Monochromatic escrita por Cihh


Capítulo 2
Capítulo 2 - Two Fingers




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Bebo para lembrar

Fumo para esquecer

Algumas coisas para se orgulhar

Algumas para se lamentar

Estive em alguns becos escuros

Em minha própria cabeça

(Two Fingers, Jake Bugg)

 

Max girou a caneta entre os dedos e bateu com os pés no chão ao som da música. À noite, a música que tocava no restaurante era muito boa. Ele achava que combinava com o ambiente levemente escuro e o ar de restaurante retrô. 

—Vai querer bebida? -Ele perguntou para a garota morena sentada na mesa número três. Ela tinha a pele cor de chocolate, lábios em formato de coração e um cabelo volumoso que Max achava que devia dar um trabalhão para cuidar. Usava um vestido simples preto de alças e uma meia-calça listrada, além de saltos vermelho escuro, da mesma cor do batom.

—Depende. O que você sugere? -Ela perguntou de volta, apoiando o queixo em uma das mãos enquanto olhava nos olhos de Max. Ele sorriu.  

—Podemos deixar a bebida para depois. Tenho uma boa lá em casa guardada na geladeira. 

—Ótimo. Traga só o prato então. -A garota disse fechando o cardápio e o entregando a Max. Quando Max foi pegar, esbarrou a mão na dela “acidentalmente” e sorriu para se desculpar. 

—Sim senhora. -Colocou o cardápio embaixo do braço e foi até a cozinha para registrar o pedido. 

Max passava quase o tempo todo trabalhando. Entrava as dez e saía depois das onze às vezes. Exercia o trabalho de garçom e cuidava de tudo quando o chefe estava fora. Gostava do trabalho. Ele não ganhava muito bem, mas era bem melhor que o antigo “emprego”. Além disso, todo dia conhecia uma garota bonita diferente. 

A garota morena era a única cliente da loja. Faltava meia hora para o turno acabar quando ela terminou de comer e pediu a conta. Max coçou a nuca e olhou para o outro garoto que trabalhava com ele como garçom naquela hora. O garoto magricela deu de ombros. 

—Pode ir. Eu cuido do resto por aqui. -O garoto disse, colocando as notas de dinheiro no caixa. 

—Valeu cara. Te devo uma. -Max tirou o avental preto e o pendurou na parede. Passou a mão pelo cabelo curto e foi até a garota que o esperava na porta do restaurante. 

 

A garota se chamava Paola. Paola dormiu ao lado de Max depois de algumas cervejas e uma boa noite. Max tinha gostado e tudo mais, mas em momentos como aquele, de madrugada, logo após ter transado com uma garota bonita, ele se perguntava se valia a pena. Claro que não se comparava ao que ele tinha na fazenda com os pais, mas também não parecia uma vida boa. Tinha dívidas, trabalhava muito, morava sozinho em um apartamento para duas pessoas. Ele devia conseguir um cachorro. Pensando bem, não devia não. Ele não teria muito tempo para cuidar de um cachorro com a cara dele, como um rottweiler enérgico. Max se levantou e colocou uma cueca preta para ir até a cozinha pegar um copo d’água. Ele não era muito alto, tinha pouco mais de um metro e setenta de altura, ombros e pescoço largos, traços grosseiros e brutos. Gostava assim. Tinha um piercing na sobrancelha esquerda, um na narina direita e um na língua. Uma das orelhas tinha três furos e ostentavam três brincos pretos de mesmo tamanho. O braço direito estava quase completamente preenchido por tatuagens, que também apareciam na nuca, nos dedos das mãos, nas pernas e nas costas. Os cabelos eram castanhos, mas cortados muito rente à cabeça, estilo militar, e os olhos eram incrivelmente escuros. As garotas geralmente o adoravam, e a adoração era mútua, mas Max nunca tinha gostado mesmo de alguém. Ele conhecia garotos que fariam tudo pelas garotas que gostavam, e Max se perguntava se esse tipo de sentimento era normal. O máximo que ele faria por uma garota seria pagar uma bebida para ela e cobri-la depois que ela dormisse em sua cama. Ele achava que o problema era com ele, afinal, já tinha conhecido uma porrada de garotas bacanas por quem ele gostaria de ter de se apaixonado. Infelizmente, não era assim que funcionava. Deitou-se na cama tentando não acordar Paola e dormiu. O dia seguinte seria cheio.

