A Árvore de Corvos escrita por Violet Evans, Mih Ward, Mih Ward


Capítulo 3
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

E olha nós aqui de novo?
Capítulo novinho pronto para ser lido!
Esperamos que gostem ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/748418/chapter/3

O anterior rei de Ravengard, pai de Cherry, possuía uma irmã mais nova. Esta foi prometida a um conde da nobreza de Ravengard e, desta união, nasceu uma menina. Crystal Freya. Porém, assim como o Rei e Rainha da época, a mãe de Crystal foi contaminada com a peste, deixando a garota somente com o pai para a criar. O conde era um homem que viajava muito, assim deixava que sua filha vivesse no castelo, junto com todos os seus primos.

Assim, Cherry e Crystal foram criadas juntas, fazendo com que as duas se tornassem melhores amigas e confidentes uma da outra. Não havia nada que uma não soubesse sobre a outra. Mesmo que nenhuma das duas contasse. Elas sempre sabiam quando havia algo de errado. Tanto que isso tornou Crystal, além de condessa, dama particular da Rainha, quando mais velha.

Por isso, quando foram anunciados os torneios pela mão da jovem Rainha de Ravengard, Crystal percebeu todos os receios que a prima tinha com relação àquilo. Afinal, o povo estava cada vez mais pressionando a monarquia. Já haviam até mesmo boatos de que estavam planejando exigir a criação de um Parlamento. E até mesmo uma República. Freya sabia da carga que a melhor amiga tinha sobre as costas. E a incentivou ir em frente com o torneio. Deixar que não somente os nobres tivessem a chance, mas a plebe também. Assim, pelo menos, a prima poderia ter um maior controle de quem iria se casar com ela.

Durante a preparação, Crystal ajudou Cherry com tudo. Escolher decoração, organizar as acomodações dos participantes. Durante uma tarde, as duas, juntamente com Mikaela, fizeram uma pré-seleção dos candidatos, a fim de filtrar possíveis invasores que quisessem fazer mal a rainha.

No dia da abertura do torneio, podia-se perceber a agitação em Ravengard. Todos estavam ansiosos com aquela seleção. Todos queriam um rei para governar o reino. Não que eles soubessem que Cherry não entregaria o trono. Aquilo serviria apenas para acalmar o povo. Cherry Lestrange era a rainha de direito.

A rainha quem explicou como iriam funcionar a apresentação dos candidatos. Que informações eles deviam fornecer e quanto tempo teriam. Portanto, de um em um, cada um foi se apresentando. E Crystal, particularmente, achou divertidíssimo o camarote que estava tendo. Ela sabia o quanto a amiga podia ser fria com homens e ver Cherry dando cortes em alguns participantes que já se arriscavam no romance fez com que a Dama tivesse que prender a risada várias vezes durante o evento. Sem contar a surpresa da prima ao ver seu guarda particular se candidatando pela sua mão, afinal ele não estava entre os pré-selecionados.

No entanto, um homem, que estava se preparando para se apresentar chamou a atenção da garota. Suas vestes tinham um tom sóbrio. Sério. Misterioso. Tinha o cabelo num estilo militar e sua postura era impecável. Era um homem muito bonito. E que atraiu muito a dama da realeza. Ao chegar a vez dele, Crystal pode o notar mais de perto, percebendo que ele tinha magníficos olhos verdes. Ela quis tocar sua barba e sentir sua aspereza.

— Sir Niklas Gallagher, Duque de Ravengard, Vossa Majestade — Disse ao se curvar em frente a rainha — Estou aqui para mostrar que assim como eu posso ser um bom amante, consigo também ser um bom monarca. Servi quando mais jovem ao exército de Ravengard e, modéstia parte, sou um excelente estrategista.

Cherry olhou para a prima, por um momento, também o achando muito bonito. Na hora ela percebeu o interesse de Crystal pelo homem. Deu apenas um sorrisinho discreto, já prevendo tudo o que poderia acontecer, e então encarou o Duque.

