27 de maio de 2017

Por que raios esse professor me odeia tanto?

Era a única coisa que passava pela cabeça de Piper enquanto ela corria em volta da quadra, completando sua 5º volta. Okay, só mais 5, pensou enquanto praguejava o professor, ou melhor, Treinador Hedge.

— Vamos Piper, falta pouco – seus amigos gritavam da arquibancada, enquanto gargalhavam. Piper mostrou-lhes o dedo do meio e o Treinador Hedge apitou, fazendo a mesma o encarar no meio da quadra.

— Mais duas voltas, McLean, por esse gesto obsceno dentro da escola – ele gritou fazendo Piper soltar um grito de frustração e olhar feio para os amigos que riam sem parar.

Que ótimos amigos você tem, McLean, ela pensou e ficou de cara amarrada. Então, ouviu a porta do ginásio se abrir e um garoto loiro entrar correndo indo em direção ao treinador e sussurrou algo para somente o treinador ouvir.

— Tá bom, Grace. 15 voltas ao redor da quadra, por conta do seu atraso.

Ótimo, ela pensou quando Jason se juntou a ela na corrida.

— Você já me faz pegar detenção com o Treinador, que está me fazendo dar 12 voltas na quadra e chega atrasado na própria detenção? – Piper perguntou enquanto Jason abre um sorriso de canto e encara Piper.

— Não tenho 100% de culpa nisso, McLean – ele diz fazendo a garota sentir as bochechas queimando.

— Vá a merda, Jason – ela diz acelerando o passo para se afastar de Jason enquanto o loiro ria ficando para trás.

Quando percebeu havia completado mais duas voltas e seus amigos desistiram de se divertir às suas custas. Leo, Frank e Percy jogavam algum jogo de cartas, Annabeth, Thalia e Hazel conversavam entre si, na verdade Annabeth e Hazel conversavam entre si e Thalia olhava para frente como se não tivesse nenhum interesse no assunto. Nico e Will pareciam em um mundo particular enquanto conversavam, alheios ao que acontecia ao seu redor, nem parecia que minutos antes estavam rindo da amiga que sofria e já sofria com as dores no corpo.

— Que isso Piper, você não era tão sedentária assim – Piper não havia percebido, mas Jason a alcançou e agora estava à seu lado.

— Jason, pelo amor dos deuses, eu só quero cumprir essa detenção, ridícula aliás, e ir para minha casa dormir – Piper disse olhando para o garoto que sorria para ela.

— Eu te dou carona, fiz você estar na detenção, não é mais do que minha obrigação te levar para casa.

A garota sorriu para Jason, admitiu para si mesma que ninguém ali tinha culpa do seu mal humor, inclusive Jason.

— Tudo bem, obrigada – ela disse e ele abriu ainda mais o sorriso.

— Vou acelerar não quero fazer você esperar tanto – ele disse e saiu correndo na frente de Piper que sorriu e revirou os olhos.

— Piper – Thalia gritou da arquibancada chamando a atenção da amiga – Estamos indo, agora você tem meu irmão para te fazer companhia.

Mesmo de longe pode perceber o sorriso malicioso da morena o que a fez revirar os olhos novamente. Fazia muito disso quando estava mal humorada.

— Tudo bem – gritou de volta, recebendo um olhar fulminante do Treinador Hedge. Thalia e os demais amigos acenaram para a garota enquanto deixavam o ginásio.

Quando Piper terminou as suas 12 voltas, se direcionou até o Treinador ofegante e com as pernas queimando.

— Muito bem, McLean, espero que isso sirva de lição para não se atrasar mais para as minhas aulas – ele disse olhando por cima de seus óculos para a garota.

— Pode deixar, Treinador, nunca mais me atrasarei para suas aulas. Estou liberada agora?

— Sim, tenha um ótimo final de semana – ele disse com um sorriso meio perverso no rosto como se dissesse: “Aproveite as dores que irão lhe acompanhar neste final de semana.”