 

Paola já tinha ido embora quando Max acordou pelas oito da manhã. Tinha levado todas as suas coisas e deixado um bilhete na geladeira escrito

‘A noite foi ótima. XOXO.’

E um número de telefone. Max sorriu e jogou o pedaço de papel no lixo da cozinha. Estava sem camisa, apenas com uma bermuda preta. Abriu a geladeira e pegou uma lata de cerveja e um pedaço de frango apimentado que tinha jantado na noite anterior, enquanto Paola estava tomando banho. Esquentou o frango no micro-ondas e, enquanto esperava, pegou o celular para checar suas mensagens. Lagarto, um de seus amigos mais próximos, perguntando se ele iria ao bar mais tarde, uma garota que ele não conhecia convidando-o para uma festa e mãe perguntando se ele iria passar o Natal com eles. Ele deixou o celular na mesa e tirou o frango do aparelho, colocando um pedaço na boca. Max tinha nascido e vivido até os dezesseis anos em uma fazenda com os pais. A mãe de Max tinha sido uma hippie no passado, e trabalhava vendendo peças de artesanato. O pai cuidava da fazenda, e nenhum dos dois entendia Max completamente. Ele odiava viver naquele buraco. Max colocou tudo o que tinha de importante em uma mochila e foi embora da fazenda depois de dizer um ‘falou’ para os pais. Pegou um ônibus até uma cidade pequena, onde conheceu outros garotos na mesma situação que ele, e passou a cometer pequenos crimes como furtos e assaltos. Depois de se meter em uma encrenca, fugiu de novo até a cidade onde se encontrava no momento, achou um bom trabalho como garçom, e estava vivendo assim até então. Todo natal ele voltava para a fazenda para reencontrar os pais, mesmo que a ceia fosse horrível, já que a mãe era vegetariana. Ainda assim, preferia mil vezes a vida atual. Abriu a lata de cerveja e tomou alguns goles, encarando a parede da sala pintada de preta. Estava pensando seriamente em adotar um cachorro.

 

Max foi ao bar depois do trabalho. Seus amigos já estavam lá: três garotos bebendo e fazendo muito barulho. Lagarto estava fumando um cigarro enquanto tentava dançar ao som da música que tocava. Pedro estava rindo da dança improvisada do outro garoto, sem parar de mexer no cabelo comprido. Nik estava com um sorriso no rosto e com uma cerveja na mão.

—Fala rapaziada. –Max disse chegando perto dos amigos.

—E aí Max? –Os outros responderam, cumprimentando-o com os punhos fechados.

—Muito trabalho? –Pedro perguntou, bebendo cerveja em um copo. Os três amigos faziam faculdade, apenas Max tinha largado os estudos para trabalhar.

—Pois é. –Max disse tirando o boné e passando a mão pelo cabelo curto. –Pelo menos eu tenho dinheiro, seus quebrados. Vocês só continuam vindo nesse buraco porque estudam.

—Não se preocupe Max. –Lagarto disse, tirando um maço de cigarros do bolso da calça jeans e entregando um para Max e um para Pedro. -Eu vou te contratar depois que eu me formar.

—Desde que me pague bem. –Max disse, pegando o isqueiro da mão de Pedro para acender o cigarro. Nik era o único dos amigos que não fumava, e não era muito de beber. Max conhecia os garotos há dois anos. Conheceu Nik primeiro, e ele apresentara Max para os outros. Eram quatro amigos num todo: Pedro, Lagarto, Nik e Luke. Luke tinha ido estudar nos Estados Unidos, mas Max ainda era próximo do garoto.

—Ficaram sabendo de alguma festa hoje? –Lagarto perguntou, soprando fumaça na cara de Nik.

—Fui convidado. Mas furei pra me encontrar com vocês. –Max disse. A fumaça que Lagarto exalava foi parar perto de Pedro por causa do vento, e ele empurrou Lagarto para o lado.

—Lagarto que pegar alguma mina. –Pedro disse, dando um peteleco no cigarro de Lagarto. –Apesar de ele não conseguir nunca.

—Cale a boca, seu bastardo. –Lagarto rebateu mostrando o dedo do meio. Nik entrou no meio dos dois brigões e balançou a cabeça em reprovação. Max não sabia como Nik aguentava os amigos há tanto tempo. –Faz meses que você não come ninguém.

