Monochromatic escrita por Cihh


Capítulo 11
Capítulo 11 - Use Somebody




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Você sabe que eu preciso de alguém

Alguém como você

(Use Somebody, Kings Of Leon)

 

Max deixou a mala de Miranda perto do armário do quarto e se agachou, fechando os olhos e apertando a pele entre as sobrancelhas. O que diabos ele estava pensando ao colocar uma estranha dentro de casa? Ele deveria estar ficando louco. Miranda fechou a porta do apartamento de Max e olhou ao redor. Era pequeno e aconchegante, tirando as paredes da sala pintadas de preto e a decoração baseada em caveiras e corvos medonhos. A sala tinha o chão de madeira escura, um sofá preto de couro ocupava o centro, e uma estante com uma televisão estava encostada na parede na frente do sofá. Havia uma sacada retangular, com alguns vasos de plantas decorando, com cactos de vários tamanhos, alguns até com algumas florzinhas coloridas. Junto com a sala, separadas apenas por uma bancada com alguns bancos pretos, havia uma cozinha pequena. Perto da entrada se estendia um corredor com três portas. Uma, Max havia acabado de entrar com a mala de Miranda, outra estava aberta, revelando um banheiro com paredes pretas e vermelhas. A última estava fechada. Max saiu do quarto e viu Miranda olhando ao redor com um sorriso no rosto. Ele não conseguiu evitar sorrir também.

—É pequeno, mas deve servir. -Ele disse, andando até a bancada e pegando uma maçã lavada de uma fruteira. Descascou-a com uma faca afiada e cortou-a pela metade. Estendeu uma para Miranda e enfiou a restante na boca. Miranda foi saltitando até ele, pegou o pedaço da maçã e deu uma mordida pequena. Já eram mais de duas da manhã. 

—Eu gosto. -Miranda disse, se referindo à casa. O quarto dela no hotel era maior que todo o apartamento de Max, mas ela disse a si mesma que iria se acostumar. 

—Você pode tomar banho primeiro. -Max disse. -Tem um banheiro no meu quarto. Pode usá-lo. 

Miranda caminhou rapidamente em direção ao quarto de Max. Tinha paredes azuis escuras e o teto era branco. Uma cama de casal, um armário simples e uma mesinha vazia. Ela foi até a mala e ouviu Max entrar no quarto atrás dela e se jogar na cama. Miranda abriu a mala no chão e vasculhou tudo dentro dela. 

—Max. -Ela chamou. O garoto a olhou. 

—Sim? 

—Não tenho pijama. Deixei o meu na casa de Thomas. 

Eles tinham saído às pressas da casa do amigo. Para evitar acordar Thomas ou a mãe do garoto, pegaram tudo rapidamente e saíram, antes que Max se arrependesse de ter feito a sugestão. 

—Não tem outra roupa para usar?  

—Só tenho vestidos. -Ela disse, pegando um de seus vestido favoritos, um branco com poucos detalhes cor de rosa, com varias camadas bordadas, e o mostrando para Max. Ele se levantou e foi até o armário. O abriu e Miranda contemplou uma gigantesca coleção de camisetas pretas penduradas. Miranda não conseguiria distingui-las. Ele tirou uma do cabide e a jogou para Miranda. Ela era preta e comprida, com diversos ossinhos brancos estampados. -Obrigada.  

—Nada. –Respondeu, tirando as botas e se deitando na cama usando o travesseiro como encosto para as costas.