— O senhor também, Treinador – Piper se virou para Jason e gritou – Vou tomar uma ducha, te espero lá fora.

O garoto continuava correndo, mantendo um ritmo acelerado e apenas fez um sinal de positivo com os dedos. Piper se encaminhou para os vestiários e tomou um banho relaxante, sentindo a água quente relaxar alguns músculos.

Ao sair do vestiário se encaminhou para o corredor onde sentou no chão e esperou por Jason. Alguns minutos depois, o loiro apareceu com o cabelo molhado e deu a mão para que Piper se levantasse.

— Juro que nunca mais me atraso para as aulas dele – Piper disse enquanto o namorado passava os braços por seus ombros e a conduzia para o estacionamento da escola.

— O atraso valeu a pena pelo menos? – Jason sussurrou no ouvido da garota fazendo a mesma ter um arrepio, o garoto abriu um sorriso malicioso ao ver a reação da namorada.

— Você não presta, Grace – ela respondeu simplesmente e entrou no carro do garoto.

Jason gargalhou e deu partida no carro, o garoto seguiu em direção à casa da morena enquanto ela escolhia uma música qualquer no rádio e logo após começou a fazer um cafuné nos cabelos do loiro. Jason sorriu, como sempre fazia quando Piper começou a cantarolar baixinho, era um gesto tão simples e tão natural que fazia Jason se apaixonar cada vez mais por ela. 

— Que foi? – ele estava tão perdido em pensamentos que nem percebeu que a garota o encarava com um sorriso curioso no rosto.

— Nada, só estava pensando – ele disse dando de ombros ainda sorrindo.

— Tudo bem – a garota voltou a cantarolar baixinho e Jason batucou no volante no ritmo da batida. Logo virou na rua da namorada e estacionou em frente à casa da mesma.

— Quer entrar? – ela perguntou enquanto pegava a bolsa no banco de trás do carro – Não tenho nada para fazer e se você estiver aqui, minha mãe não vai me arrastar para o ateliê dela – Piper olhava para o garoto como se implorasse.

— Tudo bem – disse o garoto rindo e saiu do carro, pegando sua bolsa e indo em direção à casa da garota.

— Mãe, pai, cheguei – Piper disse entrando na grande casa acompanhada do namorado.

— Oi querida – Afrodite apareceu na sala, saindo de seu ateliê, a mulher estava bela como sempre, mesmo com as roupas mais simples, como se Afrodite tivesse roupas simples, a mulher ainda continuava parecendo uma super modelo, o que era engraçado, pois até ano passado Afrodite era uma super modelo – Oi Jason.

— Oi Afrodite – Jason disse acenando para a sogra.

— Estou no quarto caso precise de alguma coisa – Piper disse para a mãe que sorriu – E não, não vou passar outra madrugada de sexta no seu ateliê sendo picada por agulhas, mãe. Chame Silena.

— Tudo bem – Afrodite disse desgostosa, mesmo fazendo uma mínima careta, a mulher continuava bela, Jason entendia de onde vinha toda a beleza da namorada, mesmo que Piper negasse – Vai ficar para o jantar, querido? – Piper o olhou e Jason percebeu que a mulher estava se referindo a ele.

— Sim – ele disse mesmo sem saber da resposta.

— Tudo bem, vou voltar ao trabalho e ligar para sua irmã – Afrodite falou e voltou para seu ateliê, enquanto Piper puxou Jason pelas escadas e abrindo uma das portas no corredor e adentrou o quarto.

Piper jogou sua mochila em um dos cantos do quarto e Jason colocou a sua ao lado, a morena foi em direção ao closet para se trocar e colocar uma roupa mais confortável e ouviu o namorado se jogar em sua cama. Ela saiu do closet e viu o loiro deitado sem camisa com um dos braços apoiando a cabeça e o outro escrevendo alguma coisa no celular. Ela se deitou e Jason a abraçou fazendo com que ela se acomodasse em seus braços e começou a olhar para o namorado o analisando.

