Steal Your Heart AU escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 12
Nada É O Que Parece Ser


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bom com vocês? Eu não estou me sentindo muito bem, mas espero que você estejam melhores do que eu :/

Esse capítulo ficou BEEEEEEM grandinho por dois motivos: 1) eu precisava recompensar os leitores que me imploraram de joelhos por um capítulo novo e grande, e 2) também porque eu adorei escrever isso e simplesmente não podia separar em dois capítulos. Huehue :v

Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei.

Capítulo postado dia 14/05/2018, ás 21:26.



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Marinette

Eu estava mais uma vez atravessando a tortura de subir todas aquelas escadas do prédio que abrigava o curso de Design de Moda quando empaquei no segundo andar. Dessa vez não foi o cansaço que me parou, nem o desespero de chegar atrasada na aula. Foram duas figuras apressadas correndo na direção oposta a minha: Trixx e uma garota que eu não conhecia. Elas meio que tropeçaram em mim e quase saímos rolando escadaria abaixo. E quando eu digo tropeçaram, é porque elas realmente não me viram subindo. 

— Trixx! Eu falei pra você nunca correr numa escada! Olha o que você fez praga! – a garota que estava com ela gritou dando um tapa nas costas da morena de olhos azuis. Minha cabeça latejou um pouco e tentei não ligar pra gritaria que iria começar entre as duas. – Se nós duas tivéssemos derrubado essa niña por ahí tu estaría em apuros ahora!

— Aff Tikki, a culpa não foi minha, foi você que tropeçou! Você estava na minha frente! – Trixx gritou de volta enquanto estapeava a outra e ela revidava. – E outra você acha mesmo que o Damocles faria alguma coisa com a gente? Me poupe garota.

— Como se nós não estivéssemos aqui apenas por um fio nessa universidade. – a amiga da garota que Ay era amiga murmurou se cruzando os braços e olhando feio para a morena. – Você sabe como a maluca da minha irmã já arrumou confusão por essas bandas uma vez. Já temos uma advertência, você quer ser expulsa agora imbecil?

— Hã, eu estou bem garotas, não precisam brigar por minha causa e... – tentei explicar, mas antes que pudesse terminar as duas começaram a gritar xingamentos uma pra outra.

— Traste!

— Vaca!

— Encalhada!

— Filha de uma...

— Parem! – berrei finalmente fazendo as duas calarem a boca e me encararem surpresas. – Eu disse que estou bem, não precisa disso!

Encarei melhor aquela garota que acompanhava Trixx enquanto ela me ajudava a levantar. Ela estava usando uma saia preta na altura das cinturas com uma camisa de manga larga vermelha com bolinhas pretas. O cabelo era um vermelho vivo bem preso em dois coques no topo da cabeça e tinha olhos azuis parecidos com os meus. Morena. Ela tinha um sotaque familiar, como se já tivesse ouvido ele em algum lugar, mas não me recordei de onde. A garota de olhos azuis mais escuros e cabelo castanho com mechas brancas, que nós tínhamos conhecido na festa de boas-vindas estava parada ao seu lado, emburrada pela “discussão”.

Perdón señorita... Desculpe, às vezes eu confundo o francês com a minha língua natal. – ela disse um pouco encabulada e balançou a cabeça com um pequeno sorriso. – Me chamo Patrícia, mas eu prefiro que me chamem de Tikki.

— Porque “Tikki”? – indaguei curiosa. Ela deu uma risadinha.

— É uma história bem longa na verdade, mas pra resumir ela significa “sorte”. É um apelido que meu pai me deu. – a ruiva respondeu balançando a mão.

Olhei de esguelha pra Trixx de braços de cruzados. Ela murmurou alguma coisa que eu não entendi e estalou os beiços, parecendo irritada com toda aquela fofura da amiga. É sério, as duas são bem diferentes. Nem parece que são amigas.

Bem Marinette você não pode dizer que você e suas amigas são muito “normais”, pode?

— Desculpe se eu parecer grossa Marinette, mas eu preciso levar esse ursinho de pelúcia coberto de açúcar para ver o namoradinho dela antes que um dos dois dê piti e a coisa toda fique bem capetótica. – ela contou e no mesmo instante Tikki – ou Patrícia, eu sei lá como chamar alguém que acabei de conhecer – pareceu se lembrar porque estavam correndo que nem umas doidas.