— Seja bem-vindo ao torneio, Sir Gallagher. Espero que aproveite da nossa... — Riu internamente ao pensar na amiga — Hospitalidade.

— Será uma honra, Vossa Majestade — Sir Niklas se curvou novamente e ao ajeitar sua postura novamente, notou o olhar que Crystal lhe dirigia, erguendo uma sobrancelha para a Dama, mas também a cumprimenta, sendo o primeiro de todos os candidatos — É um prazer também, Milady.

— O prazer é todo meu, Sir Niklas — Ela também se curvou para ele, não se importando em usar o seu primeiro nome, fato que chamou ainda mais a atenção do Duque, mas que não fez nenhum comentário, apenas lhe dirigiu um singelo sorriso e se retirou.

— Você é tão discreta, Crystal... — Cherry riu baixinho para a prima que a olhou com um sorriso de lado.

— Eu só sei muito bem quando algo me interessa... — Freya sorriu mais — Com certeza se este cavalheiro não for o futuro Rei, eu estarei na fila para consolá-lo — Piscou divertida.

— Ah, mas eu não duvido mesmo... — A Rainha sorriu mais e então mandou que prosseguissem com as apresentações.

— — —

Os participantes que passaram pela seleção da apresentação foram instalados em acomodações dentro do Palácio mesmo, assim Rainha Lestrange poderia ter mais contato e os conhecer melhor quando quisesse. Embora Mikaela também os quisesse embaixo dos seus olhos para que se caso algum deles tentasse alguma gracinha, ela imediatamente pudesse tomar as devidas providências.

Todos tomavam café no Salão Principal, tentando mostrar o máximo possível de seus conhecimentos sobre etiquetas e, assim, impressionar a Rainha. Crystal pode perceber alguns dos homens mais pobres constrangidos com tal fato, por não terem contato com aquilo como os candidatos mais nobres tinham, mas ela também percebeu que Wu se dava muito bem com a situação, arriscando até algumas brincadeiras. Entretanto, nenhum deles chamou tanto a atenção da Dama como o Duque Gallagher. O encanto que o homem despertara na jovem garota fora algo que ela ainda não havia experimentado.

Sir Niklas obviamente percebeu o interesse da condessa, mas se manteve neutro. Afinal, estava ali para conquistar a Rainha de Ravengard, não sua Dama. Por isso, tentava ao máximo ignorar os olhares de Crystal mesmo que a atitude direta e aberta dela o intrigasse. Infelizmente, aquilo ele não poderia negar. O comportamento de Lady Crystal era muito atraente.

Logo após o café da manhã, era rotina da Condessa Freya passear perto dos estábulos. Embora nunca tivesse aprendido a montar de fato, Crystal possuía uma admiração pelos cavalos. Mesmo que isso fosse a distância. Uma boa distância. Cherry sempre zombava dessa contradição da prima. Não conseguia entender o porquê de a amiga admirar algo que tinha medo. A Dama, no entanto, respondia que era exatamente por ter medo deles que a fazia admirá-los tanto.

Estava observando um dos cavalariços dar comida ao cavalo da Rainha quando sentiu a aproximação de alguém. Olhou para o lado e, com surpresa, percebeu o Duque Gallagher vindo em sua direção.

— Lady Crystal — O homem se curvou como um perfeito cavalheiro. A garota sorriu.

— Sir Niklas — Ela o cumprimento também, puxando a saia do vestido para o lado — Amante de cavalos? — Questionou fazendo um gesto em direção ao estábulo.

— Sou o melhor cavaleiro da minha família — Deu um sorriso de lado, meio convencido, mas ainda reservado — E a senhorita?

— Só uma admiradora mesmo — Respondeu, os dois começando a caminhar lado a lado.

— Fedidos demais para uma dama? — Ergueu uma sobrancelha ao fazer a pergunta, gesto que cativou ainda mais a mulher, dado que não notara que estavam se aproximando dos cavalos.