—Faz anos que você não come ninguém. Tipo, uns vinte. –Pedro disse. –Mentira, teve aquela baranga do ensino médio. Aquela nojenta. –Pedro riu. –Ela te comeu, na verdade.

—Vai se fuder. –Lagarto falou alto. Pedro riu mais ainda. –Nenhum de vocês come mina. Virjões do caralho.

—Mano, se liga. –Max falou para Lagarto como se ele fosse idiota. –Meu apelido é máquina de sexo.

—Que apelido bosta. –Lagarto disse. –Você tem sorte. Essa sua cara de bandido atrai mina, de alguma forma. Você nem deve tomar banho. Como consegue?

Max foi até Lagarto e deu uma chave de braço no amigo ruivo, forçando-o a cheirar sua axila por alguns segundos. –Sou cheiroso, seu merda. -Lagarto riu e se soltou de Max. –Cara de bandido...

—Mas é verdade. Se olha no espelho. Cara de mau. Boca suja. Tatuagem de cadeia. Cem por cento bandido das quebrada.

—As garotas gostam. –Max disse piscando para Lagarto. Pedro suspirou e deixou o cigarro em um prato no balcão.

—Sorte a sua então.

Se você olhasse bem, Max e Nik podiam ser considerados irmãos, mas como se Nik tivesse crescido um pouco mais que a encomenda, e fosse Max de outra dimensão. Tinha as mesmas feições duras de Max, a mesma cara fechada, mas os cabelos eram loiros e raspados nas laterais, com o cabelo curto penteado com gel no meio da cabeça, os olhos eram claros e os ombros, mais largos que os de Max. O pai de Nik era militar, e Nik fazia treinamento, apesar de ser um garoto extremamente gentil, disposto a ajudar os outros sempre que necessário. Pedro tinha o porte mediano, era mais baixo e mais fraco que Nik, tinha grandes olhos castanhos, cabelos escuros compridos, que eram mantidos presos em um coque bagunçado, e sempre ostentava uma barba por fazer. Usava roupas desleixadas e largas, e de vez em quando aparecia com um par de óculos de grau redondos, mas Max não sabia se ele realmente precisava usá-los para enxergar ou se era apenas um acessório. Lagarto era o menor de todos, baixinho e magro. Tinha os cabelos ruivos chamativos, algumas sardas escuras no rosto, espinhas e cara de bebê. No entanto, era o mais nervoso dos amigos, sempre com uma atitude de zombaria e explosiva. O pai de Lagarto era médico, e extremamente perfeccionista. Lagarto era o completo oposto. Era um rebelde.

—Luke está voltando. –Nik anunciou. As sobrancelhas ruivas de Lagarto se levantaram de surpresa.

—Quando?

—Ele chega semana que vem. Vai ficar um mês mais ou menos. Ele quer reatar o namoro com aquela garota, Isa.

—A famosa. –Max disse. Luke e essa garota, Isadora, tinham namorado por um bom tempo, de dois a três anos. No entanto, nenhum dos amigos de Luke a conhecia. Luke era alto, mais alto que Max, era largo e forte, tinha os cabelos cor de areia e olhos acinzentados. Era bem tranquilo e ria com facilidade, mas era medonho quando estava de mau humor.

—Vamos marcar de nos encontrar. –Pedro disse. –Faz meses que eu não falo com ele.

—É. Ele fala mais com Max. –Lagarto disse, terminando de beber sua cerveja.

—Ele acha que ainda tem chances com Isa. –Max falou, dando de ombros. –Vamos torcer que sim.

—Vou torcer contra. –Lagarto disse. –Namorar é um porre.

—Falou o cara que nunca namorou. –Pedro voltou a zombar. Lagarto lançou um olhar hostil ao outro garoto.

—Estou falando isso porque caras como Luke e Max tem infinitas opções de garotas. Qual é a vantagem de namorar?

Max entendia porque Lagarto pensava assim. Ele mesmo pensava dessa forma um tempo atrás. Mas ficar com várias garotas sem compromisso nenhum era meio tóxico para ele. Parecia que a vida não fazia muito sentido, apesar de ele não ter encontrado nenhuma garota que fazia seu coração bater mais forte. Esperava encontrar uma em algum momento da vida.

 


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Notas finais do capítulo

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