— Aquele estúpido do Plagg. – murmurou baixo e cerrando os punhos ao lado do corpo. – Ah, eu vou esfregar a cara dele na parede! Trixx vamos, preciso encontrar a Tuggi pra nós duas darmos uma lição naquele gato de rua vagabundo mau caráter!

Observei a ruiva sair pisando duro escadaria abaixo com um olhar fulminante. Acho que alguém iria morrer aquela manhã. Trixx me deu um rápido tchau e logo desapareceu instantes depois atrás da possível melhor amiga. Decidi deixar as duas resolverem aquilo e não me envolver... Por enquanto pelo menos. Os degraus já não tiravam tanto o meu fôlego como antes, mas mesmo assim eu ainda cheguei sem ar no quarto e último andar do prédio. Felizmente a porta da sala estava aberta e eu ainda tinha alguns minutos antes da aula de hoje começar. A classe estaria vazia, tranquila e amena se não fosse aquele peso morto do Agreste sentado na nossa mesa e provavelmente dormindo na minha área de trabalho. Revirei os olhos e preferi fazer o máximo de silêncio que poderia. Um Agreste dormindo é muito melhor do que dois dando encima de você acordado.

Me sentei ao seu lado e agradeci aos céus quando notei que ele realmente estava dormindo e nem se deu conta que estava ali. Peguei meu caderno de desenhos e o estojo de lápis de cor que usava para fazer minhas criações, e terminei o projeto que eu e o loiro iríamos fazer para aquela semana. Tinha planejado duas peças simples: um vestido azul curto ajustado na cintura e preso ao pescoço com vários detalhes brilhantes no corpete, não muito longo. Já pro idiota do Agreste eu tinha planejado um look mais simples e digamos “confortável”: uma camisa regata estampada e uma bermuda que combinava com aquela loirice engomadinha que ele tinha. Eu já tinha feito várias peças assim para o meu pai há alguns anos e outras para minha irmã mais velha então eu já dominava essa área de criação. Infelizmente eu precisaria de todas as medidas do loiro e eu não fazia ideia como iria conseguir isso sem soar da maneira errada.

Ah sua safada, como se você não estivesse nem um pouco afim de ver aquele tanquinho lindo do Agreste, né?

Me reprovei mentalmente, sentindo meu rosto esquentar. O que? Eu não posso negar que ele é bonito, ele é mesmo. O problema é que beleza não reflete caráter. Mesmo assim não pude deixar de olhar para o garoto ao meu lado. Sua respiração estava calma, profunda enquanto observava seu tórax subir e descer devagar e constante para cima e para baixo. Seu rosto estava um pouco visível embaixo de um dos braços e ali ele parecia um garoto comum. Não um modelo famoso, rico, imprestável, filhinho de papai egoísta que sempre tinha o que queria. Nada disso. Ele até se parecia com outra pessoa que um dia passara pela minha vida. Alguém normal. Alguém que seria impossível de machucar meus sentimentos bobos e ridículos de adolescente. Uma batida do meu coração falhou e respirei fundo para controlar a vontade louca de começar a chorar ali mesmo. A ferida não muito distante demorava a cicatrizar e derramar minhas lágrimas na frente daquele imprestável do Agreste não ajudaria nada.

Mas acho que não adiantou muita coisa.

— Ei, há quanto tempo você está aqui? – ele me perguntou dando um bocejo preguiçoso e esticando os braços. Eu não respondi. Precisava me concentrar para não desabar ali mesmo. Acho que ele percebeu. – Marinette? Você... Você está bem...?

Esfreguei os olhos com força e limpei todo resquício de fraqueza que ainda poderia estar visível aos olhos do loiro. Dei o melhor sorriso falso que poderia dar naquele momento para despistar as perguntas do Agreste.

— Eu cheguei uns minutos atrás, não te acordei porque não quis te atrapalhar. – expliquei, rapidamente acrescentando com desdém. – Não que isso fizesse diferença pra você não é Agreste. Aposto que muitas coisas tiram o seu sono todos os dias.