— Não é isso, eu... — Naquele instante um dos cavalos relinchou alto, fazendo Crystal se assustar ao perceber que estava próxima ao animal, agarrando o braço do duque por reflexo, que entendeu perfeitamente qual era o problema.

— Está tudo bem — Niklas colocou a mão sobre a dela, que vestia uma luva — Ele só quer mais comida — Explicou esticando a mão e acariciando a crina do cavalo — Então você tem medo? E é uma admiradora? — Novamente a sobrancelha foi arqueada.

— Sou — Assentiu, pigarreando, um pouco constrangida por ter demonstrado o receio que possuía na sua frente — Justamente por eles me darem medo que eu os admiro, Sir Niklas. É... Intrigante. E o que me intriga, interessa-me — Concluiu, lançando lhe um olhar insinuante, que o faz rir.

— Devo admitir que suas palavras fazem muito sentido, Lady Crystal. Arrisco-me a dizer, então, que a senhorita gosta de se arriscar naquilo que a intriga — Sua mão ainda estava sobre a dela, acariciando ali devagar, olhando em seus olhos. A condessa perdeu o ar por um momento ao ver a intensidade do verde que a encarava.

— Com toda a certeza, Duque... — Respondeu, não acreditando que ele estava devolvendo a provocação dela.

— Bem, nesse caso... — Ele se aproximou ligeiramente dela, como se fosse a abraçar com a mão livre, um sorriso de lado em seu rosto — Acho que podemos nos arriscar com o cavalo — Disse, a mulher então percebendo que sua mão havia se estendido somente para alcançar a sela, que estava atrás dela.

— O quê? — Crystal arregalou os olhos com aquilo, enquanto Niklas se soltava dela e abria uma das baias, puxando um cavalo para fora — Não! — Exclamou assustada andando para trás — Quer dizer... Não sei se é um bom momento... — Mordeu o lábio inferior receosa.

— Mesmo? É uma pena. Iria me dispor a ensiná-la... — O homem deu um suspiro, mas não parou de selar o cavalo — Acho que vou fazer o passeio sozinho, então. O que também é uma pena, já que seria muito bom ter alguém que conhece o terreno comigo — Finalizou a olhando, sugestivo.

A condessa olhou ainda com medo para o animal, revezando entre ele o homem que o selava. Por fim, suspirou, decidindo que não perderia aquela oportunidade.

— Certo, farei isso porque eu simplesmente não posso ir contra as palavras da Rainha referente a nossa hospitalidade... — Disse como se aquilo não fosse nada demais.

— Claro que sim, Lady Crystal. Por que mais seria, não é? — Brincou piscando divertido.

— Exatamente — Sorriu de lado e deu um passo hesitante na direção do cavalo, que se remexeu, percebendo a insegurança dela.

— Está tudo bem... — Niklas estendeu a mão — Ele percebe quando estão com medo. Não vou deixar que Milady se machuque — Garantiu.

Crystal o encarou e sentiu que podia confiar nele. Assentiu e pousou sua mão na dele, fazendo o Duque sorrir e a puxar para perto, de repente, segurando sua cintura, para que assim, erguesse a garota e colocasse em cima da sela. A condessa sentiu o lugar ficar um pouco mais quente, mas logo o frio na barriga a dominou quando se viu em cima do animal.

— Pelos corvos! — Exclamou tentando se segurar no cavalo. O Duque não demorou a subir na sela também, pondo-se atrás da condessa, segurando em sua cintura, de leve.

— Relaxe, Lady Crystal... — Ele disse perto de seu ouvido, fazendo com que um arrepio subisse pela nuca dela — Eu não vou deixar nada te acontecer.

A Dama assentiu, engolindo em seco, mas ao mesmo tempo afetada por aquele homem e todo o seu magnetismo. Niklas então pegou as rédeas e puxou, dando uma batidinha no flanco do cavalo que logo entendeu o recado e começou a andar pelo terreno. Crystal se retesou um pouco, assustada com a rapidez do animal.

— Segure-se na sela — Instruiu, enquanto seus braços se fechavam com mais firmeza ao redor dela, passando-lhe mais segurança.