Miranda pegou suas coisas e entrou no banheiro do quarto de Max. Era relativamente grande, em formato retangular, com uma pia com um armário de um lado, e o chuveiro do lado oposto. Em cima da pia, em uma das paredes, havia um espelho que ocupada praticamente a parede toda. Um tapete preto ocupava metade do chão, e havia um quadrado de estante com diversas toalhas escuras. Miranda pegou uma delas e deixou suas roupas sobre um banquinho de madeira que estava ali. Na casa de Thomas, Miranda havia se virado para lavar seu cabelo com os produtos da mãe dele, mas Max não havia nada que ela podia usar. Dentro do boxe havia apenas um sabonete em barra e um xampu dois em um, que aparentemente podia ser usado no corpo como sabonete também, caso ele estivesse com muita preguiça de usa dois produtos. Miranda franziu a testa e prendeu o cabelo em um coque alto enquanto ligava o chuveiro. Tentou ao máximo evitar que a água respingasse em seu cabelo durante todo o banho. Ela passou o sabonete no corpo todo e esfregou a pele com os dedos e as unhas, retirando todo o suor do calor da festa e o cheiro de cigarro. Desligou o chuveiro e se secou com a toalha macia de Max, depois se vestiu com a camiseta comprida que ele havia lhe entregado. Ela batia no meio das coxas dela, e ela imediatamente se sentiu desconfortável. O vestido que usara durante toda a festa era um pouco mais comprido, mas Miranda não estava acostumada a usar roupas muito curtas. Thomas havia praticamente implorado para ela não ir com um daqueles vestidos chamativos dela, e havia corrido para pegar um emprestado com uma amiga, uma garota do tamanho de Miranda chamada Nathália. Ela escovou os dentes enquanto se olhava no espelho. O cabelo estava bagunçado, e mesmo que ela tivesse se esforçado, molhado em algumas partes. Estava com leves olheiras abaixo dos olhos por causa da noite mal dormida no trem e no sofá da casa de Thomas. Mas, apesar de tudo, havia um brilho no olhar de que ela se orgulhava. Tinha fugido. Ido à uma festa. Conhecido um garoto. Um garoto surpreendentemente gentil, que a salvara e a acolhera em sua casa. Ela colocou a escova de dente rosa perto da escova de dente de Max, de cabo transparente e com as cerdas pretas. Miranda sorriu. Será que ele passava o tempo todo procurando por coisas pretas, da mesma forma que ela fazia com a cor rosa? Saiu do banheiro segurando a toalha molhada e encontrou Max dormindo na cama, com os braços cruzados sobre o peito e ainda vestindo as roupas da festa. Ela andou silenciosamente até ele e esticou o braço para cobrir-lhe com o lençol que estava em seus pés. Assim que ela chegou com o lençol perto de seus braços, Max abriu os olhos e segurou o braço dela em um movimento rápido.

—O que está fazendo? –Perguntou delicadamente, soltando o braço de Miranda. Ela o recolheu e se sentiu enrubescer.

—Estava te cobrindo.

Ele abriu um pequeno sorriso. –Não se preocupe. Ainda vou tomar banho. Aqui, dê-me sua toalha. Vou colocá-la para secar. Pode se deitar, se quiser. Vou me deitar assim que tomar banho.

Max se levantou rapidamente e colocou a toalha dela sobre o ombro. Miranda olhou indecisa para a cama. Ele disse ‘Vou me deitar’. O que aquilo queria dizer? Ele se deitaria com ela? Na cama? Bem, aquela certamente era uma cama de casal. Mas ela não sabia que eles iriam dormir juntos. A ideia era ao mesmo tempo reconfortante e assustadora. Ela se sentia segura agora que estava no apartamento de Max, mas provavelmente não conseguiria dormir nenhum minuto se ele estivesse deitado ao lado dela, talvez com algumas partes do corpo se tocando. Max viu que Miranda hesitava e a examinou. Ela estava ficando muito vermelha.

—Qual o problema? –Ele perguntou, achando graça.

—É que...eu acho que prefiro dormir no sofá. –Ela disse evitando olhar nos olhos negros de Max.

—O sofá é desconfortável. –Ele respondeu. –Durma da cama.

—Mas... –Ela começou, mas não conseguia pensar em uma maneira de falar o que estava pensando sem parecer grossa. –Você vai dormir aqui também? –Perguntou baixinho.

Max franziu a testa. Que situação estranha. Ele nunca tinha passado por algo parecido. Ela realmente não queria dormir com ele, nem que fosse apenas para dividirem a cama. Tentou disfarçar o estranhamento dando de ombros. –Se você não quiser posso dormir no sofá.

—Mas você disse que o sofá é desconfortável. –Ela disse.

—Por isso você não pode dormir lá.

—Não quero que você durma mal por minha causa. –Ela falou olhando para Max. Ela era muito gentil, para o que parecia ser uma garota rica que sempre tivera tudo.

Ele passou a mão pelo cabelo. –Vou tomar banho e decidimos isso depois, ok? –Ele disse, mas sabia como iria terminar. Ele no sofá, e ela na cama. Se ele desse sorte, talvez conseguisse um lugar na cama ao lado dela, mas definitivamente não deixaria Miranda dormir no sofá.

—Tudo bem. –Ela respondeu animada, sentando-se na cama. Max sorriu e foi pegar suas coisas.

Quando Max saiu do banho, com a própria toalha no pescoço, Miranda não estava mais sentada na cama, como estava quando ele entrou no banheiro. Ele estava usando só uma bermuda preta e estava descalço.

