A Noble Relationship escrita por The heiress of Time


Capítulo 4
Maracujás de gaveta falam demais


Notas iniciais do capítulo

Olá galerinha bonita, tudo bem?
Sim, eu sei que eu demorei, e muito, mas esse período foi realmente muito intenso: viagens, regeneração do Capaldi, resultado do Enem, matrícula na faculdade (primeiro lugar em Letras Inglês, eu to saltando de felicidade!)... Enfim, coisa pra cacete.
Mas eu estou de volta com mais um capítulo cheiroso e um tanto menos comédia que os outros dois. Foi preciso.
Bem, eu gostaria novamente de agradecer a Missy Saxon por mais um comentário que me ajudou a bolar um plot bem importante (spoilers ( ͡° ͜ʖ ͡°)) pro futuro, e também às três pessoas que colocaram essa fanfic nos favoritos, obrigada!
Agora eu vou parar de falar, aproveitem o capítulo!



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O Doutor não havia se movido do lugar, encarando um ponto fixo acima do ombro de Martha, na tentativa de digerir tudo o que a ex-companion havia o dito. Ele tem uma filha. Filha. Que realmente existe. Que não é uma brincadeira e que não está morta.

— Você não parece muito bem, Doutor.

— Eu estou bem, eu estou ótimo. — ele respondeu automaticamente — Eu estou apenas… pensando.

Em como Donna conseguiu transferir o DNA timelord para um receptáculo viável.

Em como as chances daquilo dar certo eram mínimas.

Em como não fazia sentido.

Mas quando é que o universo fez sentido? Uma voz sussurrou na mente do Doutor, e os olhos dele se voltaram para a figura de Martha, que o encarava com as sobrancelhas levantadas.

— Você está curioso, não está?

E por mais que ele odiasse admitir derrota ou ignorância quanto a qualquer coisa, ele tinha que dizer que toda essa situação era sem precedentes e absurda até mesmo para ele. Logo, com apenas um pouco de desgosto, ele assentiu com a cabeça, olhos azuis bem focados na ex-companion.

— É simples, na verdade. — ela começou, ocupando uma das cadeiras de rodinha que haviam na sala — Foi um pouco depois do ataque do Mestre, pra falar a verdade. Aparentemente aquilo desencadeou uma resposta de defesa do organismo dela, que transformou parte do DNA em feto.

Ele franziu o nariz e levantou do sofá em que estava.

— Tá, tá. Chega, eu já tomei minha decisão.

Ele só esperava que fosse a certa.

 

Em um outro canto remoto da cidade, havia uma garota caminhando de forma realmente muito digna enquanto uma verdadeira tempestade caia do céu. Louise, embora estivesse protegida por seu guarda-chuva, podia sentir perfeitamente a água gelada que lentamente encharcava as roupas que usava, arruinando ainda mais o humor dela.

E acreditem ou não, ela estava completamente bem há poucos minutos atrás, mas a existência de um certo ser humano tinha a capacidade de arruinar o dia de Louise com uma facilidade jamais vista.

— Lou!

Falando em satanás.

— Não. — Louise apertou o passo, caminhando mais para longe da fonte de mau humor dela — E não me chame de ‘Lou’, você perdeu o direito!

— Pelo amor de Deus, Louise!

Às vezes ela se perguntava se ele era assim tão sonso de propósito.

A Noble havia literalmente desistido de visitar a melhor amiga ao ver que Thomas, pois esse era o nome do tal ser humano, estava lá, e o ignorara tanto quanto fora o possível ao dar meia volta para o caminho de casa, mas ao invés de perceber que Louise realmente não queria falar com ele, o garoto havia a seguido.

— Eu já falei ‘não’! Me deixa em paz.

No fim da rua, ela finalmente conseguia ver a própria casa, e tentou caminhar um pouco mais rápido do que antes, praticamente correndo. Com a força de vontade que ainda lhe sobrava, Louise bloqueou a voz de Benjamin, bloqueou o resto da rua e até mesmo bloqueou a cabine de polícia que estava estacionada, entrando em casa e fechando a porta com um verdadeiro estrondo.