Aos poucos, a garota foi relaxando, percebendo, então, a paisagem que os rodeava. Alguns corvos sobrevoavam pela relva, todos indo em direção a Árvore de Corvos. A condessa sorriu ao ver aquilo e aponta para o duque, que faz o mesmo, gostando que ela estava se soltando.

— Mais calma? — Perguntou depois de um tempo que estavam em silêncio.

— Estou sim, Sir Niklas... — Assentiu o olhando por cima do ombro — Obrigada pela gentileza.

— Não foi nada, Milady... Como eu disse, queria que alguém me apresentasse os terrenos — Explicou, sua respiração causando arrepios nela.

— Vai ser um prazer, Duque Gallagher — Respondeu, apontando para onde ele devia seguir, começando a explicar coisas sobre o castelo e sua construção.

Quando Niklas se deu conta, os dois haviam entrado numa discussão animada sobre a história de Ravengard. Tanto a condessa quanto o duque eram amantes de relatos históricos e ficaram durante quase toda a manhã trocando seus conhecimentos do reino em que moravam. A mulher conseguia ser cada vez mais surpreendente. Não era tímida e recatada como a maioria das mulheres que ele conhecera. Crystal tinha a sua opinião e não tinha medo de a expor. Além, é claro, de não se preocupar em esconder o interesse que sentia por ele. Mas não de uma maneira contida e envergonhada. Ela era direta e não deixava que tal fato atrapalhasse a conversa deles. E isso, por mais que Niklas não fosse admitir, o encantou.

Entretanto, chegada a hora do almoço, John, o guarda que era designado a condessa veio os chamar para o banquete no Palácio, tendo então que os dois se separarem, pois, o duque deveria se arrumar para se apresentar a Rainha.

— — —

Durante aquela semana, a Rainha Cherry marcou encontros com alguns dos candidatos, a fim de procurar os conhecer melhor. Niklas Gallagher havia sido o primeiro de todos. O encontro durara uma tarde inteira e Crystal, mesmo não querendo agir desse jeito, ficou agoniada durante todo aquele tempo se perguntando como estava sendo. Não podia se comportar daquela maneira, afinal o duque estava ali para competir pela mão da Rainha. Não a da dama de companhia. Por esse motivo, a condessa não procurou saber como fora o encontro com a amiga.

E ninguém tampouco comentou. Enquanto os outros três candidatos que se encontraram com a soberana de Ravengard se gabavam para qualquer pessoa e inventavam um milhão de coisas que não aconteceram, tentando tirar vantagem da situação e se colocar a frente na competição, Niklas se mantinha reservado e contido, como de costume, evitando qualquer tipo de pergunta sobre o que ocorrera naquela tarde com a Rainha. Por isso, no final dessa rodada de encontros, o duque ainda estava na competição e os outros três, desclassificados.

O assunto somente foi levantado entre Cherry e Crystal, quando as duas estavam provando e fazendo os ajustes necessários nos vestidos que seriam usados no Baile que haveria no outro dia, em função dos torneios.

— Alguns dos cavalheiros não tem o mínimo de senso de com quem estão falando — Cherry bufou enquanto a costureira ajustava a bainha do vestido — Se é que podemos chamá-los de cavalheiros — Ela comentou sarcástica, fazendo a prima rir.

— Acho que eles entenderam muito bem o recado ao serem expulsos quase aos chutes por Mikaela — Replicou ao se lembrar da cena com diversão.

— Foi muito mais que merecido tudo aquilo — A rainha sorriu com presunção também se lembrando do ocorrido no dia anterior — Duque Gallagher pelo contrário teve muito mais classe... — Disse como se não fosse nada demais, mas querendo testar a prima.

— Sir Niklas é mesmo muito... — A condessa hesitou procurando uma palavra que não desse tanto na cara sua paixão platônica pelo duque — Gentil.

— Crystal — A prima a chamou, séria — Você sabe que não precisa me esconder isso. Eu não acho que escolheria Sir Gallagher... Ele é... Sério demais. De séria já basta eu. E eu sei de seu interesse por ele — Finalizou fazendo a outra suspirar.

