chan organizou tudo para te ajudar, ele queria te ver feliz hoje. – Contou-me em segredo Jéssica.

— Vamos colocar essas caixas para dentro. – Kin-chan falava para os carregadores do lado de fora, ele ajudou a colocar praticamente tudo para dentro, as poucas coisas que ficaram no carro, depois eu mesma levaria. - Olá senhor Sandro, quanto tempo não nos vemos. Parabéns pela sua conquista, o senhor é um batalhador. A Catarine tem muito orgulho de você. – Pronto, meu pai já estava com lágrima nos olhos novamente. Esse Kin-chan sabe derreter o coração do meu Otousan.

— Parabéns senhor Sandro. – Disseram Carioca, Jéssica e Samanta.

— Obrigada crianças, vocês são muito importantes para mim, porque são importantes para Catarina. Vamos nos servir, fiquem à vontade.

Nós comemos bastante, rimos e jogamos UNO, foi bem divertido, Kin-chan fica vermelho quando perde e se irrita fácil, Carioca nem parece aquele engraçadinho durante o jogo.

— Gente, hoje ainda dá para ver as estrelas cadentes ou meteoros passando. Vamos lá fora. – Chamei todos, não é todo sempre que temos esse lindo show no céu. Já do lado de fora continuei a falar. – Ontem também passaram alguns, mas hoje tem o restante.

Enquanto olhávamos a chuva de meteoros, eu tive uma sensação estranha, parecia que algo ia acontecer.

— Vocês ouviram esse barulho? – Perguntei. Todos balançaram a cabeça negativamente.

Então veio algo do céu brilhando, mas conforme se aproximava, ia diminuindo, diminuindo até que esse objeto caiu no telhado da casa. Fez um buraco bem pequeno. Todos olharam com os olhos arregalados. Enquanto observávamos a situação, a casa começou a ranger, a tremer e de repente ela caiu, desmoronou, perda total!!

— O que? – Todos estavam espantados. Como algo tão pequeno derrubou nossa casa!

Não se passou muito tempo, e já tinha uma equipe de reportagem.

(Casa de alguém assistindo a Tv)

Apresentador do Telejornal – Notícias de última hora. Na Zona Sul de São Paulo, um pequeno pedaço com aproximadamente 3cm de espessura, de um dos meteoros da chuva Liríada atingiu uma casa. Essa veio a desmoronar instantaneamente. Profissionais que visitaram a área dizem que o real motivo da destruição é devido à má construção e a utilização de materiais de qualidade duvidosa, essa conclusão também foi tomada pelo fato de outras casas terem sido acertadas por outras partes do meteoro e não sofrerem danos, mesmo sendo muito mais antigas. Vamos agora ouvir a reportagem.

Sandro Araia – Essa casa foi construída com muito amor, uma homenagem a minha falecida esposa, que Deus a tenha. – Chora/ corte da câmera.

— A construtora me instruiu a usar esses materiais para economizar, mas eu não entendia de construção civil e não sabia que isso iria nos arruinar, filha me perdoe. – Chora/corte da câmera.

— Agora não sabemos onde vamos ficar, porque todo meu dinheiro foi gasto nessa construção, eu não sei o que fazer. – Chora.

Catarine Araia – Eu acho que na verdade tivemos muita sorta, essa estrela cadente nos ajudou, graças a chuva Liríada, todos saímos da casa para assisti-la e assim ninguém ficou ferido. Os objetos mais importantes estão dentro do carro. Mas nada se compara a nossas vidas sãs e salvas. – (Sorri gentilmente).

Apresentador – Em breve outras notícias.

( A tv desliga)

— É o Araia-san, querida! Precisamos ajuda-lo! – Disse uma voz de homem.

— Então aquela é a Cat? O antigo amor do Kinho? Onichan você viu a Cat, não é linda? – Respondeu uma voz feminina.

— Ela não é meu antigo amor, vocês que inventaram essa história, eu só a vi uma vez, somente isso. – Respondeu um adolescente.

— Onichan, nós traremos a Cat e o Araia-san para cá, ele é meu grande amigo de infância, me ajudou no momento que eu mais precisei quando estava na faculdade. Você tem alguma objeção. – Perguntou o homem.

Antes de responder o adolescente fez uma pausa. – Não Otousan, não tenho nenhuma objeção. Eles serão bem vindos.

— Vou ligar para ele agora.