— Louise! — exclamou Sylvia Noble, saindo da cozinha. — Já falei para você não bater a porta.

— Foi uma necessidade, eu estava correndo de satã.

— Satã? Era a sua amiga Jane?

— Não, — ela balançou a cabeça, fechando o guarda-chuva — o outro satã.

Louise arrancou o suéter molhado e o pendurou no cabideiro enquanto a avó franzia o cenho ao tentar raciocinar qual era o outro satã na vida da neta.

— Eu acho que ela está falando do menino Thomas, Sylvia.

Wilford Mott, com sua destreza pouco afetada pela idade avançada, desceu às escadas com sua luneta em mãos e um sorriso no rosto, passando por Louise e dando um beijo nas bochechas dela, antes de seguir para a cozinha.

— Ele mesmo, vovô Wilf. — a garota suspirou — Tem café, né vó?

— Sim, mas você não quer tomar um banho antes?

— Pra falar a verdade, não.

E foi-se na direção da cozinha, com suas botas cheias d’água fazendo um “squish squish” pouco digno.

A garota fez o pequeno trajeto e sentou-se na mesa sem levantar os olhos, pegando a maior quantidade de comida que conseguiu sem que Sylvia reclamassse, completamente ignorante dos dois outros seres que estavam na cozinha, silenciosamente observando a recém-chegada.

E Louise estava tão compenetrada em socar café e bolo garganta abaixo que só percebeu que não estava apenas com familiares quando levantou os olhos e deu de cara com o Doutor colocando açúcar no chá. Tirando os olhos dele, Louise virou-se para um dos cantos da cozinha para encontrar Martha ao lado de Wilfred, comendo um pedaço de bolo de banana.

— Uh… Olá.

A Noble mais nova sorriu embaraçada atrás de sua xícara de café, sentindo-se corar.

E o Doutor, ao invés de responder como qualquer pessoa normal, elevou os olhos para o rosto da filha, encarando-a como uma coruja, em busca de qualquer sinal que o ajudasse a ter uma ideia de como contar para Louise quem ele realmente era.

— Então, — a garota começou, com o rosto todo vermelho, — o que te traz aqui, doutor Disco?

O Doutor abrira a boca para responder, mas Sylvia, como era de costume nessa casa, não deixou-o nem sequer emitir um som, escolhendo aquele instante para desligar todo e qualquer filtro mental que ainda possuia.

— Disco? Quem raios é Disco, Louise?! Esse daí é o Doutor, é o seu pai!

Dito assim tranquilamente, realmente parecia algo fácil, não é mesmo? Pra que ter um pouco de cuidado com revelações desse tipo quando se tem uma Sylvia Noble por perto?

Ainda assim, Martha engasgou num pedaço de bolo, um dos corações do Doutor parou de bater por sete segundos e Louise derramou todo café no próprio colo.

— Sylvia, não! — berrou Wilf, ajudando a bisneta a limpar a bagunça feita — Isso não se fala assim!

— Mas papa-

— A coitada quase se queimou toda!

— Ma-

— Nada de “mas”, vamos lá para o jardim.  Agora.

Batendo o pé como uma criança pirracenta, Sylvia foi para fora da casa, seguida do pai e — após a médica lançar um pedido de desculpas silencioso para os dois restantes — Martha.

Deixados à sós, os dois pareciam não saber o que falar.

Louise tinha seus olhos bem focados no rosto do Doutor, notando o cabelo acinzentado que apontava para todas as direções, horrivelmente bagunçado, as rugas e marcas de expressão, as sobrancelhas franzidas e os olhos azuis que tentavam a evitar.

Comparado às poucas fotos que ela havia visto do pai em sua décima regeneração, esse Doutor realmente parecia um ser milenar.

E o senhor do tempo, em toda a sua sabedoria, não fazia ideia do que falar ou fazer. Emoções humanas eram um mistério e ele não queria desapontar ou chocar Louise ainda mais. Por isso, ele manteve os olhos treinados no armário da cozinha, sem encarar a menina de fato, tentando encontrar algum tipo de assunto que não fosse o óbvio.