Ele bufou esfregando o cabelo ainda um pouco sonolento. Era impressão minha ou eu tinha visto olheiras naquele rostinho perfeito do modelo mais conhecido de Paris?

— Eu dispenso sua ironia hoje Cheng. Não estou nem um pouco a fim de sarcasmo hoje caso não tenha notado. – Adrien disse esfregando as têmporas com cuidado. – Eu estou morrendo de dor de cabeça. Já tenho muitos problemas dentro dela pra pensar, então se você colaborar comigo eu te agradeço.

As grosserias morreram na minha garganta. Estreitei os olhos e virei o rosto. Ele estava mesmo falando sério e pelo jeito tinha assuntos nada agradáveis para se tratar. Peguei minha bolsa e abri um dos bolsos que guardava alguns remédios para casos de acontecimentos assim longe do meu apartamento como cólicas, dores em geral, curativos... Enfim, qualquer coisa que pudesse acontecer de repente. Peguei uma cartela que já estava no fim e arrastei na direção do garoto ao meu lado. Ele me encarou confuso, mas continuei pintando as novas criações que logo faria aquela semana.

— Um acaba com a dor, mas se estiver com enxaqueca tome dois. – orientei sem encará-lo diretamente. Ele ainda ficou alguns minutos olhando para os pequeninos comprimidos a sua frente. – Não pretendo te matar com veneno Adrien. Só estou colaborando como você me pediu.

Lhe direcionei um olhar rápido e o encontrei surpreso. Parecia que nunca ninguém havia lhe dado um comprimido para dor ou então não acreditava que eu finalmente estava me preocupando com ele.

— Obrigado. – sua voz rouca saiu como um sussurro e senti meu rosto esquentar novamente.

Balancei a cabeça e continuei meu projeto. Logo o sinal tocou e os outros alunos começavam a entrar na sala de aula. Não dei muita importância e logo meus desenhos estavam prontos. Dei um pequeno sorriso de satisfação. Agora era colocar em prática.

***

Mais tarde, quando o período de aulas acabou, eu havia combinado com Adrien que iríamos adiantar nossos projetos. Mesmo com relutância eu acabei aceitando em sair com ele para comprar os tecidos para confeccionar as peças na cidade, em algumas lojas que nós dois conhecíamos. Ele me convidou para ir com o seu motorista particular, mas eu insisti que não precisava de tudo aquilo já que as lojas não eram muito distantes dali da universidade. Obviamente a loirice delicada do Agreste conseguiu me enfiar dentro do Land Rover dele e gente, eu preciso dizer que fiquei emburrada toda a viagem? Ou então que eu fiquei totalmente encabulada por entrar num carro chique daqueles? Ou ainda que fiquei surpresa que o Agreste não me falou nenhuma gracinha mais depois do episódio da manhã?

— Então, você sabe os tecidos que precisa comprar não é? Porque eu não entendo nada disso. – ele comentou para tentar descontrair o clima dentro daquele automóvel. Dei uma risada sarcástica.

— O filho do maior designer de moda de Paris não sabe diferenciar veludo de lã? – brinquei e para minha surpresa ele até deu uma gargalhada enquanto parava seu carro importado na frente de uma loja que eu conhecia há tempos.

— Eu não produzo as minhas roupas, apenas desfilo Cheng. – ele rebateu com um sorriso desanimado. Estiquei uma sobrancelha. – Eu sou um manequim vivo do meu pai, digamos assim.  

— E imagino o quão difícil isso seja. – murmuro saindo do carro e entrando com o mesmo na loja de tecidos. Ele não me responde, só enfia as mãos nos bolsos da calça jeans e me segue. Suspiro, tentando não destruir aquele momento impossível de ter novamente. – Então... Eu preciso tirar as suas medidas para começar a fazer suas roupas. Quando podemos ver isso? Lembrando que só temos essa semana pra fazer tudo.

— Eu não tenho nada marcado hoje a tarde. – o Agreste responde e me observa escolhendo os variados tons de azul para o meu vestido. Escolho um azul royal, mais claro que o escuro e um pouco mais bonito que o simples azul claro. – Quanto mais cedo terminarmos essa tortura melhor.