— Eu sei... Ou eu acho que sei. Mas de qualquer forma isso não importa, não é? Ele quer a sua mão, Cherry. Se não fosse por isso, ele nem estaria aqui.

— Você vai desistir? Logo você? — Lestrange a olhou incrédula — Desde quando a Crystal que eu conheço desiste? Se alguém pode fazer um homem mudar de ideia... Esse alguém é você, Crys.

A dama mordeu o lábio, enquanto se olhava no espelho e analisava o corpete apertado em seu corpo. Cherry tinha razão. Não tinha nada a perder tentando conquistar o Duque de Ravengard.

— Você não se importa com isso? Que eu tente conquistar um dos homens que está aqui disputando a sua mão?  — Questionou voltando a encarar a rainha.

— Sinceramente, Crystal? — A ruiva a fita séria — Se ele for conquistado, não tem porque ser rei. Eu não estou mais procurando alguém para mim. Agora eu só quero amenizar as coisas com o povo para que tudo fique em paz novamente. Se você conseguir achar a felicidade no meio disso tudo, vou ficar feliz por você — Sorriu sincera.

— Você merece achar alguém de quem goste, Cherry — Franziu o cenho olhando para a amiga.

— Eu sou uma rainha, Crys. Tenho que colocar o reino e o povo em primeiro. Antes de mim — Explicou suspirando e olhando então para o seu reflexo — Vá em frente com o Duque. Deixe-o aos seus pés.

— Eu vou tentar... — Assentiu aliviada com o incentivo da prima — E o guarda Fang? — Perguntou quando verificou que ele não estava dentro da sala.

— O que tem ele? — Lestrange devolveu um pouco confusa com a mudança de assunto.

— Sua cara quando ele apareceu foi ótima... — A condessa comentou com um sorrisinho.

— Eu só fui surpreendida, afinal ele não estava nos nomes que selecionamos. Ainda não entendi como isso aconteceu... — Pensou em voz alta.

— Mas o que você achou disso? — Ergueu uma sobrancelha. Ela desconfiava do que o guarda sentia pela rainha e queria saber se ela também percebia isso.

— Ele é muito dedicado, como demonstrou na apresentação. Parece estar pensando no bem de Ravengard — Cherry deu de ombros, como se realmente acreditasse naquilo.

— Só isso? — Insistiu curiosa.

— Por que mais seria? — A outra franziu o cenho — Eu não acho que o Fang quer dar o golpe em Ravengard.

— Mas eu também não acho — Crystal sorriu de lado e balançou a cabeça — Mas deixa para lá. Acredito que as verdadeiras intenções do guarda Wu serão reveladas mais cedo ou mais tarde.

A Rainha olhou com desconfiança para a Dama, mas resolveu não falar mais nada sobre o assunto, voltando então a pedir opiniões sobre o vestido e penteados que poderia usar na noite seguinte.

— — — 

Toda a nobreza do Reino de Ravengard, juntamente com a família dos candidatos haviam sido convidados para o baile que seria dado pelos torneios. Os participantes num geral estavam muito ansiosos em passar parte da noite com a rainha, achando uma oportunidade de conquistar a soberana e assim ganhar a competição. Todos haviam sido vestidos muito elegantemente e aguardavam a sua vez para dançar com Cherry. O melhor dos banquetes fora preparado para que agradasse todos os presentes e muitos já estavam cheios com a comida que era servida livremente.

Crystal estava atrasada para o baile. Uma das barras do vestido acabou por se rasgar com o seu salto e uma das costureiras tivera que ir em seus aposentos para consertar. Quando a dama da rainha ficou pronta, os presentes já estavam dançando no Grande Salão do Palácio. Assim que os guardas viram a garota se dirigir para o salão, abriram as portas, para que ela pudesse passar, segurando a saia do seu vestido. Ao descer as escadas que levariam ao átrio, a condessa percebeu vários olhares em sua direção, admirando a beleza da mulher que se aproximava.