Jason fazia carinho em seus cabelos e Piper percebeu que seu olhar estava distante, pensativo.

— Aconteceu alguma coisa – ela afirmou sentando e encarando o namorado que abriu um sorriso calmo.

— Não aconteceu nada – ele respondeu se ajeitando na cama para melhor encarar a namorada, mas sabia que era impossível esconder alguma coisa de Piper.

— Jason – ele suspirou e sentou, apoiando na cabeceira da cama e fechou os olhos.

— A carta de admissão de Stanford chegou hoje – ele disse e a namorada ficou ereta, desviou o olhar quando Jason abriu os olhos e respirou fundo.

— E...?

— Não sei, não abri ainda – ele disse passando as mãos pelos cabelos, ainda molhados pelo banho – Pipes, se eu não passar eu não sei qual vai ser a reação do meu pai, desde que me entendo por gente sempre fui criado para estudar lá, onde meu avô estudou, onde meu pai estudou, onde minha mãe estudou... se eu não passar...

— Jason, respira – Piper pediu e aproximou-se do garoto sentando em seu colo, o loiro colocou as mãos na cintura da garota e respirou fundo, a garota fez o mesmo, sabia que era difícil para o garoto caso não fosse aceito pela universidade, além do mais não só pelo pai, era o sonho de Jason estudar em Stanford – Eu sei que nem tudo se resume ao seu pai no resultado daquela carta, mas você pensar na pior das hipóteses agora não vai adiantar, até porque o resultado já está definido. Você é Jason Grace, tudo que almeja consegue com sua próprios esforços, por que não conseguiria uma simples vaga em uma Universidade?

Jason sorriu e puxou a namorada para um beijo e logo depois a abraçou.

— Obrigado – ele disse enquanto passava a mão pelas costas da garota – Você é incrível.

Piper sorriu, porém não o sorriso que sempre abria quando o namorado a elogiava. Estava preocupada, aliás se o resultado da carta fosse bom, isso levaria o namorado da garota para o outro lado do país. E Piper não tinha feito a inscrição para lá, já passara tempo demais na Califórnia quando criança. Deixe de ser egoísta, se repreendeu, é o sonho dele e você pensando em como será ruim por passar muito tempo longe dele?

— Você quer abrir a carta comigo?

— O que? – Piper ainda estava irritada consigo mesma por ter tido um pensamento tão egoísta e não percebeu que Jason se referia a carta de admissão – Você está com ela?

— Está dentro da minha bolsa – ele disse olhando para a bolsa, como se nela tivesse uma granada prestes a explodir.

— Você quer abrir agora? – ela perguntou, e ele assentiu voltando a olhar como quem pedisse uma dica em um momento de confusão – Vamos abrir então.

Ela saiu de cima dele e ele foi até a mochila de onde tirou um envelope com um selo vermelho. Piper sentiu um arrepio na espinha, porém logo o afastou. Jason sentou na beira da cama e entregou a carta a Piper, como quem pedisse pra ela abrir, Piper sentou-se em cima dos calcanhares atrás do namorado e pegou a carta, outro arrepio, ela balançou a cabeça e abriu o envelope. Pegou o papel o percorreu os olhos pela carta.

Admitido.

Piper soltou um grito de felicidade fazendo Jason ficar de pé em um salto, ele a encarou ansioso e viu o sorriso gigante no rosto da garota.

— Você tá dentro – ela gritou e pulou no colo do namorado e o beijou, ele a segurou enquanto sorria abertamente e a girou no ar enquanto a garota ria.

2 meses depois...

Piper estava mais uma vez no banheiro vomitando enquanto Annabeth segurava seus cabelos e Thalia a olhava preocupada da porta.

— Annie, já faz duas semanas que ela está assim – Thalia diz encarando a loira que olhava com a testa franzida.

