Posso te pagar um sorvete? escrita por Lillac


Capítulo 1
Terceira melhor opção.


Notas iniciais do capítulo

Essa vai ser uma história bem curta, eu espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/749085/chapter/1

Percy franziu o rosto ao ouvir o som de algo metálico pousando ao lado de sua cabeça na mesinha de centro. Não queria abrir os olhos, mas o fez mesmo assim.

— Você precisa comer alguma coisa — Hazel foi sucinta.

O rapaz desviou os olhos. Quando conhecera Hazel no começo da faculdade, tivera dificuldades em acreditar que ela realmente era uma universitária — a garota ainda parecia muito com uma criança, afinal — e por intermináveis meses tirara sarro da cara dela e a tratara como criança. Até acompanhar Frank à um dos campeonatos de jiu-jitsu dela e vê-la basicamente arrastando seus oponentes no chão. Percy, agora, muito sabiamente, sabia que Hazel Levesque era alguém a ser levada a sério.

Ele ergueu o tronco, envolveu a latinha de suco com uma mão e a abriu. O líquido desceu borbulhante pela sua garganta e ele só então notou o quão seca sua boca realmente estava.

— E comer, também — Frank comentou, de onde estava sentado em uma poltrona.

— Há quanto tempo ele está assim? — Hazel levantou o olhar para o outro garoto no cômodo:

— Eu não sei — Grover deu de ombros, mas soava genuinamente preocupado. — Eu passei uns dias na casa da Juníper e quando voltei ele só falava de química isso, reprovação aquilo.

Percy grunhiu. Apenas a menção daquelas duas palavras na mesma frase o dava dores de cabeça. Quando enfim fora aceito no curso de Biologia, ele imaginara que havia enfim deixado cálculo — ou ao menos, grande parte dele — no ensino médio, apenas para passar de período e ser bombardeado com bioquímica. Ele teria um teste no próximo mês e não conseguia compreender absolutamente nada das incontáveis fórmulas em seus livros.

Havia pedido ajuda de Jason, que, sendo Jason, aceitou de primeira. Mas, quando Percy chegou no apartamento do primo, encontrou o geralmente limpo e organizado lar jogado de pernas para o ar: ele e Thalia estavam trabalhando em um novo projeto, que unia alunos de Física de períodos diferentes. Os irmãos tinham certeza de que iria funcionar: eles só precisavam encontrar um jeito de fazer a geringonça parar de eletrizar as pessoas.

Percy compreendeu que seria injusto pedir que Jason o ajudasse quando o garoto estava tão ocupado. Leo dera uma olhada nas anotações de Percy e dissera que a única química que ele entendia era a que tirava ferrugem de suas ferramentas. Desolado, abatido e sentindo como se sua carreira acadêmica já houvesse de fato acabado, Percy buscou pela sua última opção, que era tentar aprender tudo sozinho.

Até então, não estivera dando muito certo. Grover retornara de sua visita à casa da namorada e o encontrara rodeado de livros, potes de sorvete, pacotes de salgadinhos e uma quantidade horrenda de comida em conserva. O rapaz sabia que não podia ligar para Sally — Percy era muito, muito insistente em não preocupar a mãe, principalmente após começar a morar sozinho — então ligara para a segunda melhor opção: Hazel.

A garota havia chegado poucos momentos atrás, acompanhada do irmão — que lhe dera uma carona — e do namorado, Frank. Percy ficou apenas feliz que Will, namorado de Nico, não estava ali: ele não precisava de um estudante de medicina para lhe avisar sobre os riscos da comida em conserva e da desidratação.

— Você é realmente tapado — Nico comentou.

— Uau, muito obrigado, capitão óbvio — Percy rolou os olhos. — Perdoe-me se eu sou incapaz de entender um assunto para a prova.

— Não foi isso que eu quis dizer — o outro garoto o cutucou com a ponta do tênis.

— O que foi então?

— Existem outras pessoas na nossa universidade além do seu grupo de amigos. Você pode pedir ajuda da Reyna — sugeriu.

— Reyna? — Percy repetiu. — Ela não é sua colega de sala?