Cherry também fitava a prima, com um sorriso de lado, como se achasse que ela estava chamando aquela atenção toda para o Duque a notar. Bem, não fora proposital, mas o olhar de Sir Gallagher estava mesmo sobre ela. E Crystal o encarou de volta, com um sorriso contido, mas convencido. O homem se desencostou da parede onde estava apoiado, esperando a vez de dançar com a rainha e se dirigiu até a condessa, curvando-se ao chegar em frente a ela.

— A senhorita está esplêndida, se permite-me dizer, Lady Crystal — Estendeu a mão, fitando-a com um pequeno brilho no olhar.

— O senhor está muito elegante também, Sir Niklas — A dama lhe ofereceu a mão, vestida com uma luva de seda, como ele solicitava e o duque a pegou, depositando um beijo sobre o tecido.

— Eu não costumo dançar muito, mas devido a ocasião, eu não seria nada cavalheiro se não a convidasse para uma dança — Propôs, ainda segurando a sua mão.

— Nesse caso, — Ela sorriu, mais abertamente se aproximando do duque e colocando a outra mão em seu ombro — Eu não seria nada educada se não aceitasse o convite.

Sir Gallagher riu e a sua outra mão pousou em sua cintura, na base da saia do vestido, começando a guiar a mulher na valsa que tocava. Os dois pares de olhos não se desviavam nenhuma vez durante a dança, dando uma intimidade ao momento deles. Tanto o duque quanto a condessa dançavam muito bem, atraindo alguns olhares que ficavam assistindo à apresentação.

Próximo a eles, dançavam Cherry e Wu, que eram outro casal que chamava atenção pela habilidade na atividade. Alguns cochichos rondavam o salão a respeito do que acontecia na pista de dança, mas os dois casais estavam alheios àquilo. Absortos em seus próprios momentos.

Crystal e Niklas dançaram duas músicas inteiras, antes do homem parar e novamente beijar a sua mão.

— A senhorita ainda me daria o prazer da companhia em um passeio nos jardins? — Convidou sorrindo de lado para a garota. Sabia que deveria se concentrar no torneio e na rainha, mas não conseguia deixar de querer estar com a dama.

— Seria uma honra, Sir Niklas — A condessa sorriu, assentindo.

Gallagher então ofereceu-lhe o braço e Freya o segurou, para então seguirem para os jardins, saindo pela varanda do salão onde acontecia o baile. Não era uma noite fria, pelo contrário, o clima estava agradável para um passeio ao luar. Os dois andaram em silêncio, até um banco, em frente a uma fonte de mármore, com uma escultura de corvos, representando o reino de Ravengard.

Sentaram-se, permanecendo de braços dados, Niklas colocando sua mão sobre a dela, acariciando o tecido de seda.

— Devo dizer que me agrada muito essas luvas... — Comentou brincando com a mão da mulher.

— E por que, Sir Niklas? — Perguntou ela, sorrindo e deixando que ele mexesse em sua mão.

— É bom de tocar... — Continuou com o que fazia, puxando um pouco o tecido.

— É bom sim, mas eu ainda prefiro o toque pele na pele — A dama disse encarando seu rosto e ele também a encarou. Verde no verde.

— Eu posso? — O duque ergueu a sobrancelha, em seu gesto característico, puxando mais uma vez o tecido da luva, dessa vez indicando que queria retirar a peça.

— Pode — Assentiu e deixou que ele delicadamente tirasse suas luvas, pegando novamente na mão dela, sentindo o toque morno e macio. Os dois olhavam para o movimento das mãos com curiosidade, enquanto sentiam a textura e entrelaçavam seus dedos devagar.

— Sua mão é tão pequena, Lady Crystal... — Afirmou, em um tom baixo, não movendo mais nenhum músculo a não ser o da mão, como se aquele momento fosse tão delicado, que qualquer movimento brusco pudesse o quebrar. Não queria interromper aquilo.

