Storms Ahead escrita por Roslyn


Capítulo 2
Não há lugar como o lar - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Inicialmente, esse capítulo faria parte do capítulo anterior, mas então seria um capítulo gigantesco com quase 10 mil palavras e acho que isso assustaria um pouco as pessoas, né? Haha
De qualquer forma, ele todo ainda se passa no dia que eles chegaram em Hogwarts.
Espero que gostem!



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(Não há lugar como o lar - PARTE II)

 

James Potter era um cético.

 

Dentre suas crenças pessoais, o destino definitivamente não era uma delas, e ele e tinha plena certeza de que tinha completo controle sobre o rumo que sua vida tomasse. Crendices e fé eram coisas das quais os seres humanos precisavam para se manterem sãos durante os momentos nos quais não conseguissem ser racionais. Uma válvula de escape, uma maneira de contornar a dor de se estar vivo. 

Uma fraqueza.

James não apenas acreditava, mas sabia que ele fazia as decisões de sua vida. Aprendera, durante seus dezesseis anos e cinco meses de vida que você precisa fazer suas escolhas e então agir para que as coisas acontecessem. Além disso, você deveria aprender a lidar com as consequências de seus atos, pois não havia ninguém a quem culpar pelo efeito dominó de decisões mal feitas e impensadas além de si mesmo. 

Isso era na verdade um grande problema, porque, para ser honesto, James era uma bela máquina de tomar decisões ruins.

Porém, no momento, James Potter desejava mais que tudo ser um crédulo. Nada acalentaria mais seu coração do que acreditar em vida após a morte, paraíso, ou todo tipo de bobagem dos trouxas as quais ele costumava fazer pouco caso há menos de um mês. Naquele momento, ser um cético era a coisa mais dolorosa que já havia acontecido em sua vida, e ele faria de tudo para acabar com aquilo, cortar aquela parte de sua personalidade e para então poder modificá-la ao seu bél-prazer.

Aquele era seu momento de dor e de luto, e foi quando ele teve mais certeza do que nunca que os bruxos não eram nada melhores que os trouxas, de forma alguma.

Afinal, a magia que corria em seu sangue não conseguia impedir que seu coração doesse e sua garganta fechasse cada vez que pensava nele. Não havia feitiço que tirasse todas as lembranças e toda a dor que havia dentro de si.

James se sentiu muito dramático enquanto pensava sobre tudo isso, e agradeceu imensamente a uma inexistente força maior que sua companheira de compartimento não tivesse o poder da legilimência. Felizmente, ele foi trazido de volta a realidade ao avistar as torres há muito familiares que indicavam que em pouco tempo estaria no castelo de Hogwarts 

— Não há lugar como o lar. – a voz da dita companheira de viagem quebrou um pouco no meio da frase, porque fazia muito tempo que estavam apenas sentados ali, sem falar uma palavra.

— Você provavelmente vai querer chutar a minha bunda dramática agora, mas nem mesmo Hogwarts se parece com um lar. No momento.

Uma sobrancelha de Skye se levantou, e ela lhe deu aquele sorriso cheio de significado.

— Que bom que você sabe que está agindo da maior forma Sirius Black possível.

James riu e colocou a mão no peito, fingindo estar ofendido. Na verdade, ele realmente estava. Um pouco. Se chegara ao ponto no qual podia ser comparado a Sirius Black, a verdadeira rainha do drama, então ele realmente estava sendo um pé no saco.

Tudo isso se passou por um segundo em sua mente enquanto ele olhava para o rosto bem humorado de uma de suas melhores amigas no mundo. 

James tinha a política de ser muito grato por todas as pessoas em sua vida e por suas pequenas particularidades, mas, no momento, ele não conseguia pensar qual parte da sua existência o fizera merecedor de uma Skye Lynch.

Ela era o alívio bem vindo depois de duas semanas tensas com pessoas ao seu redor o tempo todo, preocupadas e perguntando como ele se sentia a cada segundo do dia. Era bom poder finalmente se sentar em silêncio e não precisar afirmar que, sim, ele estava bem e que não, ele não precisava de nada e que sim, ele tinha certeza disso.