— Nisso eu preciso concordar com você. – digo, estregando vários rolos de tecidos que escolhi para ele segurar. Reviro os olhos quando ele quase os derruba no chão. – Vamos garoto de sangue azul, não consegue aguentar pedaços de pano? Não acha isso muito mais leve do que os pesos da academia de rico que você vai?

— Queria saber o motivo de tanto ódio da sua parte Cheng. Sabe... – o ouvi dizer enquanto pegava os materiais que faltavam. Ele continuou falando e continuei ignorando seus comentários quando sem querer algo me chamou a atenção do outro lado da vitrine da loja. Senti meu coração gelar e paralisei onde estava. Minhas mãos começaram a tremer e eu nem percebi que não estava respirando direito.

Era ele. O mesmo cabelo, as mesmas cores vivas... O mesmo sorriso enquanto cantava do outro lado da rua para as pessoas que passavam. Ele não tinha me visto, porém nem precisava. Eu precisava sair daquele lugar. Precisava sair dali antes que ele me encontrasse.

— Cheng! – de repente ouvi o Agreste gritando meu nome e me sacudindo o ombro, com os olhos arregalados. Ele parecia preocupado comigo. – O que foi que você viu? Tá parada ai há uns dez minutos e de repente fica branca que nem um papel. Você está se sentindo bem?

— Me... Me tira daqui. – pedi baixinho e ele ficou confuso. Peguei os tecidos que precisaria rapidamente e lhe encarei suplicante. Odiava aquilo, mas precisava sair daquele lugar. – Vamos embora Adrien.

— Ei... Aconteceu alguma coisa? – o ouvi perguntar enquanto lhe arrastava para o caixa da loja. Olhei apreensiva para os lados enquanto ele pagava todos os materiais que usaríamos naquela tarde. – Cheng você está me assustando.

— Não aconteceu nada. – disse cerrando os punhos para conter seu tremor. – Eu lembrei que preciso fazer algo importante ainda hoje, não posso perder tempo. – menti, e resolvi pensar que ele acreditou.

Graças a Deus ele não me questionou e rápidos como havíamos chegado estávamos indo embora do centro da cidade e do meu passado. O caminho inteiro até o apartamento do traste do Agreste eu fiquei quieta, assim como depois que entramos lá e enquanto eu lhe mostrava os desenhos que havia feito. Ele não estava com o melhor dos humores e eu não queria dar nenhum assunto além daquele maldito trabalho que eu havia sido encarregada de fazer.

— E ai? – o questionei enquanto colocava a fita métrica em volta do meu pescoço e amarrava meu cabelo em um coque encima da minha cabeça. – Você não vai tirar a roupa?

Ele corou intensamente antes de abrir um sorriso malicioso para mim.

— Nossa, eu não pensei que você seria assim tão direta garota. – ele disse com uma gargalhada e eu revirei os olhos.

— Seu estúpido. – soltei com os braços cruzados, séria. – Achei que seu pai ou as empregadas que ele contrata faziam isso com você antes de você desfilar por ai com as novas coleções de primavera/verão. Eu não posso tirar as medidas do seu corpo com a sua roupa por cima, sabe? Não tenho nenhum prazer em te ver seminu Agreste. – disse com desdém. Ele não se deu tão convencido assim.

— Como você quiser My Lady. – ele respondeu enquanto eu me virava para não ver o que toda garota de Paris daria para ver: Adrien Agreste só de cueca. Reprimi uma risada e admirei as gigantescas janelas do quarto daquele garoto mimado. Só aquele quarto era da metade do meu apartamento. – Pronto Cheng.

Me virei e precisei fazer muita força para não começar a babar. Merda, como aquele garoto podia ser tão bonito assim? Revirei os olhos e decidi acabar logo com toda aquela tentação do Satanás a minha frente. Ele mantinha aquele sorriso pretensioso no rosto, mas me mantive impassível o tempo todo.

— Fica quieto e não tente nenhuma gracinha senão eu grito, te aplico um golpe de judô e você não vai andar pelas próximas duas semanas. – ameacei com a cara fechada enquanto arrastava o banquinho do piano até onde ele estava.

— Baixinha... – ele murmurou e eu acabei escutando. Bufei. Odeio quando falam da minha altura.

 – Postura e não se mexa. – ordenei nervosa com tal comentário.