Ele conhecia a garota, porém, apenas de vista. Ela era uma das melhores alunas da universidade e estava sempre sendo convidada para congressos e todo tipo de coisa. Apesar de ter uma óbvia... alguma coisa com Racchel, melhor amiga de Percy, ele nunca tivera a chance de realmente conhece-la melhor. Fosse lá o que elas tinham, ainda era recente, e Racchel não queria forçar a barra com a garota. Reyna era inteligente, óbvio, mas até onde Percy sabia, ela fazia Direito, como Nico e a irmã.

— E? — Nico ergueu as sobrancelhas. — Vai por mim, cara. Reyna pode te ajudar.

Por um lado, Nico poderia apenas confiar demais na melhor amiga dele. Por outro lado, ele poderia estar certo e Reyna ser de algum modo uma inteligência artificial capaz de ser a melhor aluna de seu curso e de algum modo ainda se recordar dos assuntos do ensino médio. E no momento, Percy estava aceitando qualquer tipo de auxílio — robótico ou não.

Quando Hazel, Nico e Frank foram embora, Grover insistiu que Percy procurasse logo a garota. O que ele fez. Sentiu-se estranho pedindo à Racchel que o apresentasse à outra garota, mas ela apenas concordou de forma bem-humorada e disse que iria falar com ela.

No dia seguinte, a ruiva o encontrou comprando um hambúrguer no refeitório. Racchel pulou nele, tirando os próprios pés do chão e ficando pendurada em Percy pelos braços que tinha em torno dos ombros dele.

— Qual o motivo do surto? — Percy perguntou quando ela enfim desvencilhou-se.

— Você me arranjou um namoro! — Racchel respondeu, gesticulando animadamente.

Percy piscou, completamente perdido.

— O que?

— Ontem, quando eu mandei mensagem à Reyna perguntando se ela não gostaria de conhecer meu melhor amigo — Racchel o deu uma cotovelada nessa parte — ela aparentemente pensou que era um sinal de que eu queria tornar as coisas oficiais e me pediu em namoro! Então, obrigada, Aquaman.

— E isso te deixou feliz? — Percy estava tendo dificuldades em acreditar.

Desde que conhecera Racchel, no fundamental, a garota havia se afastado de relacionamentos sérios. Ela gostava de flertar, de beijar e de então sumir por uma ou duas semanas. Parecia ter completa ojeriza pela concepção de fidelidade, e Percy nunca achara que a veria feliz por ser pedida em namoro. Eles haviam namorado brevemente, no começo do ensino médio, e, como todos os outros relacionamentos deles até então, havia dado errado.

Levou um momento para compreender:

— Uau, uau, uau, espere um pouco — Percy colocou o hambúrguer dele sobre uma mesa e a sacudiu pelos ombros. — Você realmente gosta dela!

Racchel riu. Ela o acertou com força em um braço, e depois puxou uma cadeira da mesma mesinha para que eles se sentassem.

— De qualquer forma — ela continuou. — Reyna disse que está livre amanhã, das 6 às 8 da noite. Está bom para você?

— Bem, sim — Percy coçou a cabeça. — Ela é perfeccionista? Isso é um horário bastante específico.

— Mais ou menos — Racchel tamborilou os dedos na mesa. — É só que ela tem estágio na empresa da mãe dela, e depois, academia. Mas não se preocupe, ela é uma ótima professora!

Percy deu uma generosa mordida em seu almoço. Pelo jeito que seus estudos sozinhos estavam indo, Reyna precisaria ser o maior gênio daquela geração para fazê-lo entender alguma coisa.

No dia e horário marcado, Percy pedalou até o local de encontro: um quiosque a céu aberto, próximo de algumas lojinhas de um centro comercial. Pedalava lentamente, sem pressa, quando sentiu o celular vibrar no bolso da calça. Distraidamente, desbloqueou-o:

Racch “E(stúpida)” Dare: A gente tá saindo de casa agora. Você já tá no caminho?

Percy começou a frear para poder digitar uma resposta, mas, quando deu por si, já era tarde demais.

Uma exclamação mista entre surpresa e dor, uma freada brusca, uma resma de papéis jogados no ar...

E dois adolescentes doloridos caídos por baixo de uma bicicleta em uma poça d’água lamacenta.

Deuses, e Percy achava que o teste de química era o maior dos problemas dele... 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Para quem leu até aqui, eu espero que tenham gostado!
Comentários são sempre apreciados.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Posso te pagar um sorvete?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.