Não que ele estivesse sendo um ingrato. Não. Ele tinha plena noção de que tinha os melhores amigos do mundo, os quais haviam abandonado suas próprias coisas por duas semanas apenas para ficar ao seu lado durante aquele momento, mas era só que... Skye era o que ele precisava naquele momento.

Ela não se dirigia a James como se ele fosse uma bomba relógio que fosse explodir assim que ela falasse uma palavra errada. Ela apenas... Estava ali. E nenhum dos seus amigos parecia entender muito bem que era apenas isso que James precisava no momento, porque estavam muito ocupados esperando que ele fosse ter o seu acesso de raiva, ou de choro, despertando de seu estado de luto silencioso. Talvez fosse porque ela já havia passado por tudo aquilo, mas Skye era uma ótima pessoa para se ter ao seu lado para passar por seu momento de luto.

— Será que conseguimos encontrar eles antes de entrarem em alguma carruagem? – Skye perguntou, interrompendo os pensamentos de James mais uma vez. Aquilo estava acontecendo bastante ultimamente.

Ele olhou pela janela e notou que o trem havia parado. Lá fora, a gritaria excitada habitual de todos os anos era audível.

Mesmo que estivesse distraído, o garoto não precisou perguntar a Skye sobre quem ele estava se referindo.

— Nós podemos tentar... – ele se levantou de um pulo, puxando seu malão e coruja do bagageiro enquanto ela já se preparava para enfrentar a multidão de pessoas que passava pelo corredor lá fora.
Enquanto eles caminhavam com certa dificuldade entre a orda de adolescentes que apinhava cada centímetro cúbico da locomotiva, James identificou mais do que alguns rostos conhecidos. Marlene McKinnon e Dorcas Meadowes conversavam animadamente com Mary McDonald, mas as três pararam para lhe dar oi enquanto ele passava. Kingsley Shacklebolt acenou com a cabeça de longe, e aquela cabeça de cabelo muito escuro que se afastava rapidamente definitivamente era o irmão de Sirius, Regulus.

— Espero que eles não fiquem preocupados com a gente – ele disse para Skye, sem tirar os olhos da massa de robes negros e chapéus pontudos.

A garota não respondeu, e James soltou um longo suspiro se virando para trás, pronto para receber alguma ordem sobre o que fazer. Para sua surpresa, Skye não estava mais ali, ou em qualquer lugar à vista

James franziu o cenho e olhou ao redor, apenas superficialmente preocupado com o sumisso repentina da amiga. Por um lado, aquilo era apenas a Skye: quieta demais para ser de todo perceptível. Talvez ela tivesse encontrado algum colega de sua própria casa e ele a tivesse arrastado para longe, sem notar a presença de James... Sim... Sim, isso era uma possibilidade.

Ele estava quase se preparando para sair por aí perguntando por ela ou por qualquer um de seus amigos, quando a realidade o atingiu com grande força... Ele estava sozinho. Após duas semanas esperando pelo momento no qual finalmente seria deixado para poder respirar, ali estava ele. Sem Remus, Sirius ou Peter. Sem sua mãe, Skye, ou qualquer outra pessoa bem intencionada. Apenas James Potter, e mais ninguém.

Sem nem ao menos pensar, ele deu meia volta e se afastou um pouco da multidão de alunos. Talvez ele caminhasse até a escola, ao invés de pegar uma carruagem... Quais seriam as possibilidades dele entrar em encrenca por aquilo? Provavelmente altas, mas ele também poderia conversar com McGonagall...

Ele duvidava que a professora agisse de forma condescendente com ele em relação às regras da escola apenas porque ele estava passando por um momento delicado. Aquilo não era de seu feitio, embora ela certamente tivesse o coração no lugar certo... James enfiou uma mão dentro do bolso das vestes e tirou de lá o maço de cigarros que havia mantido escondido de sua mãe durante todas as férias de verão.

Aquela era mais uma das coisas de trouxas que Sirius havia encontrado e que agradara aos dois. A primeira vez que haviam acendido um daqueles fora no alto da torre de astronomia, escondidos no meio da noite, quase no final do ano letivo anterior. 