Coloquei a fita métrica em volta de seu pescoço com cuidado e anotei os números no meu bloquinho. Sua pele estava quente e minhas mãos frias, causando um arrepio em nós dois. Mordi o lábio para não perder o foco do que estava fazendo. Medi seu tórax, seu abdômen, sua cintura, os bíceps e as pernas, anotando tudo no bloco de anotações. Quando terminei guardei os números junto com as minhas coisas e coloquei o banquinho do piano de volta no seu lugar.

— Já pode se vestir agora. – disse enquanto me sentava no chão para guardar minha fita e o resto das minhas coisas bagunçadas pelo chão.

— O que aconteceu mais cedo que te deixou daquele jeito na loja? – o ouvi perguntar e parei o que estava fazendo. Me virei enquanto ele terminava de fechar o zíper de sua calça. Ainda estava sem camisa. – Sabe, parecia que você tinha visto uma assombração. E de manhã você também não parecia muito bem.

— Eu... – balbuciei, me virando para frente de novo acalmando meu coração. – Eu não vou falar sobre isso com você Agreste.

Escutei seus passos calmos vindo até onde eu estava e procurava não esquecer os golpes mais doloridos de defesa pessoal caso ele tentasse fazer alguma coisa contra mim. Ele se sentou do meu lado e encarou as grandes janelas também. Lá fora o tempo não estava nem um pouco agradável.

— Eu sei que você pode ter uma visão errada sobre mim Marinette. É difícil encontrar alguém que não pense como você lá fora. Eu até posso ser arrogante, mulherengo e tudo mais que você imagina e tem raiva de mim. Eu posso compreender isso. – o ouvi dizer e sem pensar o encarei pronta para confirmar tudo aquilo, porém me calei assim que vi uma sombra em seu rosto. Ele não olhou para mim também. Estava distante. – Assim como você disse que não posso julgar o livro pela capa, bom... Muita gente não sabe o que eu passo todos os dias. Ninguém procura saber o que eu realmente sou por dentro, entende? Até a lua tem sua face oculta que ninguém vê.

Eu não sou nenhum super-homem

Eu não posso pegar sua mão

E voar para qualquer lugar

Você quer ir

— Assim como até os girassóis murcham sem o sol. – confirmei baixo. Minha mente girava. Ele então olhou para mim. – Você sempre teve tudo o que você sempre quis Adrien. Sempre teve tudo de mão beijada. Nunca precisou trabalhar pra ter nada nessa vida. Nunca passou fome nessa mansão. Nunca precisou contar moedas pra pegar um ônibus e trabalhar para ajudar a sua família. Nunca moveu uma palha. A única coisa que você sempre fez e faz até hoje é ser o garotinho perfeito que o mundo inteiro idolatra. – soltei sem medir as palavras. De repente eu não queria mais segurar mais nada dentro de mim. A raiva poderia ser vista nos meus olhos. – Você já chegou sequer se preocupar com os mais pobres? Já chegou a pensar em outra pessoa que não fosse você?

Me levantei para ver se as lágrimas de raiva desapareceriam da minha vista e da do Agreste.

— Deixe-me adivinhar... Não. É claro que não. – disse com um sorriso irônico. – Porque se preocupar com os ratos de Paris não é mesmo Agreste? Porque ajudar os ratos a ter o que comer não é Agreste? Porque ser generoso? Porque não ser fútil, mulherengo e idiota ao invés de prestativo e gentil? É mais fácil, não é Agreste? – indaguei com a visão embaçada. Ele me olhava com um misto de dor e surpresa. – Eu estou falando com você seu idiota! – gritei apontando para ele. Não escondi mais as lágrimas que caíam. – Se você quer ser o perfeito da história, o príncipe encantado de todas as garotas, onde é que você estava quando elas precisaram de você?

Eu não posso ler sua mente

Como um sinal de outdoor

 

E dizer-lhe tudo

Você quer ouvir, mas

 

Eu serei o seu herói

Enxuguei o rosto com as mãos enquanto pegava minhas coisas com agilidade. Ele parecia muito impactado com tudo o que eu dissera e ele precisava mesmo ouvir aquilo. Estava cansada de fingir que não me importava com tudo aquilo. Muito cansada.