—Miranda? –Chamou, olhando ao redor. Ela não estava no quarto. Ele foi até a sala e encontrou a garota deitada no sofá, abraçada a uma almofada e respirando regularmente. Estava dormindo. Max colocou a toalha em cima de um dos bancos e se agachou na frente do rosto de Miranda, observando-a. Ela era linda. Cabelos loiros cacheados que se embaraçavam nas pontas, sobrancelhas finas e desenhadas perfeitamente, cílios claros alongados, nariz levemente arrebitado na ponta e lábios que aparentavam ser macios, com um belo formato. Miranda, ao contrário de Max, tinha o corpo incólume: sem tinta nos tecidos, sem marcas e cicatrizes de brigas, sem furos no corpo, à exceção dos da orelha, que são feitos no nascimento, que estavam preenchidos por brincos dourados em formato de coração, muito discretos. Toda a pele de Miranda era branca, apenas minimamente bronzeada, e parecia lisa e agradável ao toque. Max estendeu a mão e acariciou de leve o rosto da garota com o polegar. Afaste-se antes que seja tarde demais, ele pensou. Não era apenas pelo fato de ele estranhar os batimentos cardíacos acelerados, ou por sentir uma vontade imensurável de continuar tocando-a ou de pressionar seus lábios contra os dela. Miranda tinha apenas dezesseis anos. Ela era quatro, quase cinco anos mais nova que Max. Ainda era pura, estudava, não tinha colocado um gole de álcool na boca durante toda a festa, olhava para Max como se ele fosse a melhor pessoa que ela já conhecera, sorria como se a vida lhe estivesse reservando ótimas surpresas. Se Max se aproximasse demais, ela acabaria corrompida. Ele não tinha o melhor estilo de vida para alguém como ela, tinha feito coisas horríveis e sabia disso. Se Miranda soubesse, ficaria arrasada.

Max balançou a cabeça e retirou a mão de perto do rosto da garota. Com cuidado, colocou os braços entre o sofá e o corpo de Miranda e a ergueu do sofá sem muito esforço, já que ela era pequena e magra. Levou-a até o quarto e a deixou na cama, dormindo serenamente. Ele sorriu triste e foi se deitar no sofá, que ainda estava quente com o calor do corpo dela.

Miranda acordou sentindo um cheiro diferente, e ao mesmo tempo conhecido. Estava por toda a parte, envolvendo-a. Estava nas roupas que ela usava, na manta que a cobria e no travesseiro em que sua cabeça repousava. Ela não sabia do que era o cheiro, mas sabia que era agradável. E sabia a quem ele pertencia. Abriu os olhos e viu Max entrar no quarto vestindo apenas uma bermuda preta, sem calçados ou algo na parte superior do corpo. Tinha ombros largos, algumas tatuagens no peito, na lateral do corpo, e nas costas, além de cicatrizes claras no torso que deixaram Miranda intrigada. Mas acima de tudo, tinha músculos muito bem definidos. Na barriga, nas costas e nos braços. Ela cobriu a cabeça com o cobertor, envergonhada. Quando retirou o cobertor do rosto, Max estava com uma camiseta preta lisa e olhava para ela com uma sobrancelha erguida. Ele sorriu, e Miranda tentou não ficar decepcionada com o fato de ele estar completamente vestido.

—Ah. Você acordou. Bom dia. –Disse, se aproximando da cama. Cama.

—Por que eu estou aqui? –Ela perguntou, a voz aguda.

—Aqui, na minha casa? –Ele coçou a nuca. –Bem, eu te convidei para...

—Aqui na cama. Eu dormi no sofá ontem.

—Ah, isso. –O sorriso dele aumentou e mesmo que ela estivesse aborrecida por ter acordado na cama, seu coração derreteu com o calor que aquele sorriso emitia. –Eu te disse que não ia deixar você dormir no sofá. Te trouxe para cá quando te vi ali.

—Max! –Ela disse, repreendendo-o. Ele continuou sorrindo, como se soubesse o efeito que ele tinha em Miranda, ou como se realmente não conseguisse parar. –Você dormiu bem? Não pode fazer isso. Ontem brigou com aquele cara nojento e agora deve estar com as costas doloridas. Tudo por minha causa.

—Não fique assim. Não foi nada mal. –Ele se espreguiçou. –Minhas costas estão boas, relaxe.

Ela fez um bico. –Você dorme na cama hoje.

—Não posso.

—Por quê?

—Eu me sentiria horrível sabendo que você está dormindo no sofá enquanto eu durmo na cama. Deixe isso para lá. Eu fiz parte do café da manhã. Vamos comer. –Ele se afastou sem esperar uma resposta de Miranda. Ela estreitou os olhos. Achava que algo estava estranho. Na noite anterior, Max tinha entrelaçado os dedos nos dela, e tinham ficado de mãos dadas durante toda a festa. Ele tinha respeitado o espaço de Miranda, mas parecia ansiar por poder tocá-la, da mesma forma que ela se sentia. Naquela manhã, ele não tocou nela nenhuma vez.


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