— Na verdade, a sua que é grande — A mulher comentou, um sorriso divertido surgindo em seus lábios, que prontamente foi retribuído, para então, as risadas preencherem o lugar.

O fato estava ali. A companhia um do outro era muito agradável. Era algo natural, que simplesmente fluía, sem que tivessem que haver nenhuma força. Crystal era ela mesma. Não tentava seduzir ou conquistar ele em suas atitudes. E isso a tornava ainda mais atraente aos olhos de Niklas.

Novamente, entraram em uma conversa sobre seus gostos e histórias que conheciam. O assunto parecia que nunca acabava. O duque esqueceu completamente para o que realmente estava ali e se distraiu o resto da noite com a condessa, sentados naquele banco a luz da lua cheia.

— A senhorita acredita nas lendas dos corvos? — Ele perguntou enquanto observavam o topo da Árvore de Corvos que era visível dali.

— Meus pais receberam uma pena dos corvos — Contou o encarando — Então, sim, eu acredito nelas. E o senhor, Sir Niklas? — Devolveu a pergunta.

— Eu acredito no que eu vejo — Respondeu, suas mãos ainda estavam entrelaçadas, repousadas sobre a perna do duque — E por enquanto, eu não vi nenhuma das lendas se tornar realidade.

— Nem mesmo com meu relato sobre os meus pais? — Questionou novamente, curiosa com seu ponto de vista.

— Confesso que torna mais aceitável, mas ainda assim, prefiro eu mesmo ver a prova — Explicou, acariciando sua mão com o polegar, não se cansando da maciez da garota.

— É compreensível. O senhor é um homem da razão, Sir Niklas. Não é à toa que suas habilidades como estrategista sejam tão notáveis — Crystal elogiou, lembrando de um comentário de Ethan para o conselho sobre o homem.

— É muita gentileza de sua parte, Milady — Sorriu sincero com o elogio.

Naquela hora, o relógio da maior torre do Palácio começou a tocar, suas badaladas indicando o quão tarde já era. Por reflexo, os dois se viraram em direção as janelas do saguão e perceberam que os funcionários do castelo já limpavam o local.

— Talvez devêssemos nos retirar... — Niklas lamentou internamente. O tempo passara rápido demais. Suspirando, a condessa assentiu, se levantando com ele — Eu a acompanho até seus aposentos — Disse solicito.

— É muita gentileza da sua parte, Sir Niklas — Repetiu as palavras dele de pouco tempo atrás.

Assim, os dois andaram pelos terrenos do Palácio, até onde o quarto de Crystal ficava. A caminhada foi lenta, como se eles quisessem estender aquele momento o máximo possível. E a verdade era que os dois queriam. Queriam que aquela noite não acabasse.

Ao parar na frente da porta da Dama, o Duque a encarou, suavemente.

— Sua companhia foi a mais agradável que eu poderia ter esta noite, Lady Crystal — Agradeceu sorrindo de lado.

— Faço das suas palavras, as minhas, Sir Niklas. Obrigada — Respondeu, suspirando ao fitá-lo em seus olhos.

— Boa noite, Milady — Inclinou-se, trazendo a mão da mulher até sua boca e, mais uma vez, depositando um beijo, com a diferença de que, naquela vez, era diretamente na pele.

— Boa noite, Milorde — Crystal mordeu o lábio inferior, correntes elétricas percorrendo seu corpo devido ao beijo.

Com muito custo, soltou sua mão da dele e entrou em seus aposentos, sentindo seu coração palpitar.

Por sua vez, quando o duque chegou em seu quarto e se pôs a se arrumar para dormir, percebeu que as luvas da condessa haviam ficado em seu bolso. Sorriu ao sentir novamente a seda em sua mão e, então, guardou as peças em suas coisas.

Aquilo seria uma lembrança.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que não tenha ninguém diabético aqui, pq se houver melhor pegar a insulina kkkk
Era isso por hoje, gente! Íamos adorar saber o que estão achando pelos reviews!!!
Um beijoo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Árvore de Corvos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.