— Por causa deles, gente rica como você, eu quase perdi tudo. – revelei tentando manter o resquício de postura que poderia ter ainda. Odiava chorar na frente dos outros, mas a minha raiva e a situação infelizmente não colaboraram comigo hoje. – Você acha que todas as meninas são iguais. Você está redondamente enganado. Assim como eu, todas nós temos cicatrizes de amor. Cicatrizes de gente da sua laia. Se você quer mesmo ser o príncipe da história onde é que você esteve esse tempo todo? – perguntei sentindo meus olhos arderem. – Onde você esteve quando eu precisei de você?

Eu, eu posso ser tudo o que você precisa

Se você é a garota ideal para mim

 

Com a gravidade, eu não posso ser parado

Sem esperar uma resposta virei as costas e fui embora. Nunca mais entraria naquele lugar. Nunca mais gostaria de ver a cara daquele filho da mãe do Agreste. Nunca mais queria sentir aquela paz e o alívio quando estava perto dele de novo, não queria mais me machucar. Não, por favor destino, deixe aquele estúpido longe de mim. Acima de mim o universo pareceu se compadecer de mim lançando a chuva sobre a minha cabeça. Estava frio, mas eu já não me importava mais. Só queria chegar em casa e nunca mais levantar da minha cama. Esquecer o passado de uma vez e o presente também.

Chovia muito em Paris há exatos três anos atrás e a cidade estava debaixo d’água. Apenas duas figuras se destacavam em meio ao aguaceiro que assolava a capital da França: uma garota com cabelos curtos azuis escuros dançando com um adolescente de cabelos negros como a noite e mechas azuis próximos do centro da cidade, onde a mesma morava antigamente. Se tratava de Marinette e seu antigo namorado, Luka. Luka Couffaine. Ambos se divertiam e riam, aproveitando a água da chuva e a rua deserta para dançarem no meio da rua. Era sem dúvidas o primeiro amor da Dupain-Cheng, e ela nunca se sentira tão feliz em toda a sua vida. Entre pequenos beijos carinhosos e piruetas que ambos faziam, o tempo parecia não passar, apreciando as brincadeiras do casal.

Infelizmente, a felicidade duraria muito pouco a partir dali e logo Marinette saberia melhor do que ninguém que amar é uma palavra muito forte para ser usada.

Estava quase chegando quando ouvi um barulho nas minhas costas. Olhei para trás e vi dois homens me seguindo. Apressei meu passo e pude notar eles apressarem também. Comecei a correr, mas eles perceberam que eu os tinha visto e foram atrás de mim. De repente senti o desespero crescer dentro de mim. Eu estava sozinha naquele temporal. Não tinha ninguém para me ajudar e evitar que alguma coisa ruim acontecesse. Eu estava sozinha. Antes que eu conseguisse avançar para o quarteirão mais movimentado do meu bairro aqueles brutamontes me alcançaram.

— Socorro! Socorro! – gritei o mais alto que consegui enquanto eles tentavam arrancar a bolsa das minhas costas. Dei um chute em um e senti o outro cara ridículo me agarrar pelas costas e tapar minha boca com as mãos. – Socorro! – tentei gritar com a voz abafada.

— Não adianta grita menininha nervosinha. – o assaltante a minha frente disse me fazendo bufar de raiva. – Pega a bolsa dela Juaca.

— Claro Rodolf. – o cara atrás de mim disse e eu mordi com vontade a mão dele, aplicando um chute no seu pé e na canela do outro na minha frente.

Mal consegui dar dois passos quando um dos dois me puxou pelo meu cabelo e me agarrou pela cintura a força. Ele deu uma risada maldosa e senti o medo me atingir em cheio no estômago.

— Você não vai a lugar nenhum, lindinha. – ouvi a ameaça arrancar o ar dos meus pulmões como uma facada. Se a chuva não limpasse minhas lágrimas com tanta velocidade eu estaria chorando com desespero aquela altura.