Ele se lembrava muito bem da sensação. A adrenalina correndo em seu sangue pelo expectativa de ser pego fora da cama depois do horário, o coração pulsando forte em seus tímpanos e a companhia de sua pessoa favorita no mundo. Talvez fosse tudo isso que tivesse feito com que James e Sirius criassem tanto gosto pela coisa, mais do que a própria fumaça que entrou em seus pulmões e os fizeram começar a tossir quase que imediatamente. 

Eles passaram quase duas horas ali no alto. O vento batendo forte em seus rostos na noite quente de maio. Faltavam apenas algumas semanas para que eles começassem as suas provas de N.O.M's, e eles haviam se sentado no peitoril da janela com os pés balançando do lado de fora da construção. Remus sempre brigava com eles e dizia que eles tinham muito gosto em desafiar o perigo, e que aquilo acabaria mal em algum momento, mas eles nunca davam ouvidos.

Eles riam na cara do perigo.

Em partes porque eram jovens e irresponsáveis, e realmente acreditavam que nada no mundo pudesse lhes vencer. Em parte porque o próprio Remus era como eles, mesmo que não admitisse.

De qualquer forma, desde aquela noite eles saíam de fininho vez ou outra, sempre que possível. Nenhum deles sabia se aquilo era exatamente contra o regulamento da escola, mas você não via alunos fumando a torto e à direito, e mesmo para James e Sirius, aquilo parecia um motivo bobo demais para se acabar em detenção.

James encheu o peito com a fumaça e sentiu sua cabeça ficar automaticamente mais leve enquanto pensava sobre tudo isso de uma vez. A fumaça espiralou e sumiu num sopro, sem que ninguém parecesse notar a ovelha que havia se afastado do rebanho e não tinha qualquer pressa para se juntar a eles novamente.

Alguns minutos se passaram e a multidão de adolescentes foi diminuindo, tal como o comprimento do cigarro entre os dedos de James. Ele abriu os dedos longos, deixando que a bituca caísse na grama e pisou em cima para apagar a brasa que ainda ardia brevemente no tabaco, e então botou as mãos dentro dos bolsos das vestes e acompanhou os últimos retardatários que caminhavam a passos rápidos até às carruagens sem cavalos que esperavam pacientemente para partir.

No todo, James não havia passado nem ao menos cinco minutos sozinho, para falar a verdade. E a sensação também não havia sido tão libertadora quanto esperava – ele ainda sentia aquele buraco no peito, aquele vazio perturbador, mas não daria o braço a torcer. Nem mesmo a si próprio.

Após passar por três transportes lotados, James chegou na última carruagem de uma fila, ele saltou para dentro sem nem ao menos dar uma olhada muito atenta para quem estava ali, e então a portinha se fechou e ele encarou o rosto de seus acompanhantes. 

Primeiro, ele sentiu como se um milhão de borboletas fizessem festa em seu estômago. Depois, que um tijolo havia caído ali dentro e arrancado todas suas vísceras. 

— Eaí, Evans. – ele disse baixo, no tom mais casual que poderia forçar sua voz a tomar. – Ra... Snape.

O apelido antigo quase escorregou pelos seus lábios, mas ele notou a carranca que começara a se formar no rosto da garota que se encontrava exatamente ao seu lado. Perto demais para que James conseguisse lidar com o braço dela tocando o seu de qualquer forma que não fosse como um adolescente que nutria uma queda que durava tempo demais para ser inofensiva e idiota.

James quase sorriu. Após longas semanas se sentindo como um robô programado para andar por aí sem sentir nada exatamente, era óbvio que ele poderia contar com Lily Evans para despertar algo dentro de si. Mesmo que tivesse durado certa de três segundos e meio.

— Potter... – ela acenou com a cabeça em um tom cortês. – Sirius e Peter tinham dito que você estava com a Lynch...

Ela tinha uma expressão confusa no rosto, claramente se perguntando onde Skye havia se enfiado. Seus braços também estavam cruzados muito fortes na frente do peito, tensa, como se não estivesse nada confortável com aquela situação.

— Nós nos perdemos na hora de descer do trem. Você estava com o Sirius?

Lily assentiu. Ela parecia estar tomando muito cuidado para não olhar para Snape, o que era dificil, em um espaço de menos de um metro cúbico e meio.