Em momentos assim, ele realmente gostaria de flashcards que o ajudassem a se portar humanamente.

— Você parece diferente. — foi Lou que quebrou o silêncio, com a voz mais suave o possível.

— Oi?

— Você, diferente das fotos que eu vi.

O senhor do tempo reuniu forças para dar um sorriso que não atingiu os olhos, e deu de ombros.

— Foram algumas regenerações no meio do caminho.

A Noble acenou com a cabeça, brincando com alguns farelos na mesa.

— Obrigada por ter vindo aqui. — e os olhos do Doutor finalmente convergiram na figura diminuta de Louise — Mesmo não gostando de metacrises você ainda veio aqui. Obrigada por isso.

Ele franziu o cenho ainda mais. De onde raio isso veio.

— Minha mãe falou de como você deixou o seu “clone” — ela falou, levantando as mãos em aspas — na praia, e também de como você não era fã assim da… Jenny, eu acho. Pelo menos não no início.

O Doutor piscou duas vezes, tentando compreender exatamente o que Louise disse. Não era exatamente complicado, mas a sugestão que pairava no ar era desconfortável.

Era verdade que ele não gostava do tal Tentoo, mas exatamente pelo fato de ele ser um clone. Uma cópia barata de quem ele era na época.

E o caso com Jenny era diferente. Haviam roubado o DNA dele para fazer uma soldado. E mesmo assim ele tinha afeto por ela.

Louise, pelo que ele havia entendido, não era nada assim.

E nesse momento ele pôde ver o quanto que a garota parecia com a mãe, não na aparência, mas na resignação de ser rejeitada antes mesmo de qualquer coisa acontecer.

— Eu não conseguiria te odiar. Você salvou a vida da minha melhor amiga, eu é que devo te agradecer.

Pensar em Donna, após tanto tempo, causou um aperto agora pouco familiar nos corações dele, e o Doutor a vê por um segundo, pedindo, implorando para que ele não apagasse a memória dela.

Donna Noble preferia morrer do que voltar a vida que tinha antes.

Porque ela era sozinha.

Assim como Louise, sentada silenciosa na mesa, sem saber como agir. Aquele era o homem que ouvira falar por toda a vida, o herói que salvara a Terra centenas de vezes por toda a vida. Ela sempre sonhou em conhecê-lo, mas nunca pensou realmente no que aconteceria se esse desejo um dia se realizasse.

Os dois caíram num silêncio pouco confortável novamente, até que os três humanos que haviam se retirado para o jardim finalmente decidiram que já fora tempo o suficiente para que os dois conversassem.

O senhor do tempo praticamente pulou de pé, pegando Martha pelo braço com urgência, lançando adeus apressados para os que permaneciam, seguindo para a Tardis estacionada na velocidade da luz.

— Doutor, espere um minuto, por favor! — exclamou Louise, correndo atrás do pai e da madrinha.

— Oh, pode falar.

Ela suspirou, e muito hesitantemente abriu os braços.

— Será que eu posso ter pelo menos um abraço?

Arrepios dançaram pela espinha do Doutor à menção da palavra “abraço”. Era realmente uma das piores coisas do mundo, que o faziam extremamente incomodado. E ele quase negou o pedido de Louise, antes de olhar bem para os olhos dela, verdes, com pontos castanhos em volta da pupila. Os olhos de Donna.

Cuidadosamente, ele deu dois passos para fora da Tardis, antes de deixá-la o abraçar, envolvendo os braços suavemente ao entorno dos ombros dela.

Pela primeira vez nessa regeneração, o Doutor deixou que o cheiro de café de Louise entrasse em seu sistema. E pela primeira vez, ele sentiu que talvez abraços não fossem assim tão ruins.


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Notas finais do capítulo

Se vocês gostaram, já sabem: coloca nos acompanhamentos, nos favoritos, deixa aquele review maroto...
Um beijo e até a próxima o/



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