Tenho que acreditar em destino

Talvez eu seja um garoto ordinário

Sem alma

Mas se você é a garota certa para mim

Eu serei o seu herói

Um grito vindo daquele brutamontes foi o suficiente para que eu visse que tinha alguma coisa de errado. Ele me soltou e eu rapidamente corri para tomar distância. Mas assim que me virei antes de correr senti meu coração parar. Ele estava ali. Adrien. Lutando com aqueles idiotas por mim, para me salvar. Eram dois contra um. Eu precisava fazer alguma coisa. Corri pro beco perto dali e procurei por alguma coisa que pudesse causar uma boa dor de cabeça. Por sorte achei um toco de madeira perto da caçamba de lixo.

Vai servir.

Voltei para o meio da rua e percebi que o Agreste precisava de ajuda. Fui por trás o mais quieta que consegui dei um chute no meio das pernas de um e bati com força no pescoço dos dois, os levando a nocaute na hora e fazendo ambos caírem no chão. Ofegante para todas aquelas emoções em menos de vinte minutos eu nem sabia mais o que fazia agora. Só sei que precisava correr dali o mais rápido possível. Adrien acabava de se levantar e pegando minha bolsa correu na minha direção me prensando num abraço.

(Se você vai ser a ideal, você pode ser a ideal para mim?)

Eu serei o seu herói

(Se você vai ser a ideal, você pode ser a ideal para mim?)

Eu serei o seu herói

— Você está bem? Eles te machucaram? – ele indagou preocupado mais uma vez nos afastando. Eu não conseguia nem falar. O abracei de novo, com força. – Ai! Não me aperta desse lado. – ele pediu e assim que abaixei meus olhos percebi uma pequena mancha na camisa preta e no casaco branco.

— Você está ferido. – exclamei apavorada. – Preciso te levar ao hospital antes que você...

— Não. – ele me interrompeu com dificuldade. – Eu não posso parar no hospital senão eles vão comunicar a minha família. A última coisa que eu preciso agora é um sermão do meu pai.

Balancei a cabeça lhe arrastando pelo quarteirão e o levando pro único lugar que sabia que poderia resolver aquela situação: minha casa.

***

— Rápido, tire essa camisa. – mandei assim que passamos pela porta do meu apartamento e coloquei o loiro sentado no balcão da cozinha. – Eu preciso ver se você foi cortado, arranhado ou coisa pior.

Corri para o corredor onde guardava o meu costumeiro primeiros-socorros – e pensar que minhas melhores amigas sempre diziam que ele era besteira. Coloquei a pequena caixinha sob o balcão enquanto o Agreste ficava novamente sem camisa diante de mim. Havia um corte do lado do abdômen que sangrava muito. Prendi a respiração enquanto o ouvia respirar com um pouco de dificuldade.

— Não se mexa, nós precisamos estancar esse sangue todo. – disse colocando um pano limpo no local do ferimento. Ele soltou um grunhido e respirou fundo. – Escuta, eu preciso que você segure isso aqui pra mim enquanto pego uma toalha com água para limpar isso e passar alguma coisa que faça isso cicatrizar.

— Não se preocupe comigo, já passei por coisa muito pior. – ele disse enquanto virava as costas e corria até o segundo andar o mais rápido que conseguia. Pedi para que ele continuasse e então se distrair um pouco do ferimento. – Teve uma vez que eu levei um tiro de raspão no braço saindo de uma boate. Outra vez cortei o dedo quando fui tentar cozinhar. E ainda tem a vez que o meu pai bateu nas minhas costas com um pedaço de fio.

— Seu pai fez isso com você? – questionei enquanto voltava para a cozinha e colocava a toalha embaixo da torneira. – Achei que os ricos não apanhavam.

Buscando em altos e baixos

Tentando buscar em cada linha

Se eu vir o seu rosto

Eu mal saberei

— Tenho as cicatrizes nas costas até hoje. – Adrien respondeu baixo enquanto tirava o excesso de água da toalha e me virava para ele. – Se quiser ver depois, fique a vontade. Eu não tenho porque mentir.

Tirei a toalha com cuidado de seu abdômen e engoli em seco com a quantidade de sangue que estava ali. Sentei no banquinho a sua frente e hesitei antes de continuar. O sangue havia parado de escorrer, mas o corte ainda parecia muito feio. Aquilo iria doer para cacete.

— Tem certeza que não prefere ir no hospital? – perguntei para me certificar da resposta do loiro. Ele balançou a cabeça com um gemido de dor.