— E Remus. E Peter. – o canto de seu lábio se ergueu brevemente. – Eles estavam preocupados. Talvez achassem que você não tem miolos o suficiente para descer de um trem sozinho.

James forçou uma risada pelo nariz, balançando a cabeça.

— Eu não acho que minha incapacidade de descer do trem era a verdadeira preocupação deles. 

Lily arqueou uma sobrancelha, e a ironia era tão legível em seu olhar que James quase podia ouvi-la falando “não me diga!”.

Ele mordeu o lábio inferior, se sentindo tão tenso quanto ela parecia estar. Subitamente, ele se lembrou de uma das últimas vezes que haviam mantido contato há apenas alguns meses, embora, para James, parecessem anos. Não havia sido agradável e envolvera o outro passageiro da carruagem.

Sendo o cético que era e que não acreditava em besteiras como destino, tendo a certeza de que ele mesmo trilhava seu caminho e que ninguém era responsável pelas merdas que aconteciam em sua vida, James Potter não poderia culpar ninguém pelo fascínio que sentia ao encarar Lily Evans.

É claro que havia sido completamente escolha dele levar como um desafio a possibilidade de talvez, e apenas talvez, conseguir tê-la como sua acompanhante em algum passeio em Hogsmeade. E também era culpa dela que a sua recusa tivesse transformado aquilo em algo mais interessante ainda, e, ainda pior: era apenas dele, James Fleamont Potter, a culpa de aquilo ter se tornado algo mais.

Bom, ao menos para ele.

No futuro, James e Lily teriam muitas discussões acaloradas sobre a participação ou a inexistência de um Destino na vida dos dois. Mas o futuro não importava exatamente, no momento.

No momento, James sabia que não havia reciprocidade alguma na forma com que se sentia. Sabia que Lily não sentia como se uma corrente elétrica corresse por baixo de sua pele apenas por estar sentada ao lado dele, mas as coisas haviam atingido um ponto no qual ele não podia realmente se controlar. 

“Posso sim”, ele pensou, mentindo para si mesmo “É só uma quedinha besta.”

Mas, naquele momento em especial, Lily parecia decidida a não deixar o assunto morrer. Seu rosto ainda estava virado para o lado, o maxilar apertado e o lábio inferior preso nos dentes – na semiescuridão, com apenas a luz fraca da lua os iluminando, os olhos muito verdes dela pareciam duas orbes flutuantes, de uma maneira assustadoramente sobrenatural.

— Como foram suas férias? – ela soltou, rapidamente. O estômago de James despencou novamente – não de uma maneira boa dessa vez.

— Bem... Inusitadas. – foi tudo o que disse – As suas?

Ela não pensou antes de responder.

— Normais. O mesmo de sempre. – Lily encarou o chão, um pouco distraída – Passando um tempo com meu pai... Brigando com a Petúnia... Minha irmã.

Ele assentiu, James sabia que Lily tinha uma irmã. Mas essa era a primeira vez que ela mencionava um nome. 

Cedo, mas não cedo o suficiente para impedir que um silêncio constrangedor crescesse, a carruagem parou. Snape pulou para fora dela como se uma mola escondida em seu banco tivesse o jogador para fora, e James notou que Lily deu um longo suspiro.

— Espero que a Seleção não tenha começado.

— Nah. Os novos alunos ainda devem estar em algum lugar. Tremendo como se o juízo final estivesse chegando.

Lily sorriu brevemente, pensativa.

— Os piores trinta minutos da minha vida – comentou, e James deu uma risada.

— Meu pai já tinha me contado como a seleção funcionava – o pensamento lhe causava uma sensação agridoce: uma memória extremamente agradável que fazia o buraco em seu coração latejar, sangrando.

— Isso é muito injusto! - ela reclamou, e ele não precisou perguntar para saber a o que ela estava se referindo. Era injusto que ele, tendo crescido como um bruxo, soubesse o que lhe aguardava na cerimônia de iniciação, enquanto que ela, uma nascida-trouxa, havia passado todo o tempo de espera – e talvez grande parte da viagem – sem saber o que a aguardava.

James forçou um meio sorriso e a encarou, divertido.

— Nunca te disseram? – Lily o encarou de volta, esperando. – A vida não é justa.