— Piper – Annabeth chamou fazendo a morena sentar e encarar a amiga – Sua menstruação, não está atrasada, né?

— Annabeth! – Thalia a repreendeu da porta, porém olhou preocupada para a amiga sentada pálida no chão.

Piper chegou então a conclusão que sobre o que a amiga quisera dizer, se fosse possível Piper ficar mais branca do que estava, ela ficou. Seus olhos se arregalaram e ela olhou de Thalia para Annabeth e de Annabeth para Thalia. As duas se entreolharam e olharam para a amiga caridosas.

— Eu estava tão preocupada com as provas, os resultados das universidades, a formatura, que não... – a voz de Piper falhou e ela se derramou em lágrimas.

Annabeth chamou uma das empregadas e pediu para que ela fosse até a farmácia mais próxima e comprasse pelo menos 3 testes de gravidez para a garota, a empregada nada falou, Thalia lhe deu o dinheiro e a mesma saiu. Annabeth e Thalia ajudaram Piper a levantar, escovar os dentes e a acomodaram na cama da loira. Piper só chorava, enquanto as duas amigas a abraçavam. Quando Piper se acalmou Annabeth se sentou e encarou a amiga.

— Pipes, não temos certeza disso, talvez tenha sido só estresse desse final de ano – ela falou enquanto apertava as mãos de Piper, que apenas balançou a cabeça e voltou a olhar para o nada.

Alguns minutos depois, a empregada chega com os testes e Piper se levanta e vai até o banheiro. Suas amigas a esperavam na porta. Depois de fazer os três testes as garotas se sentaram em volta deles na espera do resultado.

Quando o primeiro saiu Annabeth pegou a caixinha e analisou. Assim fez Thalia com o segundo e com o terceiro. As duas se entreolharam e então seus olhos caíram em Piper, que pegara os resultados da mão delas e olhava. Então voltou a chorar.

Positivo.

Como pudera ser tão irresponsável? Tinha acabado de se formar no ensino médio, sua carta de admissão na sua universidade dos sonhos tinha chegado falando que fora aceita em Columbia, e além do mais, Jason se mudaria para Califórnia dali menos de um mês.

Piper respirou fundo, fechou os olhos e respirou mais uma vez. Encarou as amigas e percebeu que elas estavam com os olhos marejando.

— Jason não pode saber disso – ela disse e viu que as duas a olharam incrédulas, Thalia ia argumentar, porém Piper a interrompeu – Você sabe que se Jason souber da verdade ele vai desistir de Stanford por conta dessa criança, e o sonho dele nesse momento é estudar naquele lugar mais do que qualquer coisa, você sabe disso mais do que eu Thalia. Não quero que no futuro ele se arrependa de alguma coisa que não fez por conta dessa criança.

— Piper, entendo o que você está querendo dizer... – Annabeth disse cautelosa – Mas você não acha que ele tem o direito de saber?

— Um dia ele vai saber, mas agora não é o momento – Piper disse colocando a mão na barriga e sentiu os olhos marejarem – Por enquanto, me prometam que não vão falar isso para NINGUÉM!

— Prometo, mas não concordo com isso – Thalia disse balançando a cabeça – Meu irmão precisa saber a verdade, mas sei também que no futuro ele se arrependeria de não ir para a faculdade de seus sonhos.

Ela suspirou e encarou a barriga de Piper.

— E você o que vai fazer? – Annie perguntou e Piper suspirou.

— Não vou parar minha vida, vou para faculdade até quando puder, antes e depois dele...

— Ou dela – Annie disse com um sorriso mínimo.

— Ou dela, nascer – Piper disse e uma lágrima escorreu de seu rosto. Annabeth e Thalia a abraçaram e as três desabaram a chorar.

— Eu vou ser titia – Thalia disse entre sorriso e lágrimas e as três riram, imaginando como seria ter Thalia como tia.