— Eu aguento. – ele prometeu, mas eu pude reconhecer o medo em sua voz. – Vá em frente Marinette.

Eu pus minha confiança na Fé

Se você vier embora

E se isso for certo

É inevitável

Eu serei o seu herói

Toquei levemente o ferimento com água limpa e na hora o Agreste se retraiu. Me concentrei em tentar fazer minhas mãos ficarem paradas. Eu estava com nervos a flor da pele. Nunca tinha feito aquilo em toda a minha vida, porém sabia que precisava limpar qualquer machucado antes de fazer alguma coisa. Ele tentava se manter quieto, mas era visível a dor em seus olhos. Tentei pensar em alguma coisa para lhe distrair e justo naquele momento meu cérebro resolvera parar de funcionar.

— Porque você fez isso seu estúpido? – lhe questionei tentando controlar as emoções que tentavam transbordar de mim de novo naquela tarde. – Você poderia ter morrido por essa ideia ridícula de vir atrás de mim depois de tudo que eu disse pra você. Você podia estar morto agora se aqueles bandidos estivessem armados.

— E algo muito ruim poderia ter acontecido com você se não tivesse vindo atrás de você. – o loiro retrucou me encarando profundamente. Ele parecia diferente ou era apenas impressão minha? – Eu precisava me desculpar com você. Depois do jeito que você saiu de casa, embaixo de chuva, era provável que alguma coisa poderia acontecer de ruim. Já percebi que quando nervosa você nem olha pros lados. – o toquei sem querer com força. Ele gemeu e senti o meu coração na boca.

— Desculpe. – pedi sem graça. Joguei as mechas da minha franja molhada para trás e tirei a toalha de cima do machucado. – Eu não sou enfermeira, então nunca fiz isso antes. Tem alguma sugestão?

— Bálsamo e um curativo já são suficientes para isso. – para minha surpresa, encontrei os dois dentro dos primeiros socorros que meus pais me deram, há anos guardado no armário do corredor. – É, pra sua primeira vez até que se saiu bem Cheng.

— Guarde os agradecimentos para depois. – disse concentrada, passando a faixa pelo seu abdômen já aparentando estar melhor. Dei um jeito de prender o curativo e então me afastei. Sentia o suor se acumular no meu rosto de tanta tensão. – Tudo bem, parece que terminei. Como se sente?

— Um pouco melhor. – me senti ficar mais aliviada com a resposta do mesmo e soltei um suspiro. – Dói, mas não é nada comparado ao que já passei. - ele segurou minha mão e com cuidado a levou até o local. Arregalei os olhos enquanto deslizava meus dedos sobre pedaços irregulares de carne já cicatrizada, algumas marcas escuras e as mais variadas cicatrizes já velhas e algumas novas para coleção. – E eu já passei por muita coisa. – acrescentou, me obrigando a olhar de novo naquele par de olhos esmeraldas.

Não pude conter o meu espanto misturado com algo que me assustou mais ainda: um espelho. Nós dois éramos perfeitamente imperfeitos. Opostos.

Dois lados de uma mesma moeda. Dois passados que não ser eram o que pareciam ser. Pior que isso.

Éramos praticamente iguais.


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Notas finais do capítulo

https://www.google.com.br/search?q=vestido+simples+para+festa+azul+curto&tbm=isch&tbs=rimg:CQz-N3c-EViHIjjY-3GHY5FLkPggwCqWB8Rruj0sRW0Lk7l_17lIeqxi0lydGElZp7SYRiDIRRjnpAgswjRH7kLsy5CoSCdj7cYdjkUuQEQrwoQ4o42jJKhIJ-CDAKpYHxGsRy8bKdOt6bosqEgm6PSxFbQuTuRF73eZHCoxeKyoSCX_1uUh6rGLSXEczIn_16EnSL_1KhIJJ0YSVmntJhER7C0OjTf4TtgqEgmIMhFGOekCCxEMDUqBweO6UyoSCTCNEfuQuzLkEVpAEUqQIRyt&tbo=u&sa=X&ved=2ahUKEwjmjfG94YXbAhVDGZAKHRQAD-YQ9C96BAgBEBs&biw=1024&bih=494&dpr=1#imgrc=MI0R-5C7MuSCKM:

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