A resposta dela foi dar uma meia risada enquanto eles passavam pelo arco de entrada do Salão Principal, e um movimento de cabeça como se dissesse que ele estava certo. Eles continuaram andando até pararem ao chegar na mesa da Grifinória, um véu de estranheza caindo em suas cabeças como uma chuva súbita.

— Eu vou... – Lily apontou com as mão, parecendo não saber bem onde ir. – Minhas amigas... Ali...

James acompanhou o olhar dela e notou que ela apontava para o final da mesa, onde ele reconheceu as cabeças de Roslyn e Marlene – normalmente, ele acharia mais fácil as encontrar se Lily estivesse entre elas, com os longos cabelos acaju chamando a atenção no mar de vestes escuras. Sirius, Remus e Peter costumavam rir dele por isso, e James tinha sua resposta de praxe na manga: “eu sou míope.”

Como se a sua facilidade de reconhecer apenas Lily Evans em uma multidão tivesse alguma coisa a ver com algum empecilho criado por um problema de visão.

— Certo... Meus amigos... – James se encontrou agindo da mesma forma que ela, mas com as mãos dentro dos bolsos e ainda procurando por eles na extensão da mesa.

— Certo... Bom... – ela parou e mordeu o lábio inferior – Até mais tarde, Potter.

Lily acenou um tchauzinho e James suspirou. Automaticamente, sua mão direita correu toda a extensão de seu cabelo enquanto ele observava Lily se afastar, sem nem ao menos se dar conta de que ele estava analisando atentamente a forma com que o cabelo dela dançava de uma maneira tão bonita quando ela se mexia.

Patético”, ele pensou, enquanto virava as costas e voltava ao seu trabalho de encontrar 3/4 de quem ele próprio era.

Você é patético, James Potter.

 

 

O único som audível naquele momento era apenas o baque ritmado de seus pés no chão de pedra do corredor. Lily estava cansada, muito cansada.

Tudo o que ela queria naquele momento era voltar para a torre da Grifinória e se deixar cair nos doces braços de uma boa noite de sono, mas ela sabia que aquilo não aconteceria nem mesmo quando ela tivesse a chance. Em sua cabeça, ela repetiria toda a conversa que tivera com Severus na plataforma de desembarque.

Ele estava irritado. Ou preocupado. Ela não saberia dizer exatamente. Na verdade, se tratando de Severus Snape, ela não sabia mais nada.

Sim, ele estava certo, eles haviam sido melhores amigos um dia. E, sim, mais uma vez, aquilo não era algo que deveria ser jogado fora por algo bobo (na verdade, ssua memória não lhe falhasse, na verdade ele havia resmungando algo sobre ser “culpa daquele estúpido Potter”).

Mas para ser honesta com Snape e consigo mesma, Lily sabia muito bem há algum tempo que o que quer que ainda existisse entre ela e Severus não duraria muito tempo. Desde que tinham se tornado alunos de Hogwarts, eles tentavam fazer sua amizade funcionar, mas a personalidade dos dois e seus valores pessoais se tornaram quase impossíveis de ignorar desde a noite em que foram selecionados para casas diferentes.

Não que aquilo fosse o maior problema – alunos de casas diferentes podiam ser amigos. Roslyn e Artemis provavam que até mais que isso. O caso era que Lily Evans e Severus Snape eram simplesmente pessoas diferentes, com crenças diferentes e prioridades diferentes.

Eles podiam ter sido amigos na infância, mas haviam crescido para direções completamente diferentes. E não existia nada que qualquer um deles pudesse fazer para mudar aquilo.

Lily se assustou quando sentiu a mão de Remus segurar seu braço com firmeza, a impedindo de virar no próximo corredor que os levaria para as escadas e então para o andar térreo. No momento, eles estavam terminando de patrulhar as masmorras como seu primeiro turno na ronda alternada dos monitores.

Claro que eles tinham a sorte de ficar com a primeira noite do ano.

Aquelas rondas, na maioria das vezes, se mostravam inúteis. Na melhor das hipóteses, algumas vezes eles acabavam trombando com algum casal de alunos de casas diferentes que precisavam de algum lugar escuro para matar as saudades deixadas por longos meses longe um do outro.

Mas aquilo que tinham encontrado no momento não parecia ser o caso. Primeiro porque as vozes que ouviam eram mais que duas, é definitivamente não pareciam trocar juras de amor saudosas como o esperado.

Remus levantou um dedo e o colocou na boca, indicando que Lily deveria permanecer em silêncio. E então eles se encostaram na parede, ouvindo as pessoas que se aproximavam pelo corredor perpendicular.

— ... Estávamos todos ficando sem paciência para a enrolação de vocês dois. - uma voz conhecida dizia, embora Lily não conseguisse exatamente identificar de quem era – Vocês não deram notícias o verão todo e fugiram por toda a viagem do trem.

— Estamos aqui agora. – a voz que respondeu aquilo fez o sangue de Lily gelar: Snape. – E estamos prontos para nós juntarmos ao exercito do Lorde. 

Ela e Remus se encararam, os olhos muito abertos: o que, no inferno, estava acontecendo ali? 

— Eu tenho certeza que serão muito úteis... – uma terceira voz completou. Era difícil dizer quantos deles eram, mas não poderiam ser mais do que aqueles, certo? Ninguém seria burro o suficiente para sair em um grande grupo depois do horário de dormir.

— E o Black? Você tem alguma notícia? – a primeira voz, a familiar, insistiu – Eu sei que algumas pessoas estão ansiosas pela resposta dele. O próprio Lorde parece curioso, para ser honesto.

— Eu pareço alguma espécie de babá para você, Goyle? – a voz de Snape pingava acidez e mau humor. – Não me importo com a forma com as quais as crianças decidem passar seu tempo livre. Você tem a minha resposta. E eu aconselho que você vá embora logo... Se alguém te encontrar aqui...

Ele não precisou terminar sua frase. Seus acompanhantes deram risada.

— Eu me pergunto que espécie de futuro o Lorde pode ver em vocês. Estão todos muito entretidos em seus próprios problemas de adolescentes e preocupados em se provarem tão adultos, ocupados tentando se manterem longe das vistas de Dumbledore para fazerem algo útil. – pausa – De qualquer forma, manteremos contato, Snape.

Mais uma pausa. Dessa vez mais curta.

— E como vão suas... Pesquisas?

— Melhores e mais complexas do que vocês teriam capacidade de entender. Muito obrigado. – a voz de Snape havia se tornado seca e ríspida, aparentemente, ele não havia gostado de ter sido chamado de criança na cara dura. – Se não se importam, eu vou voltar ao meu dormitório. Tenham uma boa noite.

Lily olhou para Remus, que olhou de volta para Lily. Naquele segundo, ela percebeu que seu companheiro tinha tanta noção do que Snape estava fazendo quando ela, mas se ele pretendia voltar para o dormitório  de sua casa, ele precisariaria retomar o caminho das masmorras, e para isso passaria pelo exato corredor no qual ela é Lupin se escondiam, xeretando.

Agindo com mais rapidez do que ela própria jamais seria capaz, Remus a puxou com a mão que ele ainda mantinha muito firme no pulso da garota, e então a enfiou rapidamente dentro da primeira porta fechada que encontrou. Na verdade, Lily finalmente havia percebido que sua mão tinha se tornado um tanto quanto dormente com o aperto férreo do rapaz.

Ao olhar para ele, Lily percebeu que Remus estava tão pálido quanto ela própria deveria estar. Eles não sabiam exatamente do que aquilo se tratava, mas juntando algumas palavras chave, não era muito difícil imaginar.

Há alguns anos, Lily Evans diria que sabia exatamente quais eram as coisas que se passavam pela cabeça de Severus Snape. Mas essa fase era passado fazia um longo tempo, e agora ela só podia temer pelas escolhas daquele que um dia fora seu melhor amigo.

Se antes ela acreditava que não conseguiria dormir bem por conta de sua conversa na plataforma, agora ela estava dando um adeus definitivo para qualquer ideia de algum sono decente que esperava ter.

 


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Notas finais do capítulo

Bom, acho que isso é tudo. Tentarei ser o mais rápida possível com o próximo capítulo. Deixem comentários, por favor!!
Xx



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